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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Capítulo 12 – Escrevendo a própria vida IV

Apreciando a tarde fresca, Carolina encontrava-se no pequeno cais do porto, olhando a floresta de edifícios que se estendia pela zona portuária. Enfim, conseguira compatibilizar a viagem com o período de férias. Viajando sozinha, tinha encontrado algumas dificuldades, mas nada que a impedisse de continuar seu trajeto. Naquele momento, seu encanto era total pela vasta frota de embarcações com petroleiros, barcas e luxuosos iates.
Carolina estava regressando para sua cidade natal e procurava pela embarcação que a conduziria até o lado donde situava-se o aeroporto. No entanto, surpresa, admirou-se ao ver Manoel numa das outras extremidades. Curiosa para saber o que ele fazia por ali, aproximou-se realmente constatando ser Manoel.
___ Você não é o policial que...
___ Carol?! Quero dizer, Carolina!
___ Sim, também se lembra de mim?
___ Claro, jamais me esqueceria de você do mesmo modo como penso quase todos os dias em sua irmã.
Carolina sorriu um pouco sem graça.
___ Pois bem, estou retornando das minhas férias. E você? – questionou ela por fim vendo que ele também parecia bastante constrangido.
___ Estou procurando por uma lancha azul. A bordo devem estar uma gangue de traficantes prestes a enviar pelo oceano grande carga de maconha para outro país.
___ É por isso que em todos os momentos aparecem policiais por aqui? Já esbarrei com uns dois antes de você.
___ Isso mesmo. Eles precisam de alguém que transfira a droga para pequenas embarcações e é por isso que estamos aqui vigiando e visualizando todo o movimento. Estamos investigando quem é o agente disfarçado que finge de pescador para descarregar as drogas.
___ Entendo.
___ Essa é uma operação internacional secreta que começou há alguns meses. Já capturamos um dos traficantes na semana passada, mas precisamos pegar o chefe, o comandante geral.
Os olhos de Manoel vasculharam o movimento de barcos nas proximidades. Depois de alguns poucos instantes, ele viu um iate se aproximando do cais. Olhou para o relógio e depois para Carolina.
___ Essa é a embarcação que estou esperando – comentou Carolina.
___ Pois é nessa que vou também – informou Manoel.
Os dois embarcaram. Enquanto a embarcação distanciava do porto, Manoel sentia certo nervosismo.
___ Preciso de um favor seu – disse Manoel.
___ O que? – desconfiou Carolina.
___ Pode ir até a cabine comigo?
___ Mas...
___ Venha, me dê cobertura.
___ Você deve estar me confundindo com minha irmã, eu não gosto desse tipo...
___ Fique em silêncio, tudo bem? – interrompeu Manoel novamente.
Na cabine, Manoel se apresentou como um agente da guarda costeira. Enquanto isso, Carolina observava o sujeito bronzeado e de boa aparência que conversava com Manoel.
___ Nunca fui interceptado por nenhum agente da guarda costeira – comentou educadamente o sujeito com seu sotaque.
___ Recebi a informação de que vai ser amarrado atrás desse barco um outro barco que passará drogas para as balsas. O descarregamento feito dessa maneira levará cerca de dois dias, está sabendo de algo?
___ Não senhor – respondeu o sujeito.
Manoel percebeu que a carga deveria ser imensa.
___ Como puderam ter esse tipo de informação?
___ Grampeamos a conversa de uma linha privada de telefone pela qual informaram sobre este navio, que por certo já estava a caminho.
___ Estou sabendo de um navio de 3.500 toneladas que está a caminho do ancoradouro próximo ao aeroporto – informou o sujeito.
___ Claro. Obrigada pela informação.
___ Por nada. Suas suspeitas têm sentido.
Manoel aguardou até o desembarque e assim que passou pelo ancoradouro, pôde visualizar o navio falado.
___ Tem como você retirar informações à cerca dos tripulantes daquele navio? – pediu Manoel a Carolina.
___ Eu não sei como...
___ Faça isso por mim, de uma de curiosa ou pesquisadora e vá lá – insistiu Manoel.
Carolina retornou depois com as informações precisas. Naquele navio encontravam-se vinte policiais, duzentos tripulantes, um helicóptero e pequenos botes. O navio de 120 metros estava munido de duas metralhadoras com mira de raios laser e um sistema de armas para lançar granada e balas traçadoras. Na proa havia um canhão usado principalmente como arma antiaérea. Aquele navio realmente tinha tudo para transportas grandes quantidades de drogas.
Manoel investigou o percurso que por certo faziam. A ponte de comando deveria ser equipada com os mais avançados sistemas eletrônicos e dois radares de ultima geração. Uma central de dessalinização e mais de 600 toneladas de combustível para alta velocidade davam àquele navio e sua tripulação a possibilidade de atravessar o oceano sem parar. Antenas ocultas nos mastros e um sofisticado código de comunicação ajudariam o navio a passar despercebido na vastidão do mar. Para Manoel, não restavam mais dúvidas. No entanto, estava longe de sua equipe para tomar qualquer atitude. Mas não poderia ficar parado.
___ Escute bem, qualquer coisa que me acontecer, ligue imediatamente para este numero e peça auxílio. A guarda costeira está a caminho – comentou Manoel entregando um papel à Carolina sem importar-se com o fato de que ela deveria ir para o aeroporto.
___ Preciso fazer uma verificação neste navio antes...
___ Você não tem autorização para isso. Somos de companhia estrangeira e estamos em águas internacionais.
Manoel se preparou para a verdadeira abordagem. No escritório da guarda costeira, chegava o pedido para bombardear a proa do navio.
___ Tire o seu pessoal da casa de maquinas que esse navio vai ser imobilizado até a chegada da guarda costeira.
___ Posso lhe apresentar os selos de inspeção aprovada. Nenhuma de nossas mercadorias deve ser mexida, estão todas embaladas em sacos à prova d’água...
___ Com licença – pediu Carolina que fora a seu encontro. – Manoel, eu preciso ir, ou então vou perder meu vôo.
___ Não preciso dizer que você corre o risco de passar uma longa temporada atrás das grades – comentou Manoel não dando atenção para o que Carolina dissera.
___ Nós não somos traficantes de drogas – insistiu o sujeito.
___ Manoel – voltou a chamar Carolina.
___ Sim? – virou-se Manoel atormentado.
___ Preciso ir.
___ Está bem, dê saudações a sua irmã e seus avôs. Vou visitá-los assim que der.
___ Estaremos lhe esperando. Boa sorte – despediu-se Carolina abraçando Manoel rapidamente.
Por fim, Carolina pôde tomar seu caminho para o aeroporto e aguardar pelo seu vôo. Depois daquelas férias, tudo o que ela queria era uma vida nova. Sem nenhum pretendente a vista, restava-lhe apenas estar disposta a recomeçar seu trabalho. Diogo, seu antigo namorado, filho de Diva, já se encontrava casado com outra mulher naquele momento. Rosalinda também estava totalmente desimpedida e isso apenas comprovava que os namoros de adolescência não tinham durado muito. Portanto, tanto uma quanto a outra, estavam livres para qualquer aventura romântica. A vida continuava normal e cheia de afazeres para todos.

