Uma semana depois, Carol iniciou suas sessões de fisioterapia e Manoel já pensava no retorno de seu trabalho. Mas muitas coisas ainda aconteceriam antes que ele voltasse para sua rotina na delegacia ou que Carol pudesse tornar a andar.
Numa das tardes, Manoel recebeu uma intimação em sua casa e de cara aquilo não era um bom sinal. Um dos pintores tinha conseguido executar sua fuga e junto a alguns companheiros, estava se vingando de Manoel. Tinham montado uma armadilha e seria difícil Manoel escapar do que lhe aguardava pela frente.
Tanto Manoel quanto Carol ficaram perplexos ao saber que a denúncia acusada se tratava de abuso sexual infantil. Carol sabia que aquilo não era verdade, inclusive se lembrava muito bem da proposta de ajuda que Manoel tivera em lhe sugerir que criasse um centro de proteção a crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual e maus tratos.
Manoel negou a acusação. Recebendo suspensão, foi obrigado a devolver suas armas e o seu distintivo companheiro. A suposta vítima, uma menina de quatro anos que alegava ter sido estuprada pelo policial, fazia exames num hospital de tratamento de estupros da região. Porém, o resultado foi negativo.
Achando arriscado e não tendo meios suficientes para subornar a equipe médica do hospital, Manoel não foi indiciado por falta de provas suficientes por parte da procuradoria do estado.
Conforme os dias foram passando, Manoel pode retornar ao trabalho e assumir funções internas. Carol começava a sentir seus primeiros movimentos nas pernas e já voltara a ter sensibilidade nos pés depois de massagens e alguns tratamentos especializados, porém, ainda estava longe de conseguir andar novamente, mesmo que com a ajuda de um andador. Para Manoel, o pesadelo da vingança dos pintores estava apenas começando.
Dias depois do primeiro acusamento, quando tudo parecia estar bem, uma outra vítima apareceu e esta alegava que o mesmo lhe acontecera cerca de duas semanas antes. Com a segunda denuncia e com o reconhecimento frente a frente, Manoel foi preso. Além do mais, era acusado de satanismo e ritos sexuais, o que justificava, cerca de dois anos antes, ele ter abusado de crianças mesmo que tendo uma namorada na época. Os pais ansiosos exigiam que a polícia fizesse mais para proteger as crianças da comunidade, mas não imaginavam que por dinheiro seus filhos estavam apenas mentindo. A procuradoria do estado deixou claro que as acusações seriam levadas a sério.
Manoel ia ser levado a julgamento, mas o caso estava muito incerto, pois não havia provas científicas de abuso, apenas as lembranças mal contadas das duas vítimas. Ninguém podia avaliar até que ponto aquelas lembranças relatadas eram exatas e reais. Contando com a ajuda de Carol que lhe arrumara um bom advogado, Manoel respirou aliviado quando os jurados decidiram inocentá-lo. Mas os promotores já estavam preparando outros processos contra ele.
Cada uma das duas crianças foi chamada ao banco das testemunhas e interrogadas confirmavam a mesma versão contando como Manoel tirara suas roupas e as abusara. Manoel confirmava que nunca vira nenhuma daquelas crianças antes e não entendia como tudo aquilo podia estar lhe ocorrendo. Ninguém, portanto, podia dizer até que ponto aqueles testemunhos eram confiáveis. A juíza manteve os testemunhos, o advogado entrou com um pedido de anulação do julgamento por falhas no processo, mas este foi negado e novamente o julgamento voltou-se para as provas médicas do abuso.
No julgamento final, o promotor acusou Manoel de estupro e novamente ouve o protesto dos advogados pela falta de algo real para comprovar os fatos. Manoel foi condenado apenas pelas acusações e curvado, com olhos temerosos, Manoel encarou Carol pela ultima vez antes de retornar a prisão. Carol horrorizada e acreditando na inocência de Manoel, começou a chorar e seus soluços logo se transformaram em um lamento de dor, quando em breves segundos viu Manoel sendo levado a forças do local. A juíza acabara de sentenciar a prisão perpetua e a declaração de inocência de Manoel ficara em vão.
Carol e o advogado tentaram de tudo, mas todos os pedidos de revisão da sentença foram rejeitados. Nem mesmo o pedido de hábeas corpus foi aceito no tribunal. Não acreditando realmente no que estava acontecendo, Carol contratou outro advogado para que este auxiliasse o primeiro e tentasse conversar com as supostas vítimas. Diante de todos aqueles acontecimentos, Carol sentia mínimo seu problema de ainda não estar totalmente recuperada das pernas. Para ela, mais importante do que sua própria fisioterapia era o fato de ajudar Manoel a sair da cadeia e poder finalmente desvendar o que existia por trás de toda aquela história. Tanto Manoel quanto Carol sabiam que aquilo por pressuposto se tratava de algum tipo de vingança e eles nada mais eram do que as verdadeiras vítimas inocentes.
Manoel estava dividindo o pequeno espaço, cercado de grades, com mais quatro pessoas. Entre elas, estava um estudante de psiquiatria que no ano retrasado disparara treze tiros de metralhadora contra um ônibus que passava na rua frente a um supermercado. Foram cinco mortos e dois feridos gravemente. Um dos outros presos revelava um completo perfil de brigão. Fora indiciado varias vezes por falsificação de documentos, tentativa de homicídio, lesão corporal dolorosa, crime contra a administração pública e estelionato. Inclusive fora condenado a três meses de prisão num processo de agressão e ameaças ao próprio juiz que sentenciara o caso. Cumprira sua pena em liberdade, prestando trabalho a comunidade.
