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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Capítulo 3 – A emboscada

Enquanto Carol terminava a verificação do livro e dos pergaminhos de Gilda, alguns dos pintores que estavam trabalhando na reforma do velho internato remexiam nas taboas e exatamente onde Carol pegara aquele livro, eles encontraram a parte de um mapa.
___ O que será isso? – questionou um deles.
___ Parece um mapa.
___ Será algum tesouro?
___ Deixe-me ver, mas está em outra língua.
___ Sabe o que diz?
___ Não, mas deve ser alguma coisa bem antiga e misteriosa, poderíamos levar a algum especialista.
___ Acho arriscado, e se for o mapa de um tesouro?
___ Isso só existe nos filmes –palpitou o outro.
___ Mas quem sabe não estamos no nosso dia de sorte?
___ Nem fazemos idéia do que possa estar escrito nisso.
___ Já sei quem pode nos ajudar, não levarei o mapa. Guardem-no em local seguro, vou tentar copiar esses rabiscos e mostrarei a um amigo professor de letras e historia da universidade, com certeza saberá traduzir pelo menos alguma coisa.
Naquela mesma tarde, o experiente professor que acabara de concluir seu doutorado no exterior, observou o rabisco, mas como muitos deles ficara diferente, a tradução não sairia perfeita e completa.
A tradução se resumiu na seguinte frase: “Quem este mapa encontrar poderá ficar ryiico, ele o levará a ponta da colina donde os negros dos quilombos escondiam seus ourjios que juxfntavam na busca de se tornarem livres”.
Saindo com aquele pedaço de tradução na mão, o pintor imaginava que realmente poderia, junto de seus amigos, encontrar algo muito valioso. Numa nova reunião com eles, o assunto principal rodeava acerca daquele manuscrito cheio de desenhos.
___ Olhem bem, “Quem este mapa encontrar poderá ficar rico e milionário, ele o levará a ponta da colina donde os negros dos quilombos escondiam seus ouros, diamantes e pedras preciosas que juntavam ou guardavam na busca de se tornarem livres”.
___ Sim, é isso – sorriu o outro.
Um deles comentou que vira Carol sair com pedaços de papel amassado e enrolado que julgaram então ser o complemento do mapa. Sem muita conversa, refletiram se aquele tesouro ali comentado e dito poderia mesmo existir e concluíram que só ficariam sabendo da resposta se fossem atrás dele. Assim, planejaram uma maneira de invadir a casa de Carol e procurar o restante do mapa.
Durante à tarde daquele mesmo dia, Carol terminava de preencher uns papeis com riscos da arquitetura de um museu quando a campainha tocou.
___ Temos um mandato para procurar narcótico.
___ Narcótico? – estranhou Carol vendo alguns policiais invadirem sua residência.
___ Eu quero ver esse papel.
___ Poderia vir até aqui, precisamos revistá-la.
___ Um informante confiável nos deu o seu endereço, a senhora se chama Carol?
___ Mas isso é loucura, deve haver algum engano! – ela estranhou notando que remexiam espatifando todos os seus pertences.
Enquanto isso, os outros policiais, todos falsos, menos um deles, começaram a revirar a casa, jogando tudo no chão, procurando pelo mapa. Sua casa estava ficando toda destruída.
Como Carol tinha guardado o livro dentro do carro, pensando de mostrá-lo a uma amiga, não iriam encontrar nada ali. Irritados pela busca em vão, um dos homens retirou do bolso um pacote com farinha embrulhada e retornou para junto do policial que segurava Carol.
___ Surpresa, surpresa – disse o policial mostrando o embrulho que ele mesmo levara propositalmente.
___ Não – gritou ela sem entender nada.
Um daqueles era realmente policial e, portanto, participava de um acordo feito entre eles.
___ Carol, eu estou prendendo a senhora por porte ilegal de drogas. Tem o direito de ficar calada. Tem o direito de chamar um advogado, caso não possa pagar um advogado...
___ Eu não...
___ Tudo o que disser poderá ser utilizado contra você no tribunal. Vamos levá-la para a delegacia senhora Carol, caso queira poderemos passar pela porta dos fundos, assim não será vista sendo presa...
Daquela forma, a mais constrangedora e inesperada possível, Carol foi levada para a prisão donde os pintores já haviam organizado tudo para deixá-la presa. Ela observou os presos que aguardavam, bem como o entra e sai de policiais armados e com algemas penduradas nos cinturões. Não entedia como fora parar ali, não fazia idéia do que estava lhe acontecendo e nem muito menos do motivo real pelo qual os policiais a levaram para aquela delegacia.
Num dos cantos uma mãe discutia com um rapaz, provavelmente seu filho. O clima ali era péssimo e tumultuado. Pouco tempo depois um homem de boa aparência se aproximou de Carol que ainda permanecia algemada.
___ Sou o detetive Moscou, Senhorita Carol. Apresentarei uma oportunidade de facilitar as coisas para a senhora. Segundo nossos contatos poderei te ajudar a sair daqui o mais rápido possível – informou ele.
Carol achando tudo muito estranho e sem compreender o que realmente acontecia, respondeu imediatamente.
___ Eu não falarei nada enquanto não conversar com meu advogado.
O homem riu num gesto de deboche e prosseguiu:
___ É um direito seu, senhorita – disse ele enfocando bem a palavra senhorita.
Horas depois da solicitação de Carol, o advogado que tratava das causas de seu pai Luiz apareceu no local. Uma das guardas retirou Carol da cela para que ela conversasse mais à vontade com o advogado.
___ E então? – questionou o advogado em forma de cumprimento assim que a viu.
___ Estou bem, assustada e sem entender absolutamente nada do que me ocorreu. Nem sei porque estou aqui, não tinha em minha casa...
___ Não precisa se explicar, eu acredito em você e estarei contigo para defendê-la.
___ Obrigada. E Joaquim? Fiquei sabendo que chegou de viagem ontem mesmo e veio para cá imediatamente, assim que...
___ Estava lá fora, relativamente bem. Os policiais dizem estarem ocupados e não querem ter de gastar tempo com pessoas que vêem ver parentes ou namoradas. Porque ligou para ele?
___ Errei o numero, estava tão atordoada que disquei o numero dele ao invés de ligar para minhas irmãs.
___ Entendo.
___ Quando poderei vê-lo?
___ Não, só depois da preliminar. Até lá terá direito de ver-me apenas.
___ E a fiança?
___ Será fixada na audiência. Qual é a sua situação financeira?
___ Não quero falar sobre isso – respondeu Carol virando o rosto.
___ Não acho que fixarão uma fiança alta, você não é nenhuma traficante profissional, mas poderão fazer isso influenciados pela filha de quem é.
___ Traficante profissional? Como assim?
___ Senhora Carol, os policiais encontraram quase um quilo de cocaína na sua casa, disseram estar dentro do guarda-roupa. Esse é o problema.
___ Meu problema é que tem alguém tramando isso para cima de mim, não sei quem é ou o porque está fazendo isso, entende? Preciso de ajuda.
Enquanto Carol conversava com o advogado, sua casa continuava sendo revirada pelos pintores que vestidos de policiais fingiam procurar mais substancia de narcóticos. Estavam tendo cobertura de um policial verdadeiro que, envolvido no caso, estava sendo pago antecipadamente e segundo acordo, teria boa parte de ouro, caso realmente conseguissem encontrar o suposto esconderijo secreto donde poderia existir algum tesouro guardado. Estavam à busca de algo que nem tinham provas de existência. A casa de Carol já estava toda espatifada, haviam quebrado praticamente tudo de propósito, por pura maldade e raiva de mais uma vez, não conseguirem encontrar o que desejavam. Carol realmente estava com o restante do mapa, mas nem notara que os desenhos de uma metade de papel rasgado pudessem significar o complemento de algo tão valioso e importante. Nenhum deles desconfiou de que o material pudesse estar no bagageiro do carro dela.
Na delegacia, Carol continuava sua conversa com o advogado:
___ Olha, esta não é a minha especialidade – dizia-lhe ele coçando o queixo. – Eu procurei um amigo que é o melhor advogado criminal que conheço, ele vai poder ajudá-la melhor do que eu.
A audiência se deu no dia seguinte logo pela manha e Carol estava mais atordoada do que enfurecida.
___ Caso 367. Carol está sendo acusada pela pose de cocaína com intenção de distribuí-la, como previsto nos artigos 1.195 e no código 746390 do código de segurança.
___ A senhora Carol tem um advogado? – questionou outro homem logo em seguida.
___ Sim meritíssimo.
___ A senhora Carol alega inocência.
___ Meritíssimo, ela é uma cidadã honesta com casa e trabalho próprios, seu pai era um homem conceituado. Solicitamos fiança até o julgamento.
Carol estava tão tensa que sentia as mãos tremerem.