30 de julho de 2005
Totalmente ansiosa, aguardei por minha amada mãe. Ia pela primeira vez, depois de tanto tempo desencarnada, poder rever meus entes tão queridos deixados no plano terrestre. Sentia-me cheia de curiosidades e muito animada, era para mim como uma viagem desconhecida.
Conforme fiquei sabendo, contando pelo tempo da Terra, já haviam passado cerca de sete meses da minha morte, no entanto, para mim, parecia ter sido totalmente diferente, horas com rapidez e depois com lentidão. Desde minha morte, nunca tivera nenhuma noticia sobre meus familiares encarnados e sentia-me maravilhada ao pensar que ia revê-los novamente.
Entramos numa espécie de ônibus que parecia andar sobre o chão, não tenho noção exata para descrever como funciona o veículo. Dentro dele, uma música muito envolvente e suave tocava, indefinível tanto na instrumentação quanto na melodia. Incrivelmente, a música parecia ser produzida pela própria energia luminosa existente no ambiente. Harmonia e muita paz era o que aquele som tendia a nos oferecer. Existia de fato uma imensa paz, provocada não apenas pela música, mas também pelo perfume natural e suave do local e das cores reluzentes de todo o redor.
Automaticamente, olhei para o relógio, logicamente por hábito, pois não tinha mesmo noção de tempo e não sabia quantas horas de viagem seriam. Também não sabia se naquele momento era noite ou dia na Terra.
Minha mãe, sentada ao meu lado, dizia-me algo básico sobre meu procedimento, o que era de grande importância. Conforme fomos nos aproximando da Terra, ocorreram alguns detalhes e outros tantos que visualizei e senti junto à crosta terrestre, porém, não me é permitido descrever exatamente o que presenciei.
Uma vez já estando na casa de minhas irmãs, a primeira pessoa que visualizei, foi minha irmã Rosalinda, ela saberá exatamente identificar o momento que descreverei a seguir. Rosalinda estava sentada em seu escritório verificando algumas pendências, pagamentos a realizar imediatamente caso não quisesse ter prejuízos por parte dos juros altos. Naquele momento, aquela papelada toda envolvia seu pensamento de uma forma muito forte e era a única coisa na qual ela conseguia pensar. Aproximei-me dela e lhe toquei os cabelos verificando como ela estava preocupada e atormentada por toda aquela papelada.
O ambiente da Terra não me agradou muito, é como se durante todo o tempo que houvesse estado fora dele tivesse me desacostumado. Eu parecia muito mais sensível a qualquer barulho, cheiro e até mesmo ao pensamento e sentimento de outras pessoas.
Enfim, tudo era a principio bastante estranho e chegava a ficar desnorteada, precisando varias vezes do auxilio de minha mãe que me emanava alguns fluidos e vibrações, espalhando raios coloridos por todo o ambiente. É difícil explicar a imensidão de variedade dos meus sentimentos durante os momentos que estive com Rosalinda.
Permaneci durante breves instantes com a mão pousada em seus cabelos, até que ela levantou-se e foi à cozinha beber um copo de água e comentou com Carolina que sentira meu perfume no escritório. Carolina não quis acreditar e ficou espantada, disse para a irmã parar de contar mentiras, mas dessa vez Carolina realmente havia sentido meu perfume. As duas começaram a conversar e Rosalinda abriu-se com Carolina expondo o seu problema diante das finanças. Juntamente com minha mãe, ficamos felizes por saber que Rosalinda ainda tratava Carolina não apenas com o carinho de uma irmã mais velha, mas também com a dedicação de uma mãe.
Depois de alguns instantes vendo as duas conversarem, Alva me chamou a atenção para um detalhe, sobre a mesinha de centro da sala, encontrava-se uma foto minha e no rodapé dizia: “As mais belas criaturas são como a felicidade, tem curta duração... mas deixam seus exemplos que servem de esperança e inspiração”.
Aquela frase me fez ficar totalmente tocada, com a sensação de que ia chorar. Realmente, algumas lágrimas passaram pelo meu rosto e aproximei-me do retrato. Ia tocá-lo quando ele caiu sobre o tampo da mesa, voltando-se para baixo.
___ Carolina, o retrato de Carol virou sozinho, viu aquilo? – comentou Rosalinda que retornara para a sala donde aproveitava o feriado para assistir um filme.
___ Estou te falando que senti o perfume dela.
___ Mas... Carol? Você está por aqui? – questionou Rosalinda.
Queria realmente responder que sim, mas nada do que eu dissesse ia adiantar, elas não podiam me escutar e todas as minhas tentativas seriam em vão. Fiquei ali naquele ambiente durante mais alguns minutos aguardando pelo retorno de meus avôs que haviam ido caminhar na praça de esquina.
Marta e Orlando estavam com uma idade avançada. Como a morte nem sempre é predeterminada e não me podia em hipótese alguma ser prevista, fiquei pensando quando tempo eles ainda viveriam ali naquele plano e pensei no quanto seria bom se pudesse auxiliá-los quando tivessem de partir para outra esfera, assim como fizera meus pais comigo.
Marta, com uma sensibilidade extraordinária, logo ao passar pela porta ficou toda arrepiada e perguntou a Orlando se ele estava sentindo alguma coisa estranha.
___ Não, o que foi? – perguntou Orlando indo até o sofá donde sentou perto da neta.
___ Nossa filha, é Analice.
___ Vovó, a senhora também está sentindo algum cheiro ou perfume?
___ Sim, não sei se é de Analice ou de Carol.
___ Esqueceu-se que as duas usavam o mesmo perfume?
___ É verdade – recordou-se Marta. – Carol sempre usava o perfume de sua falecida mãe em respeito à memória dela.
Enquanto discutiam sobre minha presença, minha mãe me informou que o tempo estava decorrendo e se quisesse ver Manoel, teríamos imediatamente de ir ao apartamento dele. Despedimo-nos de todos os familiares encarnados com um delicado envolvimento de boas energias e partimos em seguida.
Ver Manoel foi mais difícil do que reencontrar com minhas irmãs. Ele parecia abatido e brigava no telefone com algum desconhecido. Estando envolvido por um clima de muita tensão, não consegui me aproximar dele como gostaria e foi com tristeza que tive de me retirar de seu apartamento.
Todas as vezes que tentava me aproximar, sentia-me mal e verifiquei que ao me retirar, uma nuvem de entidades tornou-se presente no recinto. Foi imensa a minha dor por vê-lo em tal situação, mas tive de me conformar e como minha mãe me dissera, deveria ser forte para compreender e aceitar, sem querer interferir no livre arbítrio de nenhum deles.
Devo dizer que hoje compreendo muita das dúvidas sobre as encarnações passadas e o porque do meu desencarne ainda tão jovem. Sinto por não poder revelar a todos os leitores, em principal ao próprio Manoel, quem por período tão curto teve maior influencia em minha vida do que eu poderia supor.
Apenas digo que na vida, os acontecimentos decorrem com uma perfeição fabulosa no sentido de que tudo é voltado para nosso próprio bem, nosso aprendizado e evolução. Creiam nisso e tenham fé que tudo se resolverá.
Mantenho a maior parte do tempo avaliando-me e me auto-conhecendo. Aos poucos poderei relatar mais sobre como é o lugar donde estou e as atividades que nele pode-se executar. Tenho lido bastante e chego a pensar certos momentos que me viciei por leitura. Em pouco tempo pude aprender muitas coisas e vivenciar ocasiões inacreditáveis.
Fico toda empolgada e morrendo de vontade ter permissão para dizer tudo, mas realmente não posso. É-me negado e não devo jamais descumprir. Muito preocupada com Manoel, insisti para que pudesse retornar a vê-lo e foi então que percebi o quanto sua vida de policial é complicada e perigosa. Eu sinceramente não tinha noção precisa à cerca disso. Na minha segunda visita, encontrei Manoel junto ao Batalhão de Operações Especiais.
Como os outros policiais, verifiquei que Manoel estava fortemente armado e invadia uma das favelas da cidade para combater o tráfico de drogas. A cena me fez lembrar do momento em que o vi pela primeira vez, justamente quando ele me acusou falsamente de manter porte ilegal de drogas.
Passadas as recordações, senti-me infinitamente mal por permanecer no meio dos policiais. Foi triste ver a tensão existente naquelas vielas. Em cada beco, qualquer um estava sujeito a levar um tiro. Os cachorros latiam freneticamente. Os moradores assustados gritavam para as crianças entrarem em casa.
Os policiais se comunicavam por breves sons guturais. Assim que os moradores locais perceberam a presença da policia, um dos vigias do trafico soltou fogos de artifício, avisando os outros sobre o perigo. Pronto, o combate estava apenas começando.
Os bandidos pegam de imediato os fuzis de grosso calibre. Foi atemorizante presenciar esse tipo de cena e sentia que minha presença ali deveria ser, antes de qualquer coisa, uma forma de proteger Manoel. Talvez para Manoel aquela vida de dar tiro e levar tiro pudesse até ser normal como parte de uma rotina, mas para mim não era e confesso que fiquei muito espantada e realmente com medo, principalmente por Manoel.
Se tais combates fossem excepcionais, até que seria razoável para os fardados neles envolvidos. É uma profissão arriscada por natureza, mas especialmente perigosa num país que foi tomado de assalto pela violência urbana. Como é doloroso ver um cotidiano cujos valores foram estranhamente invertidos, numa fabula macabra donde a caça quer o caçador.
Percebi que para tentar combater a criminalidade, era preciso agir de todos os modos mais cruéis e arriscados, donde uma atitude qualquer sem planejamento de uma operação militar soaria como tática suicida.
Compreendi que muitas vezes, deixar de cumprir uma obrigação funcional, como prender um bandido, é considerado crime de prevaricação. Mas, na realidade da vida policial, pode ser uma questão de sobrevivência. Conviver com os criminosos é complicado.
Muitas vezes é necessário colaborar com informações em troca da segurança e tranqüilidade de sua família. Notar tudo aquilo me fez sentir um grande questionamento: teria Manoel aceitado ser cúmplice contrabandeando com os pintores por livre vontade ou forçado por alguma ameaça? Teria sido por espontâneo interesse no suposto tesouro ou existia por trás de toda aquela historia um medo oculto?
Meu carinho por Manoel é imenso e muito especial. Sei que morri por um tiro que ele provocou sem premeditar que a vitima seria exatamente eu. Ele não teve culpa direta do meu falecimento. De alguma maneira eu ia morrer e posso quase dizer que essa morte seria ocasionada por ele. Não me é prudente revelar o porque de todos os fatos terem desencadeado dessa maneira, mas apenas revelo que assim tinha de ser por motivos maiores.
Policiais vivem se arriscando para evitar que outras pessoas coram riscos. A insegurança que muitas vezes faz parte da vida dos policiais é péssimo sinal, não apenas para eles próprios, mas também para a segurança publica.
Diante de Manoel, percebi que um profissional inseguro torna-se presa fácil de seus próprios erros e foi exatamente isso que lhe ocorreu frente a meu falecimento. Constatei pela fisionomia de Manoel que se tornava aos poucos um homem mais agressivo e violento. Como procuram produzir paz agindo por meio de violência? Onde o mundo vai parar desse jeito?
Estive analisando a vida não apenas de Manoel, mas de vários policiais e conclui que a rotina de viver entre o risco do combate direto e o medo da emboscada é uma das principais causas do elevado numero de suicídios. Essa minha analise foi bem comprovada. Um dos policiais, inclusive conhecido de Manoel, filho de um sargento e herdeiro de uma grande habilidade profissional, foi encontrado morto na margem de um rio, sob uma ponte de noventa metros de altura.
Sem indícios de um assassinato, a policia trabalhou com o seguinte cenário: de uniforme policial, casaco de veludo e distintivo no peito, aquele policial teria dirigido seu carro até o pontilhão. Deixando o veiculo ligado e os faróis acessos, ele saltou para a morte. Foi isso mesmo que aconteceu. Seu corpo foi encontrado horas depois com o rosto ensangüentado, o crânio dividido e o peito amassado. A morte dramática, totalmente misteriosa e violenta devastou toda a delegacia. Todos os demais policiais tiveram sua dose de amargura.
Segundos dados de minhas pesquisas, o numero de policiais que tiram a vida é sete vezes maior do que o da média da população em geral e isso ocorre quase sempre pela complexidade da própria profissão e do elevado nível de stress. Também analisei que os policiais sofrem pela péssima condição de pagamento. Ficou claro para mim que um policial do tráfico, ganha até três vezes mais a de um policial qualquer e o risco que corre é praticamente o mesmo. É assim que muitos policiais morrem, por se envolverem no mundo do crime. Manoel viveu seus maus momentos por ter se envolvido com aqueles pintores bandidos.
Não existem estatísticas que mostrem o tamanho dessa promiscuidade, mas garanti para mim mesma que esse crime já tornou um problema grave. Ainda bem que Manoel nunca mais cogitou em fazer parte do grande numero de banditismo entre os próprios policiais. Pensando nisso, não quero dizer que o cidadão é quem de fato corre perigo, mas alerto que os problemas são mais graves do que qualquer um pode supor. Como não poderia ficar ao lado de Manoel o tempo todo, retornei ao plano donde estava e juntei-me a minha equipe de estudos.
Durante certos períodos fazemos passeios pela natureza exuberante desse lugar. Passamos por trilhas e cavernas que convidam qualquer um a uma boa aventura.
Há alguns dias atrás tive permissão para auxiliar um grupo de pesquisadores terrenos, são arqueólogos que peregrinam em busca de respostas aos enigmas dos povos da antiguidade. Nada menos do que treze cemitérios misteriosos construídos por um grupo que se acredita extinto há muitos séculos.
Vou ao encontro dos pesquisadores nas grutas semi-encobertas por cipoais e folhagens, lugar de tumbas e urnas funerárias convencionais, que exibem vasos de cerâmica na forma de grandes bonecos. São figuras de quase um metro, representando homens e mulheres sentados em pequenos bancos, como um grupo de índios reunidos para uma conversa em torno da fogueira.
Algumas figuras ocupam lugares de destaque com traços zoomorfos. Dentro das peças de barro estão ossos dos indígenas. As urnas, por enquanto, são os elementos mais significativos de como viveu essa gente. Tal população tinha um rito fúnebre bastante original. Não enterravam as urnas e guardavam os ossos numa disposição padronizada.
No fundo do vaso era colocada a pélvis, depois as costelas, em seguida os ossos das mãos e dos pés. Por cima de tudo vinha o crânio. Os ossos mais longos eram acomodados nas laterais. O sexo do morto era definido pelo formato do vaso.
Mas não estou com tais pesquisadores apenas por conta das descobertas, mas por um problema maior que ocorre na região: a devastação, o desmatamento da floresta nativa. Mas isso é assunto longo demais para ser descrito aqui. Tudo vale apenas para ressaltar o quanto nós, seres humanos, ainda temos de melhorar para aproximar da perfeição de algo que destruímos constantemente: a natureza. Eu fico alarmada com tantas agressões ambientais e isso contribui para minha própria tomada de consciência.
Teria aqui assuntos incalculáveis para descrever, mas são poucas coisas que tenho permissão para revelar, principalmente pelos meus familiares, amigos e conhecidos que ficaram encarnados. Sei que desde muito todos aguardam pelo meu livro, mas aqui nada vai ser revelado além do limite.
Muitas vezes, recuar em batalha perdida é uma boa estratégia para garantir uma vitória futura. Geralmente, aceitar os erros e meditar sobre eles, é uma excelente forma de agir corretamente. Esse tem sido meu dilema.
Tudo por aqui é bastante intrigante e despertam sempre novos aprendizados. Tive a oportunidade de rever amigos já falecidos e é sempre imensamente prazeroso poder reencontrar com entes queridos. Tem coisas aqui que me surpreende por demais. Há poucos dias recebi um comunicado que meu pai me esperava em sua casa e que uma senhora de nome oculto, ia me levar até lá. Assim aconteceu.
Fiquei maravilhada com a construção de seu refugio no alto de uma colina, toda rodeada de jardins de inverno com flores dos mais variados tipos, vegetação nativa e detalhes inusitados. Tudo aqui também é projetado, planejado e executado parte por partes até o fim. A sala da casa dele tem o chão todo de areia e isso dá uma sensação de relaxamento, principalmente por mantermos o tempo todo o pé descalçado. No centro da cozinha, possui uma enorme arvore com o tronco todo coberto de belíssimas orquídeas. Toda a decoração demonstra uma criatividade exemplar que nunca tinha presenciado.
A casa é toda integrada a própria beleza da região. Não existem paredes internas, apenas placas de espelho reforçado com um vidro grosso que aumenta o ambiente deixando tudo com aspecto bem mais amplo. Meu pai Luiz se divertiu dizendo que aprendera a ousadia de montar aquela casa observando os projetos que eu fazia enquanto encarnada. Não sei se isso realmente seria verdade ou apenas brincadeira. De fato, não nego que sua moradia estava digna de muitos aplausos e deslumbramento.
A parte que mais gostei e considerei como minha preferida foi o quarto, localizado num dos pontos mais altos da construção. Só uma parede lateral separa o dormitório dos outros ambientes e enormes janelas deixam livre a visão das montanhas e das moitas de manacás. O maravilhoso cheiro vindo das flores do jardim é de deslumbrar junto à beleza colorida de flores roxas, jasmins brancos, roseiras repolhudas e os pequenos lagos de água pura e cristalina que dão um toque especial à bela vista.
Embora não possa estar o tempo todo ao lado de meus pais, Analice, ou melhor, Alva e também de Luiz, é gratificante poder vê-los em alguns momentos e saber que estamos todos sempre progredindo e aprendendo. Luiz está engajado num estudo sobre as próximas gerações, observando como deverá ser o desenvolvimento intelectual e emocional do ser humano. Ele esteve me contando um pouco sobre o que já aprendeu e interessei-me bastante pelo assunto.
Pelo que compreendi, o ambiente influi totalmente o desenvolvimento de uma criança. É na infância que se criam na mente o protótipo dos sons que ouvimos e emitimos. Uma criança é moldada mais facilmente em seus primeiros anos de idade. As crianças estão quase sempre engajadas na tentativa de entender o mundo físico, dos objetos e o psicológico das pessoas. É interessante comprovar o fato de que uma criança antes de um ano de idade, não sabe que os objetos que desaparecem de suas vistas continuam a existir. Como muito já se sabe, os bebês aprendem mais nos três primeiros anos do que em quaisquer outros três anos de sua vida. Se nós em fase adulta pudéssemos aprender tanto em tão pouco tempo, seriamos todos gênios.
Na verdade, nascer com habilidade para aprender de suas próprias atividades e das dos outros é um dom raro e formidável não compartilhado por todas as espécies. A aparente fragilidade é, na verdade, uma predisposição para aprender rapidamente e absorver o que está na cultura sem esforço. É isso que dá a espécie humana a flexibilidade para formar diferentes culturas com costumes, rituais e línguas distintas.
Muitas crianças testam o limite das coisas e podem ler os pensamentos dos pais, bem como as expressões. Algo que achei interessante foi o estudo sobre a amnésia infantil, ou seja, o fato de não lembrarmos do que ocorre até os três anos de idade. Cientistas ainda não sabem a causa e por mais que desejasse saber, meu pai não quis me dar explicações. Ainda não estou totalmente pronta para os diversos conhecimentos existentes.
Bem, ultimamente tenho tido meu tempo muito ocupado e devo finalizar meus relatos por aqui. Não devo entrar em detalhes a cerca de mais nada e compreendam que estou numa fase que pode ser considerada ainda muito recente de meu desencarne. Por vezes ainda faço confusão e penso que estou encarnada. A cada minuto surpreendo-me com coisas diferentes, novidades e acontecimentos. Sei que deixarei enormes saudades a meus familiares, mas observo que todos souberam superar as dores de minha partida. Assim realmente tinha e tem de ser. Sou infinitamente grata pelas mentalizações positivas e os fluidos que aqui recebo, provavelmente emanados por meio de preces.
Sinto-me bem e feliz. Devo dizer que as aflições do mundo são vistas por nós como pura ignorância que propicia aprendizados. A verdadeira vida, do lado de cá, é intrigante e cheia de mistérios. Não me julgo de toda digna de estar num ambiente tão supino como este daqui. Não sei porque mereci a dádiva de ser resgatada por meus amados pais, os mesmos que com muito carinho me proporcionaram à vida na Terra. Sei que ainda estou longe de realmente me encontrar num mundo superior, mas digo elevação pela própria leveza dos fluidos, pela singeleza do ambiente daqui.
Muitas vezes, impressiono-me com sensações corporais, geralmente quando recordo da vida que tive. É incrível como o simples pensar me faz sentir no peito a dor do tiro que levei. Devo consolar Manoel e digo o seguinte: meu carinho por ele é maior a qualquer atitude que ele tenha feito contra mim. Não o julgo em nenhum aspecto e considero todos os seus atos baseados em pontos fracos e inferiores como oportunidades de melhoria futura. Tenho conhecimento preciso sobre os sentimentos que nos envolveram e da carga de fatos passados vinda à tona. Considero como puro o amor que ele me jurou e o envolvo com o mesmo sentimento que sempre tive guardado dentro de mim.
Quanto a Joaquim, não quis ir vê-lo e prefiro nada me referir, pois qualquer palavra sobre isso me causa verdadeira angustia e desgosto. Não gosto de pensar nele para não ter sentimentos negativos, isso atrapalha muito meu campo vibracional e confesso que quase tudo aqui é subordinado ao próprio pensamento. Prorrogo minha luta pelo perdão constante quando penso em Joaquim.
Preparo-me para desenvolver o zelo, a solicitude e o amor fraternal. Rezo muito e estudo constantemente. Ainda não consigo me alimentar apenas dos elementos químicos compostos no ar da atmosfera. Uso da ilusão dos corpos somáticos e tento aos poucos me acostumar com a nova modalidade de alimentar-me apenas de energia e vitalidade fluídica.
O tempo aqui é tão diferente e diversificado do que vivi enquanto encarnada que não tenho palavras para definir ou explicar. É como se não fosse separado entre noite e dia, porém por vezes visualizo a luz solar e a luz dos crepúsculos lindíssimos de inúmeras colorações e admiráveis nuances como jamais imaginara. A natureza daqui é bem diferente, as flores desabrocham com maior rapidez, são mais duráveis e nitidamente refletem uma ampla delicadeza.
Esse lugar é perfeito quando comparado à visão de exílio e sombras que tive em visita ao obscuro planeta Terra. Em minha visita, sentia-me ruim como se estivesse sendo sufocada por uma nuvem cinza de fumaça. Foram muitas as observações negativas que fiz, mas não as descreverei nesse momento. É muita amargura ver as misérias do mundo causadas pelo próprio egoísmo dos seres humanos.
Tudo aqui é bem semelhante à vida terrena, porém possui maior leveza e sutileza. Ainda tenho muito a aprender para comentar sobre o que existe aqui e como são as coisas deste plano. Revelo que logo iniciarei a técnica das faculdades volitivas e fico imensamente feliz por saber que depois disso poderei ir conhecer os grandes hospitais que todos falam com tanto entusiasmo.
Ninguém deve temer a morte, mas sim a conseqüência dos seus atos negativos. Castigos não existem e a justiça divina é lei para todos. A Terra pode ser um “céu” futuro, depende apenas de seus encarnados. Um mundo sem vícios, sem maus pensamentos, sem guerras e sem os males que tantos conhecemos, pode ser o paraíso sonhado por tantos. Um paraíso que não se conquista com dinheiro, nem com palavras, mas com atitudes de muito amor.
Um ser humano jamais estará apto para viver no paraíso se não for digno dele, se não souber amar incessantemente a todos aqueles que o rodeiam. Também estão longe dos planos mais superiores, todos aqueles que pensam que nele existe apenas descalço e mordomias.
Fico por aqui, deixando meu carinho a todos os leitores e informando que mesmo depois da morte, teria o infinito para continuar escrevendo a própria vida, uma vez que nós somos seres eternos. São intermináveis os acontecimentos marcantes para serem postos em continuidade, com certeza numa próxima obra.
Repasso este meu livro e os próximos que provavelmente têm probabilidade de serem escritos, para qualquer um dos membros de minha família e deixo a supervisão por conta de Rosalinda e minha avó Marta. No entretém dos fatos e acontecimentos, tudo pode acontecer e o mistério continuará rondando o futuro de todos. Beijos carinhosos e fluidos balsâmicos de conforto e amor.

Numa reunião familiar, junto de Marta, faziam a revisão do livro de Carol e achando melhor, estabeleceram que nem Carolina e nem Rosalinda iam prosseguir a história, pois outros relatos pessoais já montaria uma conseqüente historia nova: o próximo livro - Escrevendo a própria vida V.