Abatido e irritado, as raras distrações de Manoel ali dentro eram ler os jornais que lhe jogavam pela cela adentro e por vezes conversar com os demais prisioneiros. Por sorte nenhum daqueles presos sabia que ele era policial ou o porque estava ali, pois em caso contrario, as coisas estariam bem piores.
Enquanto ficava entediado naquele recinto, Manoel lembrava-se do quanto seria bom se pudesse estar passando àquelas horas de ociosidade em meio à natureza, num sítio calmo e tranqüilo, com ar puro e fresco, contemplando o horizonte. Naquele lugar, a luz que batia era de uma pequena janela gradeada no alto da parede, fora do alcance de qualquer preso. As refeições eram à base de arroz, carne e batatas fritas servidas já frias em marmitas. As roupas eram guardadas socadas dentro de um saco de supermercado que ficavam amarrados nas grades. Desde que fora para aquela cela, Manoel ficava aguardando a chegada de cada sexta-feira, dia em que alguns dos presos tinham permissão para receber visitas.
Nenhum tribunal queria reexaminar aquela condenação, mas Carol não ia aceitar aquela injustiça e estava disposta a tudo para ajudar Manoel. Depois de muito esperar, Carol conseguiu entrar na penitenciaria e ter trinta minutos de visita com Manoel. Antes de conseguir chegar até a cela, Carol passou por uma minuciosa revista, tendo inclusive que tirar a roupa. No final do corredor, passou por uma porta de ferro, que isolava as celas do resto da delegacia. Dali, já podia ouvir a ladainha dos encarcerados.
Mulheres como Carol apenas podiam entrar de chinelos e saia, enquanto todos os objetos, desde comida a produto de higiene pessoal ou qualquer outra coisa que se levasse para os presos, eram vasculhadas. Os maços de cigarros eram abertos e conferidos. As frutas eram cutucadas com uma faca. Os homens apenas podiam conversar com os detentos pelas grades, mas já as mulheres podiam entrar nas celas e foi com alegria que Carol abraçou Manoel assim que deixaram-na entrar no mesmo local donde ele estava.
___ Meus amigos sumiram e todo meu profissionalismo desapareceu dentro dessa cela de sete metros quadrados. Eu e aquele homem ali do canto fazemos parte de um grupo de quarenta e dois presos tidos pela Justiça como especiais. Entre nós há vários delatores que colaboraram com a polícia e homicidas que mataram companheiros dentro da prisão. Alguns são estudantes universitários, engenheiros e até mesmo médicos. Presos com diplomas de curso superior eram para desfrutar certos privilégios, mas na prática isso nunca funciona. Digo privilégio não o fato de ficar numa cela individual, mas sim ter companhia de detentos mais ou menos do mesmo nível sociocultural.
___ Eu acredito em você – dizia Carol a Manoel vendo-o pela primeira vez depois que fora levado preso pela ultima vez.
Nos últimos dias, aquelas celas, antes lotadas de rufiões, traficantes e ladrões de automóveis, haviam sido esvaziadas para acolher os presos que estavam sendo transferidos do 13º Distrito Policial, que estaria passando por reformas depois que ocorrera a fuga de vários detentos. Era assim que o local donde Manoel estava havia se tornado uma espécie de cadeia especial.
A delegacia daquele bairro não havia sido planejada para funcionar como presídio e deveria servir somente para detenções temporárias, de no máximo cinqüenta dias. Não oferecia segurança adequada, o que felicitava as fugas e criava risco principalmente para a vizinhança. As paredes dali tinham sido construídas com tijolo barato, o qual podia ser furado com uma faca ou até mesmo com o auxilio de uma colher. Tudo ali era muito precário para receber aquela multidão de detentos. Diferentemente do 13º distrito, ali não dispunha de lugar para banho de sol, nem muito menos para visitas conjugais. Os presos nunca podiam sair das celas por não haver nenhum tipo de pátio e assim, tinham de passar a maior parte do tempo deitados. A higiene pessoal era feita na própria cela. A água do banho era fria e saia de um cano suspenso no alto da parede. O ambiente cheirava a bolor constantemente. No lugar do vaso sanitário, havia apenas um buraco no chão.
Os presos dormiam em colchonetes fininhos estendidos sobre o chão sujo e encardido. Durante o dia, eles os deixavam recolhidos para que tivessem algum espaço para andar um pouco. Para alguns, as tarefas eram varrer o pátio e tirar o lixo para fora.
___ Como você está? – preocupou-se Manoel.
___ Estou bem, como pode ver já estou me ajeitando com o andador. Você pelo visto não está nada bem – disse Carol observando as feições do rosto pálido, cansado e bastante abatido de Manoel.
___ É péssimo ficar nesse recinto, aqui qualquer coisa é motivo de briga. Acho que nunca mais vou sair daqui, estou ficando desesperado – reclamou ele.
___ Eu também achava que não ia conseguir andar, no entanto, olhe só, foi mais rápido do que imaginava. Sua prisão me deu forças para lutar, quero poder andar o mais rápido possível e então terei mais liberdade para investigar o que pretendem contra você. Sei que alguém está tramando tudo isso e quer lhe prejudicar. Também temo por mim mesma sem mobilidade completa nas pernas.
