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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Capítulo 7 – Desvendando mistérios

Luiz juntamente com Carol, haviam comprado boa parte das ações da empresa de arquitetura de Joaquim e de tal forma, ficaram sendo acionistas majoritários. Tiago, indignado, revelou que Luiz estava muito enganado se tinha planos de controlar os negócios de sua família.
Rosalinda e Rodolfo novamente passaram a se tratar como grandes amigos e muitas das vezes ela o acompanhava em festas donde ele a convidava com imenso prazer. Por outro lado, também estava fazendo as pazes com Carlos José que certa noite, aproveitando o momento propicio de um suposto encontro casual, convenceu Rosalinda a jantar com ele e assim, usou de seu romantismo para esclarecer que não houvera nada entre ele e Amélia jurando novamente que fora ela quem tentara seduzi-lo. Quando Rosalinda estava quase se convencendo do que Carlos tanto lhe repetia, para estragar tudo, Amélia apareceu toda provocante e insinuou Rosalinda fazendo com que ela se irritasse imediatamente.
___ Seu pai Luiz está completamente dominado por mim, juro que farei de tudo para que ele a expulse de casa – disse Amélia com imponência.
Vendo que Rosalinda permaneceu calada, ela procurou algo que a provocasse mais:
___ Como ainda tem coragem se sair com essa jovenzinha depois de ter me dito que ela é uma vaga... – Amelia dizia quando Rosalinda levantou-se da cadeira e sem perceber ou ter controle de suas atitudes, levantou a mão e esbofeteou Amélia no meio da face esquerda.
___ Vou obrigá-la a confessar a meu pai todos os seus enganos, queria que ele estivesse aqui para ver essa cena, você me insultando, não passa de uma miserável – gritou Rosalinda totalizando em publico o escândalo.
Amália apenas sorriu cinicamente e se retirou antes que levasse outra bofetada.
___ Não suporto essa mulher.
___ Você caiu no golpe dela direitinho, foi ela quem nos separou e não sei como pôde...
___ Terei definitivamente uma conversa seria com meu pai – exigiu ela a si mesma interrompendo-o.
___ Não a aconselho a dizer o que aconteceu a ele.
___ Como não? E você é a prova de tudo, vai ter de confirmar a verdade do que acabou de acontecer.
___ É melhor que o Sr. Luiz descubra sozinho quem realmente é Amélia. Qualquer coisa que você o disser, ele vai achar que é você quem está de intrigas com ela, por acaso não percebeu ainda que essa mulher é cheia de golpes e tem seus jogos de cintura? Suas maneiras de se defender? Quantas vezes ela já te desafiou e acabou levando a melhor?
___ E acha que vou ficar suportando isso até quando? É por ela ter sempre levado a melhor que já estou mais do que farta de...
___ Pelo visto ela conseguiu estragar o nosso jantar – interrompeu Carlos verificando que logo Rosalinda ia levantar e querer ir embora.
___ Me desculpe, não queria que isso acontecesse justo hoje, nesse momento.
___ Você não teve culpa, se soubesse que ela poderia aparecer por aqui, teria convidado você para qualquer outro local.
___ Acha que isso aconteceu por acaso? Pois eu duvido, ela sempre sabe o que faz e vive agindo de propósito para me perseguir e me enfurecer.
___ Consegue esquecê-la por enquanto e retornar sua concentração para o nosso jantar? – questionou Carlos.
___ Tentarei, não vou estragar minha noite por conta dela, vou fingir que nada aconteceu, está bem assim?
___ Por mim tudo bem.
___ Sobre o que mesmo conversávamos?
___ Nem me lembro. Ah! Tenho algo importante para lhe dizer, é sobre sua irmã.
___ Qual delas?
___ Carolina.
___ O que tem com ela?
___ O Sr. Luiz já concluiu as investigações sobre a família do namorado dela e descobriu que eles estão realmente falidos.
___ Melhor para ela, esse casamento lhe é tão indesejável quanto o meu com Rodolfo. Não sei porque meu pai tem essa mania de ficar querendo opinar em nossas vidas e decidir nossos parceiros ideais.
___ Como pai entendo tais atitudes. Há alguns dias flagrei minha filha Helena beijando Inácio e, irritado, tive de proibir o jovem em por os pés novamente em minha casa.
___ Porque essa implicação com o garoto, só porque ele é filho do Rodolfo? Desse jeito sua filha vai me odiar.
___ Não gosto daquele sujeito e não quero que minha filha namore o filho dele, apenas isso.
___ Pois não concordo com essa sua postura.
___ Também não acho que minha filha tenha idade para namorar.
___ Está bem, não vou ficar fazendo comentários, pois sei que isso não vai mudar sua maneira de pensar.
___ E não vai mesmo – garantiu Carlos.
___ Mas sabe que isso apenas vai piorar a situação, não vê o que Carolina fez? Foi atrás de Diogo e não vai desistir dele porque meu pai quer assim. Hoje ela já me ligou dizendo que chegou bem na cidade onde ele está e felizes estão juntos, indiferentemente da permissão do meu pai.
___ É isso que me preocupa. Depois de ter colocado Inácio para fora da minha casa e proibido pela segunda vez dos dois se verem, ele foi até lá novamente e dessa vez quis conversar comigo pretendendo esclarecer a situação. Disse-me com toda a franqueza e coragem de um jovem apaixonado que gosta de Helena e pediu permissão para poder visitá-la. Disse-lhe que ainda são duas crianças imaturas e sem responsabilidade o suficiente para ficarem se agarrando como no dia em que os vi junto. Primeiro eles devem se preocupar com os estudos.
___ E o que decidiu sobre o trabalho lá na fazenda?
___ Pretendo continuar cuidando dos cavalos de seu pai. E você, parece muito amiguinha do Rodolfo – comentou Carlos.
___ Ele me pediu uma nova chance para tentar me reconquistar.
Enquanto os dois continuavam conversando, Rafael acabava de chegar na fazenda à procura de Carolina. Luiz, surpreso, sem saber que ela havia ido ao encontro de Diogo, perguntou se a filha não estava com ele. Vendo que Diva havia saído para fazer as compras, Luiz ligou imediatamente para Rosalinda interrompendo seu jantar com Carlos.
___ Por acaso sabe onde sua irmã Carolina...
___ Ela foi atrás do Diogo, Diva não te disse?
___ Não, a casa parece estar vazia e a Diva deve ter ido fazer as compras que pedi. Mas não é possível, como sua irmã...
___ Porque não a deixa namorar em paz? Já é maior de idade e sabe o que faz.
___ A vida é um negocio e não vou deixar que nenhuma de vocês duas faça um mal negocio.
Não agüentando a vontade de desabafar, Rosalinda acabou revelando ao pai o que ocorrera no restaurante.
___ Antes que desligue, tenho algo para te contar, sua namorada esteve aqui e aprontou o maior escândalo me xingando na frente de todo mundo. Espero que tome alguma providencia, caso contrario, não vou retornar mais para essa casa – completou Rosalinda desligando irritada o telefone por se lembrar da cena ocorrida.
Luiz, furioso com o comportamento da namorada, ligou para Amélia dizendo-lhe que se ela voltasse a fazer qualquer escândalo com qualquer uma de suas filhas, ia mandá-la de volta para a sua cidade.
Enquanto isso, Carol confessava seu amor por Joaquim e sem resistir aos sentimentos, os dois se beijaram esquecendo os contratempos familiares de outrora. Joaquim deixou claro revelando que era o pior inimigo de Luiz pelo passado existente entre seu pai Tiago e Analice. Carol que de nada sabia ficou surpresa e questionou sobre o que ele estava falando. Joaquim percebendo que talvez não devesse tocar naquele assunto, disse que não importava e para disfarçar o dito beijou-a novamente. Assim que o beijo terminou, Joaquim se afastou e pediu a Carol que esquecesse o que houvera entre eles, pois aquilo nunca mais voltaria a acontecer.
___ Não posso e nem quero esquecer, pois eu o amo – foi o que ela disse em suas ultimas palavras do encontro daquele dia.
___ Mas não se esqueça que quando aceitou as ordens do seu pai de comprar aquelas ações, você prejudicou a mim e a meu pai, só posso gostar de você como amiga. É melhor ficarmos assim, pois não quero ter de considerar sua inimiga.
___ Mas me ama?
___ Sim – confessou ele. – Mas não dá, entenda– concluiu ele não dando chance para estenderem o assunto.
Carolina, junto de Diogo, comemorava feliz o encontro dos dois, podendo longe da fazenda, sentirem-se livres para namorarem a vontade.
___ Eu adoro você cada dia mais, porém, como sabe, não tenho nada para lhe oferecer.
___ Ao seu lado qualquer lugar se transforma num palácio. Não preciso de mais nada, apenas de você e do seu carinho.
Nesse instante, o celular de Carolina tocou e ao olhar a chamada, verificou que era seu pai quem lhe ligava. Disposta a enfrentá-lo, ela confirmou na frente de Diogo o que há pouca hora dissera em e bom tom respondeu a Luiz que estava decidida a não voltar para a fazenda enquanto ele não aceitasse Diogo como seu namorado. Vendo que nada mais adiantaria ser discutido naquela conversa fria e longínqua, Luiz desligou o aparelho irritado.
Rafael, assim que chegou em casa, comentou com a mãe que Carolina fugira com um empregado da fazenda. Judite, sua mãe, disse-lhe que precisava reconquistar Carolina porque estavam à beira da falência.
Pouco tempo depois, Luiz tornou a ligar para a filha e disse que se ela não retornasse imediatamente para a fazenda, podia esquecer o fato de ter um pai. Preocupada com a seriedade de tais palavras, Carolina achou melhor por bem, voltar para a fazenda e assim o fez sem dar muitas explicações convincentes a Diogo. Sem se convencer e aceitar a atitude inesperada de Carolina, Diogo a acompanhou indo parar também na fazenda. Diva, assim que o viu, pediu-lhe que deixasse as coisas como estavam e fosse embora antes que Luiz o visse. Sem saber o que fazer, ele tentou uma ultima conversa com Carolina:
___ Quero que me explique porque decidiu voltar para a fazenda, por acaso vai se casar com o Rafael?
___ Acho que devo respeito ao meu pai e muitas das vezes isso implica em obediência.
___ Mas você não gosta desse tal de Rafael – disse Diogo tentando entender a complicada situação.
___ Mas Rafael é o jovem que me convém, pois está á minha altura. Diverti-me muito contigo, mas nunca deveria ter pensado que seria capaz de dividir minha vida com um simples empregado – respondeu ela fazendo de tudo para que Diogo fosse embora rápido antes que ela começasse a chorar ou que seu pai chegasse e o encontrasse por ali.
Diogo tentou forçar Carolina a dar uma explicação convincente do por que aceitara se casar com Rafael.
___ Se você realmente me ama, se afaste de mim para sempre, por favor – respondeu Carolina iniciando um choro dolorido e penoso.
___ Ainda está em tempo de desistir do casamento com Rafael e enfrentar...
___ Por favor, me deixe em paz – gritou Carolina numa revolta consigo mesma e com toda aquela situação.
Carol comentou com Rosalinda que estava muito preocupada com Carolina, que de repente decidira se casar com o Rafael. Estendendo o assunto, também revelou numa confissão que sua situação amorosa era complicada, pois estava apaixonada por Joaquim e não sabia porque seu pai não estabelecia uma relação sociável com a família dele. Aquele mistério não ia durar por muito tempo amais.
Diva se ofereceu para ajudar Carolina a escolher o vestido de noiva. Carolina não aceitou e deixou claro que não se tratava de um casamento, mas de um negócio que convinha a Rafael e à sua mãe.
Com Rosalinda as coisas também estavam duvidosas e numa conversa com Carlos José, ela lhe disse para que a esquecesse, pois nunca reataria seu romance com ele, comunicando em seguida que decidira se casar com Rodolfo. De tal modo, as vontades de Luiz estavam retomando ao ponto certo. Mas ainda haveria muitas complicações.
Carlos José disse a Rodolfo que ele nunca ia se casar com Rosalinda, pois ela lhe pertencia e novamente se repetiu o mesmo tipo de discussão. Querendo ser desafiador, Rodolfo pressionou Rosalinda e perguntou se ela já decidira se casar com ele reatando o compromisso desfeito. Carlos José verificando que podia perder Rosalinda para sempre pediu a ela que pensasse bem na resposta que ia dar a Rodolfo. Rosalinda já cansada de tanta confusão por conta dela, se irritou imediatamente e disse que não queria saber de nenhum dos dois.
Dias depois, Carol estava saindo de um motel donde havia pegado uns projetos de decoração para elaborar, quando passou despercebida por um dos carros do seu pai. Antes que entrasse no seu próprio veiculo, observou a arquitetura da construção e olhando para trás, identificou a placa conhecida do automóvel. Imaginando que seu pai e Amélia deveriam estar se divertindo naquele horário que lhe parecia muito impróprio para tal passeio, Carol ficou observando cheia de indagações o carro estacionado. Sem chegar a nenhuma conclusão, Carol notou que o vidro traseiro estava aberto. Sem pensar duas vezes ela se aproximou do veiculo e preocupada com alguns documentos que estavam a vista no banco, Carol achou por bem pegá-los antes que alguém fizesse isso. Concluindo que seu pai estava muito descuidado naqueles últimos dias, Carol saiu do local ainda pensativa. Muitas idéias invadiam sua mente, seu pai estaria saindo com outra mulher? Porque decidiria ir a um motel naquele horário? Como pudera ser tão desatencioso de esquecer aquele vidro aberto justo com documentos tão importantes bem em cima do banco? Sem esclarecer de imediato suas indagações, Carol mudou o rumo dos pensamentos e retornou para o trabalho, sem perceber que o carro de Rodolfo estava estacionado quase ao lado.
À noite, ao voltar cansada para casa, ainda com vários projetos para analisar, Carol encontrou Luiz melancólico e preocupado no escritório. Vendo que suas expressões faciais demonstravam algum problema, Carol lembrou-se dos papeis que pegara no carro. Quando ia dizer-lhe que guardara por precaução os documentos, Luiz iniciou sua fala contando do seu desespero:
___ Não sabe o que me acabou de acontecer, Amélia pegou meu carro para ir à cabeleireira e segundo ela alguém roubou os documentos de analise da venda do gado que fizera, sua irmã Rosalinda vai brigar até comigo quando souber disso.
___ Ir a cabeleireira? Que horas foi isso?
___ Bem, ela saiu daqui logo após as quatro horas, eu ainda estava terminando de me arrumar para a reunião dos...
___ Mas... – interrompeu Carol sem nem ao menos saber o que ia dizer.
___ Como isso foi me acontecer... – reclamou Luiz.
___ Tem certeza de que os papeis estavam no carro? – comentou Carol achando melhor não dizer ao pai o que realmente ocorrera. – Procure melhor, talvez tenha...
___ Isso, eu vou procurar, quem sabe não está noutro local? Pode ser que eu esteja enganado.
Carol agiu com rapidez colocando os papeis na estante enquanto seu pai permanecia procurando-os no quarto e assim, sorriu consigo mesma tendo certeza de que sua descoberta daquele dia seria uma grande notícia para Rosalinda.
Indo até o carro verificar se encontrava alguma coisa diferente, achou exatamente o que procurava, um relógio masculino que não era do seu pai. Ao mesmo tempo, Carlos sentia a falta de seu relógio e concluía desconfiado que por suposto o perdera ao pegar carona com Luiz até a agropecuária na manha daquele dia.
Assim que Carol relatou tudo o que presenciara a Rosalinda, esta se desfez em prantos reconhecendo o relógio de Carlos, estando convicta de que ele a estava traindo e nenhuma explicação ia lhe convencer do contrario e provar que seus pensamentos estavam distorcidos da realidade da maneira como realmente ocorria naquele instante. Milhões de vezes, a única coisa que Rosalinda conseguia pensar era que odiava Carlos e não mais queria vê-lo.
Fazendo de tudo para despistar-se de Carlos e permanecer com sua postura de indiferença, Rosalinda sofria em suas lembranças todas as vezes que o avistava. Carlos, sem entender o que estava se passando, procurava em suas atitudes uma resposta para o comportamento estranho vindo de Rosalinda. Desconfiado de que o problema fosse exatamente a presença e perturbação de Amélia, Carlos José tentou se explicar a Rosalinda dizendo que Amélia continuava o assediando, mas que ele sempre pedia a ela que o deixasse em paz, explicando que ele estava interessado verdadeiramente por Rosalinda. Ao escutar aquilo, Rosalinda se enrubesceu ainda mais de raiva e numa careta de nervosismo deixou Carlos falando sozinho e as presas se retirou indo para seu quarto donde se trancou numa promessa de que não ia acreditar em mais nenhuma palavra que ele lhe dissesse. Carlos continuou sem entender o que se passava e julgando realmente que Rosalinda era uma moça muito mimada, achou melhor dar um tempo naquela situação toda e deixá-la agir conforme quisesse.