Uberlândia, 10 de dezembro de 2004 / 10 de agosto de 2005

continuação capitulo 11 - C

01 de abril de 2005
Mais uma vez é uma honra escrever a todos os leitores e poder transmitir minhas mensagens. Desde ontem, estive mantendo minhas reflexões a cerca do entusiasmo e logo de inicio tratarei deste assunto. Todos nós podemos aprender a cultivar essa preciosa faculdade, que dá alegria e sentido aos nossos dias. Ninguém nasce entediado. No caminho para a vida adulta, na condição de pessoas responsáveis, chegamos a um momento em que perdemos o entusiasmo, não por nos termos tornado sábios e tristes, mas porque cometemos o erro de imaginar que entusiasmo é uma capacidade voltada às crianças, moldada de características infantis. Na verdade, imagino que o real sentimento de entusiasmo adulto é o dom original amadurecido e temperado pela experiência, o critério e o humor.
A raiz principal do entusiasmo é aprender. O aprendizado torna-nos novamente crianças em relação às coisas novas, mas por outro lado, aprender importa em reconhecer que não sabemos ainda. Sem um propósito, não há como existir prazer duradouro. Chega uma época em quase todas as vidas em que falta o propósito e desaparece o entusiasmo, arrastando consigo, de certo modo, até a nossa vontade de viver. Digo isso porque passei por tais momentos quando encarnada e aqui não é diferente. Isso pode acontecer bruscamente, em conseqüência do desgaste do próprio dia-a-dia. Pode acontecer quando se perde um emprego antigo, numa certa manha em que a pessoa descobre que já chegou a tal idade sem ter feito um décimo do que planejara, ou como no meu caso, ao passar pelo desencarne. É forte a tentação de desistir de tudo, mas esse é o momento em que, mais do que em qualquer outra ocasião, é preciso continuar. A mente humana é preguiçosa e gosta de não ser perturbada.
Não existe nenhuma formula mágica que possa dotar-nos da alegria de viver. Esta vem da disposição de encontrar cada um o seu caminho. Importa às vezes na aceitação das coisas como são e outras vezes na ousadia de modificar as coisas. Nós devemos às vezes, curvar-nos as circunstancias. Todos os campos de atividade têm os seus riscos e às vezes, não cabe a nós modificá-los. Em alguma parte entre querer mudar o mundo e querer esconder-se dele, há certo ponto de equilíbrio que permite o entusiasmo inteligente e adulto. Essa decisão dentro de nós se transforma na arte fora de nós, e já não nos mostramos ansiosos por saber qual o sentido da vida: fornecemos esse sentido com a nossa maneira de ser.
A pessoa entusiasmada é aquela que acredita na sua capacidade de transformar as coisas, de fazer dar certo. Entusiasmada é a pessoa que acredita em si. Acredita na força que as pessoas têm de transformar o mundo e a própria realidade. Só há uma maneira de ser entusiasmado: é agir entusiasticamente! Se esperarmos as condições ideais primeiro para depois nos entusiasmarmos, jamais nos entusiasmaremos. Não é o sucesso que traz o entusiasmo, mas sim o contrário. Há pessoas que ficam esperando as condições melhorarem, a vida melhorar, o sucesso chegar, para depois se entusiasmarem. A verdade é que jamais se entusiasmarão com coisa alguma. O entusiasmo é que traz a nova visão da vida.
Devemos colocar garra em tudo o que fizermos a fim de conquistar sempre mais do que esperamos. Quando nos dedicamos verdadeiramente a qualquer desafio ou conquista em nossa vida, os obstáculos que existem em toda a atividade humana ficam menores, ou nem chegamos a percebê-los, pois nossa visão, nossa concentração, está voltada para a conquista do objetivo.
Existem durante toda a vida, experiências que são maravilhosas e outras que são péssimas por nos fazer passar raiva ou sofrimento, mas de toda forma, é melhor do que não vivenciar nada. É preferível sobreviver a maus trajetos a não ter caminhado. Muitas vezes penso e admito que eu sou acomodada. Passei boa parte de minha existência no comodismo, deixando as coisas acontecerem e fazendo com que as ocorrências do dia-a-dia me levassem as circunstancias, aos fatos diários. Fui sobrevivendo deixando os acontecimentos normais me empurrarem, conduzindo-me ao acaso do porvir.
Agora a poucos momentos, durante o breve intervalo que fiz para comer uma fruta, conheci uma jovem que aceitando eliminar minhas curiosidades, relatou-me um pouco sobre sua ultima existência, achei tão romântica sua historia de vida que contarei um pouco sobre ela. A vida dela foi baseada em torno de um conto de amor, uma das uniões mais perfeita que já tomara nota. Quando jovem, mantida nos rigores da época, lá pelos anos de 1844, ela jazia a maior parte do tempo num divã, no primeiro andar de uma mansão, em Londres. Era uma mulher que pouco tinha a esperar da vida. Pequena e franzina, com grandes olhos sombreados por longas pestanas, cachos compridos a enquadrar-lhe o rosto pálido, mãos e pés de grande beleza, mas parecia uma sombra, deitada com seu vestido de veludo, envolta no silêncio do quarto fechado. Era solteirona, tendo transposto há muito os anos da juventude, uma inválida, uma reclusa. Afirmara reputação como poetisa, mas o mundo lhe era vedado pelas muralhas de uma saúde precária. Desde que ficara ruim de saúde que ela vivia assim, prisioneira no seu quarto, onde o som mais alto que se ouvia era a respiração de seu cachorrinho.
Numa das tardes monótonas, ela recebeu uma carta empolgante de algum admirador. Uma correspondência animada e cheia de poesia. Embora ela não soubesse que aquela carta seria uma chave que giraria a fechadura de sua prisão, ela pode perceber que aquela não era uma carta comum, tinha algo de muito especial. Ia ser o seu primeiro passo na transformação de uma solteirona doentia, na heroína de um romance imortal da historia literária.
Depois de olhar a assinatura desconhecida, ela leu com interesse o que dizia o cartão: “Amo seus versos de todo o coração”. Aquela frase demonstrava uma compreensão cálida pelas poesias que lhe animavam o coração. Aquela carta, diferente de qualquer outra que já recebera, lhe proporcionou uma onda de felicidade. No fundo, ela tinha a impressão de já ter ouvido falar naquele nome, mas não tinha certeza se o conhecia de algum lugar. No intimo, tinha a impressão de conhecê-lo, com toda a sua ingenuidade, vigor e amor à vida.
Mergulhando a pena no tinteiro ela escreveu a resposta: “Agradeço-lhe a admiração, do fundo do meu coração”. Imaginava ela que nas próximas cartas pudessem comunicar-se fazendo comentário sobre a arte de escrever, como um poeta falando a outro. Assim se iniciaram as correspondências sem paralelo na historia das cartas. Naquela era vitoriana e formalista, embora sempre primorosamente delicados na maneira de se exprimirem, aqueles dois eram modernos como seria hoje, na franqueza com que falavam de seus sentimentos. E as cartas cruzavam-se velozes, quase todos os dias, revelando o progresso de uma das relações humanas mais raras e mais perfeitas de que até hoje tive notícia, contando pela época. Tudo o que ela tinha de isolada e trancafiada, o jovem admirador tinha de livre.
Ele era um jovem que morava com os pais, por sinal bastante compreensivos, e sua dedicada irmã única, numa casa agradável, nas proximidades de Londres. Ele também dedicava a maior parte de seu tempo a escrever poesias. Instruíra-se com amplas e precoces leituras e com o auxilio de seu erudito pai, que tanto entendia de literatura francesa, italiana e espanhola, como literatura grega. Mas os horizontes do jovem não se limitavam ao cenário domestico. Ele era benquisto na sociedade, com seu ar distinto, suas feições finas, emolduradas por roupas escuras, acompanhando a moda.
Tivera oportunidade de conhecer a Rússia, como secretário de um diplomata, e visitara duas vezes a Itália, que sempre lhe parecera uma segunda pátria. Mas, ao regressar de sua ultima viagem, ele se sentira perdido, sem objetivo, precisado de uma estrela que pudesse guiá-lo. Foi então que apanhou dois volumes que haviam sido publicados naquele mesmo ano pela jovem poetiza, a qual teve tanta admiração logo de início. Ao primeiro poema pode se apaixonar por aquela delicada forma de descrever as palavras, uma linguagem fluente, com bravura e autenticidade de uma nova maneira de pensar e ver o mundo. Ele, que se julgava incapaz de amar qualquer mulher, encontrou ali, a única no mundo que poderia lhe servir. Ele apaixonara-se sinceramente em espírito e intelecto.
A infância de minha conhecida fora feliz, ela brincava e estudava com o irmão mais velho, aprendera grego e francês com perfeição, lia vorazmente, escrevia tragédias em versos. Sua própria tragédia começou aos quinze anos, com uma tosse e um ferimento nas costas. Daí em diante foi atribuída tanto à espinha como aos pulmões a precariedade cada vez maior de sua saúde. Depois lhe morreu a mãe e passados quatro anos o pai resolveu vender a propriedade. A numerosa família andou alguns anos de um lado para outro, ao sabor dos caprichos do pai, até que ele comprou aquela mesma residência donde ela morava. Ali, ela piorou de saúde e tornou-se uma criatura das sombras e do silêncio. Com o passar dos anos, sua família acostumou com sua vida retraída.
Ela possuía uma independência que seus irmãos não possuíam, por receber uma pequena renda de seu tio, exatamente pela proibição de se casar. Assim, resolveu marcar um encontro com seu admirador para a próxima primavera. Finalmente, numa clara tarde, o rapaz foi visitar-lhe em sua alcova, arrombando-lhe a prisão. A intimidade das escritas tornou-se mais profunda com aquela visita que acabou sendo repetida outras diversas vezes. Aquela presença lhe deu forças, ela começou a ter disposição para levantar do divã e andar pela casa. Seu medo era que sua saúde precária pudesse arruinar a vida daquele jovem que tanto lhe prometia amor. Apesar de tudo e de todos os sentimentos de paixão, ela estava acorrentada pela sua longa submissão à invalidez.
Ao terminar o verão, seu pai cogitou-lhe de mandar para um local de clima mais ameno para escapar dos rigores do inverno. Os médicos o recomendavam com insistência. Um de seus irmãos a acompanharia de bom grado. Tudo decorria conforme planejado até que o próprio pai se opôs inflexivelmente ao plano por não querer ficar longe da filha. Assim, ela continuou seu romance pelas palavras e poesias. Seu amado insistia para que ela saísse do quarto e fosse até o andar térreo, coisa que há muitos dias ela não fazia.
Se seu pai descobrisse todas as cartas, proibiria de imediato a visita daquele rapaz. Querendo conhecer a felicidade do amor, mesmo que pelos últimos instantes de sua vida, ela propôs que fugissem juntos, uma fuga que seria realizada assim que ela se sentisse mais forte. Ela escapuliu com o pretexto de visitar uma velha amiga. Sentiu-se mal no caminho, mas foi reanimada com sais de uma farmácia das proximidades. Ela escrevera uma carta deixando ao pai suas explicações e pedindo o perdão que aspirava. Assim, os dois se rumaram para uma viagem rumo ao sol e as alegrias do amor.
Os anos que se seguiram foram idílicos. Paris, Pisa, Florença, Roma, lareiras acesas, calor, paz e poesia, sempre ao lado de um companheiro perfeito. Assim ela recompôs sua força e fez ressurgir sua saúde. Deu a luz a um menino e a felicidade redobrou. Seu pai revoltado sempre lhe mandava as cartas de volta, com o lacre intacto. Para ele era como se ela houvesse morrido. Ela morreu nos braços de seu amado, com a cabeça de encontro ao rosto dele, com uma fisionomia de menina feliz, sorrindo como se ainda estivesse viva. Tudo o que ela deixou foi um testemunho duradouro de seu grande e puro amor através das poesias que escreveu. Fiquei comovida pela própria emoção que ela sentiu e demonstrou-me ao contar de sua vida na Terra. É maravilhoso poder compartilhar e conhecer pessoas das quais podemos ter vínculos de amizade sólida.
Podemos perceber que não são as grandes expectativas que tornam a vida interessante, mas sim as pequenas. Enquanto as grandes quase sempre estão nas mãos do destino, as pequenas estão em nossas próprias mãos. As pequenas nós podemos controlar. Muitas vezes, ficamos procurando a felicidade nas grandes coisas e deixamos de ter expectativa de encontrar tal sentimento nas coisas diárias e comuns, as mesmas que só aprendemos a valorizar depois de perder.
Voltando a falar de mim mesma, confesso que hoje foi um dia calmo e totalmente tranqüilo aqui. O ambiente está sereno como nunca esteve desde o dia em que comecei este trabalho. Imagino que dias assim são raridades por aqui. De todo modo, isso não significa que esteja completamente melhor do que nos outros dias. As horas continuam sendo longas embora devesse ser diferente, uma vez que o tempo aqui é infinitamente mais rápido em relação a Terra. Talvez ache isso pelo fato de ficar comparando o tempo com as horas da Terra, algo pelo qual não posso muito equiparar. Acho que esse tipo de equivalência não cai bem, ainda mais no meu caso. No mais está tudo bem.
Existe uma coisa que me foi pedido para explicar, é sobre os dias em que não estiver datada nenhuma mensagem. Geralmente essa data não é apenas escrita pelo momento presente no qual eu escrevo, mas também pelo momento no qual ela é recebida e reescrita pela própria Dona Helen. Os dias que ela tira para descanso, não escreve mensagens, mas isso de forma alguma indica ausência de minhas escritas. Aqui, como creio ter relatado anteriormente, o trabalho é continuo e intenso. Para quem aqui se encontra, não existem momentos para longos descansos, mas apenas breves pausas de repouso da mente. Confesso que não existe de minha parte uma vontade profunda de querer me adaptar a esse local, mas verifico que estou muito lentamente me acostumando, e assim faço por obrigar isso a mim mesma.
Hoje senti pontadas nas costas, como se meus ossos ainda existissem nela. Qualquer pensamento que seja voltado a meu corpo faz com que eu sinta sensações do gênero. A cada dia são coisas novas que experimento e mesmo que não sejam agradáveis como gostaria que fossem, reservo-me a ter pensamentos positivos e imaginar que melhores momentos virão pela frente, mesmo que isso ainda demore muito para acontecer. Quanto menos consigo me adaptar a esse local, mais tempo terei de aqui permanecer. É complicado, mas estou aqui exatamente para ver no que tudo vai dar. É um incógnito saber o que poderá me ocorrer.
Ficarei por hoje com tais noticias. Transmito-lhes amigos leitores e também entes queridos, que a coragem de nosso ser foi-nos dada exatamente para nos conduzir a superação de todos os desafios. Deus coloca em prova a todos, mas apenas os mais fortes são capazes de superar. Quem supera seus próprios limites, conquista o prazer da auto-realização. A coragem provém da própria coragem. Quanto mais nos testamos, mais tomamos conhecimento de nossa própria capacidade como seres eternos. Que todos possam ter coragem e lutar pelo caminho do bem e da moral, encontrando assim a verdadeira felicidade. Saúde e amor para o dia de hoje.

05 de abril de 2004
Renovo minha honra de enviar-lhes as novas noticias do que tem se passado comigo. De ontem para hoje, tirei dois imensos “pesos” de cima de minhas costas. Não me foi permitido esclarecer sobre esses “pesos”, mas adianto que me foi obtido pelo contato de grandes cargas de energia negativa condensada próxima à região do portal e também por conta do meu despreparo. Dizem que ninguém sofre por aquilo que não merece, ou melhor, ninguém carrega um fardo maior do que o que suporta sobre os ombros. De fato creio que isso faz sentido e foi por isso que contei com a ajuda preciosa de um substituto do meu guia. Fiquei desesperada quando meu guia disse que não poderia me atender e ficar comigo para purificação do ambiente e me tirar do estado ao qual fiquei e não deve ser muito especificado.
Pela dificuldade de adaptação, parece que viver aqui é mais difícil do que na Terra, mesmo sem as preocupações básicas que tinha quando estava encarnada, como alimentação, saúde, roupas e outras coisas que podeis imaginar. Aqui, muitas vezes, tenho de usar um “jogo de cintura” que não disponho. Mas nem isso adianta. Sei que minhas chances de evolução são mínimas nesse local pelo qual não tenho afinidades. Mais uma vez explico que não sou obrigada a estar aqui, mas me forço a permanecer, pois tenho medo e muito receio. Por pior que seja, me é cômodo ficar aqui uma vez que tenho amparo e estou acomodada, inclusive trabalhando, mesmo que em algo que não seja lá tanto do meu agrado. Sinto que não tenho capacidade nenhuma diante das pessoas daqui, mas ao mesmo tempo, imagino que aqui estou exatamente para conquistar esse tipo de potencialidade. Se todos nós temos as mesmas chances de evoluir, espero que eu consiga. É o mínimo que posso desejar ou ter esperanças.
Confesso que sou do tipo acomodado com tudo, inclusive com meus próprios defeitos. É triste estar aqui, mas diante do pior que poderia ser apenas agradeço infinitamente se aqui mereço estar. Existem muitas coisas durante o trajeto de nossa existência que buscamos explicações que não podemos ter de imediato, mas que em algum momento poderá nos fazer muito sentido. Muitas vezes, a vida é um mistério que parece não nos pertencer, mas tenho claro comigo que somente nós mesmos somos responsáveis pelo nosso dia-a-dia e o que decorre dele ou dos acontecimentos que nos circundam.
Hoje estive no sol durante breves instantes e apreciei seu clima. Hoje o sol estava mais bonito e agradável do que nos outros dias. Aqui ele não necessariamente fornece luz, pois muitos dos espíritos desse local possuem luz própria. Porém, a maioria como eu mesma, ainda estão infinitamente longes de adquirir essa luz própria. Ainda me faltam muitos esclarecimentos e aperfeiçoamento moral.
Muitas vezes ainda me pego pensando em minhas irmãs e gostaria muito de saber noticias delas, mas ninguém me adianta nenhuma informação, apenas dizem para eu aguardar pacientemente que no exato momento obterei resposta aos meus anseios.
Posso comentar que os eflúvios de ondas carregadas com cargas negativas ainda não se dissiparam por completo e ainda estou correndo alguns riscos, mas nada tão sério como anteriormente. Preciso ser prudente, ter cautela e ficar na vigilância constante. Espero que tudo dê certo, principalmente quanto aos próximos desafios, que não são nada pequenos. Algumas coisas aqui me empolgam, mas outras já me entristecem. É engraçado analisar que geralmente os momentos felizes ou as coisas que parecem nos fazer feliz tem sempre tendência a durar menos, diferentemente das tristezas e os sofrimentos. Muitos podem pensar que desencarnar e ir direto para um mundo mais evoluído é uma maravilha, mas não é bem assim que funciona. Não faço disso nenhum tipo de reclamação, mas sei o que sinto e ninguém pode avaliar minha situação tanto quanto eu. O pior de tudo é a falta de compreensão que verifico, uma vez que ninguém parece entender meu comportamento ainda tão inferior. Não é loucura ser inferior e ter comportamentos ou hábitos totalmente diferentes, incompatíveis aos locais.
As musicas continuam por todos os ambientes desse plano, é geral e não pode ser trocada de acordo com o gosto de um ou de outro. Existem umas variedades de regras aqui que temos de aceitar e os sons fazem parte. Ainda bem que me agrada tal tipo de sinfonia, embora também goste do silêncio em certos momentos.
Uma das maiores dificuldades que sinto aqui é o fato de não ter segurança naquilo que faço, uma vez que nada pode ser feito por conta própria. Além do mais, não recebo as coordenadas tendo de resolver alguns apuros sozinha mesmo. Não sei porque me julgaram capaz para vir trabalhar aqui, mas sinto que perco todo o meu tempo vigiando esse portal. A única coisa que vale a pena é o fato de ver outras pessoas, notar ambientes mentais distintos e variados, constatar o relacionamento dos seres daqui e escrever tudo o que se passa comigo para enviar a Dona Helen.
Não estou adquirindo experiência nenhuma com esse tipo de trabalho, apenas vivencio algo totalmente distinto do meu imaginável. Incrível como dentre todas as coisas que imaginara sobre a vida pós-morte, nenhum de meus pensamentos jamais chegara próximo de visualizar o que agora estou vivenciando. Creio que eu fantasiava cenas que jamais, a não ser em meus próprios pensamentos, poderão acontecer.
É engraçado ver como os espíritos inferiores modificam sua aparência exterior para impressionar aos ignorantes como eu, que ainda não sabem avaliar a primeira vista o perfil de um sujeito falso ou mistificador. É incrível o nível de beleza exterior, fiquei encantada, mas logo soube que havia algo não tão belo por trás daquelas aparências. Nem sempre a beleza é acompanhada pela singeleza da alma e do coração.
Voltei a sentir o peso nas pálpebras, o mesmo que sentia na Terra quando tinha sono. Também sinto dores nas costas, próximo do local donde recebi o tiro, o mesmo que provocou meu desencarne. Em muitos movimentos que faço, sinto como se ainda tivesse ossos e estes se estralassem mutuamente. É estranho sentir tantas sensações físicas sem ter corpo material. Isso é o que se passa comigo, nada de novidade espetacular ou surpreendente.
Devo lhes contar que daqui a duas semanas, contadas pelo tempo terráqueo, terá aqui neste plano uma peça teatral de alguns visitantes vindos de uma determinada localidade ainda secreta. Não sei se permitirão minha ida ou se terei condições de ir. Na verdade são inúmeros os eventos que aqui acontecem, mas minha presença é sempre barrada. Isso é um tédio, mas nada posso fazer. Nunca sou convidada para nada e apenas fico nessa rotina que já qualifico como totalmente sem graça. Existem palestras de assuntos muito interessantes e das quais só fico sabendo depois que elas ocorrem. Também, ultimamente nem tenho prestado muita atenção em nada do que ocorre ao meu redor, exatamente para não ficar me sentindo menosprezada. Fico direto me lembrando das belas festas de inauguração dos locais donde planejava a arquitetura, era tão divertido, chique e empolgante. Tenho tantas saudades de tudo o que já se foi, dos momentos que apenas reviverei novamente em minhas tenras lembranças. É assim que funciona minha existência aqui. Fico me sentindo a solitária, excluída e rejeitada. Não sabendo dos eventos, palestras ou quaisquer outras festividades, eu não sofro. Conforme dizem, o que os olhos não vêm, o coração não sente.
Estar aqui tem suas vantagens, mas na minha ignorância, visualizo maiores as desvantagens, ou pelo menos motivos que me servem de queixa. Tudo o que vejo é que sou condenada ao trabalho e a outros pormenores que não gosto, como passar fome e vontade de inúmeras coisas. Aqui, conforme venho descobrindo, também existem muitas atividades, cursos e estudos legais que não são para meu nível. A impressão que tenho, no meu sentido pessimista, é de que nunca terei nível para freqüentar ou ir a tais reuniões e festividades.
Pois bem, nesse momento já me encontro imensamente cansada e finalizarei minhas transcrições. Recebam novamente meu carinho e afeição. Tenham a paz e a felicidade que nem sempre posso ter aqui.