___ Fiança fixada em quatrocentos mil dólares – disse o juiz por fim batendo seu martelo de madeira.
Terminada daquela forma a sentença, outro caso foi iniciado enquanto Carol sentia as lagrima escorrerem pelo rosto. Simplesmente olhou para o advogado e sem nenhuma palavra poder dizer lhe levaram novamente para a cela. Pouco tempo depois, um dos policiais foi buscá-la e disse que sua fiança fora paga. Joaquim havia pagado e estava extremamente preocupado. Embora confiasse nela, tinha alguns receios e perguntava a si próprio se realmente agira corretamente pagando aquele alto valor.
Ao sair da cela, Carol imaginou que fosse encontrar com Joaquim, mas não havia ninguém esperando por ela, apenas uma amiga, a mesma cuja qual tivera intenção de compartilhar do segredo do livro e do pergaminho que encontrara.
Ainda profundamente abalada e exausta, sua amiga acompanhou-a até em casa e cheia de raiva, Carol queria matar quem deixara sua casa naquele estado totalmente destruído. Bastante irritada Carol chorou e ainda tremula aceitou um comprimido oferecido pela sua amiga que cheia de pena, resolveu dormir aquela noite ali junto de Carol. Tudo o que lhe acontecera era muito estranho e outras coisas piores poderiam ocorrer. Poderiam não, iam acontecer.
___ É melhor deitar e tentar descansar, eu vou tentar organizar suas coisas e varrer o que quebraram, mas primeiro vou lhe preparar um lanche. Sei que passou o dia todo sem comer nada.
___ Obrigada. Não se preocupe, estou melhor – agradeceu Carol ainda com lagrimas no rosto.
Minutos depois, enquanto sua amiga preparava um lanche, um sujeito chegou na porta silenciosamente e ficou observando através do vidro. Quando a amiga de Carol foi pegar o suco na geladeira, deu um pulo de susto vendo o homem parado do outro lado da porta.
___ Desculpe-me, não queria assustar você, sou amigo de Carol, fiquei sabendo do que ocorreu e...
___ Ela está deitada, está com dor de cabeça.
___ Ah, que pena. Eu trouxe um sanduíche, vejo que está preparando um também. Não sabia que ela estava com uma amiga em casa e pensei que...
___ Eu direi a ela que esteve aqui. Qual é mesmo seu nome?
___ Bem, espero que tudo se resolva – continuou o homem tentando fugir da resposta.
A amiga de Carol o observou atenciosamente e desconfiada o bastante para não lhe dar muita atenção.
___ Bem, então eu entrego o sanduíche a você. Não estou com fome mesmo – sorriu ele sem jeito. – Além do mais, vou trabalhar e não posso levar isso, se não até guardaria para o jantar, esta com cara de tão gostoso. Foi preparado agorinha a pouco – riu ele mais uma vez completando a frase.
A amiga de Carol olhou para ele pensativa.
___ É, parece que não sou bem vindo aqui. Vou deixar aqui na porta, depois você pega. Até mais ver – disse o sujeito, um dos pintores, que fingia e tentava montar cena como amigo de Carol.
A amiga de Carol terminou de montar o lanche que preparava e ao abrir novamente a geladeira, olhou para o lanche no chão, embrulhado e guardado num saco de papel. Levantando a sobrancelha ainda desconfiada, observou o código do alarme de segurança que travava as portas e ainda receosa apertou os números de um aparelho próximo à porta de entrada da casa, destravando o alarme e o próprio sistema de fechamento automático da porta. Cautelosamente torceu a maçaneta olhando para os lados. Quando se agachou para pegar o embrulho no chão, apenas sentiu um golpe na cabeça, caindo sobre o próprio pacote do sanduíche.
Verificando a demora da amiga e sentindo um vazio grande no estomago, Carol resolveu ir até a cozinha e ficou extremamente pálida quando verificou que ao invés de ser sua amiga, tinha um estranho dentro da cozinha de sua casa.
___ Meu nome é Manoel, não se preocupe, não vou lhe fazer nenhum mal – dizia ele enquanto jogava macarrão em água fervente. – Gosta de macarronada? É simples e rápido de fazer, imagino que não tenha comido nada no dia de hoje. Você é muito bonita e atraen...
___ Quem é você?
___ Já disse, Manoel. Ah, eu organizei as coisas da sua cozinha, estou usando das suas cebolas e tomates, vou preparar um refogado bem gostoso, sou bom na cozinha. Também abri a conserva de cogumelos, espero que não se importe. Adoro macarrão com cogumelos. E você?
___ Onde está minha amiga?
___ Ah – ele gaguejou. – Bem, eu disse que ela podia ir embora, mandei-a para a casa dela, disse-lhe que ficaria cuidando de você. Ela só iria nos atrapalhar, tenho muito que conversar com você.
___ Sei que você deve ter alguma coisa a ver com o que me aconteceu, parece até que o reconheço. Esteve aqui mais cedo? É algum daqueles policiais?
___ Isso não faz importância.
___ Quero que vá embora – ordenou Carol receosa e desconfiada.
___ Eu sei que não deveria estar aqui. Estou assustando-a, não é mesmo? – disse ele em tom de brincadeira.
___ Estou muito cansada – disse ela quase chorando. – Preciso descansar e quero ficar sozinha.
___ Se queria ficar sozinha, o que aquela mulher fazia aqui?
___ Ela é minha amiga e veio me trazer, estava só preparando um lanche para mim antes de ir embora.
___ Pois estou preparando algo bem melhor e assim que eu terminar, prometo ir embora também. Creio que antes teremos outras coisas para conversar.
___ Eu quero ficar sozinha agora – repetiu Carol.
___ Eu sei.
___ Por acaso está armado?
___ Não se preocupe quanto a isso, já garanti que não lhe farei nenhum mal. Vou terminar de preparar nossa refeição, repito que sou ótimo na cozinha. Na cama também – disse ele por ultimo numa risada sarcástica. – Tudo bem com você? Pode ficar tranqüila, não vou...
___ Porque não vai embora e me deixa em paz?
___ Está tensa? – questionou ele se aproximando com a mesma faca que utilizava picando os tomates.
___ É, um pouquinho – respondeu Carol recuando alguns passos para trás, ainda mais assustada e incomodada com aquele estranho homem que parecia ter visto antes.
___ Vem cá, eu sei do que precisa, venha, vem aqui – continuou ele se aproximando.
___ Não chegue perto de mim – gritou Carol estarrecida de pavor.
___ Vou apenas lhe fazer uma massagem. Bem, vou deixar essa faca aqui, é disto que estas com medo?
Carol balançou a cabeça tentando não demonstrar todo o pavor que sentia.
___ Venha – disse ele puxando-a pelo braço e levando-a até o sofá. – Deite-se aí de bruços, vou fazê-la relaxar bem rapidinho.
Carol ressabiada, mas sem nada poder fazer, foi obrigada a obedecer-lhe.
___ Relaxa – disse ele calmamente enquanto esfregava a mão pelas costas dela. – Respire fundo – prosseguiu ele suspirando fundo e percorrendo cada vez mais a mão pelo corpo de Carol. – Estou tão feliz por estar aqui com você, somente nós dois – suspirou ele novamente.
Carol deixou as lágrimas escorrerem imaginando o pior, sem entender nada do porque aquilo estava lhe acontecendo. Ele esfregou ainda com mais forças as mãos nas costas dela, descendo pela cintura e subindo até os ombros por debaixo da camiseta.
___ Não, por favor, não – pediu ela num sussurro de temor profundo.
___ Sou apenas um, não trouxe meus amigos para se divertirem também – riu ele numa provocação.
___ Se é isso que quer, deixe com que me arrume para você – disse ela na tentativa de escapar do pior que se passava horrivelmente em sua cabeça.
___ Você está ótima assim, vai ficar melhor sem essa blusa – disse ele na tentativa de lhe retirar a camiseta. – Não acha que está muito calor? – riu ele novamente num deboche enquanto ela continuava chorando silenciosamente.
___ Eu quero me arrumar, faço isso num estante – disse ela se levantando antes que ele a pressionasse no sofá.
___ Eu vou vestir uma camisola bem bonita para você. Garanto que vai gostar. Volto num instante – disse ela caminhando para o quarto.
Carol se levantou e tentando disfarçar o que pretendia comunicou que o chamaria quando estivesse pronta.
___ Não demora.
No quarto, ela revirou suas gavetas e os pertences ainda esparramados pelo chão a procura de uma arma que guardava em baixo do colchão e que naquele momento já não estava mais no mesmo local.
___ Carol, está procurando isso aqui? – questionou ele que atento a observava.
___ É, eu tinha guardado isso e...
___ Não precisa se explicar – sorriu ele sarcasticamente. – Fique tranqüila, não vai precisar dela. – Não vai trocar de roupa?
___ Sim – respondeu ela soltando o cabelo e tentando fazer um charme.
Carol abriu o guarda roupa dando uma olhada meio de lado enquanto pensava no que fazer. Estava desesperada e temia pela própria vida.