Para completar o desespero de Rosalinda e também o de suas irmãs, naquela noite, as três filhas de Luiz receberam durante o jantar, a notícia de que ele havia marcado seu noivado com Amélia e em três meses seria realizado seu casamento civil.
Numa conversa séria com suas irmãs, Rosalinda decidiu que o mais rápido possível, antes do casamento de Amélia com Luiz, contrataria alguém para saber sobre o passado da futura madrasta. Procurando por Julia e seguindo a indicação de Rodolfo, Rosalinda prometeu pagar muito bem pela informação.
Dias depois, Rosalinda estava lendo tranqüilamente um livro de histologia no sofá da sala quando Amélia adentrou pela porta e constatando a presença dela ali foi logo lhe dizendo:
___ Assim que eu me casar com seu pai farei de tudo para...
___ Escuta aqui – interrompeu Rosalinda se levantando de imediato numa onda de ira. – Meu pai pode ser tolo e cego a ponto de não enxergar a megera que você é, mas a mim você não engana e lhe dou a garantia de que não vai casar com meu pai. Além do mais, sei mais sobre você do que imagina, acho bom não mexer comigo e se quiser continuar nessa casa, fique quieta no seu canto, pois se não, será muito pior para você. Entendeu?
___ Acha que tenho medo de você?
___ Pois deveria ter, não acha que tem motivos suficientes para isso?
Amélia mordeu os lábios mantendo-se pensativa e resplandeceu uma suposta preocupação que tomou conta de sua face demonstrando que Rosalinda estava dominando-a, pelo menos daquela vez.
___ O que sabe a meu respeito que todos já não saibam? – questionou por fim verificando a expressão de esperteza do rosto de Rosalinda.
___ Não se faça de inocente, sei informações detalhadas sobre o seu passado, com provas suficientes para demonstrar que ele não foi nada aprazível.
No dia do casamento de Carolina e Rafael, Rosalinda ficou furiosa de ciúmes ao ver Rodolfo chegar na companhia de sua ex-esposa Dra. Julia, de mão dadas como se ainda fossem casados. Amélia também ficou irritada ao ver a advogada, pois sabia que ela havia bisbilhotado seu passado e dado informações sigilosas de sua vida a Rosalinda. Assim sendo, exigiu que Luiz pedisse a ela para ir embora. Luiz perguntou a Julia por que havia ido ao casamento acompanhada de Rodolfo e desconfiado questionou se os dois ainda mantinham alguma relação mais intima. Julia apenas disse que era amiga de Rodolfo, pois ele era pai de Inácio e nunca houvera motivos para menosprezá-lo ou tratá-lo de outra maneira.
Indignado com a reação repulsiva de Rosalinda, Carlos José aproveitou o momento romântico daquele casamento para se aproximar de sua amada e um tanto desconcertado, voltou a dizer-lhe que fora assediado por Amélia, mas nunca houvera acontecido nada entre eles, afirmando que Amélia era uma mulher desprezível. Amélia que observava os dois atentamente ficou furiosa com as palavras de Carlos José e jurou que ele ia se arrepender de ter dito aquilo.
Na igreja, a espera da noiva, Rosalinda perguntou a Dra. Julia se ela sabia algo sobre o passado de seu pai e sua mãe. Rosalinda não entendia porque tanto mistério seu pai fazia do passado e qual era a relação existente de intriga com o pai de Joaquim. Julia não quis estender conversa e garantiu que não sabia de nada.
___ Acha que meu pai pode ter alguma coisa haver com a morte do irmão de Joaquim?
___ Claro que não – respondeu Julia numa afirmativa convicta.
___ Como tem tanta certeza disso se não sabe maiores informações e detalhes do passado dele?
___ Houve muitas notícias sobre a vida do seu pai que foram desmentidas e encobertas com novas versões, somente ele para saber o que de fato aconteceu. A imprensa faz as pessoas acreditarem naquilo que querem e nem sempre o que divulgam é a verdade, você entende?
___ Sim, mas o que foi que a imprensa...
___ Não acho prudente conversarmos sobre isso. Se seu pai nunca lhe disse nada, prefiro não revelar o que sei. Seu pai teve uma carreira de muito sucesso e ainda continua atuando na área, as fofocas inventadas sempre estão soltas por aí, não deve acreditar em qualquer coisa que escute. O que quer que seu pai tenha vivido e feito no passado, apenas a ele cabe isso, e também o direito de fazer silêncio e guardar segredo. Seu pai muito amou sua mãe e se ele cometeu erros, não o julgue por isso.
___ Mas que tipo de erros seriam esses?
___ Um dia ficará sabendo, mas não vai ser eu quem a revelará.
___ Desconfio que meu pai escreve algum tipo de diário, pelo menos já o vi escrevendo um relatório por varias vezes, mas ele sempre coloca no cofre e tranca a sete chaves. Quando o questiono, ele diz que futuramente entenderei do que se trata, mas já estou cansada de esperar por esse momento do futuro.
___ A paciência é uma virtude – aconselhou Julia.
Rosalinda suspirou fundo percebendo que seus mistérios continuariam sem resposta.
___ Onde está a noiva que não chega? – perguntou Rodolfo se aproximando.
___ Toda noiva se atrasa – comentou Rosalinda.
___ Poderia ser o nosso casamento – disse ele sem se importar com a presença de Julia.
___ Ainda bem que não é – respondeu Rosalinda se retirando sem nada mais dizer.
___ Ela está com ciúmes de você – Rodolfo comentou com Julia.
___ Se é assim, vou conversar com ela. Na condição de sua ex-esposa e amiga, quero que você seja feliz e se depende dela para ser feliz, irei ajudá-lo, mas só dessa vez – sorriu Julia se retirando e indo atrás de Rosalinda.
Assim que Julia alcançou Rosalinda já quase na porta da igreja, segurou-lhe pelo braço e fez com que parasse de caminhar tão apressadamente.
___ Tenho uma coisa importante para lhe dizer – iniciou Julia dizendo.
___ Sobre meu pai?
___ Não, sobre você e Rodolfo.
___ O que foi? – questionou Rosalinda sem demonstrar interesse.
___ Sabe que podemos ser amigas e gosto de você. Também sou amiga de Rodolfo e tenho sorte por ter tido um marido como ele, infelizmente nosso casamento não deu certo. Acredite, ele a ama e desde muito tempo faz tudo por você, até mesmo coisas que nunca fez por mim. Se existe alguém nesse mundo que confio para fazer a felicidade de Rodolfo, não há ninguém melhor do que você. Estou sendo sincera, pense o que pensar só queria deixar isso claro.
___ Obrigada por esclarecer a situação.
___ Amigas?
___ Claro – confirmou Rosalinda comovida com aquele dialogo enquanto abraçava Julia.
Julia desconhecia as verdadeiras intenções de Rodolfo naquele namoro interesseiro por Rosalinda.
De longe, Luiz observava a cena das duas se abraçando e pela primeira vez começava a visualizar a elegância e classe mantida por Julia. Durante muito tempo, seus olhos não conseguiram se desvincular para outra coisa que não fosse aquela figura feminina e esbelta. Para sua sorte, Amélia não estava por perto naquele momento.
Rosalinda retornou para perto de Rodolfo e pediu-lhe desculpa pela maneira rude como havia lhe respondido há instantes atrás. Carlos ao verificar que os dois se divertiam numa conversa animada, resolveu fazer cenas de ciúme e procurando Amélia usou-a para provocar Rosalinda. Aquela atitude apenas ia separar mais Rosalinda dele e fazer com que ela realmente tivesse repugnância e raiva dele, voltando a se reaproximar cada vez mais de Rodolfo.
___ Voltaria a refazer o pedido de casamento, mesmo depois da bronca que lhe dei? – questionou Rosalinda a Rodolfo.
___ Porque não? Meus sentimentos por você continuam os mesmos, ou melhor, ainda mais intensos do que antes – sorriu ele.
Carol se aproximou dos dois com um sorriso meio formal entrando no meio da conversa também já impaciente e preocupada com a demora da noiva. Instantes depois, Rodolfo se retirou indo cumprimentar alguns amigos que estavam chegando. Vendo-se as sós com Rosalinda, Carol aconselhou-a demonstrando sua opinião diante dos relacionamentos da irmã.
___ Pense bem no que está fazendo com o Carlos José, ele é um homem bom e a ama.
___ Eu sei o que estou fazendo, cara irmã, não se preocupe. Mudando de assunto, tenho um comunicado para ti.
___ Do que se trata?
___ Nosso pai quer que nomeiem-na como nova representante da empresa. Por isso, agora está em suas mãos destruir Joaquim.
___ Mais não é da intenção do nosso pai afetar Tiago me usando para...
___ Não, longe disso, nosso pai não teria capacidade para ser tão cruel – interrompeu Rosalinda.
___ Será porque que existe uma inimizade tão grande entre os dois?
___ Já questionei isso a muita gente, mas parece que todo mundo tem medo de revelar a verdade.
___ Sim. E sabe que o dinheiro de nosso pai compra o silêncio de muita gente, principalmente da imprensa que sempre leva a melhor com isso.
___ Quer um conselho? Sei que você está apaixonada por Joaquim, na minha opinião você deve lutar pelo amor dele, sem se importar com a opinião do nosso pai e muito menos ter de se preocupar com o passado, com algo que nem sabe do que se trata.
___ Mas é exatamente por não saber que me sinto correndo perigo.
___ Realmente, nesse ponto você tem razão. Nosso pai disse que você ocupará o lugar de representante da empresa e com isso, mais dia e menos dias, Joaquim ficará fora do projeto.
___ Mas não desejo que isso aconteça com ele – comentou Carol ressabiada.
___ Pela lei natural, os mais fortes vencem e querendo ou não, seu pai já investiu comprando as ações. Agora a responsabilidade é grande.
Pilar aproximou-se das duas e olhando diretamente para Rosalinda perguntou-lhe porque não voltara para visitá-la. Rosalinda respondeu-lhe que se fosse convidada teria muito prazer em visitá-la.

Entrando na igreja, ainda longe do altar, Carolina verificou a presença de Diogo tristemente num dos cantos encostado na lateral da parede. Pedindo mentalmente a ele para que não a deixasse se casar com Rafael e ao mesmo tempo tentando banir de si aquele pensamento desesperado que consumia seu intimo, Carolina esforçava-se para não deixar sair de seus olhos as lágrimas que insistiam em marejar face abaixo.
No final, quando Diogo se aproximou para dar os cumprimentos a Carolina, ela o perguntou melancolicamente:
___ Porque me deixou casar? Porque não impediu?
___ A escolha foi sua e tinha de respeitar, sinto muito se você o escolheu e não deu ouvidos ao coração. Espero que sua lua-de-mel não seja um tormento, mas sim que você seja muito feliz ao lado do homem que escolheu.
___ Nunca haverá intimidade entre eu e ele, pois nosso casamento não passa de um negócio.
___ Você quis cumprir a vontade de seu pai e esqueceu-se de que a vida é sua. Além do mais, esqueceu-se que nessa história, a minha felicidade também estava em risco. Não a culpo, pois reconheço minha péssima situação financeira. Só lhe digo que dinheiro sem amor de nada vale e com o tempo, se transforma num inferno. Boa sorte e seja feliz – desejou Diogo meio aturdido antes de ir embora, uma vez que estava destruído interiormente e com forte dor de cabeça.
Recebendo uma viagem de presente para o exterior, o casal embarcou no dia seguinte depois de um almoço de confraternização, além da bela festa tida durante toda à noite para a comemoração dos convidados.
Na noite de núpcias, Carolina mais revoltada do que feliz, disse a Rafael que não pretendia se entregar e ter relações sexuais com ele. Irritado por aquela reação e constatando que já eram marido e mulher, Rafael tentou violentar Carolina, mas ela reagiu ameaçando gritar caso ele não saísse do quarto.
Carolina voltou sozinha da lua-de-mel antes do tempo previsto. Diva e Amélia se surpreenderam perguntando por Rafael, mas não conseguiram descobrir o que de fato acontecera.
Tentando ter um pouco de sossego, Carolina foi à hípica e encontrou-se inesperadamente com Diogo. Num ímpeto de saudade, os dois se abraçaram e trocaram juras de amor. Carolina confessou profundo arrependimento, mas disse que era tarde demais e não podia voltar atrás no tempo para desfazer aquele casamento que considerava como um dos maiores erros que cometera em sua vida.
Rosalinda, conversando amigavelmente e sendo a conselheira mais velha das três, disse a Carolina que ela e Diogo não mereciam continuar sofrendo por causa de uma infâmia e um casamento frustrado. Carolina não devia permitir que aquilo acontecesse na opinião de Rosalinda.
Alguns dias depois, Amélia disse a Luiz que fora ao médico e descobrira estar grávida. Luiz ficou feliz com a notícia e abraçou Amélia imaginando o quanto gostaria que fosse um menino para compensar suas três filhas. Rosalinda ao ficar sabendo da notícia pela comunicação de Diva, ficou furiosa e comentou com ela que Amélia era cínica e seu pai ingenuamente, havia acreditado naquela gravidez sem nenhuma prova real.

Na empresa donde Carol trabalhava, as coisas estavam se complicando cada vez mais. Numa conversa séria, Joaquim esclareceu-a de que tinha um documento que lhe serviria como arma para destruir Luiz.
___ Pode achar que estou brincando, mas seu pai está tanto em minhas mãos quanto eu estou na dele – ele comentou.
___ Porém, assim como não permiti que meu pai o destruísse, creio que também deverá se proceder, não permitindo que você e seu pai destrua o meu. Estou muito chateada contigo, não voltarei a procurá-lo, fique tranqüilo.
___ Eu a amo. Venho tentando negar isso a mim mesmo, mas é impossível. Quando estiver com mais tempo livre e menos trabalho, pretendo lhe convidar para um jantar, sabe que precisamos conversar sobre o futuro.
___ Claro, até porque eu não pretendo renunciar ao amor que sinto por ti. Por outro lado, também sou sua inimiga – finalizou Carol sendo firme em sua pronuncia.
___ Não somos nós os inimigos, mas sim nossos pais.
___ Porque, me diga – pediu Carol.
Joaquim permaneceu calado e ali a conversa se findou.
Enquanto isso, nas cavalariças, Amélia criticava Carlos José por tê-la humilhado diante de Rosalinda. Ao dizer aquilo, notou que Luiz se aproximava e num ímpeto de não deixá-lo desconfiar do que se passava naquele momento, ela fingiu que Carlos José a está assediando e correu até Luiz pedindo-lhe socorro. Luiz ficou furioso e ameaçou Carlos sendo rude e grosseiro. Amélia, cheia de raiva por não ter conseguido de Carlos exatamente o que queria, inventou varias versões de histórias absurdas sobre Carlos e dentre tais, disse inclusive que ele tentara tomá-la a força machucando seus pulsos. Luiz acreditando no que ouvia, deixou uma grande ira tomar conta de seu raciocínio e em tal estado de alteração, deu ordens para Pascoal eliminar Carlos José, mas este se recusou e negou dizendo não executava tal tipo de trabalho. Rodolfo, aproveitando da situação por intermédio da sua pouca amizade com Amélia, ofereceu-se a Luiz para dar um jeito definitivo em Carlos. Luiz aceitou a proposta, mas deixou claro que não era para matar Carlos, apenas fazer com que ele desaparecesse dali para sempre. Aproveitando da situação, Rodolfo contratou alguns homens para dar uma surra em Carlos José e pediu a eles que fizessem tudo manipulado para parecer um assalto.
Encontrando Carlos numa situação muito conturbada e estando totalmente machucado, Rosalinda levou-o para o hospital. O médico após examiná-lo, informou-lhe que Carlos fora levado para a terapia intensiva, pois seu estado estava muito grave. Rodolfo, sem imaginar que Rosalinda pudesse estar com Carlos naquele instante, informou a Luiz, considerando-o como seu futuro sogro, que já se encarregara de dar uma lição no veterinário, tendo aceitado ajuda de alguns marginais que se encarregaram de deixá-lo à beira da morte por troca de algum dinheiro.
Ao acordar, Carlos José recobrou os sentidos lembrando-se do que ocorrera e reclamando dores em seu corpo suspirou dizendo o nome de Rosalinda por varias vezes repetidas.