06 de abril de 2004
Aqui novamente me encontro saudando a todos com imenso carinho. Como sempre, estou no portal verificando os espíritos que caminham: uns apresados, outros mais distraídos, etc. Uma das vantagens desse trabalho é o fato de não existir formalidades, simbolismos e assim, por conseguinte. Não preciso usar vestidos brancos como imaginava que teria de ser. As vestes daqui são bem diferentes e me agrada o fato de estar vestida naturalmente da maneira como gosto, sem a obrigatoriedade de usar salto alto, roupa formal, etc. Muitas vezes me agrada pisar no chão, na terra, na grama. É assim que muitos captam energias, do próprio solo, dizem que é um manancial de energias e vibrações naturais, assim como aquelas que são encontradas na água e em todos os elementos vivos da natureza.
Uma coisa que acho ruim aqui é o fato de encarar esse trabalho como uma grande perda de tempo, mas algo que sou obrigada a fazer, como se ficasse cumprindo horas pré-determinadas e impostas. Digo perda de tempo porque além de ser algo que não me agrada muito, sei com plena consciência de que não estou aprendendo nada e muito menos sendo útil. Infelizmente é assim, mas mesmo sendo exatamente deste jeito, não tenho nenhuma alternativa.
Hoje não amanheci muito bem, estou com certa enxaqueca e o corpo dolorido, praticamente sem motivos. Continuo sentindo sono e ardor nos olhos. De fato, hoje minha coluna está muito dolorida, exatamente próxima ao local donde recebi o tiro. Fico apenas invejando aos mais contentes e evoluídos, aos que estão sempre acompanhados, auxiliando no bem, aos de sorte que transitam livremente e a tantos outros. Vejo-me como a única à não ter oportunidade de nada, a esquecida e largada. Não devo dizer desamparada, pois sei que isso seria injustiça, mas tenho grandes motivos para reclamações. Talvez o problema esteja exatamente na minha imaturidade.
Muitas vezes, fico analisando o seguinte: estar num plano mais evoluído não me faz tão bem quanto deveria, pois gera muito sentimento de inferioridade pessoal, fico me sentindo baixa perante aos outros. Se estivesse perto de espíritos menos esclarecidos, poderia ser mais caridosa e não me sentiria tão rebaixada, como uma perfeita alienígena. Existe uma diferença muito grande entre estar com espíritos mais evoluídos do que o contrario. Se estivesse em contato apenas com a escuridão e a miséria moral, com toda certeza não teria nenhum motivo de invejar ou de me sentir em piores condições que os outros. Um pobre e ignorante no meio dos ricos sábios vai se sentir como estou. Quem nada tem e vive no meio daqueles que possuem de tudo, acaba sentindo o vazio que tanto relato.
Tem-se sempre muito a aprender, toda a existência é uma completa ordem de ensinamentos. Aqui, criei uma boa afinidade com meu guia espiritual e sinto imensa falta dele quando ele está ausente nesse plano. Não sei se já existia entre nós algum tipo de afinidade pré-estabelecida, mas sei que nossa amizade é recente. Enquanto encarnada tinha sempre comigo um outro guia que não cheguei a conhecer ou ver quem era, pois ele se retirou para preparação do seu encarne num plano que desconheço ser ou não a Terra. Meus pais, que continuam sendo considerados como pais, muitas vezes vêem ao portal me visitar e analisar meu trabalho, mas são visitas rápidas e apenas de verificação. Aqui não existem laços familiares, mas sim de afinidade e afeição. Sou exatamente daquelas que não têm desafetos, mas confesso que também eu não tenho ninguém cativo. Não sou de fazer inimizades, mas aqui ainda me foi impossível fazer amizades. Tenho apenas alguns conhecidos simpáticos, mas não estabeleci nenhum relacionamento mais duradouro. Ainda sinto muita estranheza por aqui estar. Não sou intima e nem possuo intimidade com ninguém.
Verifico que cada dia que se passa a minha responsabilidade e logicamente o meu temor tende a crescer aqui nesse local. Obrigatoriamente tenho que evoluir, mas se isso não ocorre, o sufoco vai me entalando, me espremendo contra o abismo. São inúmeras coisas que eles me colocam para avaliar, dão-me relatórios para completar e nos últimos dias tive duas apostilas para ler sobre assuntos que não devo revelar. É incrível como barram minhas mensagens e não me deixam revelar inúmeros detalhes que presencio aqui. São temas e assuntos tão normais que não entendo porque tanto segredo. Fazem mistérios fabulosos que nem mesmo eu possuo conhecimento do por quê.
Estive visualizando o quadro mental de uma jovem que passou hoje logo cedo pelo portal. Ainda não consigo ler os pensamentos ou enxergar com freqüência e facilidade tais tipos de quadros mentais, mas fiquei encantada por conseguir isso pela primeira vez. Ela pensava num jardim de épocas bem passadas. Um jardim com grandes paredes feitas de arbustos podados. No centro havia uma fonte belíssima. Foi tudo o que consegui visualizar a princípio. Depois visualizei a própria jovem jogando bola pelo campo gramado. Foi apenas isso e nada mais.
Sinto muito por ter de reclamar certos momentos, mas além de injuriada e angustiada, estou imensamente com raiva de ter que ficar aqui e suportar determinadas coisas. Ninguém pode avaliar o meu desespero, meu ódio e revolta. É um sentimento reprimido que me faz ter vontade de desaparecer, sumir para sempre, arrumar uma cabana no meio do nada e viver isolada de tudo, uma vez que não existe possibilidade de voltar a Terra sendo novamente a Carol que era.
Agora a pouco pude ler uma mensagem que recebi ontem. Eu li e analisei bastante, chegando a uma conclusão que teria tudo para me dar ânimos, mas, no entanto não me deu. De toda forma, é verdade o que diz e é válido repassá-la: “Compreendo ser natural que uma pessoa lutando pela vida deseje que as dificuldades desapareçam, que acabem os problemas e as decepções. A vida não é literalmente ter resolvido todos os problemas, mas fazer por onde os resolves. Cada providencia necessária exige força de vontade. A cada ato voltado para esse sentido, alguma coisa cresce e fica mais forte dentro de nós. Peça então, sabedoria para aceitar as dificuldades e coragem para procurar resolver os problemas. Não são apenas os grandes momentos decisivos que contam, mas sim as pequenas vitórias, os impasses e inclusive as derrotas. Se algum dia você tiver tudo resolvido, será apenas a espectadora e não uma participante de sua própria vida. Se apenas tivesse tranqüilidade e alegrias, do meio de sua segurança e conforto, olharia com saudade para os tempos donde existia insegurança e até mesmo desespero, mas sentia, ansiava, tinha esperanças e existia como ser vivente. Quando perceber que está invejando alguém que parece não ter problemas, pare e pergunte a si mesma se realmente vale a pena uma vida imune de todos os desafios. Se for honesta consigo mesma, saberá que na realidade, ninguém chega a ter todos os problemas resolvidos, pois enquanto houver problemas a solucionar e pessoas a ajudar, existirão também amor a ser partilhado”.
É nesse clima que tenho vivido aqui, com problemas do mesmo modo de quando estava encarnada. Ainda continuo resolvendo milhares de dilemas, trabalhando e sofrendo pela minha própria inferioridade. Mantenho minhas aspirações e esperanças de milagres, daqueles que se não pudermos vivenciar na realidade, sobra o consolo de poder viver em pensamento, em ilusões, na ficção mental. Estou sendo o tipo de pessoa resignada, daquelas que sofrem as provações humildemente sem nada poder fazer. Mais do que nunca, estou colocando minha própria existência nas mãos de Deus e confiando nele, sabendo que tudo tem seu momento certo e cada um recebe conforme o merecimento. Acredito que Ele não quer o meu sofrimento e agradeço pelo muito que tenho, pelo auxilio constante e por sua infinita proteção. Tenho fé e sei que aqui estou não para ser feliz facilmente, mas para evoluir. Se Deus comigo está, passarei por todos os problemas e as tristezas desse local, tendo comigo minhas vitórias pessoais por ter enfrentado o pior com humildade e imensa paciência.
Ser marcada pelo desespero me faz enxergar que sou mais vitoriosa por minha força intima de suportar determinados desesperos do que aqueles que nada sofrem. Nesse ponto, concordo plenamente com a mensagem e desejo desde já, que todos os leitores encontrem motivos para encarar as tristezas da vida não apenas como algo ruim, mas como fontes de aprendizado e vitória. Não queria estar sofrendo e nem desejo continuar com tal tipo de sentimento, mas sei que ainda terei inúmeros conflitos pela frente, outras tantas infelicidades e problemas aos montes. É assim que tudo funciona, tanto aqui quanto em qualquer lugar do universo. Fiquem com meu carinho e a felicidade de batalhar dia após dia pela elevação da alma, mesmo que para isso, tenham de enfrentar os maiores sofrimentos jamais inimagináveis. Até a próxima mensagem.

10 de abril de 2005
Hoje fui liberta de meu trabalho no portal, embora eu vá continuar trabalhando com a catalogação e definição além das constantes pesquisas e inclusive o desenvolvimento de alguns projetos que me foram incumbidos. Continuarei tendo as minhas responsabilidades, mas a fase de estar obrigatoriamente presa no portal terminou. Agora estou mais livre, pelo menos por enquanto. Foi incrivelmente maravilhoso receber a noticia de que não mais teria de ficar vigiando aquele portal. Tive um alivio grandioso, mas sei que meus estudos e o trabalho serão sempre constantes.

12 de abril de 2005
Coisas estranhas têm me acontecido. As mesmas visões que tinha quando encarnada, continuo tendo-as aqui, não referente ao meu passado, mas com relação a alguém que muito necessita de meu auxilio, uma pessoa qualquer que precisa de ajuda. Sinto muitas vezes como se alguém na Terra estivesse me invocando e não consigo entender ao certo o que está ocorrendo e muito menos saber como devo proceder. É estranho ter essas visões, sentimentos imprevistos como premonições.
Não sei o que de fato está acontecendo, mais sei que alguém necessita muito de minha ajuda, pode ser caso de vida ou morte e estou bastante perturbada. Meu mentor não quis me esclarecer, mas disse que fui dispensada do meu trabalho no portal não apenas pelo projeto que mais tarde terei de desenvolver, mas também porque tenho uma tarefa mais urgente a cumprir. Estou preocupada e continuo cheia de receios. Pergunto-me a todos os momentos se serei capaz de descobrir sozinha o que está acontecendo. Isso parece impossível, mas de uma forma ou de outra, terei de fazer com que seja possível.
Minha mãe disse-me que uma cúpula de auxiliares estarão me protegendo a distancia para o caso de algo me acontecer. Sinto que é algo grave e temo de pensar no que pode ser. Não entendo porque isso acontece exatamente comigo que sou tão despreparada e sem conhecimentos exatos. Não creio que eu tenha potencial para auxiliar quem quer que seja, mas em todo caso, farei tudo o que estiver em meu alcance. Conto com uma equipe de grande apoio, eu devo ser firme e ter meus propósitos rodeados de fluidos positivos. Essa é a única maneira deu conseguir algo que parece acima de minhas capacidades.
As instruções que recebo vem de minha própria mente, das visões e sentimentos. A primeira visão que tive foi de uma pessoa junto a meu túmulo, chorando desesperada. A principio não pude reconhecer quem seria, mas tenho comigo que é alguém muito próximo. Disseram-me que tais imagens não são reais ou verídicas, representativas do que de fato possa estar ocorrendo. Isso quer dizer que não teve ninguém chorando no meu tumulo, mas que de alguma forma, essa foi à maneira como recebi os eflúvios provindos por parte de vibrações existentes e concretas. Tudo pode parecer complexo, mas aos poucos descobrirei e aprenderei a lidar com isso. Vejamos o que se sucederá.

13 de abril de 2005
Sinto em informar que esta provavelmente será a minha penúltima comunicação. Realmente coisas sérias estão para ocorrer e estou inteiramente envolvida, porém, me é negada qualquer permissão de revelar do que se trata. Diante da urgência de resolver determinados problemas de maior gravidade, eu terei de ausentar minhas mensagens e deixar vago o que tem se passado comigo durante um período. O trabalho continua e a responsabilidade aumenta intensamente. O complemento do meu livro será escrito com novidades acerca de algum de meus familiares até que eu possa concluir essa obra numa mensagem de fechamento. Minha gratidão a todos e que a luz do mestre esteja convosco.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