___ Qual roupa quer que eu vista? – questionou ela tentando ganhar mais tempo para pensar.
___ Creio que qualquer uma vai ficar ótima no seu corpo.
___ Estou sentindo cheiro de queimado, não deixou nada no fogão?
___ Não – respondeu ele num sorriso mecânico enquanto percebia o desespero de Carol.
___ Disse que não ia me fazer nenhum mal.
___ Mudei de idéia, não está se comportando muito bem – tornou ele a rir passando a língua pelos lábios e colocando a arma na cintura.
Ela se aproximou dele com charme e o encarou nos olhos pela primeira vez fazendo o mesmo gesto com a língua nos lábios logo em seguida.
___ Quer me provocar ou me seduzir?
___ Talvez não seja tão ruim satisfazer seus desejos. Você não é um homem feio, tem um peito musculoso e braços fortes – disse ela enquanto tocava-lhe nos braços.
Na tentativa de pegar a arma da cintura dele, Carol o beijou deixando-o mais distraído. Fazendo de conta que estava atraída por ele, disse que o desejava e percorrendo a mão em suas costas, tentou alcançar a arma. Quando estava quase conseguindo, ele parou de beijá-la e se afastou. Carol retornou as mãos para o rumo dos ombros e percorrendo pelos braços dele fez com que suas mãos tocassem nas dele. Segurando-as firme, colocou-as em seu peito propositalmente, ao mesmo tempo em que esfregava sua perna direita num movimento de sobre e desce pela perna dele. Tudo o que precisava era distraí-lo e conseguir pegar a arma que ele colocara na cintura.
Carol passou a mão pela nuca dele, depois pelos ombros e novamente tentou passá-las despercebidamente pelas costas até a cintura. Ele voltou a beijá-la enquanto ela permitiu que ele lhe tirasse a camiseta. Carol beijou-o mais intensamente quando percebeu que sua mão já estava praticamente sobre a arma. Ao conseguir pegar a arma, ela apontou com fúria exigindo que ele se retirasse imediatamente.
___ Sai daqui – disse ela eufórica com a arma na mão apontada para ele.
___ Quê isso minha querida?
___ Não me chame de sua querida, seu nojento. Você é um doente mental, seu miserável. Não sei o que realmente quer comigo, vá embora antes que eu o mate.
___ Corajosa! – disse ele ainda em tom de deboche total. – Vai atirar em mim?
___ Eu juro que atiro se não sair imediatamente.
___ Quem pensa que vai matar? – questionou ele fazendo cara de nervoso. – Larga essa arma – ordenou ele de rosto feio.
Carol continuou mantendo a arma apontada, segurando-a com as mãos tremulas e chorando aflita. Ele se aproximou enquanto ainda mais nervosa e cheia de receios ela puxou o gatilho, notando finalmente que a arma estava sem munição.
___ Tente de novo – voltou ele a dizer com cara de deboche. – Não pensou que fosse tão idiota assim, pensou?
Carol gritou de pânico sem saber se olhava para a arma, se tentava fugir ou se continuava gritando.
___ Larga essa porcaria que não vai te ajudar em nada. Vim aqui apenas com a intenção de conversarmos, mas você vai me obrigar a ter de fazer coisas piores. Agora estou vendo que você é vulgar e mais ingênua do que pensei – disse ele jogando-a na cama enquanto retirava o cinto e desabotoava a calça.
Carol chorava em prantos e por vezes tentava gritar embora pouco conseguisse soltar a voz pelo tamanho pavor que sentia.
___ Você queria me matar, não é sua vagabunda. Idiota! – ele a xingou puxando-lhe com toda força pelos cabelos. – Pois vamos ver agora quem vai morrer primeiro.
Carol gritou dessa vez de dor enquanto ele pressionava um dos joelhos no seio direito dela.
___ Vou tratá-la como fez por merecer.
Carol gemia de dor e aos prantos tentava se contorcer. Brutalmente ele jogou-se sobre ela tentando abrir-lhe as pernas. Retirando do bolso uma algema, prendeu suas mãos no ferro de cabeceira da cama. No momento em que estava praticamente começando a realmente agredi-la, o alarme do carro dele disparou. Num xingamento ele foi até a janela e verificou que alguém acabara de quebrar o vidro frontal do seu carro. Repetindo outro palavrão ele saiu do quarto fechando o zíper da calça.
Enquanto Carol tentava se desprender das algemas, ele foi até o carro e desativou o alarme. Com uma lanterna procurou por alguém e sem nada encontrar vasculhou a rua vazia e escura. Carol gritou por socorro e naquele instante, Joaquim apareceu e rapidamente tentou desprender Carol. Antes que Joaquim conseguisse, o sujeito retornou e os dois começaram a brigar. Empurrando o sujeito para o lado da cama, a chave da algema caiu próxima dos pés de Carol. Com grande esforço e dificuldade, ela conseguiu com o pé apanhar as chaves e levá-las até a boca, mas dali não conseguiu passá-las para a mão presa e estendida para trás.
Joaquim golpeou o sujeito fortemente e enquanto este permaneceu caído no chão. Joaquim soltou Carol e os dois começaram a fugir quando o sujeito se levantou e pulou sobre as costas de Joaquim. Carol foi arremessada para frente batendo com a cabeça na pia do banheiro e caindo desfalecida. Os dois continuaram brigando e o sujeito fez de Carol sua refém, apontando para ela uma arma que mantinha na meia da bota. Joaquim correu até o telefone, mas este estava mudo. Pegou no celular e discava o terceiro numero quando algo foi arremessado em sua cabeça e desacordado, Joaquim caiu no chão donde uma poça de sangue em poucos minutos ensopou-lhe o rosto e os cabelos. Pensando que talvez Joaquim tivesse completado a ligação, o sujeito saiu correndo e entrando em seu carro desapareceu sem deixar vestígios. Nenhum vizinho vira o que ali ocorrera e só foram perceber que tanto Carol quanto Joaquim estavam gravemente feridos no amanhecer do dia seguinte, quando a faxineira de Carol verificou os corpos ainda desacordados e feridos.
Carol e Joaquim foram levados para o hospital mais próximo enquanto policiais verdadeiros tentavam entender o que realmente acontecera. O caso se tornava ainda mais estranho, não apenas para Carol, mas inclusive para os próprios policiais que de nada sabiam da trama dos falsos policiais e menos ainda desconfiavam de que um de seus pertencentes era cúmplice de toda aquela confusão.
No quarto do hospital, Carol acordou assustada. Ao seu lado tinha uma outra paciente que sofrera um acidente de moto e conversava naquele momento com os familiares e amigos que fora visitá-la. Carol querendo distrair a mente do desconhecido que a atordoava, tentou esquecer o episodio tão horrendo que se passara e pôs-se a prestar atenção na conversa:
___ Ontem fiz uma promessa para você se sarar e ocorrer tudo bem na cirurgia. Tenho fé de que não ficará com as pernas paralisadas.
___ Mãe, mas o medico já garantiu que...
___ Há uma energia nas promessas e precisa acreditar também – dizia a senhora.
Carol observava tudo e pensava consigo própria: “Tem pessoas que são pré-determinadas e não precisam de promessas, pois já são obsessivas, organizadas, determinadas. Tais tipos de pessoas já têm a energia de realizar os desejos. Já o preguiçoso, o que fica protelando e o bagunceiro são os que mais precisam de promessa. Além disso, quanto mais uma pessoa precisa de fazer promessa, mais dificuldade será para cumpri-la. Promessa para mim realmente é coisa de preguiçoso, é por isso que surge a necessidade de algo penoso como pagamento. Bem, agora nesse caso é diferente, é a mãe fazendo uma promessa pela filha que está com problemas de saúde. Aí já é uma promessa realmente baseada na fé. O termo sacrifício vem do latim, sagrado e oficio que quer dizer trabalho, assim, a palavra denomina um trabalho sagrado e isso é uma coisa antiga da humanidade. Existiam os sacrifícios pela chuva. Pela boa colheita ou caça, enfim, isso faz parte até mesmo da história do ser humano. Acho isso bonito. Creio que funciona cientificamente falando. Uma promessa bem feita e determinada amplia a energia de fé”.
___ Temos o relato do nosso próprio vizinho, lembra-se? – continuava dizendo a mãe. – A filha dele teve problema sério de vista, uma doença rara na macula central dos olhos. Segundo os especialistas era algo que não tinha nenhum recurso naquele momento, era irreversível. Em momento critico na vida dos pais, passando por um sofrimento muito difícil, resolveram fazer uma promessa. Diante de Deus e de Santa Luzia, a protetora dos olhos, ele disse que fazia uma troca tirando o prazer de fumar pela saúde da visão da filha dele. E ele conseguiu a graça, a filha dele passou por uma cirurgia e recuperou quase toda a visão. Ele relatou que foi um ano muito bom em todos os sentidos e que sua vida melhorou muito. Ele fez uma promessa eterna e nunca mais fumou. Todo o dinheiro que gastava com dinheiro, hoje ele faz doações a instituições filantrópicas.