___ Não faça nenhum esforço, não fique falando muito assim.
___ Obrigada por ter me trago para o hospital.
___ Sorte sua eu estar passando naquela rua justo naquele instante, parece até um aviso. Bom, mas agora preciso ir, vou passar na fazenda e resolver algumas pendências ainda hoje. Descanse, voltarei assim que puder, prometo.
___ Não prometa o que não quer cumprir. Sei que não gosta de mim como imaginei, me iludi com você.
Rosalinda sorriu sem nada dizer e deixando o local, retornou para a fazenda buscando encontrar explicação para o fato ocorrido com Carlos. Escutando o relato de Rosalinda sobre a tarde que tivera, Diva deixou bem claro o conselho de pensar melhor, uma vez que o casamento de Rosalinda com Rodolfo poderia ser o maior erro de sua vida assim como fora o de sua irmã com Rafael.
Interrompendo a conversa com Diva, Rosalinda atendeu ao telefone que pela terceira vez tocava repetidamente:
___ Julia, o que descobriu? – questionou Rosalinda ao perceber quem estava do outro lado da linha.
___ Amélia foi despedida de seu último emprego após ser acusada de roubo. Irei providenciar uma maneira de conseguir as provas necessárias para destruí-la. Também não vou com o jeito dela e entendo sua posição de revolta.
___ Sim, fico-lhe muito grata. Espero que descubra o passado obscuro dessa mulher.
___ Na verdade eu já descobri, apenas preciso comprovar os fatos.
___ Tem algo mais que tenha descoberto?
___ Amélia trabalhou como dançarina em um bar de quinta categoria e junto com seu irmão, cometeram muitas fraudes. Mas não tenho nenhuma prova concreta disso.
Encerrada a conversa sem maiores novidades, Rosalinda resolveu retornar ao hospital ainda pensativa no que podia ter ocorrido com Carlos já que não lhe haviam tirado nenhum objeto pessoal como relógio, celular ou a carteira.
Chegando ao hospital, Rosalinda se sentiu culpada por vê-lo daquele modo imaginando que Rodolfo deveria por certo estar no meio da historia, sem imaginar que a confusão iniciara entre seu pai, Amélia e o próprio Carlos que de nada tinha culpa. Na mesma ladainha de sempre, Carlos José pediu a ela que se reconciliassem.

Joaquim, ao chegar em casa, contou para a mãe que Luiz conseguira tirá-lo do projeto, mas garantiu que perdera apenas uma batalha e não a guerra. Dona Neiva disse ao filho que desde o dia em que Carol entrara em sua vida, tudo passara a dar errado. Para Dona Neiva, a jovem Carol era uma farsante que o insultara. Joaquim ficou visivelmente irritado com o comentário vindo da própria mãe e disse-lhe que não deveria se envolver em seus problemas.
Amélia, cínica, assim que viu Rosalinda retornar para a fazenda no final do dia, contou-lhe que estava muito feliz com a reconciliação dela com Rodolfo, pois assim, logo se casariam e finalmente Amélia ia ficar livre na casa. Rosalinda, sarcástica, disse à madrasta que já sabia que fora bailarina em um bar de quinta categoria e que seu irmão era um conhecido estelionatário. Virando as costas para Amélia que ficara até pálida ao escutar aquelas ultimas palavras, Rosalinda foi à hípica e mesmo não querendo, teve de trocar algumas palavras com Rodolfo que logo a cercou dizendo que a adorava e que não permitiria que ela se casasse nem com Carlos nem com mais ninguém que não fosse ele. Segurando-se para não dar uma má resposta, Rosalinda fez que não escutara e sempre séria continuou andando.
Enquanto isso, Julia promovera um encontro entre Joaquim e Luiz para que eles entrassem em um acordo. Joaquim exigiu ser reincorporado ao projeto, pois caso contrário ia tornar público um documento que faria Luiz ser taxado de ladrão e assassino. Sem entender do que se tratava, Luiz ficou preocupado e tentou esclarecer suas dúvidas, pois mantinha sua consciência tranqüila. Numa conversa a sós, Julia o advertiu sobre a possibilidade de Tiago, com um documento falso em mãos, colocar suas três filhas contra ele. Aproveitando a oportunidade, Julia contou a Luiz e lhe entregou as provas de que Amélia era uma ladra assim como seu irmão. Luiz, chateado, confessou que já sabia de tudo. Luiz já tinha conhecimento do passado de Amélia e mesmo assim namorava ela. Julia ficou intrigada com aquela declaração e verificou que alguns detalhes ainda deveriam ser descobertos, pois aquela historia guardava algum segredo.
Rosalinda, ao retornar para casa, foi pega de surpresa por Amélia que a esperava na porta e verificando o constrangimento daquele momento, Rosalinda pediu explicações a Amélia por ter ocultado seu envolvimento em negócios ilícitos. Ela se fez de vítima e disse que o culpado fora seu irmão que a acusara de ser cúmplice. Na verdade, aquela era a mesma versão que ela contara para Luiz, que acreditara em suas palavras. Porém, a Rosalinda ela não enganava e a busca por novas pistas sobre o passado desconhecido daquela mulher ia continuar.
Ainda matutando a conversa que acabara de ter com Amélia, Rosalinda saiu na varanda para observar as estrelas que surgiam no céu escuro e sentir a brisa leve que a fazia imaginar inúmeras coisas. Distraída em seus pensamentos, ela não viu quando Carlos se aproximou:
___ Pensando em mim?
___ Carlos? – assustou-se ela não esperando vê-lo tão cedo novamente ali na fazenda.
___ Me deram alta e a primeira coisa que quis fazer foi vir te agradecer novamente e me despedir, vou para o sul, pretendo morar por lá durante algum tempo, talvez montar meu próprio negócio, entende?
___ Mas...
___ Vou ainda hoje e nada me fará mudar de idéia. Foi maravilhoso o que houve entre nós e seria o homem mais feliz e realizado do mundo se pudesse levá-la comigo, mas não ousaria fazer isso.
___ E se eu quiser ir contigo?
___ Não acho que seja...
___ Como pode me deixar assim de uma hora para outra?
___ O que quer que eu faça? Dizer-te que não vou permitir que se case com qualquer outro homem e em seguida levá-la por bem ou por mal como dois fugitivos?
Rosalinda suspirou verificando a expressão do rosto de Carlos.
___ Não posso forçá-la a nada e jamais pretenderia assim agir. Porém, se quiser ir comigo, a decisão é sua.
___ É só isso que tem para me dizer?
___ Não quero dizer mais nada, pois minhas palavras poderão interferir na sua decisão. Dizer que será maravilhoso levá-la comigo e fazer muitas promessas poderão...
___ Eu vou com você – afirmou Rosalinda sem muito pensar.
___ Está falando... – começou ele a dizer sem nem ao menos ter certeza do que pretendia argumentar.
Rosalinda balançou o rosto pensativo e sorriu sem olhar novamente para os olhos de Carlos que a admirava um tanto espantado com aquela decisão inesperada.
___ Me espere daqui a duas horas, no ponto baixo da fazenda.
___ E seu pai, o que...
___ Depois verifico isso.
___ Mas...
___ Vá que vou arrumar minhas coisas, partiremos hoje mesmo, não é isso?
___ É – confirmou Carlos meio perdido naquela situação tão imprevista.
___ Não tema, eu estarei agindo por vontade própria.
___ Está bem – concordou Carlos não menos tranqüilo do que antes.
Conforme combinado, Rosalinda e Carlos embarcaram e naquela viagem tomaram um rumo novo planejando como seria a convivência dentre eles.
No dia seguinte, após a visita de Diogo na fazenda, mesmo sem a permissão de Luiz, uma das estatuas de relíquia que ficava na estante da sala simplesmente não estava mais no lugar e nenhuma das empregadas sabia sobre o paradeiro do objeto. Ao descobrir por investigações próprias que Diogo estivera na fazenda momentos antes, Luiz acusou-o de roubo e ligando para a polícia, o rapaz foi levado para a delegacia. Irritado, Luiz acusou Diogo de tê-lo agredido depois de entrar em sua casa sem ser convidado. Porém, Pascoal em sua confissão desmentiu o patrão e afirmou que Diogo era convidado de Rosalinda, para não ter de dizer o nome de Carolina, que já era uma moça comprometida e qualquer sinal deixaria claro o fato de que ela estava traindo seu esposo Rafael.
Ao retornar para a fazenda foi que Luiz ainda irritado resolveu conversar com Rosalinda e então descobriu que ela desaparecera. Percebendo os boatos dos demais trabalhadores que os vira sair juntos, Luiz encobriu a verdade e disse a Rodolfo que Carlos José raptara Rosalinda e que essa era a versão que todos já estavam comentando. Mesmo sabendo do envolvimento da filha com Carlos, por hora, Luiz achou mais prudente fingir que estava enfurecido e garantiu a Rodolfo que Carlos José pagaria muito caro pelo que fizera, ainda tendo em mente o ocorrido com Amélia dias antes.
Carolina assim que ficou sabendo que Diogo estava preso, exigiu que o pai retirasse a acusação que fizera contra ele, porém Luiz disse que não ia atender ao pedido da filha. Rafael ao notar que Carolina estava desesperada com a prisão de Diogo, brigou com ela e tentou violentá-la, porém ela o esbofeteou e voltando para a fazenda foi dormir no quarto de Rosalinda.
No dia seguinte, Carolina inquieta conversou com Julia e implorou por sua ajuda. Assim, depois de muita insistência, Dra. Julia pediu a Luiz que retirasse a denúncia feita contra Diogo, pois o acusara sem provas e sabia que o rapaz era inocente. Verificando que Julia era advogada de Tiago e que a situação poderia se tornar pior, Luiz garantiu que ia retirar as queixas e mandaria libertarem o rapaz para a felicidade de Carolina, porém só faria isso depois de três dias, para garantir que depois de tal ocorrido o rapaz não retornasse a fazenda. Aquele período de cárcere lhe seria dado como um castigo de aprendizado.
Já sabendo que Diogo ia ser libertado em alguns dias, Carolina resolveu ir visitá-lo para contar tal notícia, porém, ao chegar lá, para sua grande surpresa, encontrou-se com Luzia, uma jovem desconhecida que se apresentou como namorada dele. Carolina, visivelmente irritada, foi embora e pouco lhe faltou para pedir ao pai que não retirasse mais a queixa.
___ É sua ex-namorada? – questionou Luzia assim que Carolina saiu.
___ Sim – mentiu ele se irritando também com aquela situação.
Amélia, satisfeita pelo sumiço de Rosalinda, questionou Luiz quem ia cuidar dos assuntos que estavam sob os cuidados da administração dela, dizendo com todas as letras que Rosalinda não era uma filha de confiança e comprometimento. Luiz perguntou sobre sua gravidez, uma vez que sua barriga e corpo continuavam sem nenhuma alteração. Amélia garantiu que marcara um exame médico e se vendo pressionada pela mentira que inventara, subornou um médico já seu conhecido para que este dissesse a Luiz que ela perdera o bebê.
Conversando com Pascoal, Rodolfo descobriu que Rosalinda não fora raptada, mas sim que fora embora com Carlos por livre e espontânea vontade.
Após longa e demorada conversa, Luiz e Rodolfo resolveram ir atrás de Rosalinda e sendo influenciado, Luiz pediu ao delegado que prendesse Carlos José afirmando falsamente que ele seqüestrara sua filha. Rodolfo, cheio de ódio, ameaçou matar Carlos José. Diva, ao perceber que Luiz não estava agindo corretamente como um pai que deseja a felicidade dos filhos, disse-lhe que Rosalinda não traíra ele ou o abandonara, mas apenas era uma mulher apaixonada que decidira ser feliz ao lado do homem amado.
Carolina e Carol perguntaram ao pai o que ia acontecer com Rosalinda. Luiz sendo taxativo, disse que ela fora embora por vontade própria e, portanto, nunca mais ia por os pés naquela casa. Luiz criticou a atitude de Rodolfo em ameaçar Carlos José diante dos policiais e disse que precisavam ter cuidar para que nada lhe acontecesse, caso contrário, seria apontado como suspeito.
Uma semana depois de bem instalados numa cidade de interior, Carlos José pediu Rosalinda em casamento e aceitando o pedido ficaram noivos no mesmo dia. Carlos comunicou suas filhas e pediu a elas que aceitassem Rosalinda como uma segunda mãe. Pilar ficou feliz com a notícia, ao contrário de Helena.
___ Não gosto dela. A partir de hoje não tenho mais pai, está bem assim? – foi o único comentário de revolta comentado por Helena.
Rafael, completamente bêbado, agrediu Carolina fazendo ela agir precipitadamente. Diva ao encontrá-la em tal estado, verificou ao lado dela um vidro de comprimidos completamente vazio. Assustada, Diva pensou que a jovem estivesse morta. Sem saber o que fazer, Diva chamou uma ambulância.
Luiz chegou ao hospital pouco depois da jovem ser levada de maca pelos corredores do agitado local. Diva entregou-lhe uma carta de despedida que Carolina escrevera e com isso acusou o patrão pelo que acontecera, perguntando se ele não sentia remorso ao ver sua filha à beira da morte. Pascoal também culpava o patrão pelo que acontecera com Carolina. Luiz não conseguia dizer nada e estava em completo choque, principalmente quando o médico comunicou-lhe que Carolina estava em coma e só um milagre poderia salvá-la.
Rosalinda, após receber um telefonema de Diva, procurou a maneira mais rápida de ir imediatamente ao hospital e assim que lá chegou, encontrou com Luiz que a ignorou completamente. Sendo humilde, Rosalinda tentou conversar com o pai e Luiz disse-lhe que se ainda tinha alguma consideração por ele, não deveria fazer nenhum comentário sobre Amélia, pois não tinha caráter moral para tal. Desviando o assunto, Rosalinda lhe disse que Julia suspeitava dele ter participação na morte do irmão de Joaquim. Diante da situação de constrangimento por ambas as partes, o silêncio predominou e nada mais foi dito.
Enquanto isso, Diva contava ao filho que Carolina tentara se suicidar e que seu estado era muito grave. Diogo foi de prontidão ao hospital para ver Carolina e logo na recepção, Rafael tentou impedir sua entrada. Diogo o agrediu e entrou exigindo que queria ver sua amada naquele momento mesmo. Ao entrar no quarto, Diogo sentiu pesadas lágrimas escorrer por seu rosto e dizendo palavras de amor para Carolina, que continuava inconsciente, não percebeu que Luiz também entrara no quarto. Luiz, ficando furioso, exigiu que Diogo fosse embora. Enquanto os dois discutiam, Carolina abriu os olhos e começou a recobrar a consciência.
Luiz e Diogo ficaram emocionados ao ver que Carolina começava a reagir. O médico, entrando em seguida no quarto, disse a Diogo que sua presença ia ser muito importante para a recuperação de Carolina e pediu a ele que ficasse ao lado dela por mais tempo. Luiz, em tom ameaçador, pediu a Diogo que rezasse pela saúde de Carolina, pois se ela morresse, seus dias estariam contados.
Carolina voltou a si aos poucos e Diogo contou-lhe então que haviam sido vítimas de uma injustiça. Dias depois, ao ver todos reunidos no quarto, Carolina pediu perdão e aproveitou para comunicar que pretendia se divorciar, pois não suportaria viver ao lado de Rafael por mais muito tempo.
___ Se pretende me dar esse desgosto, então é melhor que também vá embora de casa – respondeu-lhe Luiz irritado encarando as outras filhas, sem aceitar aquela idéia. – Na minha opinião, deve continuar casada e além do mais, seu marido merece ser respeitado.
___ Pois para mim, um homem que violenta a própria esposa não merece respeito.
Carolina contou a todos que Rafael a agredira e violentara de modos inescrupulosos e, por isso, tentara o suicídio. Luiz, ao saber daquilo ficou imensamente revoltado e irritado com Rafael, uma vez que para conquistar sua filha precisava logicamente ser atencioso e não violento. Posteriormente, disse à filha que ela também era culpada pela atitude de Rafael, pois ele era seu marido e tinha direito a tê-la na cama conforme quisesse. Com tal afirmação, Luiz deixou claro que não permitiria o divórcio.
Na saída do hospital, Rafael e Diogo se encontraram gerando um clima péssimo e desagradável para todos com uma discussão violenta e agressiva.
___ Nunca vou me divorciar – garantiu Rafael verificando que Luiz o apoiava em sua decisão.

Inácio pediu à mãe que o levasse até a casa de seu pai, pois precisava lhe dar o seu apoio. Julia levou o filho para ver o pai, mas, ao chegar lá, Rodolfo completamente bêbado, expulsou Inácio de sua casa. Julia, indignada com a atitude do ex-marido, deu-lhe uma bofetada e disse que admirava Rosalinda por ter lhe dado um pontapé.