continuação capitulo 11 - B

21 de março de 2005
09:36:14 - Estou imensamente cansada hoje. Muitas coisas aconteceram nas ultimas quarenta e oito horas pelo relógio terrestre. Continuo com minhas angustias e tristezas, mas continuo no meu existir. As musicas desse local continuam tocando. Vou então partir para o relato de minha visita ate o hospital. Primeiramente tomamos o ônibus que parece voar, mas que também balança muito. Achei estranho, pois não imaginava que fosse ser tão longo o trajeto. Durou cerca de umas cinco a seis horas comparadas ao relógio terrestre. Estou tão habituada ainda a analisar tudo pelas horas que tinha quando encarnada que cada momento eu vejo o tempo daqui de uma maneira, algumas vezes acho que tudo passa muito rápido, depois parece que o tempo daqui não passa.
Tornando a comentar sobre o passeio, devo dizer que tudo ocorreu bem. Ao chegar lá, já exausta de cansaço, tive uma palestra de quase duas horas, depois um lanche com suco de acerola e laranja, também me serviram rosquinha e um biscoitinho de sal, não é tão bom quanto aos que eu comia na Terra, não me satisfizeram, mas foi melhor do que fruta ou água. Não me deixaram comer muito, minha mãe disse que pedira um cardápio mais variado para mim, mas de toda forma não era o que eu esperava e confesso que senti terríveis dores de estomago, como se ainda tivesse o meu órgão. É muito estranho e compreendi pela primeira vez que ter gulas não é nada bom para meu estado. Creio que exagerei, mesmo comendo apenas o tanto permitido. Acho que estou começando a desacostumar com comida, guloseimas, lanches, etc.
09:47:55hs - Me foi permitido relatar alguns detalhes sobre o hospital donde estive. Na verdade ele funciona como um hotel de pessoas necessitadas de energias e vibrações positivas. Lá estão pessoas bastante revoltadas, mas também existem inúmeras equipes de espíritos doutrinados especialmente para o auxilio de seus pacientes. Achei tudo muito bonito e organizado. Existe um jardim no meio do hospital, donde sobem em circulares as rampas, na lateral possui escada e elevador, igual aos conhecidos na Terra. O local não é sofisticado, chique ou como um estabelecimento de primeira categoria, mas possui os seus esquemas e sua limpeza é impecável. Digo que é um local simples em vista do que deve ser num mundo mais evoluído, mas ao mesmo tempo, é reluzido de vibrações emanadas por equipes maiores. Gostei muito de ter conhecido os quartos, as instalações e tudo o mais. A água de lá é quente naturalmente e existem coisas maravilhosas que não devo descrever neste momento.
14:15:52hs - Estou com grande dor nas costas, dor de cabeça e um imenso sono. Voltarei a falar sobre minha visita ao hospital. Eles possuem um sistema completo para servir as refeições aos pacientes da colônia hospitalar, cada ala é tratada de uma maneira, de acordo com o estado de desencarne ou nível de evolução. Tirei proveito da visita, mas acho que foi muito curta e extremamente técnica. Foi bom estar lá embora tenha aproveitado muito pouco tempo.
Comentei sobre a água que é quente e posso dizer que também é medicinal, trata dos pacientes como nas instancias termais existentes na Terra. A água possui minerais importantíssimos e é um recurso muito especial para a estadia dos pacientes no hospital da colônia de refazimento. Também pude conhecer uma cachoeira muito bonita, com a mesma água cristalina. O dia não estava de sol, mas um clima agradável sem frio ou chuva. Verifiquei o trabalho das equipes para conseguir manter o clima de harmonia no local e pude visualizar coisas fantásticas que nem tenho recursos ou meios de descrever e explicar. Fiquei observando o quanto podemos quando queremos alguma coisa.
14:43:43hs - No hospital eles trabalham muito com reflexão direta. De certa forma os guias possuem uma maneira muito especial de lidar com todos os pacientes. Achei interessantíssimo o quanto eles são prestativos e generosos para lidar com aqueles mais revoltados. Queria ser como um deles para saber lidar comigo mesma. Nada mais importante do que a calma e a paciência para saber conviver bem com os outros seres. Queria muito ter o nível evolutivo das pessoas que aqui residem, mas infelizmente não é isso que diz minhas antigas paixões terrestres. Seria bom se por um milagre eu conseguisse me adaptar e tornar-me uma habitante normal desse plano. Por vontade própria eu não sei realmente se quero, minhas vontades se contradizem mutuamente e chega a momentos que nem sei ao certo o que quero.
15:04:55hs - Continuo tendo sensação de frio aqui. É como se constantemente eu estivesse com febre. Por todas as palavras que existem, posso traduzir na seguinte afirmação, é muito estranho estar aqui. Nenhuma palavra a mais dará a idéia exata do que é estar num local como este. Ainda não sei ao certo porque vim parar aqui e apenas me garantem que isso faz parte do meu processo evolutivo, principalmente quanto ao aprendizado. Ainda são vastas as coisas aqui que eu não consigo compreender e me chateio por não ter ninguém que realmente compreenda o meu sofrimento. Imagino que todo ser humano quer ir para um plano melhor e mais evoluído do que a Terra quando desencarnar, mas também não é tão interessante assim caso não exista um preparo intenso. Tudo aqui é muito perfeito para meus sentidos grosseiros e materiais. Sinto-me ligada ao corpo e só de pensar no meu desencarne sinto dores como se ainda tivesse um corpo físico, ou como se houvesse morrido ontem. É só pensar nisso que visualizo a cena do meu enterro, quando jogaram sobre o caixão de meu corpo frio e duro, no fundo da cova, as pétalas de rosa e as flores já murchas.
15:17:20hs - Continuo trabalhando firme aqui no portal, vigiando todos que passam. Consigo ver em alguns as vibrações emanadas através da aura. É engraçado ver isso nas pessoas. Ficar no portal é o mesmo de sempre, mas para mim já chega de ficar reclamando. Isso vai acabar cansando qualquer leitor. Guardarei minhas reclamações já que ninguém desse plano consegue me ajudar ou me entender. Sinto-me aqui como uma doida internada num hospício.
15:35:08hs - Continuo também escutando as vozes. Tem de todos os tipos e são conversas de todas as modalidades. Isso muitas vezes me faz ficar confusa, mas já até acostumei-me. Infelizmente não tenho controle e não posso deixar de escutar aquilo que não quero. Dizem que por aqui existe um ar de refrigeração total do ambiente e talvez seja por isso que sinto tanto frio. Tudo vai indo aos conformes e da maneira como posso vou levando as coisas. Sei que existem pessoas em situações piores, nos umbrais que nem sei se tenho vontade de conhecer. Mas não gasta chegar a tanto para conhecer pessoas e locais piores do que este ou do que a Terra. Muitas vezes me pergunto que tipo de utilidade terá ao leitor saber o que se passa comigo do lado de cá, vejo que esse tipo de abordagem pode ser cansativa, mas quem souber também poderá tirar algum ensinamento ou aprendizado útil. Não esclarecerei maiores curiosidades pela interferência dos mentores que ficam me proibindo de relatar determinados dados e mandar mensagens a respeito de outras tantas coisas, alguns detalhes de grande interesse, mas que ainda não possuem os seres humanos habitantes da Terra, a permissão de saber.
16:10:03hs - A cada momento que permaneço nesse mundo eu me sinto mais e mais cansada. Aqui não tenho nem ao menos a chance de tirar umas férias. Estou literalmente em tratamento de adaptação e daqui ninguém me permite a saída. Logicamente não saio porque não quero, tenho lá os meus medos de me rebelar e acabar em situações bem piores. Existem certas coisas que reclamamos, mas em nenhuma hipótese podemos mudar os fatos ou querer ser contra determinados princípios. Tudo no universo funciona de acordo com normas e regulamentos, leis que ninguém tem como mudar e se não as aceita, é obrigado a sofrer se condenando por conta própria ao martírio, palavra que automaticamente se traduz em aprendizado. Custo a agüentar dia após dia desse local, mas tento ter tolerância se aqui, de algum modo sem saber por que, vim parar. Sinto-me sozinha num naufrágio, num mar tempestuoso. Continuo confusa e mais em duvida me ponho sobre todos os fatos que provirão.
16:32:16hs - Por mais que eu queira ficar sem reclamar, não tenho como deixar de dizer que me sinto desanimada de mais. Existem espíritos aqui que por estarem nesse mundo tem jeito arrogante. É estranho ver pessoas assim por aqui, mas se percebe nitidamente até mesmo pelas características emanadas dos fluidos. Mas nada tenho com isso e não quero me sentir incomodada por tais pessoas. Queria sentir-me com algum valor aqui nesse mundo, mas ainda tenho dificuldade para isso. De toda forma, estar aqui me faz imaginar o quanto nós podemos vivenciar dos outros, as inúmeras experiências que adquirimos e que durante toda a eternidade estará nos rondando o existir. Fico maravilhada de pensar que tudo nós podemos quando temos convecção e força de vontade. Bem que as coisas poderiam se mais fáceis, mas como se diz, para tudo existe um preço. Conheço bem isso agora e entendo coisas que antes não compreendia quando estava na Terra. Espero que daqui a alguns anos possa entender o que hoje não consigo entender.
17:12:00hs - Daqui a pouco não mais passarei as mensagens. Aqui as coisas são extremamente rigorosas e sistemáticas quanto à questão dos horários e a pontualidade. É incrível conviver com tantos detalhes. Existe um estudo aqui que diz muito sobre a especificação das etapas de evolução e como analisei o ser humano sempre questionou o motivo de sua estadia sobre a Terra, principalmente quanto ao mistério que envolve o seu futuro. A insegurança e a curiosidade em relação ao que poderia lhe acontecer fizeram com que tentasse de diferentes maneiras prever o que lhe estava reservado, vindo a se precaver de todos os tipos de maléficos, como pôr exemplo, a má sorte, dificuldades amorosas, sociais, financeiras e outros, assegurando para si a certeza da efetivação dos diferentes acontecimentos benéficos.
Conforme conheci na Terra, podemos encontrar muitos sistemas oraculares existentes com esta finalidade acima citada, não importando a origem dos sistemas nem a sua filosofia de estudo, aprendizado ou execução. Todos se concentram em único significado que é encontrar os melhores métodos para prevenir ou ainda remediar situações maléficas, trazendo assim um alívio imediato para a pessoa ou família. Quase todos os oráculos, independente de sua origem cultural, absorvem uma tendência a algum tipo ou aspecto religioso, vindo sempre a sugerir ou indicar certo tipo de ritual ou prática religiosa, de caráter e aspectos muito mais, ou ainda quase que completamente, místicos do que científicos. Devo dizer que ninguém pode dizer ou prever o futuro de ninguém, pois o dia de amanha vai sempre depender do que a pessoa realize no seu momento presente. Existem algumas coisas pre-programadas para acontecer durante a vida, mas não existem fatos concretos de tudo que não possam sofrer determinadas alterações. Além do mais, a maioria desses fatos não podem ser revelados ou vistos como se pensa, de forma mágica. Fico limitada a detalhar esse assunto, mas aos poucos passo as informações.
17:54:33hs - Tem momentos que fico muito agoniada aqui, geralmente é quando me sinto apurada com algo. Já passou da hora de ir embora e meu guia supervisor ainda não apareceu para me liberar. Tenho meu horário para retirar-me, mas precisava conversar com ele e não desejo sair sem passar as mensagens do dia e o relatório das entradas pelo portal. É bem complicado ficar fazendo esse controle. É como uma catalogação e maiores informações talvez eu possa relatar posteriormente. O ar daqui começa a ficar ainda mais gelado nessas essas horas, geralmente quase horário do entardecer na Terra. Tenho saudades por demais do que um dia tive da vida que possuía, dos seres com quem convivia e de tudo o que hoje está tão distante do meu alcance.
No dia de hoje fico por aqui, desejando que todos saibam bem aproveitar cada instante da existência, onde quer e como estiver. Cada um conduz a vida de acordo com suas vontades e faz de sua existência aquilo que permite sua consciência. Muitas vezes erramos por pura ignorância, achando que aquilo é o mais correto a se fazer. Outras vezes, arriscamos sabendo que de uma forma ou de outra, ninguém jamais poderá ficar livre da reação dos atos cotidianos, das decisões que tomamos e de tudo o que fazemos. Existem muito mais complicações que giram em torno de nossa existência. Existem coisas mágicas e fantasiosas que ainda me custam a crer, as quais não me são permitido revelar. Pelo visto, terei de ir embora sem passar meus relatórios de hoje. Se for assim, aqui termino este ultimo relato, deixando meus votos de paz a todos aqueles que querem encontrar-se realmente com este sentimento. Visualizem o sentimento de paz como uma gotinha de orvalho caindo sobre sua cabeça e se transformando numa gigantesca bolha que lhe envolve todo o corpo. Nada e nem ninguém é capaz de estourar essa bolha se você mesma não permitir. Aprender a ter autocontrole dos sentimentos que nos cercam é fundamental e estou tentando me concentrar nesse propósito. Minhas sinceras bênçãos a todos os leitores.
Fiquem no dia de hoje com as luzes glorificantes de amor e tranqüilidade. Muitas vezes, o momento pelo qual passamos parece revoltante, agonizante, temível, tristonho e terrível de todas as formas, mas saibam que enfrentar as dificuldades e passar por determinados momentos faz parte da evolução e nos torna seres mais experientes e fortes. É mais vitorioso quem sabe lidar com as tristezas do que quem apenas vive cercado de felicidades. Luz, paz e amor a todos.

22 de março de 2005
14:37:22hs - Hoje enrolei o tempo. Por aqui tudo está com jeito de chuva, mas ainda não vi nenhuma gota cair do espaço. Fico observando todos os detalhes daqui desse portal e admirar a previsão do tempo é apenas mais um detalhe que faz parte do meu dia-a-dia. Hoje cochilei sentada mesmo e fui atacada com uma dor nas costas por conta disso. Sinto muito sono ainda e não sei por que eles me forçam a permanecer o máximo do tempo acordada. Dizem que eu não preciso mais dormir e eu entendo isso, mas sinto falta de uma cama quente e aconchegante. Não consigo olhar para o verde da natureza e captar fluidos que me façam recuperar as energias e tirar de mim essa imensa vontade de deitar e dormir.
14:42:36hs - Me privam de fazer tantas coisas nesse local. Não me sinto à vontade, livre e tranqüila. Existe aquela constante preocupação em querer saber o que os outros pensam ou acham de mim. Sei que isso não deveria fazer nenhum sentido na minha existência, mas não consigo deixar de envolver minha mente com disso.
14:58:39hs - É interessante estar aqui em certos momentos, mas a falta de integração me deixa mal, muito mal. Queria poder aproveitar desse local como os outros espíritos que já se adaptaram a tudo aqui, mas acho que vai ser muito difícil isso poder acontecer. Tenho que tirar proveito da maneira como posso, inclusive tendo de comer as escondidas. Isso é péssimo, mas não tenho como fazer nada.
15:20:30hs - Fisicamente me sinto gorda, mas passo o tempo todo com fome. Não tenho feito nada de especial por aqui e, portanto tenho enviado mensagens menores. No resto tudo vai bem, mesmo com os problemas todos que já relatei. Certos momentos eu me distraio vendo coisas e escutando vozes distintas em línguas totalmente desconhecidas. Sinceramente queria ficar sozinha nesse local para poder fazer o que quisesse, ou então retornar para a Terra, mesmo que fosse para ficar vagando por lá como uma alma penada. Porém, pensando bem, de todo jeito, também não teria coragem de ficar na Terra, seria muito sofrido para mim que já desencarnei.
15:32:11hs - Tem momentos, quando penso saudosamente em minhas irmãs, sinto o perfume delas, me bate um sentimento tão complicado de definir e imagino que elas também devem sentir o mesmo. É um perfume que parece chegar aqui mais purificado, como se misturasse com os suaves cheiros de flores que aqui existem e que por sinal também são muito perfumadas.
15:54:05hs - São inúmeras as coisas que acontecem por aqui e eu não posso relatar. Meus olhos continuam ardendo por demais. O tempo por aqui quando não voa, demora por demais a passar. Vou levando tudo da maneira como posso. Aos poucos vou tentando acalmar-me e espantar de mim qualquer tipo de nervosismo, porém cada dia é diferente. Aqui tenho aprendido a colocar-me nas situações dos outros e entender situações imprevistas. Quando sofremos determinadas situações, sabemos respeitar e compreender o sentimento alheio de quem sofre ou passa pelo mesmo. Procuro entender os dilemas existentes, ver as complicações dos outros e refletir sobre mim mesma. Isso pouco ajuda, mas me faz compreender que não sou a única sofredora, embora seja uma delas. Feliz nesse momento eu garanto que não estou sendo. É impossível não reclamar. Também não tenho recebido mais nenhuma mensagem e, portanto, fico sem saber ao certo o que mais posso relatar. Ultimamente tenho tido imensa vontade de visitar os entes queridos que ficaram na Terra, inclusive Manoel, porém ainda estou longe de conseguir permissão para isso. Estive verificando que outro dia desses, fui chorar e realmente chorei, mas não saíram lagrimas de meus olhos, como se eu estivesse seca. Achei tão estranho!
16:10:33hs - Pedirei a minha mãe ou ao meu guia instrutor para que me arrume um livro para ler, não agüento mais ficar a toa, apenas vendo pessoas que transitam livres enquanto eu tenho de ficar sentada o dia todo. Durante a noite, todos os dias eu tenho uma espécie de aula, mas são um pouco chatas, não porque eu não goste do conteúdo, mas porque em tais horas já me sinto exausta e ninguém me concedeu passes energéticos, dizem que preciso continuar sentindo cansaço e sono até conseguir retirar os fluidos necessários a meu refazimento na natureza, no próprio ambiente natural desse local. Isso me parece um absurdo. Fico ansiosa imaginando o dia que puder de fato ficar sem comer, poder volitar, me relacionar bem com todos e ainda ficar horas, dias e meses sem dormir.
16:19:45hs - Ficar apenas escrevendo esses relatos não tem me rendido muito, além da seleção donde eles inutilizam boa parte das minhas mensagens, ainda tenho de escrever vendo quem passa, anotando as conversas e fazendo relatório catalogado que é imensamente complicado. Enquanto isso, eu perco noção de todo o resto que se passa por esse plano. Imagino que muitas outras coisas mais interessantes devem acontecer por outros locais. Queria poder acompanhar quem por aqui passa e assim, dar inúmeros passeios. Fazer várias coisas ao mesmo tempo me desconcentra e, portanto, não posso ter a mesma dedicação de quando era escritora na Terra. Dona Helen reescreverá exatamente com minhas palavras conforme o original, mas nem ao menos sei se isso será bom, pois já não mantenho o mesmo nível de escrita. Nem mesmo escrever é tão prazeroso quanto antes, mas pelo menos é melhor do que nada.
16:31:28hs - Aqui também tenho de ficar atenta, existem espíritos inimigos que são fingidos e possuem boas aparências exteriores, mas pela sensação que tenho não garanto nada. Aqui tenho de me virar de uma forma ou outra e tento a todo instante conseguir razoes para me sentir bem. Minha consciência me contradiz certos instantes e sou obrigada a reagir de uma maneira que não gostaria. Não sei até que dia continuarei dando essas mensagens exatamente como as tenho passado. Desejo que algo diferente aconteça, seja o que for já estou cansada de relatar sempre o mesmo.
17:09:20hs - Estive verificando a tecnologia de mundos mais evoluídos, é tão fantástico que custei a acreditar que possa realmente existir certas coisas. Isso me serve de estimulo para tentar me adaptar aqui. É muito magnífico! Infelizmente não posso transmitir exatamente o que conheci pelo telão, mas digo que são coisas inimagináveis. Se não conseguia entender a tecnologia de um fax que repassa documentos de locais distantes, de um telefone que transmite a voz de um país para outro ou um radio que funciona por sintonia, custo então a entender como pode certas coisas funcionar da forma como visualizei.
17:47:04hs - Muita sorte a todos, estou na minha hora. Espero amanha poder contar mais alguma novidade. Tenhais todos vós bastante perseverança e convicção nos objetivos, que sempre almejem e concretizem os sonhos. Tudo se pode nesse universo quando o empenho faz jus à vontade e a fé. Podemos ter tudo ao nosso alcance quando não nos vemos cercado de limites. O universo é imenso, de um tamanho inimaginável aos nossos sentidos, portanto, o infinito é o limite para nossas realizações se assim acreditarmos. Podemos conquistar o infinito se nos julgarmos capazes e tivermos simplicidade para chegar com jeito aos degraus mais autos. 20:22:34hs - Creio que hoje ficarei por aqui, na transmissão desta ultima mensagem. Conforme dizia sobre a tecnologia de mundos mais evoluídos, já fui informada que a mensagem foi filtrada e retiraram alguns detalhes dela. Sinto muito se não posso contar ou revelar determinadas coisas intrigantes e fabulosas que ocorrem ou que presencio.