___ Agora não posso mais protegê-la, deve se cuidar.
___ Sim, sei disto, mas lhe prometo que farei de tudo para livrá-lo deste lugar.
___ Creio que estou pagando pelo que lhe fiz sofrer.
___ Não, você está sofrendo injustamente.
___ Sim, sou inocente, você sabe bem disso e inclusive pode-se lembrar do projeto que tinha lhe sugerido sobre...
___ Eu me lembro bem, é por isso que estou aqui – interrompeu Carol. - Não vim apenas servir de consolo, mas de esperança.
___ Você é um anjo, não mereço todo seu carinho.
___ Conheço o seu lado bom e é por ele que lutarei. É muito injusto que você passe o resto de sua vida na prisão por algo que não cometeu e principalmente porque sei que se tivesse condição faria de tudo para exterminar com todos os problemas de abuso sexual de crianças, maus tratos, pornografias, etc. Você mesmo foi capaz de reconhecer o quanto errou ao aceitar parceria com aqueles pintores bandidos, se arrependeu e mostrou-me sua nobreza de alma, seu caráter, a honra que paira sobre teu coração. Salvou minha vida e pretendo fazer o mesmo agora, vou resgatá-lo dessa infâmia que passa de boca em boca.
___ Sabe o que penso de tudo isso?
___ Diga-me.
___ Se nunca existiu nenhum feitiço, tudo o que está se passando é para de certa forma nos unir ainda mais um ao outro.
___ Também estou observando o mesmo, não posso negar que nesse momento seria capaz de dar meu sangue pela sua liberdade. Estou tão irritada e...
___ Contenha-se – interrompeu Manoel vendo que Carol estava ficando muito nervosa.
___ Esses guardas ficam para lá e para cá todo minuto, que chato! – disse Carol de cara feia.
___ Se algo me acontecer, não se esqueça de tudo o que nós vivemos, das tragédias que nos serviram de aprendizado.
___ Nada pior vai lhe acontecer.
___ Eu guardarei sempre comigo o toque de suas mãos, o brilho dos seus olhos e o encantamento de seus meigos sorrisos. Perdoe-me – implorou Manoel tendo a voz cortada pelo choro. – Nunca tive a intenção de lhe magoar e se isso aconteceu, foi porque não tive moral para limitar os meus atos e lhe respeitar como ser humano igual a mim. O meu maior erro foi realmente ter aceitado a proposta daqueles pintores e me envolver com a historia do mapa.
___ A ganância falou mais forte dentro de ti, mas a questão em jogo agora não é essa. Você está sendo acusado por algo que não tem nada a ver.
___ Mas entenda que alguém planejou isso tudo e só pode ser o pintor que fugiu.
___ Sim, já estive pensando nessa possibilidade e faz todo sentido. Os advogados estão investigando todas as pistas para desvendar esse mistério, não é possível que realmente fique preso pelo resto da vida apenas pela confirmação daquelas crianças.
___ Elas disseram que me reconhecem como o... – Manoel interrompeu suas palavras novamente deixando o pranto ser mais forte que sua voz. - Jamais seria capaz de fazer qualquer mal a uma criança...
___ Sei disso.
___ Principalmente depois do arrependimento que tive de ter feito tanto mal a você.
___ Tudo vai se resolver – chorou Carol o abraçando tão intensamente como nunca fizera.
Em prantos, Manoel sentiu o suave perfume de Carol e abraçando-a também, sentiu o cabelo sedoso por baixo de suas mãos. Um sentimento intrigante os envolvia como se o tempo tivesse paralisado naquele instante e tudo ao redor não mais existisse.
___ Você precisa tomar cuidado.
___ Não se preocupe comigo – disse Carol enxugando as lágrimas dos olhos de Manoel.
___ Me perdoe.
___ Já lhe perdoei – soluçou ela ao dizer.
___ Obrigada por tudo – agradeceu Manoel colocando sua mão sobre a mão que Carol ainda mantinha em seu rosto.
___ Somos um pelo outro. Saiba que fui capaz de lhe perdoar não apenas por tudo que nos aconteceu agora, mas por evidencias do passado. Foi por elas que fiz de tudo para conseguir esquecer os males que me causara e...
Carol interrompeu suas palavras não se sentindo bem.
___ O que foi, gelou de repente, está passando mal?
___ É apenas um mal estar – comunicou Carol notando que estava tendo mais uma de suas visões.
___ O que está sentindo?
___ Estou vendo.
___ O que? Do que está falando?
___ Nada, acho que tudo isso, esse ambiente, me deixa muito confusa.
___ Senhora, seu tempo está acabando, mais dez minutos – informou o policial.
Carol naquele momento tinha visto algo muito intrigante e que não sabia em qual parte do quebra-cabeça poderia se encaixar. Tinha visto a mesma figura do faraó como se fosse ele quem estivesse em sua frente ao invés de Manoel. Presenciando relances como se fossem lembranças, sentia o cheiro da areia e do local donde supostamente vivera há tanto tempo antes. Carol estava quase certa de que o faraó a fizera sofrer condenando-a a castigos violentos, mas depois de tudo soubera perdoá-la e foi abandonado no momento pelo qual mais precisava dela. Embora aquelas cenas lhe viessem em mente, Carol apenas se sentia cada vez mais confusa e sem entender o porque de tantas complicações.
Alguma parte daquela historia ainda não fora desvendada e esta tinha relação direta com o que estava acontecendo naquele momento. Teria toda aquela confusão mais a ver com um passado longínquo do que com os atos recentes cometidos por Manoel ou tudo aquilo era loucura da cabeça de Carol? Sem querer se preocupar com o passado, Carol colocou a mão na testa e após permanecer alguns minutos de olhos fechados, voltou a abraçar Manoel.