___ Inácio, apesar de ser um menino, é muito mais homem do que você – completou Julia cheia de rancor.

Na tarde daquele mesmo dia, Joaquim marcou um encontro com Carol e numa conversa franca disse-lhe que estava perdidamente apaixonado por ela e a pediu em casamento. Ela também afirmou que continuava apaixonada por ele, mas com tanta confusão pelo casamento mal sucedido de sua irmã, não se sentia preparada ainda para casar. Como a resposta não era um não direto, Joaquim aceitou e os dois continuaram conversando:
___ Tenho uma proposta para lhe fazer - disse ela sorridente.
___ Diga, o que é?
___ Uma sociedade para abrir uma escola de equitação.
___ Me parece uma boa idéia.
___ Quer dizer que aceita?
___ De imediato.
Carol sorriu impressionada com a aquiescência de Joaquim e envolvida num clima propicio beijou-o mais de uma vez.

Enquanto isso, num canto mais afastado da fazenda, Amélia conversava com Rafael e num tom provocativo, acabara de perguntar-lhe se era verdade que violentara Carolina.
___ Não posso acreditar que você seja esse tipo de homem – acrescentou ela.
Rafael sem dar-lhe resposta, encurralou-a contra o tronco da árvore que lhes proporcionava a fresca sombra e a beijou num jogo de perigosa sedução.
Diva, que estava indo recolher os ovos no cercado das galinhas logo mais abaixo, repentinamente flagrou Amélia e Rafael se beijando e, furiosa, chamou os dois de imorais.
Amélia, não acolhendo o xingamento, esbofeteou Diva com força. Rafael, por sua vez, se preocupou na certeza de que a governanta contaria tudo a Luiz.
___ Já enfrentei inimigos muito piores e mais perigosos – comentou Amélia em tom superior e praticamente de ameaça.
Diva também se manteve firme demonstrando que não tinha medo algum. Amélia, não querendo levar a pior, insultou Diva e a esbofeteou partindo para uma briga de tapas e rebeldia total.
Na primeira oportunidade que teve, Amélia pediu a Luiz que demitisse Diva alegando que a senhora não estava mais fazendo o seu serviço conforme lhe cabia. Achando que Amélia não estava sendo coerente em suas observações acerca do trabalho da governanta, Luiz apenas garantiu que Diva continuaria trabalhando para ele ali na fazenda e deixou claro que nunca se desagradara do trabalho exercido por ela, pelo contrário, gostava muito da atenção dela para com suas filhas. Ao mesmo tempo, Diva contava para Pascoal que Amélia e Rafael eram amantes.
Amélia pretendia tornar a situação ainda mais complicada para aqueles que não lhe eram afins e de tal forma, se oferecera para pagar o melhor advogado da cidade e assim acabar de vez com o relacionamento de Carlos José e Rosalinda.

Na casa das filhas de Carlos, Helena criticava Pilar por se preocupar tanto com Rosalinda e lembrava à irmã que a moça não era nada delas.
___ Não sei porque fica assim tão ansiosa e preocupada, sabe que não temos nada a ver com essa Rosalinda.
___ Mas mesmo assim eu gosto dela e além do mais, ela vai se casar com nosso pai.
___ Preferiria que nosso pai estivesse fazendo as pazes com nossa mãe.
___ Pois esquece isso, pelo pouco que conheço de nossa mãe, ela nem cogita essa possibilidade de reaproximação. Você é que precisa mudar seus conceitos e encarar numa boa as decisões do nosso pai.
___ Pois nosso pai não aceita a minha amizade com Inácio, porque tenho de concordar com o envolvimento dele e Rosalinda? Alias, sabe que ela atrapalhou tudo, só porque namorava Rodolfo, o pai do Inácio. Ainda quero dizer na cara dela que a odeio e que nunca permitirei que se case com nosso pai, pois espero que um dia ele e nossa mãe voltem a viver junto.
___ Mamãe sofreu muito com a separação, mas não acho que retornaria a viver com nosso pai. Sabe que essa sua maneira não vai resolver nada e apenas irá irritá-lo.
___ Não adianta tentar me manipular colocando-me a favor de Rosalinda.

Dias depois, indo até a fazenda, Carlos José deixou um recado com Diva implorando-lhe para que o entregasse a Rosalinda. No pequeno papel, marcava um encontro com hora e local determinado. Ao receber o comunicado, Rosalinda compareceu ao encontro e suas primeiras palavras foram para demonstrar que já estava cansada de ter com ele um relacionamento como se fossem amantes.
___ Quero um companheiro para estar comigo em todos os momentos, não agüento essa situação, encontros escondidos, fuga do meu pai, abandono da minha família, estou cansada disso – revelou ela realmente detestando a situação em que se encontrava.
___ Tenho algo mais grave para lhe falar – ele comentou mudando de assunto.
___ O que foi?
___ Primeiramente quero dizer que te amo e nunca vou abandoná-la, mas o motivo real desse encontro foi para lhe questionar sobre outro assunto.
___ Diga, está me deixando preocupada.
___ Quero saber se foi você quem disparou contra Amélia e Rafael.
___ Como assim?
___ Ainda não sabe?
___ Saber do que, fale logo – disse Rosalinda surpresa.
___ Amélia e Rafael foram baleados aqui na fazenda.
___ Quando?
___ Antes de ontem. Estou preocupado contigo, não quero que vá presa.
___ Mas não fiz nada, nem estava sabendo, como pode... – dizia Rosalinda demonstrando seu espanto e desentendimento pelo que pudera ter ocorrido.
___ Não adianta fingir e fazer-se de inocente.
___ Como você pode pensar uma coisa dessas a meu respeito, acha que fui eu? – perguntou Rosalinda mais triste do que irritada.
___ A perícia está convencida que Luiz foi o autor dos disparos. Julia garantiu que vai defendê-lo.
___ Como pode um caso de assassinato ocorrer bem debaixo do meu nariz e eu não ficar sabendo? – intrigou-se Rosalinda.
___ Pois achei que já soubesse.
___ Venha, vamos esclarecer essa historia agora – disse Rosalinda decidida.
Reunindo alguns dos trabalhadores mais íntimos da fazenda, Rosalinda quis saber o que acontecera por ali e que comentário era aquele de que Rafael e Amélia haviam sido baleados.
Na delegacia, o policial mandou prenderem Diva que acabara de confessar ter disparado contra Amélia e Rafael e logo em seguida, ordenou prisão a Rosalinda sem dar explicações, como se ela fosse cúmplice do ato. Diva se vira pressionada a confessar algo que não praticara e assim o fizera também na intenção de encobertar Rosalinda, imaginando que ela fosse a culpada.
Belchior ao ver Diogo, contou-lhe que sua mãe estava presa, pois confessara ser a autora dos disparos contra Amélia e Rafael. Diogo indo imediatamente até a prisão, exigiu que a mãe explicasse porque fizera aquilo. Diva respondeu que não suportava mais ver os dois debochando do Sr. Luiz. Diogo, decepcionado, conclui que a mãe agira assim por amor ao homem que ele mais odiava e, no entanto, pai da pessoa mais marcante em sua vida. Pouco depois, foi ver Carolina e ainda nervoso, comentou com ela que Diva se transformara em uma assassina por causa de Luiz, e assim, a única coisa que podia sentir pela família de Carolina era ódio. Carolina num estado de depressão, perguntou se ela também estava incluída no ódio que ele estava sentindo. Diogo respondeu que sim e irritado disse-lhe que ela também colocara seu pai acima do amor que sentiam um pelo outro quando decidira se casar com Rafael.
Julia conseguiu libertar Rosalinda enquanto Diva permanecia detida. Na mente de todos, se acreditava que Diva assumira a culpa para livrar Rosalinda do crime, mas não acreditavam que a própria Rosalinda também tivesse sido capaz de atirar contra Rafael e Amélia. Enfim, ninguém sabia ao certo o que, quando e como tudo acontecera.
Enquanto o tumulto se formava na delegacia, Rodolfo acabara de chegar ao hospital fazendo uma visita para Amélia que há poucos minutos recobrara a consciência. Ali existia algo que ninguém sabia, Rodolfo e Amélia eram cúmplices desde o inicio e o plano dos dois sempre fora de extorquirem monetariamente a família e o próprio Luiz. Como Amélia dormia num sono profundo, Rodolfo resolveu que voltaria no dia seguinte.

Assim que Rodolfo saiu do hospital, Luiz chegou indo diretamente ao quarto donde lhe informaram estar Amélia. Revoltado por descobrir que ela mantinha um caso com Rafael, tentou enforcá-la. As enfermeiras entraram no quarto, mas ele fingiu que a estava acariciando-a e de tal forma, pediu para ficar sozinho com ela. Assim que as enfermeiras saíram, ele acordou Amélia e com a mão em seu pescoço, disse cinicamente com furor nos olhos, que a amara tanto que não queria mais vê-la viva, por isso, ia ajudá-la a morrer. Amélia tentou convencê-lo de que ainda o amava, mas suas palavras eram em vão.
Luiz estava praticamente quase matando Amélia enforcada quando o delegado entrou no quarto com a intenção de falar com Luiz e Amélia juntos.
Depois da reconstituição do crime e tendo em conta a versão contada tanto por Amélia quanto por Diogo, o delegado descobriu que Inara, uma jovem índia da fazenda ao lado, fora à autora dos disparos. Com tal descoberta, deu ordens para que Diva fosse colocada imediatamente em liberdade e explicou a Luiz a conclusão de que Inara era a culpada. Ninguém conseguiu fazê-la depor e explicar o porque disparara os tiros ou onde arrumara uma arma.
No dia seguinte, Amélia teve alta e com medo de Luiz, mandou um amigo ir buscar seus pertences na fazenda.
Carlos José estava com as filhas na casa de Luiz, e anunciava seu casamento com Rosalinda quando foram interrompidos pela presença do desconhecido que fora buscar as coisas de Amélia. Achando o momento proveitoso, Luiz deixou claro que não queria nunca mais ver Amélia em sua frente.
Assim que o rapaz saiu carregando as coisas de Amélia, Luiz pediu a Diva que buscasse o melhor vinho que tinha na fazenda e propôs que comemorassem aquele momento como se fosse o pré-noivado de sua filha mais velha. Carlos estava abrindo a garrafa quando Carolina adentrou pela porta na companhia de Diogo.
___ Boa tarde para todos – cumprimentou ele num sorriso sem graça.
Carolina pegou na mão de Diogo e mostrando-se ainda fraca disse que queria ir para o quarto. Ainda fraca pela tentativa de suicídio, Diogo pegou-a no colo e subiu as escadas levando-a pacientemente. Seu amor por ela era muito maior do que qualquer ressentimento que mantivesse com sua família. Além do mais, tudo demonstrava a decepção e arrependimento que Carolina tivera com se casar com Rafael.
Deixando-a no quarto, acomodada sobre a cama, Diogo retornou para a sala após despedir-se de Carolina com um caloroso beijo. Vendo-se frente a frente com Luiz, muitas coisas passaram-se por sua cabeça, mas poucas palavras ele foi capaz de pronunciar.
___ Quero lhe pedir desculpas por tudo, não quero que tenha ódio de mim, confesso que o erro foi meu, quis casar minha filha com Rafael e desprezei você por sua situação financeira. Quero oferecer-lhe meus cavalos e de hoje em diante, coloco-me favorável ao seu relacionamento com minha filha, dou-lhe todo o apoio e inclusive mudei de idéia, ajudarei ela a se divorciar de Rafael.
___ Se é assim, quero aproveitar a oportunidade para pedir Carolina em casamento.
___ Sim, você tem meu consentimento. Sei que cuidará muito bem de minha filha.
Diva sorria contente por presenciar aquela conversa entre os dois.
___ Sente-se conosco então, vamos comemorar o noivado de Rosalinda e Carolina junto, que tal? Digo a vocês dois que quero ter muitos netos, entenderam bem? – brincou Luiz.
Durante a comemoração, Helena pediu perdão a Rosalinda pelos maus momentos que a fizera passar.
Exatamente naquele mesmo instante, Amélia chegava na fazenda armada com um revólver na intenção de invadir a casa de Luiz e se não fosse por Rodolfo que a interceptou, a confusão teria sido destruidora. Achando melhor conversar com ela e tentar acalmá-la, Rodolfo levou-a para sua casa.
Verificando que a porta estava aberta, Julia adentrou pela casa a procura de Rodolfo para conversarem sobre Inácio, mas de imediato, ela se aquietou ouvindo a voz de Amélia.
Rodolfo, aparecendo na sala, ficou surpreso por ver Julia ali dentro e perguntou o que ela faz ali.
___ Vim para conversarmos sobre o reajuste da pensão de Inácio. Está com visitas? – questionou ela propositalmente.
___ Não, estou sozinho.
___ Pensei ter escutado a voz de Amélia.
___ Nunca tive nenhuma intimidade com Amélia para recebê-la aqui na minha casa, todas as vezes que conversei com ela foi por consideração ao Sr. Luiz.
Julia nada mais questionou e assim, conseguiu ser enganada por Rodolfo. Ela já estava de saída quando o delegado adentrou também pela mesma porta e mostrou a ordem para prender ele e Amélia, comunicando a Julia que Rodolfo era cúmplice de Amélia. Assim, os dois foram levados para a cadeia.
Concluindo suas investigações, Julia foi procurar Rosalinda e mostrou todas as provas obtidas de que Rodolfo e Amélia haviam mandado matar o irmão de Joaquim para tentar incriminar Luiz. Rodolfo pretendia se casar com Rosalinda e teria livre acesso em toda a questão financeira da família, passando sempre a metade de tudo que conseguisse para Amélia que da mesma forma, sempre pressionara Luiz para se casarem também. Luiz parecia incrédulo com tal fato e admitiu que seria o pior homem do mundo se Rosalinda houvesse se casado com Rodolfo.
___ Investiguei tudo conforme me pediu e tenho aqui todo o histórico de vida de Amélia e inclusive de seus familiares. A família de Amélia era muito tradicional, viveram nesta cidade também desde os tempos em que o lugar não era mais que um vilarejo.
___ Ela nunca me contou nada sobre sua família, dizia que esse assunto a desagradava muito – comentou Luiz revelando que de nada sabia sobre o passado de Amélia.
___ Sua mãe também era uma mulher trabalhadeira, mas vivia por conta do lar. Casara-se com o pai de Amélia, apaixonada pelo homem no uniforme, mas passado cerca de vinte e cinco anos, não existia mais muita coisa em comum entre eles. Ela passou então a se dedicar em obras de caridades, chás beneficentes e fofocas com as amigas. Muito simpática e bondosa, me parece pelas investigações feitas que ela era sempre bem vinda em todos os lugares. O pai dela se aposentou como capitão marinheiro e sempre foi o patriarca da família. Seu maior passatempo era fazer longos passeios à beira mar e ficar olhando o oceano. Diziam sempre que o mar ocultava algum segredo de seu passado, o que explicaria o seu olhar sempre distante, sua atitude de poucas palavras e sua falta de senso de humor. Era um homem de poucos amigos. No dia do aniversario de sua mãe, foi promovido um baile fantasia. Durante a semana toda foram sendo feitos os preparativos da festa, as comidas, a decoração, a limpeza da prataria, as confirmações dos convites. O telefone não parava de tocar e os empregados ficavam indo e vindo arrumando tudo conforme o melhor que podiam conseguir.
___ Ela tinha irmãos?
___ Sim. Irineia era uma de suas irmãs. Considerada excêntrica e esquisita, vivia sempre lendo. Era uma moça de poucas palavras como o pai, mas de muito conhecimento. Parecia ter uma paixão secreta por Agenor, ou por Alex.
___ E quem era Alex?
___ Alex era um homem acostumado a tudo do bom e melhor, como os melhores amigos, as melhores namoradas, as melhores roupas, as melhores comidas. Sempre muito mimado e adulado, se interessava por Amélia, que considerava o melhor partido da cidade.
___ E Agenor?
___ Agenor era uma pessoa simples e despretensiosa. Estudou medicina e se especializou em patologia. Sempre viveu rodeado de amigos, era considerado como a alegria das festas. Tinha uma paixão de infância por Amélia, achava que ela ficara bonita, atraente e irresistível depois de voltar da Europa.
___ Nunca imaginara que Amélia houvesse estudado no exterior – comentou Luiz. – Muito menos que fosse tão cobiçada dessa forma – finalizou ele.