___ Quando a gente é realmente capaz de cumprir uma promessa, o próprio cérebro cria substancias que dão prazer, como se fosse uma alegria estereotipa, pessoalmente é um êxito muito grande não apenas pela graça, mas pela própria capacidade de fazer algo em ajuda do outro.
___ E olha que ele já tinha tentado varias vezes parar de fumar, mas ficara tudo em vão.
___ Pois não tinha força e sentido como aconteceu quando ele fez a promessa como sacrifício.
Carol continuava em seus pensamentos: “Existe uma energia psíquica na mente humana, intelectiva que é o ato de pensar, afetiva que é a de sentir, e a volitiva que é a da força de vontade. Promessa tem a ver com essa ultima energia. Agora o que vale é a profundidade do pedido, não basta apenas intenção e vontade. Tem muitas pessoas que tem intenção e depois fraqueja, carrega a culpa eternamente. Para prometer algo tem de se comprometer a cumprir”.
___ Minha estimada sogra é o exemplo mais digno de esperança que eu tenho hoje em dia. A historia dela começou quando ao final da gestação do meu esposo, ela teve o seguinte diagnostico, ou sacrificava o seu bebe ou correria serio risco de morrer com ele no parto. Ela se apegou fervorosamente em suas orações levando sua vida e a do filho a seu anjo protetor. A gestação foi concluída com êxito, contrariando todas as previsões dos especialistas de forma que nasceu um bebê sagrado. Graças ao amor dela, tenho hoje um marido e companheiro maravilhoso. Devemos ser melhores a cada dia, pacientes, permitindo que uma força mágica conduza nossas vidas. Milagre sempre existiu e existe mesmo – contava uma das outras visitantes.
___ A promessa é um incentivo para nos capacitar a dominar uma força interior. Para mim, tudo o que pedimos a Deus com boas intenções e com fé já é o suficiente para se conseguir, devendo ter em conta que tudo depende do merecimento. Deus sabe o que é melhor para cada um de nós e não vejo necessidade da senhora fazer promessa – dizia a filha. – Talvez eu tenha que sofrer a provação de...
___ Não fale isso minha filha – bronqueou a mãe.
___ Minha vida está entregue a Deus. Não gosto de fazer promessas, pois, corremos aí o risco de nos decepcionar. Conheço pessoas malucas que colocam as imagens de santos de cabeça para baixo quando não conseguem algo, isso para mim é um absurdo sem tamanho. Todo desejo na vida nós só conseguimos com fé e perseverança, se você quer tentar, tudo bem, você tem todo direito – concluiu a filha nada mais dizendo.
Carol silenciou seus pensamentos juntamente com o riso das visitantes ao lado. Ainda observando-as, tentou lembrar o que realmente acontecera e pouco a pouco foi resgatando da mente os resquícios dos acontecimentos passados. Ela não sabia ao certo o que acontecera e estava muito confusa, sentia-se estranha e a mesma sensação de medo e pavor continuava pulsando em seu interior. Pensou em Joaquim e ficou ainda mais desesperada. Não tinha ninguém ali, nenhuma enfermeira para perguntar. As lagrimas começaram a correr em seus olhos e num estado de depressão, Carol fechou os olhos sem querer pensar no pior.
Conforme as cenas do acontecido iam passando em sua mente, Carol ia ficando mais angustiada, revoltada e desesperada. Suas irmãs não sabiam de nada e Carol não tinha intenção de preocupá-las, mas não sabia se seria certo esconder o que ocorrera. Imaginando que tudo fosse se resolver logo, resolveu que não ligaria para nenhuma delas e caso elas ligassem, ia dizer que estava tudo bem. Sabia que suas irmãs tinham suas ocupações e fazê-las viajar durante horas apenas para vê-la num estado daqueles não seria muito interessante.
Carol buscou explicações convincentes do porque tais fatos haviam lhe ocorrido, mas era impossível descobrir e desvendar aquele mistério. Pensou no livro e ficou desconfiada, mas não achou que fosse por causa dele, uma vez que julgava não ter sido vista por ninguém com aquele material. Sua vida estava virando um caos, primeiro a prisão por algo que tinha absoluta certeza de não ter em sua residência, depois a invasão e o atentado que sofrera. Não conhecia o sujeito embora achasse que ele se parecia com um dos policiais que estivera em sua casa na busca anterior, porém não queria tirar suas conclusões, pois estava muito confusa com tudo.
“Ele disse que queria apenas conversar comigo, mas em momento algum realmente deixou transparecer sobre qual seria o assunto a ser tratado. Porque isso tinha de acontecer comigo, eu não fiz nada?” – questionava ela em seus pensamentos.
Naquele instante, a enfermeira entrou no quarto com uma prancheta e informou que o horário de visitas estava terminando. Carol antes de esperar ela finalizar o aviso, pediu-lhe explicações sobre o que ocorrera e como fora parar ali. A enfermeira respondeu-lhe que não sabia de nada e que logo o medico estaria passando para verificar o diagnostico dos exames e fazer novos testes. Carol ficou ainda mais confusa e mesmo sentindo-se bem fisicamente, derramou lagrimas amargas que incontrolavelmente lhe perturbaram.
Quando o medico chegou, a primeira coisa que o questionou foi para saber o que estava acontecendo. Ele examinou-a e disse que logo lhe daria alta. Carol perguntou se ele tinha alguma noticia de um paciente chamado Joaquim, se ele estaria internado ou algo do gênero. O medico foi de pouca conversa e dando a mesma resposta que a enfermeira, foi examinar a paciente ao lado.
___ Sabe se vou ser presa quando sair daqui? – indagou Carol muito confusa e atordoada.
___ Não senhora, tente descansar.
___ Que droga, o que está acontecendo? – revoltou-se ela batendo os punhos na cama. – Quero sair daqui.
Assim que o medico friamente se retirou, Carol tentou conter os soluços observando o olhar de espanto e preocupação da paciente ao lado.
___ Você pelo que percebi teve um acidente. Será que acertei? – questionou Carol olhando para o lado e fixando-se em ver a perna da outra paciente.
___ Isso mesmo, e você?
___ Pois é, eu não sei. Tudo começou quando uns policiais chegaram na minha casa e foi fazendo a maior bagunça. Reviraram tudo e destruíram a maioria dos meus pertences. Encontraram um saco com um pó que eu desconheço e tenho plena consciência que aquilo não estava nas minhas coisas. Fui presa e passei um transtorno até ser liberada. Meu namorado que estava de viagem foi quem pagou a fiança. Alias nem imaginava que ele já estivesse de volta. Estava tentando ligar para minha irmã quando na confusão disquei o numero errado. Fiquei muito surpresa com o retorno dele e acabei contando o que estava me acontecendo. Fui para casa com uma amiga e não sei o que aconteceu. Ela disse para que eu deitasse um pouco enquanto me prepararia um lanche. Com a demora dela fui verificar o que se passava e encontrei com um estranho na minha cozinha, preparando macarrão. Ele ficou me insinuando, quis abusar-se de mim e tive sorte quando Joaquim apareceu. Foi tanta confusão que nem sei direito o que aconteceu. Agora estou aqui, sem entender de nada. Estou desesperada. Será o que aconteceu com Joaquim? – questionou Carol dando nova vazão às lagrimas.
___ Pois para mim acho que esse seu namorado está envolvido no caso. Primeiro o retorno dele inesperado, depois a sua libertação para mais tarde ele aparecer na sua casa.
___ Não, ele tentou me defender e pode inclusive estar morto nesse momento, ou muito ferido, jamais pensaria nada do gênero, confio nele e...
___ Não tem nenhum inimigo do qual possa desconfiar, alguém que te queira mal?
___ Não.
Carol pensou em Tiago, seu sogro, mas sabia que ele perdoara as desavenças que tinha com Luiz antes mesmo da morte dele. Ainda absorta, pensou se ele seria capaz de lhe fazer mal. Talvez não quisesse que o filho continuasse ao lado de Carol. Depois pensou no que a mulher lhe dissera e lembrou-se da viagem que Joaquim fizera. Indagou a si própria se tal viagem não fora ocasionada por Tiago na intenção de separá-los. Colocando indagações e imaginando coisas que não existiam, Carol temeu realmente que Joaquim pudesse estar envolvido naquela confusão toda. Estaria ela cometendo grande erro em julgá-lo mal e tendo aquelas conclusões tão distorcidas e irreais. Ia evitar o único que realmente poderia ajudá-la a desvendar o que estava acontecendo. Em desordem mental, nem imaginava que toda aquela historia tão terrível começara exatamente pelo livro e o pergaminho que retirara do antigo internato.