___ Deixe-me ficar pelos últimos instantes assim. Sinto-me tão impotente e frágil – reclamou Carol. – Não sei o que poderei fazer para te tirar daqui, a verdade é essa.
___ Mesmo que não consiga me tirar daqui, eu continuarei a amá-la do mesmo modo.
___ Prometo que se você conseguir sair daqui, lhe darei chances de aceitar seu pedido de namoro e receber vossa ternura. Farei o possível e o impossível para te tirar daqui, não quero perder o meu segundo e grande amor dessa vida.
___ Pois eu nada posso fazer que não seja rezar.
___ Reze e já será de grande valor. Uma prece tem mais força do que muitas palavras ou atitudes numa hora como essa. Pelo menos os desgostos da vida nos servem para elevarmos nossas mentes ao alto.
___ É verdade.
___ Fique com Deus, também rezarei por ti – disse Carol em despedida vendo que o policial retornava.
___ O tempo acabou – informou o policial por fim.
___ Passou tão rápido. Foram os cinco minutos mais rápidos de minha vida – brincou Carol.
___ Pois para mim foram os melhores que já vivi, apenas por ter recebido seu abraço sincero e carinhoso.
___ Também lhe amo. Estou deixando aos poucos de lembrar-me de Joaquim para ficar pensando a todo instante em você. Nem sei como isso pode ser possível, mas é o que está acontecendo. Eu vou, mas prometo que retornarei assim que puder.
___ Lembro de lhe dizer isso quando ia visitá-la no hospital, lembra-se?
___ Claro – respondeu Carol já de saída enxugando suas lágrimas persistentes.
___ Vá com Deus, minha amada – despediu ele soltando lentamente a mão de Carol enquanto ela se distanciava.
___ Adeus – choramingou Carol baixinho antes de finalmente se virar para ir embora.
Virando-se para trás duas vezes, Carol deixou o local e retornou para o apartamento de Manoel. Tudo o que estava acontecendo era por demais estranho e inexplicável, mesmo que tivesse um sentido real e uma explicação ainda desconhecida. Mas a certeza de que todos os acontecimentos estavam unindo mais fortemente aqueles dois seres se tornava cada vez mais visível e talvez fosse exatamente esse o motivo maior para tantos tormentos e dificuldades. Seria o sofrimento o maior causador daquele sentimento de amor que os unia ou o contrário?
“Até que ponto a dor pode reavivar e ampliar os sentimentos nobres que guardamos dentro de nós? Porque o impossível nos desafia tanto? Quando surge em nós o interesse de provar que o amor é mais forte assim como o bem? Porque a vida é feita de tantos questionamentos que nem sempre temos capacidade de entender as respostas?” - Tanto para Carol quanto para Manoel, tudo se transformava em dúvidas e perguntas sem explicações.
Enquanto Manoel continuava preso, Carol permanecia morando em seu apartamento e naquele mês fora ela mesma quem fizera questão de pagar o aluguel e todas as despesas. Firmemente em suas sessões de fisioterapia, ela ganhava mais força e sensibilidade nas penas com uma rapidez quase inacreditável. Sua reabilitação contava com a dedicação, o empenho e a força de vontade que ela mantinha constantemente, principalmente nas horas mais difíceis dos exercícios propostos. Pela incerteza do futuro, pretendia esperar se recuperar totalmente para então decidir se procuraria novo emprego ou se manteria a intenção de retornar para sua cidade de origem e rever suas irmãs que há tanto tempo não via. Naquele momento, Carol não tinha nem noção do que ia fazer de sua vida, ainda mais com a prisão perpetua de Manoel. Ela era a única que podia ajudá-lo e juntaria todas suas forças para conseguir livrá-lo das injustas grades.
Enquanto os dias decorriam, Carol se empenhava ainda mais em recuperar sua saúde e agir em prol da liberdade de Manoel. Com a ajuda de seu fisioterapeuta, estava utilizando um reabilitador automatizado para adiantar o processo. O aparelho lhe foi adaptado sendo composto por duas estruturas, um colete para sustentar Carol em pé e outro que lhe reproduzia movimentos de marcha e equilíbrio. Também estava utilizando um segundo aparelho que funcionava como um sistema mecânico de propulsão simultânea. Empenhada em se recuperar cada vez mais rápido, Carol ia conseguindo aos poucos trocar os passos e se manter perfeitamente equilibrada quando em pé.
Enquanto toda aquela confusão se dava na vida de Carol, Carolina sua irmã gêmea, colocava a mala no carro disposta a viajar em visita a Carol. Estava em seu período de férias e sem notícias de Carol, pensava de eliminar as saudades e se divertir um pouco. Nenhum dos familiares de Carol sabia dos transtornos pelos quais se envolvera desde o encontro que tivera com o livro por suposto pertencente a seus próprios antepassados familiares ou até mesmo a uma de suas vidas passadas.
Depois de viajar horas pela estrada esburacada do estrago das chuvas, Carolina tentou ligar no celular de Carol para lhe avisar que estaria chegando logo mais tarde, porém, a ligação não completava sinal e impossibilitada de avisar a irmã, Carolina achou que fazer uma surpresa não seria mal.
No amanhecer do dia, Carolina chegou à cidade de Carol e retirando o endereço do bolso do casaco, tentou se orientar perguntando ao frentista do posto donde parara para abastecer o carro. Com indicações, Carolina seguiu as ruas parando por vezes para perguntar a outras pessoas e confirmar se estava no caminho certo.