___ Certo, continue. Como era Amélia? – perguntou Rosalinda.
___ Amélia era a neta favorita da família. Muito estudiosa, formou-se advogada na Europa e voltou para trabalhar na cidade onde nascera. Muitos esperavam que ela fosse rapidamente se casar com Agenor, seu amor de infância, mas isso não aconteceu. Tico, alguém cujo nome ainda repetirei muito, morava numa casa de praia, ao lado de um antigo cemitério. Ter um cemitério perto de casa era uma idéia meio arrepiante, mas a casa era tão bonita, logo ali do lado do mar, que a beleza do local compensava os estranhos visitantes noturnos. Como a família de Amélia precisava que alguém cuidasse do antigo cemitério, aceitaram alugar a casa para ele bem baratinho. Tico era casado com Laíne que o ajudava a manter o cemitério limpo das folhas secas, arrumado e fechado, só abrindo quando algum familiar aparecia para visitar os falecidos. Laíne tinha duas paixões, cozinhar e cuidar de plantas. Aproveitando esses dois talentos, Laíne trabalhava meio período como jardineira, meio período como garçonete. Extrovertida e alegre, para Laíne a esquisitice de morar ao lado de um cemitério era apenas um detalhe arrepiante que seu amor por Tico pôde superar. Outra pessoa que vale a pena comentar se chamava Frederico. Era um homem que estava sempre muito interessado em saber o que acontecia em sua volta, mas nem sempre as pessoas conversavam perto dele. Frederico trabalhava em muitas casas para muitas pessoas diferentes, de alguns ele gostava, de outros, não. Particularmente, ele achava Amélia muito bonita. Sua melhor amiga era Laíne.
___ E o avo de Amélia?
___ Conta-se que o avô de, como muitos antepassados da família, foi um homem do mar. Conheceu a bela Eliza Amélia nas Ilhas, apaixonou-se e casou-se com ela. Quando retornava de uma de suas viagens, descobriu que a esposa falecera logo após o nascimento do segundo filho. Depois disso, o almirante isolou-se completamente de todos, nunca mais participou de nenhum evento social, ocupando-se apenas com as viagens que o dever lhe obrigava a fazer. Seu isolamento piorou após o falecimento da irmã, Solange. Pelo que se sabe, jamais foi feito um retrato de Eliza Amélia, a avó de Amélia.
___ Me fale mais sobre Solange.
___ Ela possuía incríveis dotes artísticos, era inteligente e sociável, brilhando em todas as festas. Não chegou a casar-se e faleceu de uma doença desconhecida ainda jovem.
___ Amélia tinha tios ou tias?
___ Sim. Eduardo, um dos seus tios, perdera a mãe no nascimento e fora educado por seu tutor e sua governanta. Com dezessete anos, seguiu a tradição navegante da família, tornando-se capitão com apenas vinte e dois anos. Casou-se em com Valéria e teve dois filhos, Edalberto e Julhya. Morreu de um ataque fulminante do coração, um ano após a morte da filha.
___ E quem era Valéria?
___ Valéria originou-se em uma família pobre. O tio de Amélia conheceu-a em uma de suas viagens e trouxe-a como esposa. Dizem que rapidamente a simples camponesa se acostumou aos hábitos nobres como se tivesse nascido e crescido ali. Adorava festas, e sua casa tornou-se famosa pelos grandiosos eventos que promoveu durante sua vida. Dizem alguns que morreu de tristeza após a perda da filha e do marido.
___ Como sua filha morreu?
___ Julhya faleceu em circunstâncias misteriosas quando completava vinte anos. Foi encontrada na beira da praia, mas não tinha se afogado. Nunca se soube como ou por que faleceu. Dizem alguns que ela morreu de decepção. Já Edalberto, foi um dos mais famosos representantes da família na marinha. Lutou em várias guerras, sobreviveu a todas elas, casou-se com Maria Terez, uma mulher simples que lhe deu quatro filhos falecendo de causas naturais. Dizem que Maria Terez era muito caseira, mãe dedicada, adorava jardinagem, cuidar da casa e cozinhar. Seus quatro filhos foram Eleonora, que faleceu jovem de uma doença diagnosticada de ultima hora, o pai de Agenor, que se tornou capitão na marinha, casou-se e teve dois filhos, Otávio e Eloísa, que faleceram num terrível incêndio, Alberto que se tornou rapidamente almirante e foi dado como desaparecido no mar durante a guerra e por ultimo, Felícia, uma jovem que nunca casou, juntando-se a uma ordem religiosa e tornando-se reclusa.
___ Estava contando sobre a festa de aniversario, continue o relato – pediu Rosalinda.
___ Na época da festa, Amélia acabara de se formar como advogada, ingressara na carreira política e namorava Agenor, que estava fazendo residência num hospital da cidade. Por ela, eles se casariam logo, mas Agenor não tinha pressa, querendo primeiro se formar. Durante a festa, Alex, decidido a fazer com que Amélia tomasse uma atitude em relação a ele, aproveitou a oportunidade em que o encontrara sozinha na cozinha, para declarar seu interesse por ela.
___ Amélia tinha interesse por ele também?
___ Não. O interesse não era mútuo e Amélia veementemente deixou claro que não sentia absolutamente nada por ele. Amélia disse que ele estava confundindo amizade com outra coisa e garantiu que há anos era apaixonada por Agenor. Alex pediu-lhe uma chance donde pudesse mostrar para ela o quanto podia e pretendia fazê-la feliz. Amélia respondeu que sentia muito, tinha muito carinho por ele, mas não queria nenhum envolvimento maior e assim, não tinham a menor chance de serem namorados. Dizendo isso, Amélia encerrou a conversa e se retirou antes que se aborrecessem um com o outro. Magdala, que escutava tudo de trás da porta, entrou e zangada questionou se era verdade que Alex estava interessado em Amélia. Ele afirmou e assim, Magdala propôs-lhe um trato donde um ajudaria o outro. Ela ia explicar-lhe o trato quando Frederico, o empregado da casa, entrou na cozinha e os dois se viram obrigados a calar. Procurando um local mais reservado os dois saíram para o corredor. Apesar de só ter ouvido o finalzinho da conversa, Frederico ficou pensando no que poderia estar por trás daquilo. Decidiu então que ia ter uma conversa discreta com os demais empregados da casa para saber mais, e que ficaria de olho naqueles dois conspiradores. Muito provavelmente, Juca, o zelador ou Laíne, a jardineira, poderia saber alguma coisa. Mais tarde, no mesmo dia, Amelia estava trabalhando em seu computador quando recebeu um estranho e-mail.
___ Essa historia está ficando interessante e curiosa.
___ Ela não conseguiu saber quem era a pessoa que lhe enviara, e o conteúdo da mensagem era no mínimo intrigante que fez ela ficar imaginando quem lhe mandara aquilo, uma vez que seu endereço de e-mail era novo, e ainda não tinha sido divulgado para ninguém. Era realmente um e-mail muito esquisito. Enquanto isso, no salão, a mãe de Amélia atendia um estranho telefonema. Naquela noite, Agenor apareceu para uma visita, e Amelia ficou tão encantado com o charme dele que esqueceu completamente de comentar sobre o e-mail. Numa conversa agradável, Amélia convidou-o para darem um passeio pelo jardim. Neste ponto, Amélia não resistiu mais e deu um beijo em Agenor, sem saber que um par de olhos observava por uma das janelas do segundo andar.
___ Certo continue.
___ Desde sua conversa mal-sucedida com Amélia, Alex não tornara a falar com ela. Foi assim que ele e Magdala fizeram seus planos. Enquanto Magdala gostava de Agenor, Alex tinha seus interesses por Amélia. A festa mal tinha começado e já era um sucesso. A casa estava toda iluminada e lotada de convidados. Agenor e Amélia continuavam se beijando quando Alex apareceu no local se desculpando e visivelmente constrangido afirmou fingindo que não os vira ali. Disse que saíra do ambiente festivo na intenção de respirar o ar fresco da noite, pois lá dentro estava muito barulhento e abafado. Achando que Alex era um descarado e mentiroso, Agenor lhe deu um soco no nariz derrubando-o no chão. Amélia ficou desesperada e gritou com Agenor chamando-o de louco. Pouco tempo depois, Amélia entrou na biblioteca, percebendo imediatamente a expressão zangada do avô. Alex já estava lá, e pela expressão contrariada, o avô devia ter dito algo que ele não gostara de ouvir. Seu avô detestava briga e escândalos. Amélia disse que sentia muito pelo ocorrido e garantiu que foi Alex que provocou. Após prometer que se comportaria bem, Amélia retornou para o clima festivo. Enquanto Amélia conversava com o avô, Agenor esperava por ela no jardim e nesse momento, uma mulher alta que ele não conhecia aproximou-se. Ela se apresentou e estendeu a mão. Agenor percebeu que esta estava gelada. Os dois começaram a conversar amigavelmente. Em determinado momento, a mulher passou a olhá-lo de forma tão fixa que ele sentiu medo e ficou aliviado ao ver que Amélia estava voltando. Todos tinham ido assistir à queima de fogos. Agenor contou-lhe sobre a convidada que estivera conversando com ele e depois de discutirem sobre a suposta intrusa e desconhecida, acharam por bem comunicar ao avô de Amélia.
___ E quem era a convidada misteriosa?
___ O avô de Amélia pediu aos seguranças para verificar o local, mas não encontraram nenhum sinal da suposta mulher. Agenor ficou muito preocupado e todos começaram a comentar que ele vira um fantasma. Pensando nisso, chamaram por Laíne, a jardineira. Agenor explicou a maneira como a mulher estava vestida e assim, lhe disse todas as características físicas. Laíne ficou um minuto em silêncio, olhando as expressões de cada um enquanto se decidia. Finalmente suspirou e começou a falar. Contou que vira a mulher, mas não fora na festa, e sim no cemitério, aparecera no meio das lápides certa vez. Especulando o caso, Laíne disse que havia um retrato da mulher no galpão de deposito. Ficaram todos surpresos e silenciosos. Podiam-se ouvir os pássaros cantando no jardim. O deposito ficava sempre trancado. O avô de Amélia pegou a chave na biblioteca e foram todos para lá. Nas paredes havia uma coleção de retratos pintados a óleo que representavam os antepassados da família. Laíne foi até um dos retratos e apontou sem dizer nada. Agenor se aproximou do retrato, de olhos arregalados confirmando realmente o que todos esperavam, era aquela a mulher que ele vira. Como era impossível que tivesse falado com um fantasma verdadeiro, sua conclusão é de que alguém estivesse se fazendo passar por aquela mulher para assustar a família. Especulando Laíne, ela revelou que seu marido também vira a mulher dias atrás. Contando os detalhes, ela relatou que era tarde quando o fato ocorreu, ela já estava dormindo, e Tico já ia dormir também, mas ele escutara um barulho que parecia vir do cemitério e foi verificar. O portão estava aberto, e ele tinha certeza que o havia trancado, como fazia sempre. Entrou no cemitério para verificar se não tinha algum animal mexendo em nada, às vezes cachorros ou guaxinins entram e cavavam buracos. Então ele vira a mulher parada perto das lápides, mas assustado não conversou com ela.
___ Mas, porque está me contando essa historia toda? – questionou Luiz não entendendo onde aquele relato terminaria.
___ Porque vais verificar de quem se trata essa tal de Amélia.
___ Tudo bem, continue então.
___ Achando que tudo estava muito confuso, Laíne e Agenor resolveram ir a uma vidente médium que como todos dizia, ela conversava com os mortos e se comunicava facilmente com o mundo dos espíritos. A misteriosa mulher que Laíne conhecia vivia numa pequena casa de madeira perto do rio. A mulher possuía uma loja de artigos religiosos, mas para consultas espirituais especiais e mais sérias ela recebia as pessoas em casa. Laíne e Agenor chegaram na casa dela cedo, quando a mulher terminava de cuidar de sua horta. Ela os recebeu com um aperto de mão, recolheu os legumes numa cesta, levou-as até a casa, colocou o cesto sobre um balcão na cozinha, abriu uma porta trancada que dava para uma pequena sala onde havia estranhos objetos mágicos, uma bola de cristal, velas, bonecas de vudu e outras coisas arrepiantes, e mandou os dois entrarem com ela. Olhou bem para os dois e mandou que contassem a história toda, sem esquecer nenhum detalhe. A mulher ouviu a história sem fazer nenhum comentário, acendeu algumas velas cheirosas e consultou seus objetos mágicos, sussurrando numa estranha língua para uma caveira colocada sobre a mesa.
___ O que aconteceu?
___ Depois de alguns minutos ela finalmente se virou para Laíne e Agenor e disse que existiam uns espíritos muito perturbados rondando a propriedade donde moravam. Para deixar os espíritos calmos era preciso descobrir o que eles queriam. Segundo ela, existia uma história antiga que precisava ser acertada, mas eles não queriam lhe dizer o que era. A mulher disse que os espíritos iam falar com eles novamente, mas só com eles. Depois, ela aconselhou que levassem flores no cemitério e conversassem com o túmulo da mulher que aparecera. Precisavam convencer ela a aparecer de novo e contar como resolver o problema. A mulher deu algumas velas douradas para Agenor e garantiu que o espírito tinha intenções de ajudar a família, portanto, podiam ficar despreocupados e sem medo. Laíne agradeceu e perguntou quanto custava à consulta. A mulher olhou séria para ela e disse que não cobrava nada, apenas pediria para que pagasse o preço das velas.
___ Eles seguiram as recomendações?
___ Sim. Agenor foi com Laíne até o cemitério da família, parando no caminho para comprar as flores. Ficaram silenciosos por todo o caminho sem dizerem nem uma palavra. Quando chegaram lá, o marido de Laíne ajudou Agenor a colocar as velas e flores nos túmulos. Nenhum dos antepassados foi esquecido, Agenor decidiu que se os espíritos estavam zangados, era melhor tentar acalmar todos o máximo que pudesse. Quando terminaram, Tico deixou-o ali sozinho, pois tinha outras tarefas para fazer. Agenor ficou por ali sentado contemplando os túmulos e o belo jardim. Não havia uma alma por ali, o local era pacífico e bonito. Ele esperou até o anoitecer, mas não aconteceu nada. Tico, cuidando da horta na casa ao lado do cemitério, olhava-o de vez em quando por cima do muro. Escureceu, e Agenor assistiu ao belo pôr-do-sol no mar. As horas se passavam e nada acontecia. Agenor falou baixinho, olhando o túmulo, mas não houve resposta. Ele apenas ouvia o mar calmo e os sons dos pássaros indo dormir. Desanimado, Agenor desistiu e voltou para casa. Enquanto Agenor visitava o cemitério da família, um estranho acontecimento ocorreu na propriedade donde morava, o princípio de incêndio ocorreu no antigo fogão da cozinha quando a avó de Amélia preparava um doce de maçã. Os bombeiros chegaram a tempo de evitar que o fogo se espalhasse e ninguém se machucou. A avó de Amélia, muito abalada com o incidente, foi se deitar com uma forte dor de cabeça. O Pai de Amélia ficou muito preocupado com o ocorrido e pediu aos bombeiros que verificassem a origem do fogo. Os bombeiros examinaram o fogão, mas não encontraram nada que indicasse defeito ou alguma explicação lógica para o fogo ter começado. Parecia que o conteúdo da panela simplesmente tinha se incendiado, e o capitão dos bombeiros sugeriu que talvez a avó de Amélia tivesse sido descuidada, mas aquilo parecia uma explicação pouco provável. A avó de Amélia era muito meticulosa em tudo que fazia e nunca tinha sofrido um acidente na cozinha como aquele em toda sua vida.
___ Puxa! Que estranho. Isso está se tornando uma historia macabra.
___ Pois preste atenção que o final é surpreendente.
___ Então continue, vamos logo com esse relato – pediu Rosalinda.
___ No dia seguinte, Agenor resolveu começar a fazer pesquisas sobre a família de Amélia. Ele foi até a propriedade, instalou-se na biblioteca e começou a revirar os antigos livros em busca de qualquer informação que pudesse ser útil. Encontrou os registros oficiais da família, alguns diários de bordo antigos, mas nada neles dava qualquer pista de por que os mortos estariam tão perturbados. Não havia muitas referências ou detalhes das histórias pessoais deles nos registros ou nos diários de bordo, até onde Agenor conseguiu ler. Anoiteceu rapidamente e Agenor sentiu-se cansado e sem ânimo. Além de não ter encontrado nada de útil, ainda havia muito material para ler. Repentinamente alguma coisa chamou sua atenção, era um comentário pequeno sobre uma das antigas salas no fundo da casa. Ela lembrou-se de ter ouvido falar sobre aquelas salas, há muito tempo atrás. Ninguém as usava, estavam abandonadas. Agenor decidiu ir olhar, poderia existir alguma coisa antiga esquecida por lá que o ajudasse a desvendar todo aquele mistério. A primeira porta estava trancada, Agenor teria que pedir a chave para a avó de Amélia para entrar. A porta da segunda sala, entretanto, estava destrancada, e Agenor notou que havia luz numa das janelas mais altas. Ela entrou com cuidado, olhando em volta para ter certeza de que estava sozinho. Sentia o coração batendo assustado, imaginando quem poderia estar usando aquele lugar, e para quê. Estava com medo de encontrar mais fantasmas. Subiu as escadas e viu luz debaixo de uma única porta. Agenor abriu a porta com cuidado e medo, mas o que encontrou ali era completamente diferente do que esperava. A sala continha um escritório completo inclusive tendo varias maquinas de datilografia, com todos os sinais de que alguém devia estar trabalhando ali secretamente. O lugar estava limpo e organizado, com muitos livros e papéis. Ele olhou rapidamente algumas das anotações pregadas no painel na parede, tentando descobrir quem estaria por trás daquilo. Não havia muitas indicações do dono, somente comentários desconexos e complicadas fórmulas de matemática ou física. Agenor escutou o barulho da porta se abrindo lá embaixo e saiu rapidamente para o corredor, rezando para quem quer que fosse, não o visse. Escondeu-se atrás de uns baús e armários antigos e ficou esperando para ver quem estava vindo. Pode ver claramente quando Alex passou por ela carregando uma caixa, entrou no laboratório e trancou a porta.
___ E o que significava aquilo?
___ Não a interrompa – reclamou Luiz.
___ Agenor saiu dali correndo e foi procurar Amélia. Encontrou-a no corredor de entrada da casa. Agenor contou-lhe tudo, mas a reação de Amélia foi lhe dar uma bronca e dizer que ele não deveria ficar bisbilhotando a casa como fizera, pois além de ser perigoso não era algo decente. Agenor estava desconfiado de que Laíne pudesse estar envolvida na historia. Amélia pouco lhe deu ouvidos, ficara zangada achando que ele agira irresponsavelmente e de tal forma não o apoiou em maiores investigações. Os dois continuavam conversando quando a empregada apareceu, interrompendo a conversa. Laíne estava ao telefone, e queria falar com Agenor. Laíne parecia muito perturbada no telefone e revelou que acontecera uma nova aparição no cemitério.
___ Que mistério! – comentou Rosalinda.
___ No dia seguinte, a primeira coisa que Agenor e Amelia fizeram quando Laíne chegou para trabalhar foi pedir-lhe que descrevesse a misteriosa mulher que ela vira e procurasse identificá-la. Todos ainda estavam céticos com relação a tudo aquilo, mas queriam mais informações, especialmente porque queria descobrir se Laíne poderia estar envolvida naquilo que ela acreditava ser uma conspiração contra a família. Laíne confirmou os traços físicos identificando que se tratava da mesma mulher.
___ E quem era essa mulher que estava aparecendo? Porque tinham um retrato dela?
___ Você pergunta de mais – reclamou Luiz novamente. – Não interrompa, continue Dona Julia – pediu ele.
___ Laíne foi cuidar de seus afazeres e Amélia fez Agenor prometer que não conversaria com mais ninguém sobre aquele assunto e que não ficaria revirando a casa atrás de informações. Agenor concordou começando a se sentir aborrecido com a insistência de Amelia em tratá-lo daquela forma super protetora. Sem medo, ele dirigiu-se resolutamente para a biblioteca, enquanto Amelia foi cuidar de seus afazeres, ligeiramente aborrecida com a teimosia de Agenor.
___ Ele descobriu alguma coisa? – questionou Rosalinda interrompendo novamente o relato.
___ Agenor passou o dia todo lendo os diários de bordo, achando interessante os relatos das aventuras marítimas e fazendo anotações num caderno das pequenas e casuais observações pessoais que encontrava referente à família. Tudo que conseguiu foi confirmar coisas que já sabia, o nome de alguns familiares, quantos filhos cada um tinha tido e o nome de suas esposas. Agenor cansou-se de ler tudo aquilo e resolveu guardar os livros. Não estavam ajudando muito. Enquanto recolhia as coisas, o telefone tocou. Agenor resolveu não atender, deixando a tarefa para os empregados. O telefone continuou a tocar insistentemente, e Agenor por fim acabou atendendo impaciente.
___ Quem era?
___ Agenor sentiu-se gelar reconhecendo a voz da pessoa do outro lado. Ele engoliu em seco e respirou fundo para que a voz não saísse trêmula. Era a voz da mulher fantasma.
___ O que ela disse?
___ Agradeceu pelas flores e disse que gostaria de conversar melhor com ele, marcando um encontro no cemitério ao entardecer daquele mesmo dia.
___ E ele foi?
___ Sim. Já havia escurecido completamente quando Agenor chegou no local. Tico esperava-o no portão do cemitério, pálido e sério. Laine comentou que a mulher também ligara para eles e achava muito estranho que espíritos pudessem usar telefone para se comunicar também. Agenor não disse nada e entrou portão adentro observando as lápides. Estava com medo, mas respirou fundo para manter-se calmo, disfarçando seu próprio temor e seguindo pela alameda cercada de árvores. A mulher estava sentada esperando por ele num dos bancos próximo ao seu próprio túmulo. Agenor sentiu vertigem ao vê-la em sua luz espectral, parando onde estava, petrificado pelo medo. A fantasma virou-se para ele e agradeceu a presença ao encontro. A história era complicada de explicar e a mulher não tinha todas as informações que deveria ter para realmente ajudar Agenor. A mulher contou sobre Julhya, a prima de Amélia, filha de Valéria como já disse anteriormente.
___ Sim, a jovem que faleceu e foi encontrada na praia?
___ Essa mesma. Faleceu jovem, num estranho acidente. Caiu do alto dos penhascos na praia, a queda foi fatal. Não acreditavam que ela mesma tivesse provocado a morte, mas ninguém sabia ao certo, pois Julhya não era de conversar muito com ninguém. Julhya saia às vezes para ir até a praia e ficava muito tempo olhando o mar. O espírito da mulher revelou que Julhya estava por ali também e agindo de forma perigosa, para atacar a família. Agenor intrigado perguntou porque ele havia sido o escolhido se nem ao menos era da família. A mulher respondeu que de forma indireta, ele era sim da família e era o único mais propício e preparado para ajudá-los. Agenor sentiu novamente a mesma vertigem que sentira da primeira vez que a encontrara e um incrível peso nas pernas. Ela se inclinou para ele, como se fosse tocar seu rosto. Agenor se levantou num salto, afastando-se dela horrorizada com o pensamento que lhe ocorrera repentinamente. Assustada pediu para que não se encostasse a ele e permanecesse distante. Ressabiado, Agenor saiu correndo. Agenor correu até a casa de Laíne e Tico entrando sem bater. Laíne deu-lhe um copo de água. Agenor ficou alguns minutos em silêncio. Respirou fundo e levantou-se. Decidido de que precisava terminar a conversa com o espírito da mulher, retornou para o jardim.
___ Era corajoso!
___ Agenor retornou ao mesmo local e constatou que a mulher ainda estava ali, parada no mesmo lugar. Pareceu-lhe muito triste e ele sentiu pena dela, pedindo desculpas pela maneira como se retirara. Então a mulher contou-lhe que Julhya tinha brigado com os pais quando faleceu. Não se sabia a razão. Estava ao encargo de Agenor tentar descobrir a razão pela qual Julhya e os pais quase não se falavam quando ela faleceu. Agenor, depois daquela conversa, continuou fazendo suas buscas pela biblioteca da casa de Amélia e procurando numa velha escrivaninha que ficava próxima a porta lateral dos fundos, Agenor encontrou um diário empoeirado e sujo. Aqui está ele – disse Julia retirando um amassado caderno de sua mochila.
___ Como conseguiu encontrar isso?
___ Trabalho com investigações e sei bem desvendar mistérios e achar pistas importantes.
Rosalinda pegou no caderno e começou a ler em voz alta:
___ ...O irmão de Julhya, Edalberto, partiu para a Marinha hoje. Julhya estava triste com a partida do irmão, mas não tão triste como eu esperava. Ela não quer me contar nada, mas eu sei que ela tem visto o jovem Alberto, que pertence ao navio do pai dela. Eu não a censuro: ele é lindo, educado, um verdadeiro cavalheiro – Rosalinda olhou para Julia e antes de continuar a ler, questionou curiosa: - De quem era esse diário?
___ Alguém da família que tinha maiores intimidades com Julhya, eu imagino que seja de Maria Terez.
___ Que era cunhada de Julhya, certo?
___ Isso mesmo – confirmou Julia.
___ Será que eles se apaixonaram? – Rosalinda continuou lendo. - E caso tenham se apaixonado, será que o Capitão aprovará? Julhya sempre mencionou como o seu pai age de forma possessiva e ciumenta em relação a ela, tratando-a como se fosse um tesouro inestimável do qual nenhum outro homem pode se aproximar...
Rosalinda virou a folha verificando as anotações dos dias seguintes:
___ Finalmente Julhya me contou tudo! Ela e Alberto têm se encontrado secretamente no parque. Parece que trocam muitas promessas de amor eterno, muitos beijos e abraços... Alberto está muito bem intencionado. Ele pretende pedir a autorização do Capitão para casar-se com Julhya o mais rapidamente possível.
___ Passe mais para frente – sugeriu Julia que já conhecia o material.
___ Julhya estava muito infeliz hoje. Alberto finalmente foi à casa de sua família para pedir-lhe em casamento e o Capitão ficou furioso! Não apenas ele negou veementemente sua autorização, como expulsou Alberto da casa aos gritos e pontapés! Julhya está desconsolada, ela chorou o dia todo e nada do que tentei para animá-la deu certo. Ela chegou a me assustar, com a raiva que está demonstrando, fiquei com receio que ela faça alguma tolice!... Julhya continua se encontrando com Alberto, às escondidas. Ele deve partir no navio com o Capitão logo após a virada do ano. Julhya continua desconsolada com a negativa de seu pai ao pedido de casamento. Ela tentou conversar com o pai, mas ele se recusou a ouvi-la, ficou muito zangado e proibiu-a de mencionar o nome de Alberto novamente. Imagino como o Capitão ficaria furioso se descobrisse que ela vê Alberto quase todos os dias no parque.
Rosalinda tornou a passar algumas folhas e continuou a leitura:
___ ...Julhya apareceu hoje em casa transtornada de tanta felicidade. Alberto está falando em fugirem juntos. Eu a aconselhei como pude a não cometer tamanha loucura! Ela disse que não se importa com o que qualquer pessoa tenha a dizer a respeito. As relações entre ela e os pais deterioraram a tal ponto que eles mal se falam. Que belo Natal eles terão dessa maneira. É uma situação muito triste e difícil. Eu gostaria que Julhya pensasse a respeito de tudo isso e agisse de forma razoável.
___ Pode ir mais à frente, existem muitos detalhes que não nos interessam – recomendou Julia novamente.
___ O pai de Julhya descobriu que ela vê Alberto em segredo, desobedecendo a suas ordens. Eles tiveram outra discussão terrível. Julhya disse uma coisa que me deixou muito preocupada: que ela sabe de uma forma de forçar seu pai a aceitar a situação. Eu apenas rezo para que ela não faça nada que possa trazer-lhe arrependimento e problemas mais tarde... Julhya me disse que Alberto irá partir antes do previsto. Parece que o Capitão, usando suas influências, conseguiu que o Almirantado faça Alberto embarcar antes do Natal em um outro navio... Julhya, entretanto, não me pareceu muito preocupada com isso. Ela disse que agora não há mais nada que seu pai possa fazer para separá-la de Alberto. Eu perguntei se eles tinham cometido a loucura de se casar em segredo, mas ela apenas sorriu e disse que ainda não. Estou muitíssima preocupada com ela, esta história toda está indo longe demais. Julhya continua sem falar com os pais desde a última discussão. Dona Valéria iniciou os preparativos para a festa de natal, famosa em toda a região. Isso significa que não teremos muitas oportunidades de conversar a sós com o grande movimento de pessoas preparando a festa...
Virando algumas paginas Rosalinda continuou:
___ O Capitão embarcou em seu navio e Julhya com a mãe viajaram repentinamente para a casa de campo dos avôs. Considerando-se que o verão mal começou, é estranho que elas viagem tão cedo, quando o normal seria irem apenas depois da Páscoa. Não tive oportunidade de conversar com Julhya a respeito, pois tudo foi providenciado rapidamente, antes que tivéssemos oportunidade de nos falar...
___ Torne a avançar – recomendou Julia.
___ Finalmente recebi uma carta de Julhya. Ela não me contou muito do que aconteceu entre ela e o pai, disse apenas que tudo irá mudar muito em breve e que ela está feliz e esperançosa. Alberto deverá retornar apenas no final do ano, são comuns as viagens serem muito longas, e parece que o Capitão solicitou que o embarcassem em algum navio que o levasse o mais distante possível. Julhya disse que não está preocupada, que pode esperar todo esse tempo por ele e que terá surpresas muito boas para Alberto quando ele retornar. Ainda me preocupo com ela, tive a impressão que ela está se iludindo para não perceber que está tudo acabado entre Alberto e ela. A carta me deixou muito triste... Recebi também uma carta da mãe de Julhya, Dona Valéria... A princípio fiquei muito assustada porque tive medo que ela tivesse descoberto que eu já sabia de Julhya e Alberto e me censurasse por não ter falado nada. Mas a carta dela era amável, ela disse que sabia que eu sou a melhor amiga de sua filha e que agradecia esta amizade, que ela muito aprecia, mas que Julhya não terá permissão para trocar cartas com ninguém durante algum tempo. Não me atrevo a perguntar aos empregados outra vez se eles sabem de alguma coisa, esta carta me deixou preocupada com minha própria situação de cumplicidade nos segredos de Julhya. Vou evitar até mesmo continuar a escrever meus diários de hoje em diante, porque temo que alguém possa ainda lê-los...