23 de março de 2005
09:25:48hs - A cada dia que passa me sinto ainda mais cansada e desmotivada. Nada tem dado certo para mim nesses últimos dias. Fico relembrando fatos passados que me atrapalham a adaptar-me aqui. Há pouca hora recebi "telepaticamente" a informação de que posso relatar algumas das tecnologias desse e de alguns outros mundos mais evoluídos. Aqui existe uma espécie de carro-taxi voador. Não é um veículo que qualquer um possa ter, ele apenas existe por ser comunitário, ou seja, todos podem usufruir apresentando um cartão magnético. Foram projetados por grandes espíritos vindos de planos ainda mais sublimes. Cada veículo faz um trajeto e se locomove com grande velocidade a distâncias incalculáveis, cerca de seiscentos quilômetros em cada segundo. Eles possuem um dispositivo sobre as asas que ajuda a diminuir o barulho de suas turbinas. Não são bem turbinas, mas posso chamar desse nome para que tenham uma noção mais precisa do que digo. Para decolar e aterrisar eles precisam de uma pista de apenas setenta metros de comprimento. Tais veículos não transportam de um mundo a outro, pois foram idealizados para fazer corridas urbanas e rápidas.
09:57:18hs - Infelizmente o clima hoje aqui está muito pesado de cargas negativas. Parece-me que foi um desencarne coletivo de um ônibus que bateu numa careta e explodiu. Adoraria relatar sobre as equipes de socorro e os procedimentos que pude analisar ainda agora a pouco, mas por enquanto não devo passar nenhuma informação. Posso sentir-me triste pelo choro constante que não sai de minha mente e meus ouvidos.
10:48:23hs - Aqui é assim, no mesmo momento em que as vibrações estão pesadas e carregadas, também existem equipes de apoio mutuo que purificam o local. Distraio-me e também passo raiva. No geral sinto cansaço por estar aqui. Visualizo tantas coisas diferentes em alguns momentos, mas nada disso me compensa. Sinto-me mal estando com pessoas mais evoluídas, não por saber que sou inferior, mas por ter no fundo uma espécie de inveja ou cobiça. A cada dia tento me convencer da realidade que aqui enfrento e coloco em minha mente que esse período vai ser tão longo quanto meu processo para aceitar e adaptar a tudo isso. Não tenho visto mais meu pai, imagino que ele deve estar muito assoberbado em seu plano espiritual. Estive conversando com meu mentor sobre minha próxima encarnação e ele comentou comigo que não devo me preocupar ou pensar nisso por enquanto. Pelo visto ainda tenho longo caminho a trilhar até realmente me ver pronta e preparada para planejar uma nova encarnação.
14:21:59hs - Devo agora informar que em breve, enviarei apenas uma mensagem por dia. Assim, creio que ficará mais fácil e ágil todo o meu processo e também simplificará para uma mensagem mais completa. Também foi me anunciado que todas as correções serão feitas mediante minha permissão presente no instante da verificação e separação. Portanto, se esta for a ultima do dia de hoje, meus votos de felicidade e aquela ponta gigantesca de alegria que irradia desde o sorriso de um bebê, quanto os olhos de um idoso. A compreensão para com os próprios defeitos é um exercício diário que tem grande valor quando praticado.

24 de março de 2005
Estou tendo de ser muito forte e resistente para agüentar tudo o que se passa comigo nesse plano. Enquanto na Terra é feriado, aqui tenho de trabalhar, firme e como sempre, sem fazer nada, apenas catalogando quem entra e sai pelo portal. Se não estivesse morta diria que estou morrendo de sono. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta de uma cama, ou qualquer local plano. Pior que não posso nem ao menor cochilar, quando fecho os olhos e os abro depois de algum tempo, eu noto que todos me olham como se aqui fosse proibido dormir ou dar uma descansada. Como sofro nesse local. Além de tudo, agora tenho virado informante. A todo o momento aparece alguém querendo saber para onde fica um local ou outro. E eu no meu cansaço, com um peso nas pálpebras que custa a me deixar com os olhos abertos. Sinto como se estivesse morrendo depois de morta. Já não quero mais festa nem me importo com comida, apenas queria fechar meus olhos e deitar alguns instantes. Daria tudo por uma noite de sono. Faz meses que ninguém me deixa dormir e sou obrigada a ficar aqui, à toa, vigiando quem passa para lá, para cá e dando informações que nem sei se estão realmente corretas, tendo de sofrer enquanto visualizo e contemplo a alegria de todos, principalmente das crianças que ainda demonstram mais contentamento e bem estar que os adultos.
Juro que não consigo entender de forma alguma como as pessoas conseguem viver aqui assim, sem comer, sem dormir, trabalhando e estudando. Penso que nunca conseguirei ser feliz aqui e nem tão pouco vou sair desse local. Encontro-me no pior dos estados pelo qual poderia estar, enquanto sinto que outros se divertem a minhas custas. É como um patrão que explora o funcionário para trabalhar feito escravo enquanto ele, quem recebe a maior parte dentro da empresa por ter um cargo superior, sai de férias tranqüilamente com a família. Aqui ainda é pior, tenho que trabalhar de graça, como se fosse uma troca pelo local donde tenho habitado, se é que aquela moradia me serve de algo, pois passo o dia todo aqui e ainda tenho as reuniões durante a noite. Digo noite, mas para saberem de forma exemplificada do que estou falando, já que neste plano não existe noite como os seres da Terra conhecem.
Parece que morri para ser infeliz, viver a mingua. É complicada minha situação e mesmo assim, ainda devo ser invejada por quem permanece nas regiões umbralinas. Verifico que sempre vai existir alguém em melhor situação enquanto também existe o oposto. Não tenho gostado nada de viver aqui e já tenho estado tão arrasada que nem consigo formular meus pensamentos direito para tomar qualquer decisão ou continuar empenhando-me na escrita do livro. Tudo mudou de forma muito inesperada em minha vida. Eu morri sem dar conta disso e continuo feito uma alma penada. Isso parece brincadeira, uma piada, mas é a minha infelicidade. Sinto-me tão cansada que pareço uma drogada, uma dopada. Não consigo nem ao menos sorrir, minha fraqueza e debilidade tomam conta de todos os meus sentidos e não sei como me colocam para trabalhar nessa situação. Na verdade quem olha para mim não deve imaginar que estou em tão péssima situação.
Como é difícil tolerar certas fases da vida! Vida no sentido de existência, pois por mais que digam sobre a verdadeira existência que é do lado de cá, continuo tendo para mim a vida na matéria como a vida real. É difícil de explicar como é estar do lado de cá, nesse plano. De toda forma, pouco me vale dizer o que sinto, pois cada ser senti e convive com a morte de uma maneira. Hoje foram raras as pessoas que circularam por esse portal, tudo está tão sem movimento que ainda não compreendo o que faço aqui. É imensamente chato esse trabalho de catalogar quem aparece por aqui. Não consigo nada que me console e detesto todos desse local. Sinto-me de algum modo inferiorizada, rejeitada e inclusive fora de mim mesma pelo sono que me ataca. Dizem que na existência terrestre dormimos para a alma se emancipar, aqui, como sou toda alma, não necessito de dormir, mas continuo sentindo as mesmas sensações de quando estava encarnada e ficava sem dormir por muito tempo. Minha ligação com o corpo é imensa e estou entediada de não poder dormir. Será que me é tão proibidas algumas horas de sono? Sinto-me aqui do mesmo modo como sentiria um favelado no meio das mansões de um bairro nobre de um país desconhecido. Ninguém sabe avaliar o valor que eu tenho. Não consigo entender absolutamente nada desse mundo. É triste ter de aceitar essa situação, não consigo mais conviver com algo que não existe alternativa, algo que não posso fazer absolutamente nada. Além de rejeitada, sinto um descaso total. Posso dizer que aqui sou totalmente mal amada. Sinto muita falta de meu pai que raras são as vezes que eu o vejo e quanto a minha mãe, também não é todos os dias que me dão tempo para poder estar ou conversar com ela. Faria qualquer coisa para poder rever minhas irmãs. Mas primeiro preferiria algumas horas de sono imediato.
Acho engraçado porque os espíritos que são recolhidos e ficam no hospital, passam a maior parte do tempo apenas dormindo, enquanto eu tenho de sofrer tanto sono constantemente, dia após dia. Adoraria se aqui existisse noite igual na Terra. Não tenho permissão para detalhar como é a noite desse local, mas é como se ela tivesse a duração de duas horas contadas pelo tempo terrestre. Já se imaginou dormindo cerca de duas horas ou menos por noite e tendo de trabalhar e estudar o resto todo do tempo, sem pausa, sem refeição, sem agrado, sem nada que me entusiasme. Juro que queria retornar para minha vida na Terra. Nunca pensei que seria tão ruim desencarnar. Logicamente não é assim para todos os espíritos, cada um tem o seu grau de evolução e lida com o inesperado de uma forma. Tento aproveitar o tempo da maneira como posso, mas não me empenho em meu trabalho, não gosto de estar aqui e me sinto extremamente revoltada. Estou aceitando unicamente por não encontrar alternativa e pelo medo que a princípio tanto me consumia e ainda por vezes toma conta de meus sentidos.
Existe algo também que ainda não revelei, sinto imensa falta de ar aqui nesse local, é como se o ar fosse totalmente diferente ou como se não existisse o suficiente para me satisfazer. Mas não é sempre que sinto falta de ar, geralmente acontece quando me dá fadiga para comer. Lidar com tudo está muito difícil e não sei como tenho conseguido embora meu serviço aqui tenha sido praticamente nulo e invalido. Esses registros não valem praticamente nada e só servem para eu ter conhecimento superficial do tipo de espíritos que aqui residem e o que executam. Por hoje nada mais direi, a fraqueza é maior do que tudo e meus pensamentos pouco funcionam.
Quero dar um conselho a todos os leitores para que procurem à felicidade enquanto podem agir por conta própria e possuem livre-arbítrio. Infelizmente não podemos mudar certas coisas e fazer tudo conforme nossos próprios gostos, mas existe uma força maior dentro de nós que nos impulsiona a encontrar caminhos melhores. Sinto-me o pior dos espíritos aqui nesse local, mas aceito por falta de opção. Não sou a dona da verdade e nem me sinto ninguém para dar conselhos, mas exprimo meus pensamentos por continuar tendo sentimentos. Ao nosso redor o mundo sempre permanece girando, o planeta está sempre em constante movimento e assim também acontece com os espíritos mais evoluídos. Descansar é muito bom, mas não é sempre que isso será possível. Existir é difícil, mas está na capacidade de todos, bem ou mal, feliz ou sofrendo. Por mais que nos julgamos na pior situação, vale afirmar que ainda existem casos piores, não porque tudo é ruim, mas porque sempre avaliamos a situação presente na qual estamos como a pior de todas no mundo.
Encontrar maneiras de ser livre e fazer o que deseja a fim de ter felicidade, muitas vezes não nos é conveniente. Nem sempre temos autonomia ou conhecimento que nos dê credibilidade a fazer tudo o que queremos, mas mesmo assim somos livres. Queria eu sair desse local, mas isso já está fora de meu alcance, pois compreendo que não será o melhor para meu espírito. Muitas vezes constatamos na pratica que o sofrimento é o mais amargo dos remédios, porém é o mais forte a nos dar resistência em qualquer tipo de situação. Para tudo existe um porque e embora eu não tenha conhecimento do porque estou nessa situação, tenho comigo que não estou aqui por acaso, pelo menos é isso que espero. Por mais que estar aqui seja detestável e eu continue me sentindo inútil mesmo estando trabalhando, manterei firme em meus propósitos de sonhar com a felicidade, a sublimação e elevação do meu espírito. É contraditório se digo que queria voltar para a Terra e depois digo que quero evoluir, verificando que quase não suporto um plano pouco mais evoluído. Aqui pareço ter duas personalidades, no mesmo momento que desejo evoluir e ir conhecer mundos mais elevados, ainda sinto imensas vontades de retornar a Terra, mesmo que seja para visitar minhas irmãs, ou numa futura encarnação. Ainda tenho ligações muito firmes com a Terra e ainda mais com a vida que nela tinha.
Sentimentos carinhosos a todos. Eu me retirarei deixando a paz e a pureza nobre de meu carinho a todos os leitores. Que independente do credo, da posição social, do convívio familiar ou de quaisquer outras cosas, que vocês possam sentir-se realizados. Procure a melhoria pessoal, a evolução intelectual e moral. Isso é o que mais vale em todo o universo. Existimos unicamente para chegarmos à sublimação total, a luz, ao amor. Felicidades e muita sorte!