Ainda se sentindo fraca e deprimida, Carol fechou os olhos querendo esquecer a realidade que lhe rodeava e buscando conciliar o sono, começou a sonhar com algo diferente, um tipo de sonho que ainda não tivera. Enquanto visualizava uma cerimônia, tipicamente parecida com uma missa, observava os milhares de pessoas balançarem de um lado para o outro os braços enquanto cantavam: “...Maria que já chegou, alimentando a nossa fé... As vezes eu paro e fico a pensar, sem perceber me ponho a rezar, meu coração se põe a cantar, a virgem de Nazaré. Menina que Deus amou e escolheu, a mãe de Jesus, o filho de Deus. Maria que o povo inteiro elegeu, senhora que veio dos céus. Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria, mãe de Jesus...” Ao terminar a musica, todos aplaudiram com alegria e vibração. Depois disso iniciou-se uma dança japonesa ou chinesa da qual Carol nunca presenciara. As mulheres estavam todas vestidas de forma igual, com um vestido branco que esvoaçava, tendo uma saia fina de azul celeste que descia como uma espécie de avental. Todas dançavam fazendo movimentos e formando desenhos com seus leques também azuis. O palco era imenso e toda aquela cena, mesmo em sonho, o qual parecia ser muito real, seguia-se com esplendor e total graça. Todas tinham o mesmo tipo de penteado, um coque no topo da cabeça, com uma fita que contornava, rodeada de flores brancas miúdas.
No ritmo da musica oriental, elas abriam e fechavam os leques, giravam-se os estendendo cada um em uma mão. Elas punham-se em fila abaixando de um lado e subindo de outro, depois se ajoelharam no chão e inclinando as costas para trás desciam a cabeça até quase o chão junto aos pés, assim, moviam os braços e os leques. Depois se viraram movendo para um lado e logo em seguida para outro. Assim abaixavam e subiam com rapidez finalizando com cada fileira que retornava para a posição em pé em seu momento determinado, conforme tocava o ritmo da musica. Todas em pé, giravam unindo-se a uma segunda turma que da parte traseira passava para frente se intercalando com as outras, estas tinham uma coroa de brilhantes na frente dos coques no topo da cabeça. Abaixo o cabelo seguia com uma trança. Continuamente, se reuniam em grupos de três a três e prosseguiam montando um círculo e com suavidade giravam umas ao redor das outras formando uma espécie de pirâmide. Ao final, giraram e reverenciaram o publico. Nova musica se iniciou, nesta faziam com os leques o movimento de uma onda do mar, muito harmonicamente com seus instrumentos, compunham a beleza de uma dança própria e bastante cultural.
Seguindo a cerimônia, dois homens se aproximaram da Santidade, uma espécie de papa, e beijaram-lhe as mãos. Todos os homens ali cobriam a cabeça como os rabinos. “... Com a ajuda e bênção de Deus, procuramos juntos realizar o sacramento de amor pelo qual devemos ser uns pelos outros. Juntos, dividimos a certeza de que a vida é sagrada pelo dom de Deus e de que cada criatura humana é tal desde a sua concepção...” Enquanto prosseguia a cerimônia, faziam-se a tradução instantânea, do francês para as demais línguas através de uma tela imensa num dos cantos. Depois disto, também se fazia o mesmo relato nas outras línguas. Crianças e paraplégicos também davam seus relatos. Ao termino, os aplausos eram gerais e muito fortes.
Carol não via a si mesmo, mas era como se estivesse ali no meio daquela multidão. Depois dos relatos, um casal começou a cantar, tendo um coro de vozes belíssimo que mesclava as vozes masculinas e depois as femininas. O publico cantava junto. Carol desconhecia aquela musica e nem sabia que língua era aquela. Talvez um castelhano misturado com italiano. Algumas pessoas do publico batiam palmas, outras levantavam suas bandeiras, outras olhavam pelo binóculo e o restante mexia as mãos ao alto de um lado para o outro conforme o ritmo da melodia. O homem tinha uma voz muito grossa que se misturava à voz fina e aguda da mulher ao seu lado. Era uma opera muito especial e Carol pode perceber isto claramente com o aplaudo que se engrandecia a cada vez mais. Depois, uma mulher mexicana, com um imenso chapelão, também se pôs a cantar. Vestia uma roupa cheia de pregas e mantinha grandes bordados em toda a gola. A calça era coberta por uma saia dividida em partes de véus e se sobrepunha com transparência sobre o tecido brilhoso da calça. Seus cabelos eram loiros e estavam plenamente bem penteados.
Algum tempo depois, Carol acordou e sem saber porque motivo tivera aquele sonho, voltou a pensar no que sofrera nos últimos dias. Estava com raiva e revoltada, já nem sabia mais o que pensar. Não querendo imaginar que Joaquim estivesse metido naquela confusão, tentava tirar de sua cabeça o que pensara anteriormente. Sabia que ele tentara salvá-la e poderia naquele momento inclusive estar muito ferido ou até mesmo morto. Ao pensar nisso, desgostosa e deprimida, começou a chorar compulsivamente. Estava desesperada e não sabia o que deveria fazer. Tudo o que Carol queria naquele momento era viajar e ir para o lado de sua irmã Rosalinda, mas no estado em que se encontrava, pouco teria forças para se levantar.
Naquele contratempo, os pintores discutiam o que iriam fazer para conseguirem o outro pedaço do mapa:
___ Era para você descobrir onde estava o resto do mapa, mas o que fez foi...
___ Mas foi ela quem...
___ Você é um idiota, acha que vamos acreditar nisso? Porque tentou...
___ Não ia estuprá-la – interrompia mais uma vez o sujeito que estivera na casa de Carol.
___ Sabe o que acho? Como não conseguimos encontrar o mapa, podemos seqüestrá-la e... De toda e qualquer forma, iremos descolar algum dinheiro de resgate. Consegue influenciar a perícia, seus companheiros de trabalho? Tudo fica mais fácil tendo um policial do nosso lado.
___ Verificou se o caso vai ficar contigo?
___ Sim, pode ficar tranqüilo que já estou seguro disto, fui eu quem a prendi e, portanto o caso está em minhas mãos – respondeu o homem que realmente era policial.
___ Tem certeza, eu não quero correr risco.
___ Já disse, eu fiquei encarregado de verificar o que aconteceu com ela, logicamente vou fazer a perícia do caso e deixarei claro que a casa dela foi invadida por um bandido qualquer que queria abusar dela. Não chegou a perguntar-lhe nada sobre o mapa?
___ Não.
___ Pois bem, estão dispostos a raptá-la?
___ Eu topo, já que começamos, vamos até o fim – concluiu um deles dando a palavra final pelo grupo.
___ E o que vamos fazer com o rapaz?
___ O cara que é namorado dela?
___ Esse mesmo, já percebeu o quanto esse pessoal é cheio da grana?
___ Pois é, o que vamos fazer com ele?
___ Quais são as ultimas noticias?
___ Continuam os dois no hospital – comunicou o policial. – Obtive informações de que ele ia receber alta ainda hoje, ela continua em analise – mentiu ele que não sabia de informação nenhuma. - Vou dizendo logo a vocês, quero uma porcentagem maior do que a combinada, se me pegam envolvido no caso perco o meu emprego e aí quem vai para a cadeia serei eu.
___ Você é um policial de muita má fé.
___ Já fiz de tudo por um dinheiro extra. Já prendi muito inocente por grana, o que vocês pensavam?
___ Não pensei que fosse tão desonesto desse jeito, é por isso que o mundo está assim.
___ Além do mais, já me cansei dessa profissão de policial.
___ Pois então vamos planejar o seqüestro.
___ Será que isso...
Continuavam discutindo o assunto quando a campainha tocou:
___ Amanda, entre. Estava com alguns amigos, bem, deixe-me apresentá-la... – disse o policial apresentando sua namorada aos demais.
___ Na verdade já estávamos de saída – disfarçou um deles notando que não teriam como continuar o assunto.
___ Então vamos – disse o outro.
Enquanto se encaminhavam para a porta, a campainha novamente tocou.
___ Vou ver quem é – comunicou o policial indo à frente.
___ São daqui mesmo da região? Vizinhos? – questionou a moça.
___ Não. Engraçado, ele não nos disse que tinha uma namorada – comunicou o outro sem saber o que falar.
Na porta, o policial tentava despistar as visitas indesejáveis. Era uma de suas antigas namoradas e estava acompanhada de uma amiga.
___ Lembra-se daquela vez que fomos ao motel...
___ Fale baixo, minha namorada e alguns amigos meus estão aqui – informou o policial solicitando que fossem mais discretas.
___ Quero que me devolva uma coisa.
___ Em primeiro lugar, virgindade não se devolve, em segundo, não sabia que você era virgem – brincou o policial não levando a conversa a sério.
___ Amor, espere um pouco, nem... – respondia a mulher nas gargalhadas.
___ Pois...
___ Quero minha calcinha de volta, ainda tem aquela coleção que fazia? – ela interrompeu mais uma vez.
___ Calcinha?
___ É, aquela vermelha com...
___ Não sei onde está, quero dizer, não sei do que está falando.
___ Pois eu sei muitíssimo bem que você coleciona calcinha de suas ex-namoradas – disse a mulher aumentando o tom de voz.
___ Por que não retornam depois? Agora estou ocupado, não poderei atendê-las – disse ele fechando a porta.
___ Só porque é policial pensa que...
___ Querem ir embora?
___ Mas é urgente, preciso exatamente daquela peça intima, pois tenho que fazer uma simpatia e só vai me servir se... – cochichava ela.