___ Tem uma parte interessante – comentou Julia folheando o diário na mão de Rosalinda. – Aqui, leia esta pagina.
___ Há muito tempo eu não escrevia nada em nenhum diário, mas devido a todos os eventos que ocorreram, não posso continuar sem escrever, preciso desabafar minha tristeza... Vou começar pelo inverno do ano passado, em final de agosto, quando Julhya finalmente retornou de sua interminável estadia na casa de campo dos avôs, acompanhada pela mãe e muito abatida. Durante alguns dias foi impossível falar com ela, mas Dona Valéria me recebeu muito bem na casa, dizendo que infelizmente a filha estava muito doente e não poderia receber visitas, e que por isso elas tinham retornado do campo. Foi o que bastou para minha mãe me proibir de ir a casa deles enquanto Julhya não se recuperasse completamente, com medo de que ela tivesse alguma doença infecciosa. Quase dois meses se passaram até que Julhya saiu de casa pela primeira vez desde sua volta, ela e a mãe vieram até a nossa casa para o chá. Não pudemos conversar a princípio, pois a presença de nossas mães inibia qualquer diálogo mais íntimo que pudéssemos sonhar em ter. Mas finalmente quando o lanche terminou, Dona Valéria sugeriu que Julhya e eu passeássemos um pouco nos jardins para que Julhya tomasse um pouco de sol... Ficamos andando entre as flores e a curiosidade me queimava, eu tinha mil perguntas, mas Julhya sussurrou entre dentes que com certeza estávamos sendo vigiadas e que eu mantivesse apenas uma conversa inocente que qualquer um pudesse ouvir. Assim, a visita delas terminou sem que eu pudesse ter conversado com Julhya decentemente, mas quando Julhya ia embora e foi me abraçar, ela colocou um pequeno papel dobrado em minha mão. Era um bilhete para que eu fosse ao parque no dia seguinte às duas horas da tarde, porque ela encontraria um modo de sair de casa e me encontrar lá. E foi o que ela fez mesmo, pois no dia seguinte às três horas em ponto, ela estava no parque com sua governanta, que não viu nada de mal em deixá-la sentar-se sozinha comigo no banco do parque para conversar, satisfazendo-se em observar-nos de uma distância em que ela não poderia escutar nossa conversa. Finalmente pude saber tudo que acontecera nos últimos meses, e o que escutei de Julhya me deixou profundamente consternada. Julhya realmente cometeu um grande erro naquele início do mês de novembro em que estava tão apaixonada por Alberto. Naquela briga com os pais logo depois do ano novo, a raiva fez com que ela perdesse a prudência e dissesse a eles o que fizera, desafiando-os a tentar separá-la de Alberto naquele momento. Isso explica a fúria do Capitão e a partida inesperada dela e da mãe para a casa de campo: eles temiam que o estado de Julhya se tornasse logo visível e que todos soubessem o que tinha acontecido. Isso mesmo, uma gravidez. Julhya teve seu bebê em final de julho, um pouco antes da data esperada, um menino, ruivo como o pai, Alberto, e como o avô, o Capitão. Apesar das súplicas de Julhya, os pais não permitiram que ela ficasse com a criança. Eles a mandaram para longe, sem dizer para onde ou para quem. Alberto ainda estava no mar, e Julhya não podia comunicar-se com ele. Ela ficou completamente arrasada com por ter sido separada de seu filho recém-nascido, mas seus pais foram intransigentes, eles não queriam permitir em nenhuma hipótese que semelhante escândalo viesse a conhecimento público. Logo depois, Julhya e a mãe retornaram para casa e a mãe usou a história de uma doença para mantê-la escondida enquanto Julhya se recuperava do nascimento do bebê. Parece que deu certo, pois ninguém desconfiou do que estava acontecendo... O que vou contar a seguir eu somente soube mais tarde, quando reconstituíram a história toda. Depois de voltar da casa de campo, Julhya passou a tentar localizar onde estaria Alberto, para escrever para ele e contar-lhe tudo o que acontecera. Ela não foi bem sucedida nestas tentativas, e teve que ter paciência, pois não queria correr o risco de escrever para o almirantado e ter sua carta interceptada. Vivia da esperança que assim que Alberto soubesse de tudo o que ocorrera, eles se casariam rapidamente, Alberto exigiria do Capitão que revelasse o paradeiro de seu filho para que eles vivessem como uma família. Assim todo o tormento de Julhya terminaria e ela poderia ser feliz. Alberto finalmente retornou de sua longa viagem em novembro e Julhya conseguiu mandar-lhe um bilhete para que a encontrasse em segredo junto à casa de praia. Alberto compareceu ao encontro e Julhya finalmente pode contar-lhe tudo que acontecera durante sua ausência. Mas diferente do que Julhya pensava, Alberto não ficou nem um pouco contente com a notícia de que tinha um filho ilegítimo, nem entusiasmado com os planos que Julhya tinha para eles. Alberto tinha sido seduzido com a possibilidade de casar-se com a filha de um dos almirantes que possuía imensa riqueza, e era isso que pretendia dizer a Julhya comparecendo ao encontro: que tudo estava acabado entre eles, que ele ia casar-se e que Julhya deveria esquecê-lo para o bem de todos. Ele sequer importava que Julhya tivera um filho e a notícia de que o Capitão já resolvera a situação satisfatoriamente era para ele um imenso alívio. Alberto tentou convencer Julhya de que se ninguém soubesse, Julhya poderia simplesmente esquecer que tudo aquilo acontecera e casar-se com outra pessoa e que o Capitão certamente já teria feito planos para isso acontecesse. Julhya ficou zangada e magoada com as palavras dele, pois como Alberto poderia pedir-lhe que renunciasse completamente ao seu amor, que ela considerava verdadeiro, e ao filho que ela mal tivera oportunidade de segurar nos braços? Alberto foi embora, não querendo prosseguir com aquela conversa, e Julhya ficou ali na praia sozinha e magoada. É neste ponto da história que ninguém sabe o que aconteceu. Sabemos como foi a conversa entre Julhya e Alberto porque o próprio Alberto relatou isso mais tarde, mas segundo ele, quando ele partiu, Julhya estava viva e muita bem, apenas ficara zangada porque não conseguira obter o que pretendia. A polícia e a família parecem ter acreditado nele, porque não havia motivos aparentes para que Alberto fizesse algo que pudesse comprometer o futuro promissor que se abria diante dele como genro de um Almirante... A família percebeu que Julhya não estava em seu quarto quando a mãe, antes de ir se deitar decidiu ir desejar uma boa noite para a filha. Já passava de meia noite. Fizeram uma detalhada busca no casa e não a encontraram em lugar nenhum. Mandaram um mensageiro à minha casa para me perguntar se eu sabia alguma coisa e tive que suportar com coragem um vasto interrogatório feito por meus pais, que queriam saber até que ponto eu compartilhava dos segredos de Julhya. Se eu soubesse do encontro entre Julhya e Alberto eu teria com certeza contado para eles, mas eu não falava com Julhya há quase um mês... O Capitão organizou uma extensa busca por todos os lugares e ofereceu uma grande quantia de dinheiro para quem encontrasse sua filha rapidamente, mas levou duas horas até que alguém finalmente a encontrou na praia... Infelizmente, era muito tarde para fazer qualquer coisa por ela. O funeral de Julhya foi muito triste e muito reservado. Fui uma das poucas pessoas convidadas a participar, a família preferiu fazer tudo de forma discreta e rápida devido às dimensões da tragédia. Alberto foi interrogado pela polícia, e ofereceu toda a ajuda que podia, reconstituindo aquela noite, dando os detalhes da conversa, provando onde estivera após falar com Julhya. Ele retornara ao seu navio, e as sentinelas confirmaram a hora que retornou. Ele foi considerado inocente de qualquer suspeita e pode prosseguir com seus planos sem desgastes maiores. Se eu posso dizer que alguma coisa boa nasceu de toda esta tragédia foi eu ter conhecido o irmão de Julhya, Edalberto, pouco de um ano mais jovem que ela, um ano mais velho que eu. Da tristeza de nosso primeiro encontro brotou uma sincera amizade que rapidamente evoluiu para uma profunda afeição. Nosso casamento será realizado em pouco mais de um mês, e eu tenho certeza de que seremos muito felizes.
___ Não existiam mais informações importantes sobre a família nos volumes restantes dos diários de Maria Terez, ela concentrou-se em sua nova vida de casada, nos filhos e na vida familiar e escrevia apenas notas alegres sobre isso. Agenor não precisou ler todos os diários, bastou uma rápida passada de olhos para perceber que nunca mais Maria Terez comentou nada sobre Julhya ou qualquer outro membro da família, exceto por uma triste nota na ocasião do falecimento do Capitão, um ano depois da morte de Julhya – disse Julia.
___ Conte-nos mais – pediu Luiz.
___ No dia seguinte, Agenor foi até a prefeitura pesquisar os antigos registros. Tinha a data próxima do nascimento do bebê de Julhya e imaginava que não deveriam existir muitas famílias que tivessem tido um menino naquele mês, pois a vila era muito pequena naquela época. Encontrou apenas dezesseis meninos e foi eliminando os candidatos mais improváveis. Primeiro Agenor excluiu os filhos das famílias mais ricas, pois seria impossível para o Capitão esconder o neto ilegítimo com essas famílias sem que todos ficassem sabendo. Provavelmente ele teria escolhido uma família de origem mais simples, que aceitaria criar a criança como se fosse sua, ficaria feliz em guardar segredo ao receber uma quantia em dinheiro por esse serviço. Pensando nisso, Agenor eliminou rapidamente seis crianças da lista, ficando com dez para pesquisar. Dos dez restantes, Agenor retirou todos que não fossem ruivos, e agradeceu mentalmente ao fato das certidões de nascimento terem os dados físicos do bebê e da mãe anotados nelas. Restaram apenas duas crianças. Para sua surpresa, um deles era da família de Tico. Agenor pressentiu que podia ser ele, pois tudo se encaixaria perfeitamente. Seguindo os registros de nascimento, descobriu que aquele menino era o avô direto de Tico. Tinha sido filho único, casara-se com uma mulher das Ilhas e mudara-se para lá. Depois disso, a família somente retornou ao continente após o nascimento do próprio Tico. Agenor decidiu que precisava falar com Tico e Laíne o mais rapidamente possível sobre aquele assunto e tirou fotocópias dos documentos para mostrar-lhes. Quando saía da prefeitura, Agenor teve um choque, Amélia e Alex vinham caminhando pela calçada de braços dados, Alex rindo muito inclinado para ela fazia parecerem muito íntimos. A surpresa fez com que Agenor derrubasse todos os papéis que carregava, que se espalharam pela calçada. Os dois pararam perto dela, o sorriso de Amélia desapareceu completamente e Alex olhou-a com uma expressão divertida que lhe deu vontade de avançar nela para arrancar-lhe o sorriso com as unhas. Ao invés de fazer isso, Agenor abaixou-se para recolher os papéis. Amélia, educadamente, ajudou-a. Agenor dirigiu-se até a casa de Laíne e Tico. Chegando lá, contou-lhes a história toda, mostrou-lhes a fotocópia dos documentos e explicou sua teoria. Tico estava muito sério. Os três ficaram em silêncio. Agenor suspirou e olhou-os seriamente. Agenor saiu de lá angustiado e com raiva. Sua vida estava desmoronando a sua volta e não se sabia o que fazer. Parecia que todas as alternativas apontavam apenas numa direção, que ele jamais poderia recuperar o relacionamento com Amélia e que teria de sacrificar sua felicidade pessoal para resolver todo aquele caos. Não sabia o que fazer ou com quem falar. Perguntou ao mordomo se sabia onde Amélia estava e ficou ainda mais abalado com a resposta: ela estava na casa de Alex. O mordomo acrescentou que já havia mandado chamá-la. Agenor perguntou o por quê. O mordomo explicou que sua mãe passara muito mal com um ataque cardíaco e fora levada para o hospital. Agenor ficou consternado. Depois do inicio de incêndio, aquele incidente não era nada bom.
___ E o que ele fez, foi ao hospital?
___ Sim. Agenor chegou ao hospital quase ao mesmo tempo em que Alex. Ele ignorou-os no estacionamento, com raiva, dirigindo-se à recepção e mesmo assim, ficou ali durante tanto tempo aguardando que teve tempo de ver Amelia abraçada a Alex, próximo do balcão. Agenor respirou fundo e adentrou pelo corredor indo ao quarto da senhora. Agenor sentiu um aperto no coração vendo-a ali deitada na cama, ela estava pálida e parecia muito frágil. Não sei se conversaram e o que se passou, mas sei que a mãe de Amélia deu uma chave para ele e explicou que era da gaveta superior da escrivaninha na biblioteca. Lá dentro estavam guardados documentos importantes que ele devia tomar conhecimento. A primeira coisa que ele fez ao sair dali foi ir atrás dos supostos documentos referidos. Assim que conseguiu, subiu para a biblioteca e foi verificar a gaveta da escrivaninha. Dentro da gaveta havia um maço de cartas preso com uma fita de veludo negro com um bilhete colado onde estava escrito "Para Agenor". Agenor decidiu trancar a porta da biblioteca para poder ler aquilo tudo sem ser interrompida e sentou-se para ler. Também tenho essas cartas aqui comigo – disse Julia retirando-as da mochila.
___ Do que se tratam tais cartas?
___ São correspondências que o Almirante e sua irmã Solange mantiveram com Lady Eugênia, antiga amiga de sua mãe, que eles carinhosamente tratavam como tia. Leia as que estão por cima, são as mais importantes.
___ Querida Tia Ge. Como à senhora pode dizer que estou ficando velho para me casar? Isso muito me ofende! Sou ainda jovem, e tenho muito tempo para encontrar a pessoa certa! Quando a senhora menos esperar, estarei casado e com muitos filhos. Seu zelo e preocupação comigo são exagerados. Parto novamente em viagem em duas semanas, desejo para a senhora que Deus mantenha sua boa saúde durante minha ausência e aceito, relutante, seu convite para participar do chá em sua casa e conhecer as jovens senhoritas que a senhora quer me apresentar. Espero, entretanto, que compreenda que mantenho minha opinião de que se a senhora deseja tanto desempenhar o papel de casamenteira deveria oferecer seus serviços para Solange, embora saiba que minha irmã possui ainda menor interesse e urgência em casar-se do que eu mesmo...
___ Quem escreveu isso foi o avô de Amélia?
___ Sim, ele mesmo. Leia esta daqui agora.
___ Estimada Tia Ge. Lamento que a senhora se sinta tão veementemente desapontada com o rumo que os acontecimentos tomaram, de minha parte devo admitir que estou muito feliz. Tenho consciência do quanto pode parecer imprudente e irresponsável meu precipitado pedido de casamento, tendo conhecido Eliza há tão pouco tempo, mas estamos felizes e a família dela não faz objeções à nossa união. A senhora poderia ficar feliz por mim, a sua benção traria muita satisfação e paz de espírito para todos nós. Eliza e eu queremos nos casar em uma cerimônia simples e discreta na capela da praia, eu sei que essa decisão contraria ainda mais suas expectativas, mas ela é praticamente uma estranha aqui, e não quero que se sinta intimidada, especialmente no dia do nosso casamento. Já despachei os poucos convites que considerei apropriados, apenas os amigos mais próximos e a família, e a sua presença é muito importante para nós...
___ Até aí está bom, leia essa outra – indicou Julia.
___ Estou escrevendo apenas para dizer que apesar das pessoas que convidamos para o casamento não terem comparecido em sua grande maioria, a cerimônia foi muito bonita, tivemos uma celebração especial após e a ausência dos convidados foi sentida, mas não diminuiu nossa felicidade. Ainda assim nossos laços de amizade me obrigam a ser franco e dizer-lhe que estou entristecido com o seu não comparecimento. A senhora é uma pessoa pela qual sempre mantive a mais alta consideração e estima e a sua decisão de não vir deixou-me decepcionado.
___ Agora essa – deu-lhe Julia a próxima carta.
___ O interesse que demonstrou sobre a saúde de minha irmã deixou-me comovido. Há algum tempo não recebia notícias da senhora, e saber que está com boa saúde e continua com a mesma vitalidade de sempre me deixou muito satisfeito. Solange está bem cuidada, nosso médico assegurou-nos de que o mal que a aflige não é sério. Ela deverá permanecer em repouso por mais uma quinzena e depois poderá retomar suas atividades sociais. Tenho certeza de que uma visita sua será muito apreciada, estaremos sempre prontos a recebê-la em nossa casa.
___ Essa daqui basta ler a segunda folha, deixe-me ver, aqui embaixo – indicou Julia.
___ Agradeço imensamente sua oferta em hospedar Eliza e Solange enquanto viajo, mas isso é desnecessário. Solange não apresentou recaída de sua última enfermidade, Eliza está muitíssimo bem de saúde e temos empregados suficientes na casa. Meu retorno deve se dar antes da época em que nosso filho irá. Eu apreciaria muito, entretanto, se a senhora puder visitá-las de quando em quando, pois a sua companhia é muito apreciada.
___ Pode passar para a próxima – sugeriu Julia.
___ Temos o prazer e a felicidade de informar que nosso filho nasceu com boa saúde e que Eliza passa bem. Nós lhe daremos o nome de meu avô, Mandel. Estamos todos muito felizes. Devo partir novamente em viagem em poucos dias, fui afortunado por poder retornar a tempo de estar aqui para o nascimento de meu filho, mas meus deveres exigem minha atenção. A sua visita é muito aguardada e será muita bem vinda.
___ Agora esta – comentou Julia colocando em ordem as já lidas.
___ Os eventos trágicos da noite passada deverão permanecer em segredo e jamais revelados a ninguém. Esta é minha decisão final. Desde que Eliza e eu nos conhecemos, a maioria das pessoas do meu antigo círculo de amizades, nos deram às costas e não será agora neste momento de tristeza que eu irei desejar o retorno delas. Manteremos tudo estritamente entre as pessoas da família. Estou contratando uma governanta especialmente para cuidar do menino, e Solange está de partida para uma casa de saúde, pois o incidente de duas noites atrás afetou também sua saúde delicada. As pessoas podem pensar o que quiserem e acreditar no que quiserem. Agradeço sua amizade durante todos estes anos, mas peço-lhe que não exija de mim agora neste momento algo que está além da minha capacidade humana.
___ Passe para esta – disse Julia novamente dando-lhe outra carta.
___ Quem lhe escreve é Solange, pois sei que desde o triste falecimento de Eliza, o almirante não mais respondeu suas cartas ou manteve contato com a senhora. Ele não pode saber que lhe escrevo ou ficará muito contrariado, por isso peço-lhe que guarde segredo. Há alguns dias, retornei para casa após outra longa estada no hospital, onde recuperei parte da minha saúde, mas não tenho ilusões, sei que a doença continuará me consumindo e que eventualmente, será a minha vez de partir. Honestamente isso não me incomoda, todos temos a nossa hora, mas preocupo-me muito com meu irmão e com meu sobrinho. Mandel está com excelente saúde, crescendo a cada dia e sempre alegre, como se espera de uma criança. Infelizmente não posso dizer que o almirante esteja feliz de modo algum, mas não parece existir algo que alguma pessoa possa fazer a respeito. Ele tem passado pouquíssimo tempo conosco, quando retorna de viagem imediatamente tranca-se em sua biblioteca, evitando-nos até mesmo à hora das refeições. O seu isolamento é completo. Tentei por diversas vezes aproximar-me dele e conversar, mas ele me afasta... Outro dia, do lado de fora da biblioteca trancada, pude ouvi-lo lá dentro e acredite-me, foi de partir o coração... Eu tenho grande temor por sua saúde física e mental. Ele tem ignorado o filho completamente, parece que apenas olhá-lo causa-lhe um profundo desconforto e ele evita sua presença a todo custo. Ele declarou que assim que o menino atingir a idade escolar ele será enviado para um internato e devo confessar que esse pensamento me traz algum alívio... Pois, ao menos o menino poderá ter novas companhias e fazer amigos, o que lhe é negado hoje na total reclusão desta casa. Sinto saudades de nossas conversas, querida Tia, e espero poder vê-la em breve. Com meus votos de boa saúde...
___ Esta daqui é uma das ultimas, é da Solange também – indicou Julia.
___ Estou lhe escrevendo porque os laços de amizade com a senhora, querida Tia, me obrigam, embora eu deva confessar que essa tarefa muito me desagrada, porque lhe tenho imensa estima e o que tenho para lhe contar ultrapassa os mais terríveis pesadelos que uma pessoa possa sonhar. Eu gostaria muito de ter encontrado uma outra solução para essa situação, mas não foi possível, está além da capacidade de qualquer ser humano. Tenho carregado comigo durante estes últimos meses um fardo que não posso mais suportar, e quero comunicar-lhe que estou partindo e explicar-lhe-ei toda a história. A senhora deve estar ciente de que Mandel completa oito anos de idade este mês e está seguindo para o internato. Mal posso encontrar palavras para dizer-lhe o quanto isso alivia minha alma. Ao menos o menino estará seguro e bem acompanhado, a salvo dos terríveis acontecimentos que têm se sucedido nesta casa. Desde o falecimento de minha cunhada Eliza, o avô de Agenor não é mais o mesmo. A perda abalou-o profundamente, mais do que se possa imaginar, pois durante anos ele se comportou perante outras pessoas como sempre foi em sua vida, controlado, calmo, distante. Não sei se a senhora recorda da última vez que lhe escrevi, quando lhe contei o quanto ele se tornou ainda mais recluso após sua perda. Eu imaginava que ele superaria este triste acontecimento com o passar do tempo, mas eu estava enganada. Não apenas ele não superou, como com o passar dos anos tornou-se mais solitário, mais arredio, mais isolado. Isso não teria sido completamente insuportável para mim, eu teria continuado vivendo aqui nessa casa e o apoiado se ele não começasse a agir da forma como vem agindo no último ano. A trágica verdade é que acredito que ele perdeu completamente a razão. Há um ano, na data da morte de Eliza, ocorreu um evento muito estranho. Eu estava para ir deitar-me, e a empregada foi levar a ceia para ele na biblioteca, como todas as noites. A pobre mulher voltou em poucos minutos, apavorada e branca como cera. Pensei que tinha sido alguma bobagem, pois essa pobre mulher não é muito esperta, mas logo percebi pelas palavras incongruentes que ela dizia, que realmente havia algo muito errado. Ela se recusou a me acompanhar até a biblioteca em seu estado de pavor, e eu me decidi a verificar o que estava acontecendo por mim mesma. Subi até lá, vi a bandeja que ela deixou no chão, aproximei-me e bati na porta da biblioteca. Um silêncio profundo me cercava e fiquei imaginando se a pobre mulher não tinha imaginado coisas. Finalmente depois de alguns minutos, escutei o barulho do ferrolho e a porta da biblioteca se abriu. O almirante estava parado diante da porta, com os cabelos desalinhado, pálido como a morte, com a camisa descomposta e coberta de suor. Jamais em toda minha vida o vi em tal estado, e imediatamente senti-me preocupada. "O que foi?" - perguntei, levando minha mão à sua fronte para sentir se ele tinha febre, mas sua temperatura parecia normal apesar do suor gelado. "Ela finalmente esteve aqui, Solange."- disse ele - "Depois de anos de súplicas, ela veio." "Ela quem?" - perguntei eu, propensa a crer que ele estava realmente doente e delirando. Ele entrou para a biblioteca e percebi que o salão estava gelado, apesar das janelas estarem trancadas. "Eliza" - ele respondeu jogando-se pesadamente na cadeira. O tom de sua voz gelou meu sangue. - "Ela veio ver nosso filho e me agradecer pela decisão correta”. Neste ponto, minha tia, ele começou a chorar copiosamente. Eu jamais tinha visto-o chorar, a senhora pode imaginar como aquilo me abalou. "Você está me assustando" - disse eu - "Não consigo acompanhar o que você está dizendo!" "Não percebe, Solange?" - disse ele, me segurando com força pelos ombros, o que apenas me deixou ainda mais apavorada - "Ela veio dizer que eu decidi corretamente! Ela não compreende que passei todos os dias de todos esses anos lamentando essa decisão?" Ele parecia estar à beira de um colapso e eu tive que usar de toda minha força para que ele me largasse. "Não compreendo do que você está falando" - disse eu - "Deixe-me mandar o cocheiro ir buscar o médico, você claramente não está bem”. Ele me olhou como se eu estivesse enlouquecido e riu. "Nunca estive melhor, Solange! É o dia da minha libertação. Não compreende o que tudo isso significa? Existe algo depois da morte, eu posso ter esperanças!” Então, minha tia, ele começou a falar sobre o assunto que foi proibido todos estes anos nesta casa: à noite da morte de Eliza. "Eu me recordo de tudo" - ele começou a falar num tom de voz firme, como se tivesse finalmente recuperado o controle - "Como se tivesse acontecido ontem, pois depois dos eventos daquela noite eu jamais dormi novamente como antes, e não se passou um dia, um mísero dia, sem que tudo se repetisse em minha mente com todos os detalhes. Eu tinha passado metade da noite aqui, nesta mesma biblioteca, bebendo vinho. Eu estava feliz, como jamais estive feliz em minha vida miserável. Escutei o pedido de ajuda e corri para o nosso quarto, para descobri-lo tomado pelas chamas. Para meu desespero, Eliza estava lá, com nosso filho nos braços. Corri para arrancar as cortinas e tentar abafar o fogo e chegar até eles, mas era impossível”. "Ninguém jamais o responsabilizou..." - comecei a dizer, mas ele me calou com um gesto. "Escute, por favor, apenas escute. Solange, você precisa entender o que Eliza significava para mim: ela era tudo. Minha vida não existiu antes dela, ou depois dela. Naquele momento terrível eu tinha apenas uma escolha: ela. Mas Eliza não me permitiu essa escolha. Ela implorou à morte que a levasse e deixasse o filho viver. Ela me obrigou a escolher o nosso filho para ser poupado e me fez jurar que cuidaria dele. Eu tentei argumentar com ela, mas Eliza não permitiu, e você sabe como ela tinha poder sobre mim. Fui obrigado a fazer o que ela me pedia, sabendo que isso arruinaria minha vida. Mas hoje, Solange, hoje minha agonia terminou, pois ela esteve aqui e falou comigo”. Foi assim que ele terminou sua narrativa e eu mandei buscarem o médico, que veio prontamente, o examinou e me disse que qualquer mal afligido não é físico, mas mental ou espiritual, e me aconselhou a convencer meu irmão para viajar para uma estação de águas para tratar-se e conversar com seu mentor espiritual. Nos dias que se seguiram eu me despreocupei, pois o almirante não apenas apresentou uma melhora notável como ainda jantou conosco no salão principal pela primeira vez em tantos anos. Comecei a pensar que qualquer que fosse a origem do que ocorrera na noite anterior, se era tão benéfico quanto aparentava ser, então eu não deveria me preocupar. Entretanto minha alegria pouco durou, pois com o passar dos dias, ele foi gradualmente retornando a seu estado de reclusão, até que uma noite, quando a empregada foi levar-lhe a ceia, ele expulsou-a do corredor aos gritos e atirando-lhe os pratos e taças que ela lhe levou. A pobre mulher se demitiu, e eu não posso censurá-la por ter feito isso. Depois disso, seus ataques de fúria tornaram-se mais constantes, pode-se ouvi-lo chorar, gritar, atirar coisas no chão todas as noites durante várias semanas. O que ele falava sozinho trancado na biblioteca eu não me atrevo a repetir, é embaraçoso e assustador. Uma noite decidi encerrar aquela agonia, e tornei a chamar o médico. Tivemos que arrombar a porta para chegar até ele e o encontramos em estado ainda mais lamentável do que na noite que esse tormento começou. O médico receitou-lhe um forte remédio para acalmá-lo, nós o colocamos na cama à força, e o médico teve uma séria conversa comigo, dizendo-me que ou eu o internava, ou ele comunicaria às autoridades. Disse que o estado dele era muito mais sério do que imaginável e que ele poderia se ferir ou ferir alguém. Ele não precisava me dizer isso: eu já estava plenamente convencida. Assim, por mais que me cortasse o coração, autorizei o médico a levá-lo para um sanatório. A cena de sua partida foi insuportável mesmo para alguém mais forte do que eu. Imaginei que ele fosse lutar, mas ele se resignou a ser levado como um condenado, disse-me que entendia meus motivos e que eu não me afligisse. A única coisa que pediu foi para deixarem-no visitar o túmulo de Eliza antes de partir, o que não tivemos coragem de negar-lhe. Então, ele esteve internado por vários meses, eu o visitei constantemente, levando-lhe flores, frutas, notícias alegres sobre nós. Ele sempre foi muito cortês e educado nestas visitas, mas pareceu-me sempre pouco interessado. Finalmente, o médico autorizou-o a retornar para casa. Durante mais ou menos dois meses, tudo pareceu correr de forma mais normal do que nunca. O almirante estava transformado, jantando conosco, passando algumas horas por dia com seu filho, passeando comigo no jardim. Infelizmente, esse estado não perdurou e acordei uma noite com os terríveis ruídos de sua fúria na biblioteca. Novamente tivemos que arrombar a porta, e para mim foi como se um terrível pesadelo se repetisse: ali estava ele atirado no chão da biblioteca de joelhos, desgrenhado e com uma expressão terrível no rosto. Desta vez ele se recusou a se internar. Expulsou o médico daqui a pontapés, providenciou para que Mandel seguisse para o internato, e me pediu para ir embora. Eu irei, minha tia, para a casa de minha prima Ana. Não posso mais suportar nada disso, que Deus me perdoe, essa história está liquidando minha saúde, que jamais foi boa, como a senhora sabe. Despeço-me da senhora com um pesar no coração, desejando-lhe todas as bênçãos.
___ Solange faleceu vítima da doença que a acometia há muitos anos. Em uma carta para uma de suas amigas, Lady Eugênia comentou que a aparência do Almirante no funeral era de um homem profundamente triste e abatido. O Almirante faleceu em sua própria casa. Foi encontrado caído pelos empregados no chão da biblioteca ainda com vida, delirando em febre. Chamaram o médico rapidamente, mas ele não pode salvá-lo. Dizem que suas últimas palavras foram "Por que ela nunca mais veio me ver? Uma vez apenas é muito pouco”.– disse Julia explicando o restante da historia.
___ Mas o que tanta confusão tinha a ver com Agenor?
___ Ele estava desvendando o mistério vindo pelo espírito da mulher e provavelmente dos demais que ali deveriam estar. Ele se encarregara de descobrir e resolver aquela situação.
___ Entendo.
___ Num encontro, Amélia olhou Agenor nos olhos com uma expressão séria. Amélia lhe disse que tinha algo sério para contar-lhe e queria que fosse pessoalmente, antes que ele soubesse por outra pessoa.
___ E o que ela ia dizer-lhe.
___ Que Alex pedira-a em casamento e ela aceitara. Agenor ao saber daquilo ficou em silêncio, boquiaberto. A única coisa que conseguiu falar foi questioná-la se era realmente aquilo que ela queria e logicamente ela confirmou que sim, sua decisão estava tomada. Naquele mesmo dia, antes de sair da casa de Amélia, alguns policiais pararam em suas viaturas e entrando na casa algemaram a própria Amélia. Agenor se aproximou novamente, baixou a cabeça e pediu uma explicação para aquilo que estava acontecendo. Olhando-o com expressão de piedade, apenas disse que sentia muito e que não fora idéia dela, pois ela apenas concordara em fazer o serviço.
___ Que serviço?
___ O serviço do fantasma.
___ Quer dizer que...
___ Ela revelou a Agenor que tinha uma queda por ele desde que eram crianças, mas ao conhecer Alex, entrou numa complicada história por dinheiro e acabara se apaixonando de verdade por ele. Ela era tão vitima quanto o próprio Agenor, pois tudo fora programado entre Magdala e Alex, porém acabara cometendo muitos erros pela influência dele.
___ Como assim?
___ Lembra-se da festa, donde Magdala e Alex fizeram um acordo para separar Agenor de Amélia?
___ Sim.
___ Pois então, Magdala começou a investigar a vida de Amélia e descobriu que ela poderia ser facilmente influenciada. Assim, Magdala montou com Alex o plano de fazerem aquela farsa donde ela se vestiria da mesma maneira da mulher do retrato e montaria toda aquela trama e conforme queriam, Alex conseguira se aproximar dela e os dois já estavam tendo um caso a algumas semanas, enquanto Agenor permanecia envolvido em desvendar o passado misterioso daquela família.
___ Mas porque Amélia estava sendo presa?
___ Amélia era uma impostora.
___ Como?
___ Ela não era a verdadeira Amélia. Devo deixar claro que a prisão dela não teve nada a ver com a historia amorosa da vida dela, mas na verdade, quem desvendou que ela era uma falsa Amélia foi à própria Magdala.
___ Então foi Magdala quem denunciou Amélia?
___ Sim, isso mesmo. Durante toda essa confusão amorosa para unir Agenor e Magdala e fazer Amélia ficar livre para Alex, a própria Magdala acabou desvendando fatores de extrema importância e inclusive utilizou disso para extrair dinheiro de Amélia.
___ Mas, quem era Amélia então?
___ Uma foragida acusada de estelionato mercantil numa agência de correio internacional. Não entendi bem sobre isso, mas sei que ela conseguiu fugir da cadeia e pouco tempo depois conheceu uma jovem da sua mesma idade que estava indo para a Europa estudar advocacia. O que foi que ela fez? Matou friamente a jovem após meticulosamente ter feito amizade com ela e falsificou seus documentos, pegando a identidade da outra. Assim, ela teve vida boa na Europa, se formou e passou a viver como se realmente fosse Amélia, a filha de Otavio e Elisa. Logicamente os pais acharam a filha diferente, mas por fazer muitos anos que não a viam, não desconfiaram que poderia ser outra pessoa.
___ Entendo.
___ Mas se a historia do fantasma ou espírito da mulher era falso, sobre quem a vidente lhes havia dito?
___ Provavelmente da verdadeira Amélia, e de fato, a falsa Amélia deve ser perseguida até hoje pela verdadeira que foi assassinada sem ninguém nunca desconfiar de nada.
___ Que historia! – surpreendeu-se Luiz. - Pois Amélia nunca me disse nada sobre seu passado.
___ O passado dela é mais sujo do que qualquer um pode imaginar. Quem verdadeiramente era Amélia eu não tenho como garantir e afirmar, mas me parece que antes de conhecer a verdadeira Amélia, ela era uma menina órfã que vivia num pensionato até que conseguiu se ver livre deste e passou a viver do roubo, passando depois a extorquir dinheiro na agencia de correio e até mesmo num de seus empregos numa casa lotérica. Isso foi tudo que descobri, era com essa mulher que ia se casar – finalizou Julia.
___ Temos muito que lhe agradecer, pois foi uma investigação e tanto – comentou Rosalinda.
___ Amélia e Rodolfo estão presos. Você também quase se casou com Rodolfo – verificou Julia.
___ Sim, é verdade.
___ Como sempre fui equivocado e cego – disse Luiz entediado.
___ Pois é bom abrir os olhos.
___ Ficaremos bem. Tudo pelo menos parece mais tranqüilo.
___ Muitas coisas acontecem durante a vida, esperemos por mudanças e novos fatos, agora, se não se importam, tenho de ir – disse Julia pouco antes de se retirar e ir embora.
Rosalinda guardara uma curiosidade que não tivera coragem de questionar: Julia não desconfiara que seu próprio ex-marido estivesse junto de Amélia com planos maliciosos ou será que a própria Julia estava envolvida com o caso?
O que se sucederia naquela família era enigmático e imprevisível. Mas uma coisa era certa, as surpresas maiores estavam por vir.

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