Depois de muito rodar pelas ruas, perguntando aqui e ali, Carolina parou o carro na frente da casa que Carol vendera. Cheia de êxito por ter encontrado o endereço que tinha em mãos, Carolina tocou o interfone permanecendo ansiosa na espera de que Carol lhe viesse receber.
___ Pois não? – perguntou alguém no interfone.
___ É a Carolina – informou ela.
___ Só um momento – pediu a voz demorando em retornar a falar: - Com quem deseja falar?
___ Com Carol, minha irmã.
___ Ah, sim, ela não mora mais aqui.
___ Não? – entristeceu-se Carolina.
___ Compramos a casa não faz muito tempo.
___ E não sabe para onde ela foi?
___ Pelo que ela nos contou ia retornar para a cidade donde viera.
___ Mas...
___ É tudo o que sei, me desculpe, mas tenho que terminar de me arrumar ou então chegarei atrasada no serviço, com licença – respondeu a mulher desligando o interfone.
Carolina sem reação olhou para o endereço escrito no pedaço de papel e novamente ligou para o celular de Carol sem obter nenhum resultado positivo. Pensativa, ela abriu a porta do carro e sem saber o que fazer sentou-se tristemente. Não tinha nenhuma pista para encontrar sua irmã e não ia se conformar de ter viajado tanto tempo à toa. Sem saber o que fazer, Carolina observou o local e em seguida rumou-se para um hotel mais barato donde pudesse ficar até conseguir descobrir algo sobre sua irmã. Suas esperanças eram de conseguir falar com Carol pelo celular, o mesmo que fora destruído no acidente.
Enquanto não conseguia saber nada sobre sua irmã, Carolina aproveitou para visitar a cidade, ir aos shoppings e fazer algumas compras de roupas e coisas artesanais que tanto gostava. Numa das tardes, quando distraída lia uma revista sentada na praça próxima ao hotel donde se hospedara, Carolina foi surpreendida com um homem armado que se sentou disfarçadamente do seu lado.
___ Que bom que te encontrei aqui, agora chegou sua vez.
Enquanto Carolina era confundida por Carol, o pintor executava seu plano de vingança.
Na delegacia, Carol aguardava com o advogado quando uma senhora chegou muito aflita.
___ Acabei de ver uma jovem sendo levada por um dos homens que trabalha no Hotel Montegar. Ele estava com um canivete, eu vi direitinho – dizia a senhora com grande agitação.
Depois de alguns instantes, a senhora olhou para Carol sentada ao lado e sem entender arregalou os olhos:
___ Era ela, eu tenho certeza.
___ Impossível, pois essa mulher está sentada com o advogado aqui faz mais de meia hora.
___ Não estou louca, eu a vi, juro. Não era você quem estava lendo no banco da praça?
___ Não minha senhora – respondeu Carol não dando muita atenção àquela senhora.
___ Está vendo? Pois de todo jeito, se realmente viu a cena que relatou, alguém por certo está correndo perigo – respondeu o policial apenas para querer se ver livre daquela senhora. – Vou mandar alguém até o hotel – respondeu ele por fim.
Momentos depois, Carol entrou com o advogado numa das salas e no exato momento, um homem entrou na delegacia sentando-se no local donde Carol até então se mantivera sentada.
___ Aproveitei o horário do almoço para vim dizer que uma das hospedes do hotel donde eu trabalho foi seqüestrada, ou pelo menos eu vi que o sujeito colocou uma espécie de faca no pescoço dela quando eles entraram no carro. Eu não sei para onde ele a levou, mas acho que vai voltar para roubar as coisas dela.
___ Trabalha no Hotel Montegar?
___ Sim, como sabe?
___ Estranho, veio uma senhora agora mesmo dar queixa de algo semelhante, mas ela disse que foi um dos trabalhadores do hotel.
___ Não, era um homem com calça cinza e jaqueta de couro preta. Estava até bem aparentado.
___ Pois bem, vou ver o que posso fazer, caso o homem retorne ligue imediatamente nesse número – disse o policial entregando-lhe um número que escrevera num pedaço de papel.
___ Tudo bem.
___ Por acaso pode ter se enganado?
___ Creio que não, notarei caso a hospede não retorne.
___ Sim, ligue de toda forma e me avise.
Duas horas depois, atendendo ao celular, o policial teve de agir com rapidez, o pintor tinha acabado de subir até o quarto donde Carolina se hospedara. Ligando a sirene o policial passava com velocidade pelo acostamento e ia costurando entre os outros carros, mas mesmo assim, ao chegar no local, o pintor já havia ido embora.
___ Não tive como impedir, disse que o computador não estava funcionando para tentar ganhar tempo, mas ele retirou varias notas da carteira e saiu apenas dizendo que podia ficar com o troco – explicou o mesmo homem que ligara para o policial.
___ Há quanto tempo trabalha nesse hotel?
___ Praticamente cinco anos, nunca me aconteceu nada do gênero. Tenho certeza de que a dona Carolina foi seqüestrada.
___ Será que o tal sujeito a conhecia?
___ Tudo indica que sim, mas não sei, pode ser que não.
___ Acha mesmo que essa mulher pode estar correndo perigo?
___ Sim. O homem saiu daqui com bastante presa e retirou todas as coisas dela.
___ Não poderia ser o namorado ou marido dela?
___ Consultei a ficha do cadastro dela, ela é divorciada. Mas será que...
___ Em que carro estava? – interrompeu o policial.
___ No carro dela, um Jeep Cherokee preto.
___ Pois bem, faz muito tempo que ele saiu daqui?
___ Cerca de quinze minutos.
___ Foi em qual direção?
___ Virou a esquina por ali – disse o recepcionista indicando com o braço.
___ Qualquer notícia me comunique, vou ver se consigo localizar o automóvel.
Dessa vez, sem ligar as sirenes, o policial tentou em vão localizar o carro descrito. Sem nada encontrar, aproveitou o horário e notando que não comera nada, sentou-se numa lanchonete de esquina pensando que não podia se demorar muito por ali. Estranhando a ultima ocorrência que tomara nota, verificou que um Jeep preto acabava de ser estacionado logo próximo. Descendo dele um homem de camisa azul estampada e calça jeans, o policial não levantou nenhuma suspeita, mas mesmo assim, observou o homem que se aproximava também da lanchonete.