28 de março de 2005
Hoje inicio meu trabalho desejando muita luz a todos os leitores. Creio que em cada dia que se passa eu me conformo ainda mais do meu estado e vejo que posso aproveitar muito minha permanência por aqui. Durante o final de semana, que não possui esse mesmo nome aqui, uma vez que todos os dias são sempre iguais, fui convidada a um passeio, adivinhe por quem, exatamente ele, o jovem pintor que desde o primeiro momento me encantou. Estivemos durante longas horas conversando. Ele me revelou sobre seu desencarne, disse-me que quando faleceu, acordou momento depois sabendo que não mais estava vivo, era como se houvesse perdido por completo toda a noção do tempo, do espaço, da realidade e da própria vida. Embora todo o seu corpo parecesse funcionar como antes, pela própria relação com a matéria, ele sabia não estar mais vivo e guardava essa certeza.
Diferente de mim, ele não veio direto parar neste mundo, mas sim num plano ainda muito inferior. Imagino como não deve ter sido tenebroso para ele acordar num local aonde todos gemiam e gritavam desesperados, clamando por socorro. Pelo que ele me contou pude perceber a preciosidade de poder estar aqui. Questionei-o porquê eu tive o merecimento de vir parar aqui neste mundo de imediato e ele não. Tais questionamentos devem ser analisados e não existem possibilidades de uma resposta concisa sem prévio estudo. Também isso já pouco importa. Tal plano onde ele se encontrava era cheio de sombras e escuridão, com fumaça mal cheirosa, igual àquelas que saem dos escapamentos de caminhões. Um local frio e inerte em neblina. Imagino como ele não deve ter sentido medo. Eu que num local como o que me encontro, tão mais evoluído, senti-me amedrontada, imagine se estivesse num local igual ao relatado por ele. Tudo o que ele queria era deixar de existir, mas isso não era possível. Nada ia retirar dele a consciência de seu próprio ser.
Ele revelou-me que chorou durante longas temporadas, quando não estava envolvido pelo sono. Vale verificar que em zonas inferiores, o período pelos quais os espíritos ficam dormindo é livre, diferente daqui onde me encontro. Para ele, assim como para muitos outros espíritos, o sono é um alivio permitido, o qual eu não disponho aqui. Muitas vezes, ele era acordado por monstros e espécies jamais vistas ou imaginadas nem nos filmes de terrores. Tais relatos me comoveram e me deixaram com um sentimento que dificilmente saberia descrever. Depois de desencarnar o sentimento mais constante é aquele de incapacidade por não poder retornar o tempo, não poder voltar atrás e refazer ou reviver um bocado de coisas, atos, decisões e circunstancias.
Como ele me disse, e imediatamente concordei, a fé está acima de qualquer inteligência ou poder que se estabeleça em um plano físico. De nada adianta ao homem possuir algo se não tem fé em si e nas forças supremas advindas de Deus. Não desejo fazer desse livro nenhum material religioso, pois essa não é minha intenção, mas não posso deixar de relatar a importância de se ter fé quando aqui nos encontramos, ou mesmo em qualquer momento de nossa existência. Como ele mesmo me disse e agora digo a todos, é infinitamente melhor encontrar a fé antes de a ela ter de suplicar. Infelizmente, nem sempre procuramos pela purificação da alma antes de sermos perseguidos pela própria negatividade interior, o próprio peso da consciência.
Ele não quis me revelar como foi seu desencarne, mas suspeito que não foi de forma natural e também creio que não foi em idade jovem como a que ele mantém agora. Não sei quais os motivos o prendeu a um vale de trevas que lhe sugava todas as energias. Ele também sofreu muita fome e nem frutas como eu ou caldos como os doentes dos hospitais ele tinha para comer. A água somente existia misturada à lama fedorenta do solo. Todo o local tinha um cheiro típico de chulé. Se aqui para mim é torturante em alguns momentos, imagine então o que tão jovem não sofreu.
Foi imensamente gratificante estar com tal espírito. Aqui ele pinta paisagens que leva para os mundos inferiores como forma de encorajar ou estimular a própria evolução. Não sei se ele foi pintor ou qual sua profissão na ultima encarnação, mas talvez ainda tenha oportunidade de lhe perguntar isso. Estive excogitando e descobri que ele evangeliza espíritos carentes e reprimidos em mundos de regeneração e desenvolvimento. Parece-me que ele dá aula num plano onde apenas existem espíritos defeituosos fisicamente, que passam por fortes expiações. Pensar nisso me faz imaginar o quanto à perfeição é uma conquista longa e demorada, mas que apenas depende de nós próprios. Tais espíritos decidem encarnarem aleijados ou sofrer acidentes e ainda se colocam em prova posteriormente. Isso não é imposto, mas escolhido por vontade própria, como um esportista que luta para alcançar a vitória.
Devo comentar que em mundos mais inferiores, e até mesmo aqui onde estou não existem meios de apelar pela felicidade. Nada a não ser os próprios sofrimentos vão nos livrar das dificuldades e tormentos provindos pelos vultos negros interiores de cada espírito. Em tais mundos inferiores não desejo ir nem mesmo que seja em visita técnica. Talvez quando me acostumar com meu estado de desencarnada eu possa pensar em auxiliar tais espíritos infelizes, mas por momento, não sou capacitada a isso. É preciso muita humildade para elevar a alma e rogar auxílio assim como de mesmo modo, o devotamento e amor ao próximo deve ser constante nas causas do bem.
Verifiquei que meu amigo pintor realmente estabelece bases de profunda simpatia comigo. Não descobri o porque, mas creio que fomos amigos durante nossa encarnação na Terra. Não sei ao certo quem ele foi, mas algo me diz que o conheço de longa data.
Meu amigo me revelou que permaneceu muito tempo no hospital, o mesmo que estive visitando. Ele mesmo não soube me explicar quanto tempo depois de sofrimento que foi socorrido, mas qualquer minuto em tristeza faz o tempo se alongar imensamente numa eternidade. Ele foi amparado por uma equipe de resgate de uma colônia próxima que reside neste mesmo plano, pelo menos na maior parte do tempo. Verifiquei que tais tipos de resgate emocionam muito, não apenas o paciente, mas toda a equipe. Com meus pensamentos voltados para tais campos vibracionais, pretendo em breve me sentir disposta para tais atividades, ou pelo menos me preparar para isso. Também quero evoluir e me sentir útil, poder estar imediatamente sempre pronta para qualquer tipo de auxilio. Estou tendo firmes esperanças e vejo que o maior consolo as minhas depressões saem de mim mesma, das necessidades e aspirações que faço nesse presente momento. É pensando na abonança que pretendo enfrentar essa tempestade. Preciso me adaptar a tudo o que se passa comigo e principalmente a esse local, por mais difícil que seja. Somente assim conseguirei evoluir e ser melhor. Vejo que o mais difícil é manter o pensamento em esferas positivas, iluminadas de boas vibrações. Tudo inicia pela mente e concentrar-se apenas em pensamentos harmoniosos é um desafio para mim. A mente é tão poderosa que pode projetar e formar imagens simbólicas com suas vibrações e isso é algo que nem sei ao certo como explicar.
A voz e os sons aqui também são visíveis e sensíveis, não apenas audível. Os coros e cânticos formam imagens belíssimas que sublimam e purificam o ambiente de uma forma cheia de graça. É reconfortante estar aqui, mas para tal não podemos manter estreitas relações com a matéria. Sem dúvida me sinto bem melhor agora do que nos primeiros dias. Volto a sentir aquela sensação de alívio, conforto e tranqüilidade. Acho que em pouco tempo conseguirei sorver energias da natureza e assim realmente poderei ficar sem dormir e comer. Logicamente ainda estou longe de conseguir isso, mas é algo que almejo.
Ainda sinto saudades da vida que tinha, de minhas irmãs, parentes, amigos e conhecidos, mas, sobretudo estou tomando consciência do caminho que devo trilhar pela frente. Realmente é muito difícil ter de se adaptar a algo que não gosta, e ser obrigado a isso por saber que esse algo é para o próprio bem. Se não fosse por saber os benefícios que este local poderá me proporcionar, com certeza não estaria aqui. E as únicas garantias de tais benefícios sou eu mesmo a única a poder estabelecer, de acordo com meus atos e pensamentos.
Continuo trabalhando como sempre no mesmo esquema, fazendo imensos relatórios de todos os espíritos que visualizo próximo ao portal. Penso que nunca vou gostar ou me sentir bem nesse trabalho, mas me alegra pensar que posso dedicar-me por momentos na continuação do meu livro. Pude aqui aprender que reclamações nos conduzem sempre a maiores sofrimentos e se traduz em doença mental. Aqui eles analisam como verdadeira incapacidade de equilíbrio interior quem apenas visualiza as coisas por um ângulo negativo, propício a lamentações constantes, como estava se sucedendo comigo.
Tenho aceitado meu trabalho como uma oportunidade de aprendizados e uma benção de realização ainda com propósito desconhecido ao meu ser. Existe um conceito de trabalho aqui que é totalmente diferente do encontrado no plano terrestre. Aqui não se trabalha para a garantia monetária, mas apenas para aquisições definitivas do espírito em sua jornada imortal. Ainda tenho dificuldades para compreender isso.
Fico magoada comigo mesma por não conseguir me adaptar aqui e por temer o desconhecido ao invés de ter jeito aventureiro. Pelo menos me consola saber que me sinto mais segura hoje do que nos primeiros dias. Espero que essa segurança interior continue aumentando e expandindo de meu ser. É essa sensação que tenho quando admiro uma flor, vejo os campos, as hortas e os frutos. Sobre todos os aspectos da natureza encontro uma imensurável fonte de reconforto e segurança. Se nada está desamparado nesse universo, não serei eu a duvidar da proteção e o auxilio que sempre me é destinado. Tudo aqui é cuidado com muito esmero e paciência. É interessante notar que aqui, a maioria das casas pode ser transportada por espíritos mais capacitados moralmente. Quando visualizei isso achei emocionante e vislumbrei. Aqui também existem animais, mas são bem diferentes dos conhecidos na Terra.
É natural que eu me sinta desse modo constrangida e com tamanha dificuldade de adaptação a este plano, pois, como disse meu mentor, nenhum espírito tem capacidades de dar saltos em seu processo evolutivo. Estou passando por uma fase, pois como qualquer um, eu percorro um processo gradual de evolução. Tudo no universo tem seu desenvolvimento natural e isso explica o que tenho sofrido. Ainda levarei longo percurso para conseguir alimentar-me apenas da inalação de princípios vitais advindos da natureza, através da respiração, dos fluidos da atmosfera, da água e os elementos solares, elétricos, magnéticos, etc. Outra coisa que ainda não me acostumei é com relação à idade das pessoas, encanta-me ver senhoras que aparentam tão idosas e permanecem sempre com tanto animo e vitalidade. É muito interessante notar como a aparência aqui nada conta e nem mesmo quem aparenta cem anos deixa o trabalho ativo.
Espero chegar um dia em que não me sinta tão constrangida, mas sim em total estado de serenidade. É péssimo sentir-me em apuros como fico constantemente. Mas no decorrer espero que tudo se resolva. Por momento, desejo-lhes as maiores felicidades, aquelas provindas do estado moral de cada espírito, da aquisição do amor e da evolução gradativa. Muita paz e luz resplandecente a todos os lares e aos corações dos leitores amigos. Espero novamente estar aqui amanha com outras novidades dessa minha estadia. Sentimentos carinhosos e cheios de afetos. Muito amor e sorte a todos!

29 de março de 2005
Tenho aprendido muito estando aqui. As melodias têm me feito relaxar e como eles mesmos dizem: cada som intensifica o rendimento do trabalho. Mas também não é sempre que ficamos escutando música, pois tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica a nós mesmos. Muitas vezes o silêncio recai como uma benção que nos leva a profunda meditação.
Como o mês está no final, uma vez que ainda baseio a contagem das horas e dias pelo tempo da Terra, estive analisando todo o arquivo, com os espíritos que por aqui passaram. Por aqui existem muitas almas ignorantes e que buscam aprendizado como eu, mas que não são perversas nem más para permanecerem numa colônia inferior, mas que de toda forma, não devem ir para mundos superiores. Não sei quanto tempo permanecerei por aqui, mas entendo que cada um permanece no local determinado pelo tempo justo. Creio que ficarei aqui até realmente me acostumar e ficar apta ao trabalho e também ao socorro de outros espíritos. Sei que será complicado permanecer aqui, mas entendo que estar nesse local para mim é uma imensa benção. Por mais que eu não esteja no mesmo nível evolutivo dos seres daqui, sei que esse plano pode ser comparado a uma cápsula, um casulo irradiante de luz que cria, tem força transformadora e tudo pode fazer com as vibrações.
Dizem que somos ímãs e nos ligamos aos outros pelo pensamento, pelas tendências e afinidades. Imagino que conforme for me adaptando a esse mundo, irei sentir-me atraída pelos costumes, às maneiras de vida e assim, ter a mesma sintonia com os espíritos daqui. Não sei quando poderei estar apta a auxiliar, pois é necessária muita coragem e renúncia para ajudar a quem nada compreende do auxilio oferecido. Digo isso por mim mesma que até então sempre fui ingrata aos auxílios me prestados. Não tenho reclamado mais de nada e estou por conta própria buscando motivos para enxergar as oportunidades de crescimento nesse local. Existem coisas terríveis à nossa vista, mas que são bênçãos benditas, como outrora dissera. É preciso prestar auxilio para de mesmo modo receber e preciso fazer muito pelo próximo como forma de agradecimento por tamanha benção que tenho recebido que é estar aqui e ser amavelmente tratada, mesmo que às vezes me sinta rejeitada e fique achando que sou totalmente diferente de todos e de tudo. Auxiliar o próximo exige muita humildade e constante trabalho. Desejo imensamente um dia, mesmo que distante, poder cooperar e servir estabelecendo laços de amizades e correntes de simpatia por onde quer que passe.
No curso que estou fazendo durante a noite, quando saio desse trabalho no portal, eu aprendo fatores diretamente ligados ao espírito e os diversos mundos e planos existentes pelo universo. Começo a verificar que as palavras tantas vezes repetidas fazem real sentido. Não quero dizer que estou me familiarizando aqui, mas começo a entender que apenas o verdadeiro bem espalha flores e perfumes ao nosso redor e vai ser assim onde quer que eu esteja. Não devo temer o local se estiver com propósitos verdadeiros de ser correta e agir no bem, mesmo ou principalmente diante dos inimigos ou daqueles que me são indiferentes. O principio do amor é esse, o respeito, a compreensão e a tolerância. Aqui, buscarei o meu recolhimento. É a única maneira de fazer ventura e tirar proveito de momentos que até então considerava triste e inválido ao meu espírito.
Depois do desencarne, qualquer tipo de imperfeição acumulada pesa imensamente na consciência. Sei que ninguém é transportado para um plano mais evoluído para satisfazer gostos, mas sim por merecimento abençoado, por misericórdia divina. É sabendo disso que farei jus de minha permanência aqui. Os sofrimentos não me vêem a calhar apenas para que sinta dor e sinta-me punida, mas para que seja ou me torne mais solidária e compreensiva. É assim que sucede naturalmente com qualquer um. Tenho consciência de que meu padrão vibratório ainda é muito baixo e preciso melhorar-me imensamente.
Fiquei sabendo que muitos dos visitantes que passam pelo portal, precisam de equipes especiais que dão espécies de passes magnéticos e os munem de recursos fluídicos. Ainda não me permitiram explicar o processo e nem ao menos entendo minuciosamente para detalhar, mas creio que é algo muito interessante. Tenho me atentado para visualizar todos os mínimos detalhes e não me preocupar com as negatividades. Onde quer que esteja sempre haverá pedras em meu caminho e vejo isso já com certa naturalidade. Sou eu quem tem de removê-las e por mais difícil que seja, encarar tudo como oportunidade de crescimento e evolução. Se não for de uma maneira, que seja de outra.
Sei que ainda sou muito incapacitada para falar de amor, mas verifiquei que esse deve ser o alimento mais saudável e necessário a todas as almas. É o amor que nutre o espírito, uma ver que não temos mais corpo para necessitar de matéria. Mas mesmo assim, continuarei alimentando de frutas enquanto pouco consigo captar diretamente dos fluídos da natureza. Imagino o quanto ainda terei de evoluir para conseguir sobreviver apenas de energia e amor. A jornada será longa como um caminho que se perde de vista, um túnel que parece nunca ter fim, mas que, no entanto, tem ao longe, muito distante, o magnífico ponto de luz. Existe uma profunda frase que diz: o sistema de alimentação dos espíritos mais elevados é à base de um prato principal chamado amor. Nos hospitais eles possuem uma técnica anterior às refeições, pois os fluídos mais pesados ou grosseiros podem interferir ou se misturar as substancias dos fluidos da alimentação.
Estive perguntando a meu guia se aqui existe algum controle das horas de trabalho e ele me afirmou que sim. No meu caso, ele é meu supervisor superior e minha mãe tem co-relação direta de me instruir e verificar meus relatórios. Com o trabalho conquistamos experiências e oportunidades inesperadas, das quais nem eu tenho como comentar. Quanto mais dedicação e assiduidade eu mantiver, melhor são os créditos, se é que posso assim chamar.
Tem algo que ultimamente tem me deixado muito mal, não tenho conseguido orar. Minhas preces já não são feitas como antes, pois me sinto fatigada. Fico com sensações de que minhas preces não fazem mais sentido por que aqui não as faço com o coração. Algo interferiu na minha maneira de rezar e imagino que vai continuar assim durante algum momento. Mas espero que nem sempre seja preciso rezar para elevar aos céus os agradecimentos profundos que sinto perante a existência e todo o mais.
Algo muito importante que tenho colocado em minha mente é o fato de que nossa vida se centraliza onde nosso coração está. Sinto que meu espírito está aqui, mas meu coração não esquece minhas amadas irmãs, é imensa a falta que elas me fazem. Chega a doer dentro de meu peito à lembrança de todas as pessoas amigas que ha tempo não vejo. É muito sofrido, de uma forma que jamais imaginei. Morava em uma cidade distante, mas pelo menos podia usar o telefone. Aqui não tenho nenhuma opção e só o fato de pensar que dentre tão breve me será negado e impossível vê-las, ainda me desespero mais. Não pensem que isso é uma reclamação, mas apenas um lamento sofrido. Talvez nesse instante o que sinto possa ser um arrependimento de ter morado tanto tempo em cidade distante e não ter aproveitado o tempo de encarnada no qual poderia ter passado sempre ao lado delas. Agora já é tarde. Amargura-me pensar no quanto tempo perdi longe de minhas caras irmãs, apenas interessada no meu bom emprego na cidade donde encontrei Manoel. Mas de certa forma creio que escolhi o que achei melhor para mim e de nada devo me queixar.
A cada momento da vida, passamos por coisas diferentes, subimos determinados degraus. Tudo é feito por etapas e muitas vezes não se sabe exatamente o que será melhor para si mesmo em determinados momentos. Agi e estou passando as conseqüências justas. Além das saudades, tem momentos que acho esse trabalho do portal incrivelmente chato, mas continuarei tentando manter-me com pensamento positivo. É começando de baixo que chegarei aos grandes postos de trabalho, podendo ser uma auxiliar profissional e dedicada.
Momentos antes de retornar a minha moradia, eu costumo ficar observando as arvores frondosas e procuro experimentar a sensação de bem-estar que elas tanto aparentam. É incrível como as plantas crescem rápidas aqui, os frutos crescem e maduram de um dia para outro. Os ventos são mansos, leves e envolventes. Dá vontade de ficar tão leve quanto ele, repousando e balançando as folhas dos arbustos e a poeira do chão. Ficar sozinha nesse local me proporciona inúmeros tipos de pensamentos.
Outra coisa que tenho observado é que minha visão parece alterar em certos momentos. Ultimamente a dor em minhas pálpebras, na vista ou nos olhos em si não tem sido muito grande e por engraçado ou incrível que pareça, nesses dois últimos dias tenho visto umas luzes coloridas, parecidas com uma típica áurea e geralmente azul. Em alguns é prateada e noutros varia desde um verde mesclado com lilás. Gostaria de saber ou ver a própria cor de minha áurea, ou desse circulo luminoso.

30 de março de 2005
Saudações a todos os amigos leitores. No dia de hoje, não tenho em reflexões positivas a minha mente. Estou simplesmente num estado desconsolado de quem não consegue esquecer a vida que deixou na Terra. Não existe nada a meu ver tão cruel quanto ter de morrer jovem. Busco ser tolerante e inclusive estive lendo um livro que meu pai me emprestou. Nele diz que a tolerância é uma das principais virtudes para elevar o ser humano e desenvolver sua ética, mantendo-o firme na pratica do bem. Estudiosos que passaram pela Terra, nomeados de grandes mestres, consideravam a virtude como uma qualidade que o individuo já deveria nascer com ela, ou seja, não era algo ensinado. Alguns outros já interpretavam as virtudes, dentre elas a tolerância, como realizações repetidas pelo sujeito formando assim o hábito de ser bom, ter atos nobres para consigo e com os outros. Para mim, qualquer virtude é traduzida na disposição que o homem possui em fazer o bem, independente se já nasceu com o instinto benigno ou se adquiriu durante a vida. A palavra tolerar parece ser melancolicamente ofensiva, como se traduzisse em algo imposto a ter de aceitar. Muitas vezes toleramos determinadas situações por não querer compreender o que se passa e até então estive dentro desse tipo de conflito.
Durante as encarnações, aprendemos hábitos, conhecemos coisas, refletimos sobre teorias e aprendemos distintas idéias. É desse conjunto que nos envolvemos e nos relacionamos uns com os outros. A convivência é algo complicado de se falar a respeito. É preciso imensa tolerância para conviver com determinadas pessoas, aceitando e respeitando os outros como são. A tolerância caminha entre a justiça e o amor, exigindo respeito sempre por aqueles a quem não se gosta.
Aqui existe um núcleo de recomposição das energias através das árvores: estive tendo minhas primeiras noções básicas e me foi permitido passar algumas informações. Começa-se pelas raízes, tocando a terra e a água, imaginando o corpo físico, no campo da vontade. Depois se passa para o tronco, representante do corpo astral, o coração. Prossegue-se pelos ramos, imaginando o intelecto como representação do corpo mental. Na segunda parte passa-se para as folhas, representantes da razão, a sabedoria, o corpo causal. Prossegue-se pelas flores, representantes da alma em si, o amor. Conclui-se, portanto, nos frutos, representando o espírito, o campo da verdade. Vejo que aos poucos, tendo grades doses de paciência, consigo aprender algumas coisas diferentes e desconhecidas. Enquanto se concentra para captar as energias naturais das árvores, também se imagina em temas como fé, esperança, caridade, prudência, justiça, força, temperança, dentre tantos outros pontos.
É impossível viver sem fé e esperança. Sempre o homem busca ou tem expectativa a um bem, a felicidade em si. Na realidade, dizem que é através da confiança que alcançamos à felicidade ou obtemos meios de conseguir aquilo que desejamos. A caridade, como muito já sabia, é a pratica dos dois principais mandamentos ensinados, o amor a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Para tal, também precisamos ter amor para conosco mesmos, relacionando nossa alma imortal aos princípios e virtudes existentes na face do universo. No campo da prudência, sabemos escolher corretamente quais as decisões a serem tomadas no decorrer da vida, sabendo refletir, tendo determinação e realizando sonhos. A força surge de nosso intimo e não do meio exterior. É a energia principal que nos faz vencer os obstáculos e os vícios. Em geral, é isso que aprendi nas ultimas horas.

31 de março de 2005
Mais um novo dia se inicia e fico feliz de poder transmitir as minhas mensagens. Ontem, durante o período da tarde, tive um encontro, uma reunião com outros espíritos recém desencarnados. Relatei minhas experiências decorrentes de minha ultima encarnação e pude além de conhecer varias outras pessoas, também compartilhar de suas experiências de vida.
Teve um relato que muito me comoveu. Uma das jovens relatou que viveu mantida por ilusões. As mulheres a invejavam e os homens a admiravam. Ela apenas tinha olhos para um rapaz de poucos recursos financeiros. Seu pai insistia que ela deveria se casar com um homem rico e importante perante a sociedade, mas, mesmo assim, ela continuou seu namoro com o rapaz. Com a morte de sua mãe, sua madrasta a obrigou a se casar com um homem conhecido e rico, da mesma empresa donde seu pai trabalhava. Decepcionada e entristecida por um casamento que não durou muito tempo, ela se divorciou e mudou para a casa de sua tia nas redondezas da nova cidade, donde conheceu outro homem que em poucos meses acabou se apaixonando. Porém, seu novo namorado teve de partir para o estrangeiro onde conseguiu vaga e um concorrido cargo de piloto numa linha comercial. Ele prometeu retornar para levá-la com ele às escondidas, mas depois de sua partida, muitas coisas mudaram. Ela não demorou em verificar que estava grávida. Quando começou a procurar pelo pai da futura criança, descobriu que ela não era a única. Ao saber que outra mulher também estava grávida do seu namorado, resolveu não revelar sua própria gravidez e esquecer tal homem. Amargurada ela viveu intrigas para provocá-lo e acabou cometendo varias loucuras em sua vida por causa de revoltas e do ódio que passou a ter de toda aquela situação.
Buscando reerguer sua vida, ela começou a executar sua profissão de advogada e com o passar dos dias, desenvolveu sua paixão pela justiça e os direitos humanos. Sem recursos suficientes ela continuou vivendo com a tia. Longe de sua madrasta, recebeu a notícia de sua própria prima de que ela havia morrido num acidente de carro, porém, a verdade era bem diferente. Como seu tio teve problemas de saúde e ficou impossibilitado de trabalhar, ela se viu obrigada a recorrer ao auxilio de sua irmã. É foi já no ultimo mês de gravidez que ela se encantou por um médico estagiário que lhe atendeu no hospital. Porém, novamente ela encontrou dificuldades ao manter relações afetivas com o médico, uma vez que surgiram conflitos com a ex-namorada dele e com seus pais que não a aceitavam exatamente pela criança que nasceu pouco dias depois. O médico, porém, apaixonado, disse que enfrentaria seus pais e prometeu-lhe que seria um bom esposo e pai a seu filho.
Iniciando um compromisso sério, os dois decidiram se casar e assim o fizeram marcando rapidamente a data e agindo sem muito alvoroço. Sem o apoio dos pais, o médico decidiu casar apenas no civil e partir para uma incrível viagem de lua de mel. Sem muita sorte, o destino surpreendeu novamente a vida da jovem. Durante um dos passeios, o médico morreu após engasgar-se e ser levado pela correnteza da área de risco de uma cachoeira. Viúva ainda muito jovem, ela sofreu as amarguras de perder novamente um grande amor de sua vida. Assim, se viu obrigada a enfrentar um destino totalmente não imaginado. Vivendo a trancos e barrancos, tal mulher aprendeu muito, soube lutar pela felicidade e passou por inúmeros processos dolorosos de enriquecimento pessoal e moral. Foi dos sofrimentos que ela verificou existir em sua vida, coisas essenciais pelas quais soube dar valor à vida e ao amor ao próximo.
O relato dela foi bastante extenso. Ela relatou que cerca de seis anos depois, foi seduzida novamente pelo primeiro marido, o qual se separara depois de frustrada, ter sido forçada pela madrasta a se casar. Achando que poderia viver uma vida mais calma e tranqüila, concedendo um pai a seu filho, ela retornou para o antigo lar que abandonara. Foi retornando para a cidade donde nascera que encontrou inesperadamente com sua madrasta, a qual imaginava ter falecido a anos antes. Quando ela descobriu que sua madrasta tinha um caso amoroso como amante do seu primeiro marido, o qual voltara a conviver junto, já era tarde, ela estava grávida pela segunda vez.
Quando contou a ele sobre a gravidez, ele sugeriu que ela fizesse um aborto sem dar maiores explicações do porque não desejava aquela criança. Ela disse que jamais faria uma coisa dessas e sofreu vários tipos de ameaça até que no sexto mês de gravidez, tendo uma faca apontada para sua garganta, viu-se sem saída para fazer o aborto. Assim aconteceu, com muito sofrimento o feto foi entregue diretamente nas mãos do pai que o jogou num latão de lixo durante as altas horas da madrugada. Mas o feto não morreu pelo fato de ter sido encontrado por uma senhora que o levou imediatamente para o hospital. Ficando na incubadora, a criança sobreviveu vindo a se tornar um jovem sadio e consciente de que fora encontrado no lixo. Anos depois, o destino cruzou o caminho do jovem ao de sua verdadeira mãe, mas ela não sabia que aquele ser era seu filho.
Nessa altura da história, o jovem filho acabara de se tornar famoso ao fundar uma espécie de associação empenhando-se na condução de projetos sociais. Seu trabalho foi todo desenvolvido a partir de estudos sobre William Booth. Todos os recursos necessários as suas atividades eram provenientes de doações em dinheiro e ajuda voluntária de mutirão. Tal mulher, que apresentou aqui a fisionomia de quando era jovem, morreu sem ter conhecimento de que aquele era seu filho e vise versa.
Por vias das dúvidas, para quem não conhece, estudei sobre William Booth no colegial, quando encarnada. Segundo os relatos históricos, todas as denominações evangélicas surgiram a partir do ideal de algum cristão consagrado. Foi ele quem findou um “Exército de Salvação”, que era uma espécie de organização religiosa. Sua história começou em 1864, quando ele e sua esposa, Catherine Mumford, deram criação a Missão Cristă, em Londres, Inglaterra. O casal, então, a partir desse passo, iniciou o que seria denominado de movimento salvacionista, com base na filantropia e na pregação do Evangelho. A entidade era uma espécie de organização năo-governamental que se dispunha a ajudar os miseráveis, os quais, naquele tempo, proliferavam no império britânico por causa dos efeitos da Revolução Industrial, que deixou multidões sem emprego e perspectiva. Após uma infância e juventude pobres, Booth e sua esposa se sentiram tocados pelo sofrimento daquela população e decidiram dedicar a vida a apoiá-los. Ex-prisioneiros, mulheres perdidas, moradores de rua e alcoólatras foram os primeiros a experimentar esse amor e, ao mesmo tempo, receber a palavra de Deus. Só em 1878, nasceu o Exército da Salvação com uma estrutura de comando paramilitar. Bem, é isso o que me lembro no presente momento.
Pude presenciar diversos tipos de relatos e achei de fato interessante conhecer como foi à vida de outras pessoas. É engraçado analisar como cada espírito tem sua historia particular de vida, seu trajeto a seguir, suas dores para sofrer. Muitas vezes quando encarnada ficava me perguntando se o acaso existia ou se tudo o que ocorria em minha existência fora anteriormente programado. Hoje compreendo de uma forma que não sei ao certo como explicar, mas digo que somos nós quem estipula os acontecimentos e fatos que se desencadeiam durante o dia-a-dia de nossa vida. Existem certas coisas que são predeterminadas a nos acontecer, mas nada é imposto como uma lei. É de acordo com nossas atitudes, pensamentos e maneira de ser que o futuro desencadeia, somos constantemente responsáveis pelo futuro quando temos o livre-arbítrio de nossas decisões e atitudes. Tudo pode ser transformado, modificado. Imprevistos podem sempre acontecer, não por obra do acaso, mas pela decorrência do que aceitamos a cada minuto de nossa vida. Somos condizentes a receber a reação de nossas ações e nesse caso, não temos escolhas.
Aqui eu encaro cada dia da maneira como posso e tenho comigo a intenção de sempre renovar meus atos e conhecimentos. No dia de hoje, todas as músicas que escutei foram de um estilo misterioso, daquelas envolventes e que levam aos pensamentos íntimos. Músicas de suspense, com sons que nunca havia escutado. Nomeiam essas músicas com o seguinte tema: o amor gera bênçãos enquanto o ódio gera maldições. Aliás, estive verificando sobre tal tema, inclusive por aquela questão de ter encontrado um mapa que parecia conter um feitiço. Fiquei sabendo que podemos ser atingidos por feitiços e maldiçoes.
Deus permite que possamos ser atingidos momentaneamente como meio de nos colocar em provação. Mas deve ficar claro que ninguém sofre qualquer tipo de maldição ou feitiço se este for injusto, ou seja, se a pessoa não o merecer. De todo modo, a prece e a pratica do bem são excelentes antídotos. Assim também acontece com as bênçãos.
Em muitos momentos meus de reflexão, escuto vozes de conversas de outras pessoas. Há poucos instantes, havia um sujeito que conversava com uma moça e uma senhora. Diziam algo relacionado ao fator de ser mãe. Existem inúmeros casos familiares de mães e filhos que se baseiam no mesmo dilema: “eu te odeio, mas não vivo sem você”. Coloquei-me imediatamente a pensar nisso. Sei que sempre estou por fora de tudo o que se passa nesse plano e com as pessoas daqui, mas imagino que as relações aqui sejam mais brandas e tranqüilas, sem aquela situação imposta de convivência e hereditariedade. Muitas das vezes, na relação de filha, compreendo alguns fatos e fico imaginando como seria me colocar na posição de mãe. Sei que desencarnei jovem e não fui mãe na ultima encarnação, mas também não devo esquecer que tive meus filhos em encarnações passadas a anterior. Dizem que todos os espíritos têm de passar pela maternidade para desenvolver os laços de fraternidade e solidariedade. Até mesmo na condição de pai posso afirmar que a maioria dos homens fica mais sensível quando tem o primeiro filho.
Estar aqui vendo tantos espíritos muitas vezes me faz imaginar o quanto o universo é grande e cheio de mistérios. Tudo funciona metodicamente e continuamente. O tempo não pára, as horas não descansam, os planetas não deixam jamais de evoluir. É encantador constatar tal realidade estando num local como este donde tudo faz mais sentido. Sei dos valores que tenho e do grande agradecimento ao Criador por poder existir, por fazer parte do universo, por estar aqui neste momento e de alguma forma ser útil. Mesmo assim, ou principalmente por isso, sinto-me pequenina, menos do que uma formiguinha ou uma célula microscópica num universo tão imenso e infinito.
Muitas vezes é até tranqüilo estar nesse local. Não que seja agradável, mas estou num dia de muita tranqüilidade. Se todos os dias aqui fossem assim, diria estar nos meus sonhos de paz.
Meus cadastros de novos espíritos do arquivo foram poucos hoje. O serviço está bem parado e assim, posso me concentrar mais nessa escrita. Devo explicar que em dias como hoje, os relatos são passados diretamente por campo fluídico a Dona Helen, sem necessidade de nenhum outro espírito mensageiro. É complicado todo o processo e, no entanto, espero mais tarde poder lhes relatar.
Quanto às questões de alimentação, continuo passando “fome”, ainda mais agora que parei de pegar comida escondida no hospital. Algumas vezes, raríssimas vezes, eles me servem sopa, caldos e outras especiarias naturais para comer, mas nunca saciam minha gula. Estar aqui vai aos poucos sendo algo rotineiro e normal, mas não agradável. Tem momentos em que sinto como uma criança que foi retirada do ensino básico e levada diretamente a uma universidade. Noto que as pessoas desse local possuem dons maiores e são mais desenvolvidas tanto em aspectos de moral quando intelecto. Não que me sinta perdida ou receosa, mas é uma espécie de incomodo inexplicável. Agradeço infinitamente a minha mãe e aos guias superiores que me recolheram trazendo-me para este mundo, mas a falta de preparo ou até mesmo vontade e interesse para aqui estar são bem visíveis. Sinto-me deslocada e tenho constantes lembranças da terra. Fico confusa e constrangida.
Estive conversando com meu mentor e ele informou-me para não me preocupar. Devo manter-me posicionada a ter bons pensamentos, o que na maioria das vezes é impossível, e procurar agir sempre no bem. Por mais que eu tente, falta-me muito ainda para isso. Tudo na Terra era mais simples do que aqui, mesmo com todas as tecnologias e conhecimentos que me embaralhavam a cabeça por horas ou outras. Para terem noção do que falo existe aqui, uma máquina mais parecida com um trem comboio, expresso voador, que chega a três mil quilômetros por hora estando a cento e oitenta pés de altitude. É uma verdadeira máquina e que pode aumentar ou reduzir de tamanho dependendo do trajeto a ser feito. Para quem entende do assunto, o que não é o meu caso, deve notar de que maluquice eu estou falando. Mas aqui, essa maluquice é real, mesmo que formada apenas por uma matéria mais fluídica nem sempre visível aos olhos espirituais de todos. Na realidade, tudo o que existe aqui pode ser ou não visível de acordo com a evolução do espírito. Posso nesse momento revelar que uma grande infinidade dos espíritos que chegam até o portal avista apenas o vazio do lado onde estou. Eles não conseguem enxergar a vasta beleza desse local. Ainda mais tarde espero ter permissão e mais detalhes para revelar como isso acontece e o porquê de ser assim. Apenas adianto que aqui, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à natureza do espírito e reside em todo o seu ser. Os mais evoluídos possuem sua luz própria mais forte.
Durante os últimos dias tenho me sentido melhor, menos cansada e com menos sono ou fome, mas ainda são fortes as ligações com a matéria e continuo, mesmo que em menores proporções, a sentir inclusive frio e calor. Bem, fico na expectativa de poder aprender ou compartilhar com todos os leitores outras tantas coisas novas que for desvendando nesse mundo ainda inadaptável a meu ver. Mas por hoje, pararei nesse ponto. Que longa paz e sensação de felicidade encham os corações de meus irmãos que continuam encarnados na Terra. Fiquem com as bênçãos do amor divino e transmita essa luz a todos do convívio ou àqueles que encontrareis em seu caminho. Que possamos sempre galgar rumo à longa jornada de evolução. Longa e árdua, mas possível e, mais cedo ou mais tarde, obrigatória a todos. Amor e felicidade eu desejo a todos para aliviar minha solidão e infelicidade.