___ Não sei de que coleção vocês estão falando, não coleciono mais calcinha nenhuma e você deve estar me confundindo com outra pessoa.
___ Não é você que tinha o apelido de Langeri? – disse a amiga aumentando a voz também e fazendo-se de desentendida do fato de realmente ser ele o colecionador.
___ Ei, querem fazer o favor de falarem baixo, minha namorada não sabe que tenho essa coleção.
___ Quem é sua namorada nova?
___ E aí amorzinho, você não vai... – dizia a namorada do policial até que verificando as duas mulheres deixou a frase incompleta continuando em seguida. – Quem são elas?
___ Pois é, essas...
___ Não vamos atrapalhar mais – interrompeu a ex-namorada dando a explicação. – Estávamos falando de uma pessoa que tem incríveis gostos por calcinhas.
___ Minha amiga está apenas brincando – disse a outra rindo como se acabasse de escutar uma piada. – Falando sério, nós estamos aqui para desejar que você disponha um bom dia.
___ Isso, tudo de bom, muitas felicidades – completou a outra.
___ Parabéns pelo namoro.
___ Obrigada – aliviou-se o policial achando que as duas iam se retirar.
___ Porque vocês não entram? Não querem uma água? Um suco? – convidou Amanda desconfiada.
___ Vamos aceitar – sorriu a mulher adentrando pela porta.
___ Preciso ir ao banheiro, com licença, onde fica?
___ É – gaguejou o policial. – Na terceira porta do corredor.
___ Vem comigo amiga?
___ A, sim, vamos lá.
___ Você vigia que vou ao quarto dele pegar a danada.
___ Anda rápido – cochichou a amiga em resposta.
O policial retornava para junto dos pintores acompanhado da namorada e totalmente nervoso pela situação, fingia estar tudo bem. Depois de alguns instantes, Amanda foi verificar porque tamanha demora das duas mulheres no banheiro.
___ O que está fazendo aí? – questionou Amanda ao verificar a amiga na porta do quarto do policial. – Parece que está segurando...
___ Enquanto minha amiga está no banheiro eu estou fazendo uma simpatia, é isso.
___ Simpatia?
___ É, logo que minha amiga sair do banheiro nós retornamos lá para a sala.
___ Tudo bem, só tinha vindo perguntar se estava tudo bem.
___ Sim, não se preocupe.
Assim que a namorada do policial se retirou, a mulher adentrou pela porta e observou a amiga revirando a terceira gaveta do guarda-roupa.
___ Olha só, do mesmo jeito de quando namorava ele. Parece que aumentaram bastante.
___ Incrível. Parece até liquidação de centro.
___ Preciso achar a minha calcinha.
___ Olha só que coisa horrível, quanta baixaria! Está escrito “entre sem bater”.
___ Olhe essa outra, está escrito “welcome”. Quem será esse wel?
___ Posso saber o que está acontecendo aqui? – questionou o policial todo sem jeito.
___ Você não fechou a porta? – perguntou a ex-namorada a sua amiga.
___ Estava tudo guardadinho, olha o que estão fazendo, cada uma dessas é lembrança de uma namorada, não tem direito de fazerem isso, são todas simbólicas e representam...
___ O que é isso? – questionou Amanda indo atrás do namorado.
___ Isso daqui é...
___ Cada uma representa uma antiga namorada – explicou a ex-namorada. – E aqui estão apenas as desse ano.
Enquanto discutiam, a ex-namorada do policial achou sua peça intima dentre as outras e no meio da gritaria, os pintores começaram a rir divertindo-se com toda aquela cena. Nenhum deles imaginava que aquela postura de policial sério tinha uma gaveta cheia de peças intimas. Tudo parecia um deboche e sem jeito, o policial tentava se explicar perante sua namorada.
___ Como assim essa é sua, quer dizer que você...
___ O namorei no ano passado.
___ Mas faz três anos que... Não estou acreditando nisso, é verdade?
No meio de tanta confusão, a programação do seqüestro de Carol realmente ia ter de ser adiada. Aquele episódio parecia desastroso e cômico ao mesmo tempo.
Enquanto isso, Carol recebia no hospital a visita de sua amiga, a mesma que levara um golpe ao ir pegar o suposto sanduíche que o sujeito a levara, exatamente na intenção de entrar na casa de Carol e descobrir donde estava o mapa.
___ Amiga! O que lhe aconteceu?
___ Também estava preocupada contigo, e esse...
___ Doze pontos. Foi do golpe que recebi na cabeça. Acordei, não sei como, no hospital também, assim como está aqui agora.
___ Pelo menos ele deu um jeito de fazer você ir parar no hospital. Pelo que soube, eu e Joaquim ficamos desacordados durante toda à noite e somente fomos trazidos...
___ Sei disto, como pode!
___ Não quero falar sobre isso, me desculpe, também não queria que nenhum mal tivesse...
___ Não pense que a culpa foi sua, não estou aqui para te culpar de nada – interrompeu a amiga mais uma vez.
___ Não sei o que está acontecendo, estou desconfiada que...
___ Diga – pediu a amiga vendo que Carol se calara.
___ Não deve ser.
___ O que foi?
___ Parece que não tem nada a ver com o que me tem acontecido, mas é a única coisa pela qual posso manter desconfianças.
___ Abra-se comigo, sabe que sou sua melhor amiga.
___ Sim, sei disto. É que encontrei um livro alguns meses atrás e descobri uma historia fantástica, mas não...
___ Um livro?
___ Sim, ia levá-lo para que visse, mas no mesmo dia fui presa e depois disso, a minha vida tem sido apenas um tormento sem explicação.
___ Sobre que tipo de historia é o livro?
___ Um relato pessoal muito marcante de uma época que provavelmente se trate do descobrimento do país.
___ Tem certeza que ninguém viu você com este livro?
___ Sim, tenho quase certeza absoluta.
___ Quase?
___ Não posso afirmar com todas as letras.
___ Nada mais que o livro?
___ Uns pergaminhos com anotações variadas sobre o mar, o clima e as plantações, depois diz fatos sobre o trabalho da escravidão, das doenças e nem quis ler sobre as mortes. É muito confusa e difícil à tradução, gastei muito tempo pesquisando e verificando cada detalhe. Se quiser, vá até minha casa e pegue o material dentro do meu carro, a chave está ali, dentro da minha bolsa.
___ Tem alguma coisa errada e o pior de tudo é que o mesmo policial que a prendeu ficou encarregado de investigar o que lhe aconteceu, para falar a verdade e ser sincera, não fui com o jeito dele, acho até mesmo que ele está envolvido nisso tudo. Fui à delegacia prestar queixas assim que saí do hospital e o tal policial fez questão de me atender e tentou de todas as formas fazer com que eu ficasse tranqüila e esquecesse do caso, pois ele tomaria todas as providencias, mas retornei lá hoje e ele simplesmente disse que tinha muitas outras coisas para se preocupar e novamente me enrolou de conversa sem dar a mínima para o caso. Estou tão irritada com isso.
___ Pois bem, vá até minha casa, pode ser que minhas desconfianças sejam sem sentido, mas quem sabe possa estar com alguma razão?
___ Claro, retornarei em breves instantes.
___ Diana – chamou Carol vendo que a amiga já ia se retirar.
___ Sim?
___ Como está Joaquim?
___ Continua em estado de coma, foi à informação que o medico me deu há pouco.
___ Como? – desesperou-se Carol iniciando um pranto comovente. Eu que pensei...
___ Não fique assim, tudo ha de se resolver. Vou logo a sua casa, pois não terei muito tempo livre hoje.
___ Sim, ficarei te esperando.
___ Creio que não deixarão me entrar fora do horário de visitas, retornarei amanha assim que possível.
___ Tenha cuidado – pediu Carol preocupada.
Cerca de três horas depois, Diana examinava as traduções e o livro em sua casa quando encontrou, no final das ultimas folhas, o complemento do que parecia ser um mapa. Verificando a escrita no final da pagina, tentou entender o que aquilo significava. Olhou no verso e notou que este estava todo escrito, diferente do manuscrito do livro, aquela escrita era minúscula e custar-se-ia a desvendar.
Conforme combinado, Diana foi ver Carol na tarde do dia seguinte e jamais imaginavam que estavam prestes a desvendar algo muito misterioso e confuso.
___ Veja, tem um recado aqui, sabe o que diz?
___ Deixe me ver – pediu Carol fazendo esforço para sentar-se na cama.
___ “Quem este mapa encontrar poderá perder a vida, ele o levará a ponta da colina donde os negros dos quilombos escondiam seus bruxedos que faziam na busca de se tornarem livres”.
___ Puxa vida, então será isso?
___ Que ponta de colina é essa?
___ Pois eu não quero nem saber, diz que levará a tal colina, de maneira alguma quero ir até lá.
___ Mas não vê que...
___ Leia o que está escrito atrás.
___ Vou tentar – disse Carol virando a folha toda amassada e amarelada.
___ “Como desvendar a ponta da colina” – leu Carol verificando a tradução da primeira frase.
___ Mas para quê alguém vai querer ir até a suposta colina se...
___ “Nela está o segredo da liberdade e o poder da vida”.
___ Não estou entendendo mais nada.
___ Pode ser que apenas conseguiremos viver se formos até a colina, será que não?
___ Diria que não acredito nisso se não lhe houvesse acontecido tudo o que aconteceu.
___ Acha que...
___ Sim, existem forças malignas atentando contra nossa vida, pelo menos contra a sua.
___ Minha não, você está envolvida nisso comigo.
___ Eu? – questionou Diana com olhar apavorado. – Não, não tenho nada a ver com isso.
___ E Joaquim também.
___ Não, você quer me passar medo, só pode.
___ Pois foi você quem...
___ Eu vou embora – comunicou Diana.
___ Disse que era minha amiga – reclamou Carol.
___ Devemos botar fogo nesse troço.
___ Vou continuar a leitura, preste atenção. Aqui diz: “Verifique os símbolos e chegue até a colina, o mais rápido que puder, se não for assim, morra pelo martírio da lidade corpuja o ser da terra abil"”.
Por mais que quisesse, Carol não conseguira desvendar a ultima frase, mas pela analise sabia que estava num caso muito complicado e macabro.
___ Não se importe com essa frase, se está difícil tente passar para a próxima, continue lendo.
___ Certo, aqui diz: “Olhe a roda viva, é um símbolo que existe desde a Idade da Pedra, representa sempre o ciclo da vida, sem principio ou fim aparente, pois tudo morre para nascer. É o símbolo da imortalidade do infinito, da própria vida e quando em seu sentido invertido, simboliza a morte. A serpente é um símbolo que surgiu derivado do próprio circulo. É a figura do renascimento, da ressurreição, do principio e do fim, do Universo, da sabedoria, do conhecimento que deve ser bem aplicado, para que não se volte contra nós. O triangulo central do mapa deve orientar-vos. É tido do simbolismo egípcio representante da cabeça de Deus. De ápice para cima é da feminilidade com elemento terra, de elevados ideais, da concepção material. Para baixo é o oposto ligado à masculinidade, ligado a verdade. O triangulo sugere o equilíbrio do mental, físico e psíquico para ocorrer-se à manifestação do espírito”.
___ É tudo interessante, mas não gosto de pensar que estamos envolvidos num feitiço de tantos anos atrás. Será que isso pode ser realmente possível?
___ Não sei, o engraçado mesmo é que não tem nada falando dessa colina na historia do livro.
___ Continue lendo.
___ “O quadrado vem do mundo e da natureza representando os quatro elementos, fogo, terra, água e ar, norte, sul, leste e oeste, as direções da estabilidade, da limitação do mundo e dos poderes, da solidez e durabilidade da vida. A estrela de cinco pontas mesclada entre os baixos e altos do desenho no mapa, mostra o estado inferioe do homem”.
___ Não tem como desvendar o mistério se não conseguir fazer a tradução completa.
___ Deixe-me continuar, a seguir temos a explicação sobre a estrela de seis pontas.
___ Mas não estou identificando todos esses símbolos no mapa – observou Diana.
___ Pois me parece que é da união de todos eles, ao encaixe do posicionamento e das direções que iremos encontrar donde fica a suposta colina.
___ Acho que estamos parecendo duas tolas com...
___ Também penso que essa colina...
___ Me diz uma coisa – interrompia novamente Diana. – O que pretende fazer com essa sua descoberta?
___ Vamos combinar o seguinte, isso será segredo nosso, vou fazer a tradução do resto e amanha virá buscá-la. O horário de visitas deve estar quase acabando, não conseguirei traduzir nem a metade disso tudo hoje, é muita coisa.
___ Sim, mas estou com medo de algo que nunca nem se quer acreditei. Acha que bruxaria e feitiço existem mesmo?
___ Porque não procura alguém que possa lhe responder melhor que eu? Não sei, poderia ir num curandeiro, vidente ou sei lá quem.
___ Mas detesto esse tipo de gente, ficou maluca?
___ Questione a eles como ocorre...
___ Esta bem, mas guardarei total segredo sobre...
___ Isso mesmo – cochichou Carol. – Ninguém deverá saber dessa minha descoberta.
___ Então eu já vou indo.
___ Espere um pouco, olha só o que diz aqui embaixo.
___ Diga logo.
___ “A crueldade do feitiço está inerte na parte seguinte”. Mas que parte será essa? – questionou Carol sem muito compreender.
___ Veja, parece que o papel foi rasgado.
___ Não, papel daquela época era com as pontas assim mesmo.
___ Não, essa parte daqui foi rasgada. Isso daqui deve ser uma cruz, ou melhor, era o símbolo de uma cruz, está vendo, falta realmente um pedaço.
___ E agora?
___ Não sei – suspirou Diana balançando o rosto.
___ Vou ver o que diz sobre a cruz, aqui está: “A cruz principal simboliza os quatro anjos guardiões da tribo ocultista. No mapa, cada ponta representa um rochedo marcado pelas colinas, em cada parte estava uma raça de tribo e no meio ficava a área sagrada. A colina principal donde se encontrará com a sorte da libertação da morte, está pelo ponto de inter-ligamento com os outros símbolos de cruz e medalha de almadorvam.
___ Quer saber de uma coisa, não estou entendendo nada, voltarei aqui amanha. Vou consultar agora mesmo alguém que entenda mais sobre esse tipo de assunto.
___ Tenha muito cuidado – recomendou Carol bastante preocupada.
___ Sim, fique com Deus.
___ Obrigada por tudo, espero que nenhum mal maior nos aconteça.
___ Sim – comentou Diana já de saída.
As duas tinham muitas coisas para descobrirem, mas o mal que as aconteceria nada tinha a ver com feitiçaria e sim com a captura planejada do restante do mapa e o futuro seqüestro de Carol na tentativa dos pintores de conseguirem dinheiro da família. De toda forma, enquanto Carol estivesse no hospital, ela estaria protegida.
Diana, intrigada com toda aquela historia, foi até um terreiro de Quimbanda conseguir algum tipo de explicação. Para ela era péssimo ter de ir a algum local como aquele, mas senti-se pressionada como se sua própria vida estivesse correndo perigo era pior ainda. Na realidade, era exatamente isso que ela achava e temia tanto.
___ Ora moça, tu qué sabê sobre feitiço? – perguntou um senhor com um cachimbo na boca.
___ Sim, mas se possível podia tirar esse negocio da boca porque isso me incomoda bastante. Não sei porque quem meche com esse tipo de religião vive com esse tipo de coisa na boca.
___ Tá falano do meu cachimbo?
___ Isso mesmo.
___ É pra fastar má espírito, moça num intende dessas coisa, né?
___ Não, é por isso que estou aqui. Quero que me explique se realmente existe macumba, feitiço, etc.
___ Tá certo, eu explico pra moça. O pogresso da ciência do mundo terreno já permite comprová que a maioria das superstições que ninguém compreendia no passado, hoje tem algo cientifico. A magia negra, seja através de feitiço, bruxaria, etc, destina-se a prejudicar alguém. Em sentido de acumular forças, surgiram os amuletos e talismãs.
___ Quer dizer que isso tudo existe mesmo?
___ Sim, numa força maior do que a moça ha de crê. Do mesmo modo que tem os encantamento do mal, tem aqueles pra fechá corpo e que protege a gente. Isso tudo implica no culto de uma divindade maior, um mago qualquer vinculado a uma velha magia.
___ Mas como acontece um feitiço? Ele pode ser mantido por inúmeros anos para depois acontecer?
___ Vejamo lá, é o seguinte moça, no feitiço se invoca força do mundo invisível, a moça acredita nisso?
___ Não sei.
___ Toda pessoa tem as energia boa e as ruins. As energias livres do espaço podem ser usadas pelos espíritos de má fé na forma demolidora e negativa como faz o homem ao usar suas forças para destruir a natureza. Tudo envolve ritual e precisa de objetos. Existem praticas perigosas e tenebrosas nos serviços de quimbanda e candomblé para apoio de entidades poderosas, vingativas e cruéis.
___ Acredita que os índios negros e escravos do começo do mundo realmente faziam rituais com feitiço?
___ Porque não moça? As tribos da antiguidade produziam fenômenos incomuns e atemorizantes, conheciam todas as forças da natureza e dos campos de forças incultas. Eles tinham técnica nos seus rituais, isso nada tem em comum com crendice, mas com ordem e disciplina. Os rituais tinham fim especifico e se ligavam aos processos naturais da vida, do trabalho, progresso e natureza do homem. Acredita que existem forças invisíveis?
___ Claro.
___ Do mesmo jeito que o homem usa sua força visível para destruir outro homem, os espíritos usam das forças invisíveis para o mal ou para o bem.
___ Mas realmente um feitiço pode ficar guardado através dos anos?
___ A moça ta falano do quê? Isso pode acontecer se os espíritos ficarem presos na tarefa.
___ E mesmo uma pessoa de fé e religião pode receber um feitiço?
___ A religião e a fé só pode ajudá a pessoa a vencer os perigos da vida, mas num protege muito não.
___ Como assim?
___ A proteção tá naquilo que guarda seu coração e nos ato que moça pratica.
___ Quer ser mais claro?
___ Se moça num intende fica difícil de explicar. Tem muita pessoa doenti e cujos médicos diagnostica tudo errado, também, nem conhece sobre mundo oculto. Tem umas crendices dos povos primitivos que moça deve esquecer, são todas tolas, mais moça deve examiná primeiro.
___ O que devo fazer para não ser atingida por um feitiço?
___ Vigiar.
___ Ah?
___ É moça, não tenha pecado nem se descontrole, pense só nas coisas boas. Ore bastante que isso ajuda. Mais moça ta falano do feitiço com objetos ou aquele falado?
___ Não sei, como falado?
___ Pelas palavras, ora moça. O da maledicência, da calunia, intriga, da provocação, da invocação de pragas e maldições aos outros. Tudo tem força no mundo. Pensa que falar mal dos outros não é feitiço? É também, de forma diferente, moça ta entendendo?
___ Sim. Não sabia disso.
___ Vibração vai e volta, moça, principalmente quando tem sentimento de inveja, sarcasmo, ódio ou vingança.
___ Isso que está falando se chama mantra?
___ Bem moça, os mantras são letras e silabas de som harmonioso que tem ritmo forte para a concentração do homem. Os mantras são usados em caráter de buscar força superior, sublimidade. É como se moça comparasse a musicalidade com as notas musicais.
Diana pouco estava entendendo daquela conversa, mas imaginando o quanto de duvidas ainda tinha, buscava a melhor maneira de fazer os questionamentos.
___ Acho que moça num ta entendeno nada – observou o senhor finalmente retirando o cachimbo da boca e colocando-o no chão próximo de onde estavam sentados.
___ É um pouco complicado, mas estou entendendo sim.
___ Quer perguntar alguma coisa?
___ Existem mantras negativos?
___ Sim, no Nazismo usaram muito. Moça pode pesquisar os símbolos.
___ Símbolos?
___ É moça, a cruz suástica, os dois s maiúsculos da divindade infernal e do diabo.
___ Credo, eu chego a ficar toda arrepiada.
___ Se moça quer posso falar dos feitiços mentais, são bem importantes. A força da mente é fundamental em tudo. Esse vem da frustração, do amor-próprio misturado com ciúme. Conhece sobre ondas mentais?
___ Já li algo sobre isso.
___ Pois é. Pensa que não, mas pensamento atinge o outro como uma flecha certeira. E o contrario também funciona. Tudo que se pensa fica marcado no próprio perispírito. O bom pensamento eleva, o outro rebaixa. Ta veno, nunca pense mal de ninguém, principalmente se tiver com raiva ou de mau sentimento no coração. Tudo é muito complexo pra moça intendê de uma só vez. Pensamento pode até tomar forma. Mais isso já é outro assunto.
___ Preferiria não ter de acreditar em nada disso.
___ Pois um dia moça vai ver que é verdade, independente de querer ou não acreditar.
___ Quando fala de criar forma quer dizer na imaginação?
___ É, vejo que moça ta por fora mesmo.
Diana ficou olhando o senhor sem nem saber mais o que perguntava. Sentia medo de estar ali naquele ambiente cheio de velas e coisas tão estranhas.
___ Vejo que moça perdeu os pais num acidente de carro, ainda sente farta deles.
___ Como sabe disso? – questionou Diana observando-o dessa vez com uma seriedade maior do que antes. – Estou abismada com o senhor, é vidente?
___ Quê mais que a moça quer saber de feitiço?
___ Não, nada, vou embora – levantou-se Diana assustada se retirando com rapidez.
___ Moça vai voltar depois. Vai querer mais ajuda – dizia ele enquanto ela já ia longe tomando o caminho da rua.
A confusão ainda ia se tornar maior, principalmente em conseqüência do medo pavoroso que Carol e Diana já estavam sentindo.
No dia seguinte, Carol pode se levantar e a primeira coisa que fez foi ligar para sua irmã Rosalinda. Esperando que ela atendesse, surpreendeu-se ao escutar a voz de sua avó Marta. Ela não queria assustar a avó e achou por bem não contar os pontos negativos pelo qual sofrera e muito menos disse que estava ligando de um hospital.
___ Minha querida, porque não vem nos visitar, tenho saudades suas, todos nós pensamos muito em você, parece até que nos abandonou – comentou Marta com sua voz rouca.
___ Vovó, eu estou feliz de falar com a senhora, estou bem. Tenho uma novidade para te contar – disse Carol lembrando-se do livro de sua descoberta e sabendo que sua avó era escritora, logo continuou: - Encontrei algo fantástico que assim que puder quero lhe mostrar. Foi à senhora quem começou os relatos que hoje estão comigo, no primeiro livro Escrevendo a própria vida, não foi?
___ Sim, porque?
___ Encontrei um livro muito antigo, uma verdadeira raridade.
___ Onde?
___ Num antigo internato, está desapropriado faz muitos anos. Sou a responsável pela renovação da arquitetura e da decoração nova que irão fazer.
___ E como chama esse internato?
___ O nome mudou muito, mas pelo que sei o mais antigo era Internato Vera Cruz.
___ Engraçado, minha tataravó estudou num colégio com esse nome. Tenho certeza de que não estou enganada, era Vera cruz.
___ Será que era o mesmo? Como pode saber de sua tataravó se eu nem mesmo sei de minha bisavó?
___ Não sei, vai ver existiam outros internatos com esse mesmo nome. Sei de minha tataravó, pois tenho comigo uma pintura antiguíssima dela e segundo o que sei, ela enviou a minha bisavó exatamente por estar longe de casa, num internato. A pintura está dentro de um papel grosso que contem o selo feito de cera derretida de um internato chamado Vera Cruz. Acho que foi quando ela concluiu os primeiros estudos, se é que existiam estudos naquela época. Sobre minha bisavó também nada sei e da minha avó apenas guardo a certeza de que ela morreu antes mesmo deu nascer.
___ Como sua avó chamava?
___ Não sei o nome dela e nem o de minha bisavó.
___ E da sua tataravô?
___ Também não sei, é que minha memória já anda ruim mesmo.
___ Não sabe nada sobre seus antepassados?
___ Não, o que deseja saber?
___ Qualquer coisa.
___ Ouvia dizer que minha família por parte de mãe era condenada à perda das filhas mulheres.
___ Porque?
___ É lenda.
___ Conte-me.
___ Minha mãe contava que a mãe de minha tataravó foi tirada dos pais pouco depois de nascer. O mesmo se parece que se passou com minha tataravó. Não sei da historia dos meus avôs.
___ Não sabe nada? Mas me conte sobre os outros.
___ Bem, a mãe de minha tataravó, pelo que sei, foi retirada muito jovem dos pais, pois naquele mesmo dia, uma senhora da alta sociedade tinha dado a luz a uma menina também, mas esta nascera morta. Pelo que sei, essa tal senhora ia dar a carta de alforria a escrava que lhe levasse uma outra menina nascida naquele mesmo dia, até o horário do por do sol, quando o marido da tal senhora estaria retornando de sua viagem, exatamente para ver a filha. Assim, a escrava foi correndo e retirou a mãe de minha tataravó dos braços de sua mãe verdadeira. A criança, por certo, foi criada com todos os luxos e confortos que podia, mas nunca recebeu o amor de sua verdadeira mãe. Não sei nada sobre a verdadeira mãe dela. Depois disso apenas sei que minha bisavó também se perdeu da mãe numa embarcação de fugitivos.
___ Pois não pode ser o que estou pensando. Parece incrível, mas o livro que encontrei não veio parar em minhas mãos por acaso, realmente, estou fascinada.
___ Como assim?
___ Assim que puder irei ver-te minha avó e saudarei também minhas irmãs, estou com muitas saudades. Depois continuaremos conversando, pois tenho de desligar. Não dá para lhe explicar nada agora. Diga a minhas irmãs que liguei, depois tornarei a ligar.
Ao desligar o telefone, Carol estava tão surpresa que não acreditava que realmente aquele livro tão precioso retratava sobre os antigos familiares de seus tataravôs. Não poderia ser, era coincidência demais e tudo fazia Carol crer mais uma vez que o acaso nunca existe. Tudo tem um motivo de ser, de existir e de acontecer. Era por isso, exatamente por essa questão tão justa que aquele livro estava nas suas mãos. Será que Marta Madalena, a tataravó de sua avó Marta, era a filha de Madalena, neta de Gilda e Aldo? Ainda faltava muito para concluir aquela história e Carol não imaginava o quanto ainda sofreria por aquela descoberta.

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