___ Aquele Jeep é seu? – perguntou o policial tentando puxar conversa com o homem.
___ Algo errado? Não se pode estacionar ali? – questionou o homem desconcertado.
___ Não, tudo bem. Perguntei porque há muito tempo tenho vontade de comprar um veículo desse para mim. Foi muito caro?
___ Bastante.
___ Trabalha com o quê?
___ É, bem, sou economista – respondeu o homem voltando sua atenção para o carro.
Se aquele policial fosse o mesmo que tivera rendido os pintores no dia em que eles assaltavam o ônibus, teria reconhecido o pintor de vista imediatamente, porém, aquele bandido continuaria as soltas. Sem jeito de questionar mais, o policial comeu com rapidez o seu lanche e retornou para a delegacia sem acreditar que pudesse coincidentemente estar falando com o próprio sujeito que seqüestrara Carolina.
Ainda preocupado com o caso, o policial não tirava de sua cabeça o numero da placa do Jeep. Notando que poderia valer a pena se informar sobre aquele veículo, descobriu que o automóvel estava no nome de Carolina e ainda perplexo contatou que o sobrenome dela era o mesmo da conhecida Carol que praticamente não saia mais da delegacia. Sem entender absolutamente nada, mas muito desconfiado, o policial perguntou se Carol tinha alguma irmã gêmea e foi então que a confusão se tornou maior.
Preocupada, Carol confirmou que aquele nome se tratava de sua irmã gêmea. Quanto ao carro, ela não sabia absolutamente nada, mas por certo concluiu que sua irmã o teria comprado. Intrigada com os relatos do policial, Carol se esqueceu por momento de Manoel e constatou que alguma coisa grave poderia estar acontecendo com sua irmã.
___ Para onde ele poderia ter levado-a? – perguntou Carol bastante preocupada.
___ Não sei, não faço a mínima idéia – respondeu o policial também pensativo.
___ Minha irmã deve estar correndo perigo.
___ Mas não podemos fazer nada no momento – disse outro policial.
Totalmente de cabeça cheia, Carol não conseguiu pregar os olhos naquela noite e custando a esperar o dia amanhecer, pediu um táxi e foi até donde morara.
Encontrando com a mulher que lhe comprara a casa, Carol quase desmaiou quando realmente esta lhe disse que sua irmã chamada Carolina estivera naquele endereço lhe procurando.
Enquanto Carolina permanecia sozinha e abandonada, amarrada com fome e sede, Carol desinquieta tentava lembrar para onde os pintores tinham planejado de levá-la quando a seqüestraram. Manoel talvez soubesse, mas justamente naquele momento era impossível comunicar-se com ele.
Carolina continuava presa do mesmo modo e era obrigada a dormir sentada e com os braços esticados para cima, já tendo os pulsos todos machucados pela pressão das cordas. Enquanto o policial tentava fazer contato com a família de Carolina para pedir o resgate, tratava-a com pão e água, sem nenhuma piedade. Como Rosalinda também viajara com os avôs, seria difícil do pintor comunicar para fazer o acordo do resgate uma vez que não haveria ninguém para atender ao numero que Carolina informara.
Tendo um relampejo de memória, Carol lembrou-se cerca de quatro dias depois, que os pintores tinham pegado a rodovia, a mesma na qual ela viajara posteriormente. Retornando a delegacia, Carol apenas disse que tinha uma pista de onde sua irmã poderia estar. Acompanhada de um policial, ela informou o caminho e confusa imaginou que não poderia ser o local que estava imaginando.
Chegando no local indicado por Carol, encontraram Carolina praticamente desfalecida. Antes que pudessem retornar, o policial pediu que uma viatura fosse até o local, pois pretendia fazer uma armadilha para prenderem o seqüestrador assim que ele aparecesse por lá imaginando que Carolina ainda estivesse ali. Diante daquele reencontro, as duas irmãs gêmeas choraram e sendo auxiliada pelo policial, Carolina retornou com Carol para a delegacia donde prestaria queixa de todo o ocorrido.
Mais calma Carolina relatava seu boletim de ocorrência sobre o transtorno que passara naqueles últimos dias desde que chegara de viagem à procura de Carol.
___ O sujeito sentou-se ao meu lado na praça e enquanto eu lia uma revista ele colocou um canivete na minha cintura e perguntou se eu pensava que ia me livrar dele. Disse que era muito bom me rever e sem entender perguntei do que ele estava falando. Eu temia que ele realmente fosse me enfiar aquele canivete na cintura e nesse momento comecei a ficar desesperada.
___ O que mais ele disse? – perguntou o policial com atenção.
___ Ele disse algo como: “Agora sim vou seqüestrá-la e terei apenas para mim o resgate. Pelo menos isso vai valer pelo fato de ter nos enganado sobre o tesouro e toda aquela historia do mapa. Pode dizer que não teve culpa, mas isso não me interessa”. Acho que foi isso que ele disse, eu não entendi absolutamente nada sobre o que ele quis dizer com isso.
Carol limpava as lágrimas que desciam pelo rosto e pensava no quanto de fatos ainda eram desconhecidos pela polícia. Sem querer incriminar mais o policial Manoel, Carol permaneceu calada durante todo o tempo.
___ Continue – comunicou o policial à Carolina.
___ Eu achei que fosse um assalto e disse a ele que podia levar tudo. Eu sentia o canivete afinado começar a perfurar minha cintura enquanto via que aquele sujeito possuía um revolver escondido dentro da meia do pé direito. Ele mandou que levantasse e fingisse sermos dois bons amigos. Imaginando que o sujeito era doido ou estava drogado, eu não ousei desobedecer a suas ordens. Ele perguntou onde estava meu carro e riu dizendo que como ele imaginara eu não tinha ficado paralítica coisa nenhuma nem sofrido acidente algum. Respondi que tinha deixado o carro na garagem do hotel e ele me mandou deixar de ser mentirosa. Jurei que era verdade e então ele ordenou que juntos buscássemos o carro. Disfarçadamente ele enfiou o canivete dentro da minha blusa e fingiu que estava abraçado comigo. Depois ele disse alguma coisa mais ou menos assim: “Bonita como é não deve ter nenhuma estria, mas vai ficar com muitas se não colocar a mão no meu ombro agora e fingir que somos conhecidos de longa data”. Obedecendo ao sujeito, eu fiz tudo o que ele ordenou e ainda pressionada e totalmente atormentada, dirigi até um campo desolado e vazio. Ele disse que os amigos dele ainda estavam presos por minha culpa. Sinceramente se trata de um sujeito louco. Poderia ter me matado exatamente naquele momento. Colocando o canivete na frente do meu pescoço ele me disse muitas coisas sem nexo que nem me lembro, estava tão nervosa – relatava Carolina já mais calma.
___ Tente se lembrar.
___ Eu fiquei totalmente sem fala, sentia engolir uma saliva temerosa ao mesmo tempo em que a ponta fina do canivete se aproximar mais e mais de minha pele. Foi horrível. Depois ele disse que ia cumprir os antigos planos, anunciando que sabia para onde ia me levar. Então ele assumiu o volante e deu partida no carro. Disse que realmente precisava de um dinheirinho e matar-me naquele instante não seria uma boa idéia. Levando-me para aquela choça no meio do mato daquela fazenda abandonada, o seqüestrador me amarrou num dos troncos de madeira e retirando-se do local foi embora com meu carro e todos os meus pertences que não ficara no hotel, como a bolsa, os documentos e dinheiro. Inclusive ele sabia o numero do apartamento em que eu estava hospedada.
Carolina jamais poderia imaginar que aquele sujeito lhe confundira com sua irmã, do mesmo jeito que aquele pintor jamais desconfiaria que fora exatamente naquele local que Carol encontrara suas barras de ouro. Sem abrir a boca, Carol continuava guardando o segredo dos fatos ocultos que aqueles policiais ainda não sabiam, apenas Manoel que fora um dos participantes daquela súcia.
___ Depois ele comentou que mandara um policial inocente para trás das grades e que só faltava executar a vingança comigo. Supostamente ele estava drogado.
___ Mas então foi ele – comentou Carol pela primeira vez abrindo a boca durante o relato. – Estão vendo, Manoel é inocente.
___ Do que a senhora sabe e não quer contar, está visivelmente nítido que aquele sujeito se trata do pintor que fugiu e, portanto, ele a confundiu com sua irmã gêmea. Tudo o que ele disse a ela, na verdade pensava estar dizendo para a senhorita, não é mesmo? – questionou o policial colocando Carol consternada.
___ Sim, é exatamente isso. Também fui seqüestrada por aqueles pintores e meu caso sempre esteve nas mãos do policial Manoel. Ele salvou minha vida mais de uma vez e podem agora compreender o porque faço tanto empenho de que ele seja libertado.
___ Mas isso é muito grave. Se Manoel é realmente inocente, porque aquelas crianças deram declarações...
___ Foram subornadas a dizer o que aquele sujeito quis, por medo ou por dinheiro – respondeu Carol.
___ Do que estão falando? – perguntou Carolina sem nada mais compreender.
___ Realmente, do que estão falando? – perguntou outro policial que desconhecia o caso.
___ É uma complicada historia.
___ Realmente era Manoel quem estava cuidando do seu caso, desde que esteve presa.
___ Você esteve presa, minha irmã? – assustou-se Carolina.
___ Inocentemente. Armaram para cima de mim e fizeram o mesmo com Manoel.
___ Manoel envolveu-se com a senhora e não merece confiança nenhuma por parte da policial.
___ Como assim se envolveu comigo?
___ Por acaso vocês não têm um caso?
___ Está me insultando agora? – irritou-se Carol.
___ Porque então está morando no apartamento dele?
___ Sofri um acidente e fiquei muito tempo numa cadeira de rodas, você sabe disso – respondeu ela seriamente. - Manoel foi apenas um homem gentil que cuidou de mim e me ofereceu seu apartamento já que vendera minha casa. Ele não tem culpa de ter tantos que o invejem – insinuou Carol em resposta.
___ Que velha historia de mapa e tesouro é essa?
___ O mapa que encontrei sobre um feitiço, não existe tesouro nenhum.
___ Esse mapa é mesmo real? – questionou outro policial.
___ Sim. Desejo que tomem alguma providencia imediatamente. Enquanto Manoel, um policial honrado está preso, um criminoso bandido fica livre e foragido pelas ruas e fazer maldades.
___ Os policias ficaram no local para aguardarem o seqüestrador, pelo visto se trata do sujeito que conseguiu fugir.
___ E quanto a Manoel, quero que o libertem.
___ O caso dele vai ter de retornar ao tribunal.
___ Não me interessa – comunicou Carol demonstrando a seriedade em sua voz. – Vamos minha irmã, já estou cheia desse lugar. Retorno amanha e espero que as coisas possam estar melhores.
Passado alguns instantes, o pintor abriu a bolsa de Carolina e olhando para a foto em sua identidade notou o nome em baixo.
___ Quer dizer que Carol é apenas apelido, pois ela vai ver só, vou acabar com sua vida. Ainda bem que aquele tal de Manoel já foi preso, bom para ele aprender o que acontece com os traidores – dizia o pintor em voz alta consigo mesmo enquanto retornava para o local donde deixara Carolina.
Como os policiais haviam escondido o carro camburão atrás da choça, o pintor de nada desconfiou e foi preso no momento em que espantado constatou o recinto vazio sem a presença de sua presa.
Carol levou Carolina também para o apartamento de Manoel e tendo todos os seus pertences resgatados com a prisão do pintor, as duas ficaram mais aliviadas. Calmamente, Carol explicou toda a historia de tudo o que lhe acontecera. Carolina achou tudo muito surpreendente e depois daquele dia cansativo, as duas puderam dormir um pouco melhor.
Três semanas se passaram e depois de muito trabalho e investigação, os juízes decidiram por unanimidade, que o devido processo não tivera fundamentos justos e provados. De tal modo, Manoel estava conseguindo recorrer à decisão de suspender a anulação de sua própria condenação. Mesmo tendo o recurso negado, o tribunal afirmou que não ia protestar novamente àquele caso. Já conseguindo andar de muletas, Carol decidida foi com o advogado procurar as falsas vítimas e mediante a um questionamento programado, o advogado conseguiu identificar que elas estavam mentindo.
Tendo sido aprovado a reabertura do processo com novo julgamento, Manoel sentia próximo de sua liberdade, uma vez que o advogado lhe contara sobre a prisão do pintor que conseguira fuga. O depoimento de Carolina forçou o pintor a confirmar tudo o que fizera para incriminar Manoel e assim, as crianças vítimas também tiveram de confirmar que tinham aceitado dinheiro para denunciar o policial Manoel injustamente.
Tendo a confissão do que realmente acontecera, Manoel finalmente foi libertado. Carolina, grata por ter conseguido ajudar a irmã, embora depois de ter sofrido tamanho transtorno, retornou para sua cidade uma vez que seu período de férias estava terminando. Sendo insistida pela irmã, Carol quase retornou também para junto de sua família e só não fez isso pela promessa que fizera ao policial Manoel. Tanto Carol quanto Manoel lembravam exatamente das palavras pronunciadas anteriormente: “Prometo que se você conseguir sair daqui, lhe darei chances de aceitar seu pedido de namoro e receber vossa ternura. Farei o possível e o impossível para te tirar daqui, não quero perder o meu segundo e grande amor dessa vida”. Como tal promessa se adviria?
Num de seus relatos, Manoel respondeu aos repórteres:
___ Por meio da harmonia de nossos relacionamentos, nós afirmamos e desenvolvemos nossa própria personalidade, assim como também permitimos que, ao mesmo tempo, os outros façam o mesmo. Existem pessoas que são sarcásticas, arrogantes, outras que são pessimistas e resmungam de tudo, ainda existem outras que são uma verdadeira incógnita. Existem tipos diversos de características humanas e relacionamentos variados. Posso garantir que os relacionamentos mais complicados e difíceis são os que mais exigem nossa tolerância e paciência nos fazendo ser seres mais sublimes. Nunca devemos nos irritar diante de alguém com gênero intricado de se lidar. É bom que tenhamos uma proteção interior sendo hábil quando necessário e nunca deixar os outros se intimidar da gente conseguindo assim o que se quer. Também não é bom ficar na defensiva todos os momentos, isso pode dar a falsa impressão de ser uma pessoa covarde ou hipócrita. Devemos dizer não sem medo de sermos rejeitados e nem sempre podemos confiar na aparência, pois esta pode ser o extremo oposto da personalidade da pessoa. Não foi perdido o tempo que estive preso, aprendi muita coisa e hoje sei dar mais valor a minha liberdade e também a dos outros. Como policial precisava realmente ter sentido na pele o que é estar por detrás das grades. Senti exatamente o que faço os outros sentirem e imagino que do mesmo modo como fui preso inocentemente, devem ter muitos outros que inclusive confessam um crime sem o ter cometido por medo das ameaças de ser torturado. Muitos foram os sofrimentos, mas todos valeram a pena por ser o justo preço da recompensa que ainda sei que terei.
Manoel e Carol continuavam guardando apenas para si próprios os segredos de como toda aquela historia começara e principalmente do fato de que Manoel fizera parte do grupo dos seqüestradores a princípio. Um dia, a exata verdade ia estar ao alcance de todos através do livro que Carol estava escrevendo, embora os nomes originais jamais fossem relatados, como conseqüência também da tradição de preservação da família.
A maior certeza era de que aquela historia ainda seria bastante longa. Carol ainda teria muito para escrever...
Há 4 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário