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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Capítulo 3 – O retorno de Bruno

14ª Sessão

___ Então, como passou os dias? – questionou o psicólogo assim que Luiz adentrou pela porta do consultório e o cumprimentou.
___ Bem, pelo menos não dei nenhum escândalo – brincou Luiz.
___ Nada de novidade?
___ Fui num comício antes de ontem e fiquei duas horas numa palestra sobre como ser fiel a si mesmo.
___ É um tema interessante. Acredito que ou uma pessoa é honesta ou não é. Não existe meio termo e por onde quer que se ande, sempre deixaremos nossas pegadas para trás.
___ Concordo. A integridade significa um determinado padrão ético e moral que não faz concessões à conveniência ou às circunstâncias da vida. A integridade é um padrão interior para julgar nosso comportamento e é essencial em todas as áreas da sociedade, é algo que devemos exigir de nós mesmos. Conforme discutido, existem pontos básicos para se examinar essa questão. Vou citar os mais falados como, por exemplo, se manter firme nas próprias convicções, quando soubermos do nosso acerto, não devemos recuar.
___ Também é válido reconhecer os méritos dos outros, não devemos recusar quem possa ter uma idéia melhor ou até mesmo ser mais esperto do que nós.
___ Sim. Um dos itens que mais achei interessante foi sobre ser honesto e franco, mostrando-se como realmente é. As pessoas que não têm valores internos genuínos costumam ampara-se em fatores externos como aparência e status para se sentirem bem consigo mesmas. Farão tudo que puderem para preservar essa fachada, mas muito pouco para desenvolver valores internos e crescimento pessoal. Não devemos criar disfarces para os aspectos desagradáveis da nossa vida. Quando a situação for difícil, o mais certo é ter força para enfrentá-la com dureza.
___ Sempre digo aos meus pacientes que por mais difícil e complicado que seja, o certo é encarar a realidade e ser amadurecido nas reações aos desafios da vida. Amor próprio e consciência limpa são componentes poderosos da integridade e a base para o enriquecimento de nossas relações com as pessoas. Ser uma pessoa integra significa fazer o que se faz por ser o certo, e não por estar na moda ou ser politicamente correto. Uma vida de princípios, em que não se sucumbe ao chamado sedutor da moralidade fácil, será sempre vitoriosa na minha opinião.
­­­___ Mudando de assunto, você também atende crianças? – questionou Luiz.
___ Sim, é um trabalho muito interessante. Têm uma menina de cinco anos que relata ver uma bruxa todas as noites quando dorme. Ela se encontra com um mundo fantástico que chego a ficar impressionado. Ela me contou que a bruxa se chama Sopfia, sinônimo de inteligência. Não sei se ela faz feitiçaria, mas minha paciente diz que Sophia é uma bruxa que gosta de ajudar as pessoas sem nunca revelar seus segredos. Ela mora numa casa que tem o formato de uma maça e durante todas as noites ela prepara porções com pedras e frutas donde uni sua magia com os poderes da natureza. Sopfia é uma bruxa esperta, tem os olhos muito azuis, bochechas grandes e rosadas, nariz e queixo pontudo e nenhuma verruga. Seus cabelos são pretos e longos, bem lisos. Ela usa um vestido de couro marrom acompanhado de um enorme e pontudo chapéu preto de veludo que possuía uma arranha de enfeite bem no meio da frente, porém esta se perdeu. Não sei se ela possui vassoura ou varinha mágica. A mãe dela trouxe-a aqui porque achou que ela estivesse ficando doida, mas creio que isso é normal pela idade dela, além do que, ela não mantém fascínio por essa bruxa, ou seja, essa amiga invisível dela em nada lhe acarreta problemas.
___ Entendo. É curioso e muito interessante. Pode ser coisa de fase.
___ Ela me relatou que já passeou em seus sonhos pelo reino encantado de Sopfia.
___ Fica em alguma floresta? – quis saber Luiz.
___ Me parece que é como uma cidade perdida na selva. Ela me contou que lá existem monges budistas em batinas alaranjadas. Ela fala de detalhes tão complexos que creio não ser invenção da cabeça dela. Disse-me que o clima lá é de sufocante calor tropical, principalmente nos portais de pedras donde se iniciam as escadarias antigas e os pátios perfumados das flores que os rodeiam.
___ É um lugar bem exótico.
___ Ela me disse que essa cidade é dividida em partes. A primeira parte possui estilo bucólico, com antigas aldeias indígenas em planícies pantanosas, a segunda parte é composta de colonos que construíram um forte no extremo norte da selva para se defenderem dos índios e batizaram–no com o nome da principal cidade de sua pátria que inclusive não me recordo nesse exato momento. A terceira parte já é composta por grande extensão e mesmo assim é à segunda parte mais disputada por ser a capital da selva. A ultima parte é formada realmente por apenas uma pequenina parte da selva. Pelo que me lembro, ela disse que nessa ultima parte habitam cerca de vinte oito mil pessoas por quilometro quadrado, uma densidade populacional quase três vezes maior do que a da selva como um todo.
___ Puxa! Mas essa paciente tem uma imaginação e tanto!
___ É por isso que muitas vezes me pergunto se realmente isso tudo vem apenas da imaginação dela. E tem mais, ela relatou que são faladas mais de dezoito línguas diferentes dependendo do local onde esteja. Não sei se existe e qual é o índice de pobreza ou perseguições nessa cidade da selva.
___ E o que a bruxa faz?
___ Ainda não tive muitas informações, mas pelo que sei, Sopfia é uma pensadora que se dedica à criação de uma cidade perfeita, exatamente lá na selva, ou seja, a quinta parte.
___ Como assim?
___ Um lugar onde todos ficariam protegidos, com alimentação constante, vestuários, alojamento e tratamento médico para todos. Onde ninguém teria de trabalhar mais de seis horas por dia. Creio que é isso, mas como te disse, não sei muitos detalhes, pois ainda não a interroguei sobre esse assunto. Agora, uma coisa que me fez achar divertido e até rir foi o fato de que todos os habitantes deste local não possuem carro, moto, bicicleta ou avião, mas sim uma espécie de helicóptero em forma de pião.
___ Melhor dizendo, uma nave espacial. Isso é fantástico! – brincou Luiz distraidamente achando aquele assunto bastante divertido.
___ Como seria uma cidade perfeita para você? – questionou o psicólogo.
___ Primeiramente não haveria trabalho excessivo, nem um abismo entre trabalho e lazer. As casas seriam chácaras com terrenos de cultivo, as fábricas seriam centros de trabalho de artesãos e o governo existiria apenas para tratar do indispensável. Não existiriam pobres nem miseráveis, pois todos teriam oportunidades de trabalho e sobrevivência. Todos teriam terra suficiente para cultivar alimentos para si e para a família. Bens e serviços seriam todos trocados e não comprados e vendidos para obter lucro. O amor reinaria entre as pessoas e a paz seria constante. Talvez pudesse existir alguma coisa maluca como casas ultramodernas. E para você?
___ Bem, quando era criança meu mundo perfeito tinha de ser repleto de ouro, inclusive achava que o céu fosse assim. Minha avó dizia que ouro era o suor do sol e, portanto achava que o sol fosse uma bola de ouro e, portanto, imaginava que o céu fosse lá. Logicamente que essa é uma linguagem muito inocente e infantil, mas até hoje me pergunto se haveria possibilidade do sol ser um reino perfeito, tirando o calor, é lógico. Minha avó me contava que o sol era um planeta habitado como a terra. Lá as pessoas tinham um corpo diferente e o calor em nada interferia o dia-a-dia dos seus habitantes. Segundo ela, quando um novo rei subia ao trono, os membros da tribo untavam-no dos pés a cabeça com uma mistura de resina pegajosa e pó de ouro, até ele resplandecer, refletindo os raios interiores do próprio planeta que por sinal, a tribo venerava. Como criança acredita em tudo, eu achava que tudo fosse verdade e tinha o sonho de poder morar no sol. Meus amigos na escola riam de mim dizendo que eu queria era ser frito como uma fatia de batata palha no óleo fervente. Aquela não era só a minha cidade perfeita, mas o mundo mítico que construíra de acordo com meus ideais. Hoje não sei mais te dizer como seria uma cidade perfeita, mas adoraria conhecer o sol da minha infância, não pelo ouro, mas pelo significado que guardo das lembranças dos bons momentos e das historias de minha avó. Creio que conforme evoluímos, nós mesmo vamos moldando a perfeição do mundo, da convivência, dos relacionamentos e dos bons sentimentos uns para com os outros.
___ Acho que tem razão.
___ Sim, mas deixemos esse assunto de lado. Vamos ao seu tratamento? Pronto para nova regressão?
___ Sim, vamos adiante.
Após todo o processo de relaxamento, Luiz demonstrou ter retornado ao ponto esperado.
___ Conforme encerramos na sessão anterior, consegue me explicar quem era Bianca? – questionou o psicólogo revendo suas anotações da sessão anterior.
___ Não, só sei que era uma senhora e sem que eu soubesse porque, ela ficou muito emocionada ao me ver.
___ Não a conhecia?
___ Não, nunca a tinha visto. Padre José Albino me pediu para que desse emprego a ela e me apresentou-a como sua amiga. Por ser um pedido dele que era meu padrinho fiquei de pensar e posteriormente lhe daria a resposta. Conversei com Margarida e ela intercedeu a favor de Bianca pedindo que a contratasse, assim teria alguém à sua disposição.
___ Então contratou Bianca, mas não ficou sabendo porque ela se emocionou ao vê-lo? Será que ela já o conhecia?
___ Não sei, talvez estivesse apenas fazendo cena para me comover também e conseguir o emprego.
___ É, pode ser, mas não creio. Continue.
___ Quando fui rever meu padrinho e dizer a ele que ia aceitar Bianca, ele me aconselhou a reconhecer meus erros e compreender os erros de Margarida, pois assim, talvez conseguisse conquistá-la.
___ Penso que ele estava certo.
___ Ao retornar para a fazenda, estando resolvido de conversar com Margarida, a encontrei no jardim, pensativa e cabisbaixa. Percebendo minha presença ela se levantou rapidamente e me olhou assustada. Antes de lhe dizer qualquer coisa ela me disse que aceitava ter um filho comigo se realmente depois disso eu a deixasse ir embora para sempre.
___ Ela deveria estar se sentindo totalmente presa na fazenda para pensar assim ou então ainda era muito jovem para imaginar os sentimentos que uma mãe tem a um filho ao dar a luz. Bem, a não ser que ela fosse uma daquelas mães em exceção.
___ Sim e foi pensando nisso que mais uma vez discuti com ela. Sendo sarcástico lhe disse que não entendia como uma jovem tão distinta poderia desprender-se de um filho como se fosse um de seus vestidos. Ela me olhou com verdadeiro ódio e respondeu que aquela era a única e penosa solução que ela via para ficar livre de mim e desaparecer dali para nunca mais voltar a ver-me.
___ Que situação complicada esse seu casamento, não queria estar no seu lugar – comentou o psicólogo. – Pode avançar um pouco mais se tal detalhe lhe deixa muito entristecido.
___ Sim, pronto – respondeu Luiz com rapidez. - Vejo Henrico comentando com Joaquim que sua família conta com ele para os gastos da casa e que não sabe o que fazer para conseguir dinheiro.
___ Joaquim era amigo dele, não é mesmo?
___ Isso mesmo, tem boa memória.
___ Certo, continue.
___ Joaquim o aconselha a se casar com Ana mais uma vez.
___ E ele acha interessante o conselho do amigo?
___ Não sei, creio que não. Além do mais, era papel do homem bancar todos os gastos do lar.
___ Compreendo. E Bianca, não sabe mais nada sobre ela?
___ Não.
___ Avance mais um pouco.
___ O que sei de Bianca é que aos poucos vou percebendo o quanto ela se torna útil na fazenda.
___ Seja mais especifico.
___ Foi ela que impediu Margarida quando esta planejava mais uma fuga.
___ Quer dizer que Margarida tenta fugir de novo? Retorne um pouco, conte-me como se deu isso – pediu o psicólogo.
___ Enquanto estava ausente verificando a compra de alguns gados, ela aproveitou para tentar fugir e dessa vez quase que ela conseguiu. Quando descobri que ela desaparecera, sai imediatamente com meus empregados pela fazenda à procura dela. Ao encontrá-la, Bianca me explicou que ela saíra apenas para espairecer, mas sabia que isso não era verdade. Margarida revoltada disse-me que se quisesse de fato fugir já estaria muito longe naquele momento e pensando bem, analisei que aquele comentário fazia sentido. Mesmo assim, voltei a ser sarcástico e disse-lhe que certamente tentara fugir para não ter de cumprir a promessa feita na qual me daria um filho. Depois de retornar para a fazenda, Bianca me contou que teve uma conversa amiga com Margarida e convenceu-a de não fugir. Explicou-me também que Margarida estava se sentindo muito sozinha e triste, inclusive revelara a Bianca que eu era o homem mais estúpido que ela já conhecera.
___ Como ficou ao saber disso?
___ Pensando bem aquilo era uma verdade, pois não a estava tratando como deveria, sempre lhe olhava com bravura e impunha o que queria. Daquela forma, jamais conseguiria conquistá-la.
___ Logicamente – sorriu o psicólogo.
___ Posso passar mais à frente?
___ Sim.
___ Estou novamente discutindo com Margarida, parece que as nossa brigas não acabam nunca.
___ E qual o motivo dessa vez?
___ Não sei, mas estou jurando a ela que não tenho nada a ver com a calunia e a prisão sofrida por Bruno que até então apenas sofreu sendo vítima da situação financeira da família de Margarida. De fato não tinha nada a ver mesmo, nem sabia da existência dele e se havia feito algum trato com a mãe dela fora com relação a questões financeiras.
___ Estava mantendo a família dela, quero dizer, enviando algum dinheiro a mãe dela?
___ Não sei, supostamente pode ser que sim.
___ Não se lembra direito se houve algum acordo?
___ Não, estou confuso para responder isso.
___ Nem sabe se caso houvesse tido um acordo, se o estava cumprindo?
___ Não, também não tenho essa informação para te dar no momento.
___ Pois bem, pode ir um pouco mais à frente.
___ Margarida está desesperada.
___ Sabe porque?
___ Estou tentando me concentrar.
___ E então? – questionou o psicólogo depois de um bom tempo de silêncio.
___ Ela está me dizendo que o nosso casamento foi um fracasso e suplica para que lhe deixe voltar para a casa dos pais. Ela jura que não voltará a procurar Bruno e pede-me para contar ao seu pai, qual foi o verdadeiro motivo de sua separação.
___ E qual foi esse verdadeiro motivo?
___ Não sei o que ela quis dizer com isso, pois, para mim, o verdadeiro motivo foi Bruno.
___ Se não sabe continue, talvez possamos descobrir mais à frente.
___ Isso. Digo a ela que...
___ Que? – questionou o psicólogo já que Luiz se calara.
___ Eu lembro-a do fato de que ela jurou amar-me até a morte e depois prometeu que me daria um filho, mas até então, não cumpriu com nenhuma das promessas. Ainda para completar digo que já estou cansado de tantas mentiras e que escreverei para seu pai.
___ Pretendia escrever o quê ao pai dela?
___ Não sei.
___ Consegue ver o pai dela?
___ Fernando descobre que o filho Henrico mentiu ao dizer que tinha uma loja em sociedade com seu amigo Joaquim e assim o expulsa de casa.
___ Certo, volte a pensar em você, não consegue identificar se escreveu a tal carta e se a mandou?
___ Não.
___ E quanto à idéia de reconciliar-se com sua esposa?
___ Sim, pensando nisso me vejo arrependido, pedindo a Margarida que não me deixe.
Luiz demonstra um sorriso no rosto.
___ O que aconteceu?
___ Envolvido por um clima romântico, nós nos beijamos.
___ Ela correspondeu ao beijo?
___ Sim, não sei como, mas tenho certeza que sim, ela gostou.
___ Houve algo mais?
___ Não, como se houvesse feito algo errado, ela saiu correndo e me deixou sozinho. Como Bianca dissera, acho que nos últimos dias ela se sentira muito carente e sozinha. Se conseguisse ser mais meigo e dócil para com ela, talvez conseguisse tornar a conquista mais fácil.
___ Me surgiu uma curiosidade, sabe para onde Henrico foi ao sair de casa?
___ Ele conta a Joaquim que seu pai o expulsou de casa e diz que está disposto a levar adiante seu plano de se casar de mentira com Ana.
___ Casar de mentira, como assim?
___ Nem me pergunte porque dos rolos desse descarado eu desconheço.
___ Mas o que ele pretendia?
___ Obviamente planejavam colocar as mãos na fortuna dela e depois disso partiriam para a Europa.
___ Entendo, mas duvido que dê, ou melhor, que tenha dado certo.
___ Também não creio que tal plano vigore.
___ Porque?
___ Impressão que tive agora, nada mais.
___ E Bruno, sabe algo dele nesse momento?
___ Deixe-me concentrar e tentar ver algo. Sim, ele está chegando à minha fazenda.
___ Vocês se encontram?
___ Não, não sabia que era ele.
___ Como assim?
___ Ele se faz passar pelo novo administrador.
___ Você ainda não tinha visto-o?
___ Não.
___ Quer dizer que não o conhecia?
___ Não.
___ Continue me contando.
___ Helena o recebe e Margarida que de longe os observa, fica bastante assustada e pede a Bianca que descubra quem é o desconhecido.
___ Mas ela não o reconheceu?
___ Logicamente ele estava diferente e disfarçado também.
___ Será que se o conhecesse, você o identificaria?
___ Provavelmente não.
___ Tem certeza que não o conhecia ou não o tinha visto antes?
___ Se já o vira também já lhe contei antes.
___ É que não me lembro se disse conhecê-lo e quando se deu isso.
___ Estou um tanto confuso, mas por mim não o conhecia até então e se o tinha visto antes, não o reconheci quando se apresentou como o novo administrador.
___ Mas ele apareceu assim sem mais nem menos e se ofereceu para ser administrador da fazenda?
___ Acho que sim.
___ Continue, o que se sucede?
___ Estou me lembrando de um detalhe, havia sim determinado que precisaria de mais um administrador na propriedade – confirmou Luiz. – Tenho quase certeza disso.
___ Certo. Relate-me mais.
___ Helena dá ordens às criadas que preparem algo e depois suba para refazer as limpezas de pó em não sei o que.
___ Mas, porque Helena dá as ordens ao invés de sua mulher?
___ Margarida não quer saber de nada dentro do lar, muito menos do seu papel de esposa em governar a casa e controlar o serviço das criadas.
___ Continue – solicitou o psicólogo.
___ Vejo Bruno comentando com Martolo algo a meu respeito.
___ E?
___ Ele apenas espera que eu não seja daqueles homens que gostam de maltratar as mulheres, é apenas esse o comentário que ele faz e inclusive não sei donde ele tirou essa idéia.
___ Tudo bem, não vem ao caso agora saber disso. Fale-me mais sobre Bruno. Ele começa a trabalhar em sua fazenda?
___ Sim, ele se apresenta como sendo Afonso Abreu e se torna o novo administrador. Digo a Margarida que contratei um novo administrador e para recebê-lo de acordo com os princípios da época, coordeno um jantar donde irei apresentá-lo a ela.
___ Ela já descobrira que ele era Bruno?
___ Não, e imaginando que se chamava Afonso, nem ao menos desconfiou de nada.
___ Mas e ao vê-lo?
___ É, aí a coisa complica.
___ O que vê?
___ Margarida descendo para jantar e, ao ver Bruno conversando comigo, volta correndo para o quarto.
___ O que mais tem para me dizer?
___ Algo que não fiquei sabendo.
___ E sabe agora por visualizar tudo em geral?
___ Exato.
___ O que era?
___ Ela retorna para o quarto estando muito feliz.
___ Vira ela retornando para o quarto?
___ Sim e não entendera a reação dela.
___ Mas não era para ela ficar preocupara ao reconhecer que ele era o Bruno? Ou ela não...
___ Sim, ela o reconheceu e por isso mesmo ficou feliz.
___ Não entendo.
___ Ela tinha certeza de que Bruno fora buscá-la.
___ Mas ele tinha ido até lá com esse propósito?
___ Talvez, não sei, acho que não.
___ Está totalmente na duvida – percebeu o psicólogo com a resposta dada por Luiz.
___ De fato, assumo que não sei no momento.
___ E o que aconteceu?
___ Não sei.
___ Avance um pouco mais.
___ Estou vendo Henrico dizendo para Ana que a adora e em seguida a pede em casamento.
___ E ela?
___ Não sei.
___ Do que sabe então?
___ Sei que nesse momento estou dizendo a Helena que ela é uma mulher muito bonita e inteligente e que o homem que se casar com ela terá muita sorte.
___ Porque está iludindo-a?
___ Nem sabia que ela era apaixonada por mim, como diz que a estou iludindo?
___ Será que não mesmo?
___ Creio sinceramente que não.
___ Continue.
___ Acabo confidenciando a Helena que meu casamento com Margarida foi um acerto com os pais dela e por isso permitiria que ela voltasse para a casa de sua família.
___ Isso é verdade?
___ Sim, agora sei que sim.
___ Então estava mandando dinheiro para a família dela?
___ Não sei quanto às questões financeiras, mas de toda forma, o pagamento da hipoteca e das dividas familiares dela já significava um acerto como prestação de contas, alias, foi daí que o casamento se concretizou, caso contrário, eu acho que sem a pressão vinda pela falta de dinheiro ela jamais teria se casado comigo, ainda mais gostando de outro homem.
___ Concordo.
___ Bruno e Margarida se encontram na capela da fazenda e se beijam apaixonadamente.
___ Você viu isso?
___ Não, estou vendo apenas agora.
___ E exatamente agora que ficou sabendo desse detalhe, como se sente?
___ Um pouco irritado, mas de toda forma tudo já passou.
___ Tem consciência de que tudo já passou?
___ Sim, porém me resta um sentimento de angustia e receio por imaginar o que vem pela frente.
___ Sente ciúme?
___ Tanto que não saberia analisar o quanto.
___ Mas não acabou de dizer que já passou?
___ É.
___ Não confiava em si mesmo? Na capacidade que possui em conquistar o coração de uma mulher, ou melhor, o da mulher que amava?
___ Sim.
___ Relaxe e tente arrancar esse sentimento de ciúme de você, pois ele lhe faz guardar raiva e rancor, percebe isso?
___ Sim, ódio também.
___ Relaxe, tenha firmeza nos seus desejos e confie em si mesmo. Você sabe que as coisas acontecem de acordo com aquilo que será melhor para nos próprios, para o nosso bem.
___ Sim, sei disto, mas mesmo assim.
___ Continue, esse é um trabalho aos poucos. Abra seu inconsciente e mentalize o que te disse. As coisas acontecem para nosso próprio bem e tendo confiança em si mesmo irá obter forças e vencer tudo o que for preciso.
___ Isso mesmo! – disse Luiz com segurança.
___ É assim que se fala, vamos em frente que tudo se resolverá, eu também acredito em você.
___ Tudo ficou escuro, não vejo mais nada, as vistas estão embaçadas.
___ Volte a concentrar.
___ Sim, continuo vendo Margarida. Ela pediu a Bruno que fosse embora e disse que não pretendia voltar com ele.
___ Porque?
___ Não sei. Engraçado, agora sou eu que me pergunto, porque ela fez isso?
___ Verificaremos mais à frente, pode avançar.
___ Bianca aconselhou Margarida a tentar se reconciliar comigo, pois estamos casados e afinal de contas sou marido.
___ O que ela disse?
___ Nada, ficou calada.
___ E você?
___ Cheguei completamente bêbado, estava sentado na varanda quando Helena se aproximou de mim e me beijou.
___ Margarida viu?
___ Não sei, sinto-me no estado em que estava, tonto e decepcionado.
___ Flutue mais alto, está se aproximando muito da sua linha do tempo, é por isso que às vezes fala no presente e depois relata no passado. Pode ficar mais acima e procure ver tudo apenas como passado, sem se envolver e sentir os reflexos da ultima encarnação, pois quando preciso for, lhe direi para descer na linha do tempo no momento em que estiver, correto?
___ Tudo bem, eu já me sinto melhor. Seguirei seu conselho.
___ Certo, vou dar uma pausa para que descanse a mente e se refaça das recordações.
Depois de vários minutos donde o psicólogo ficou sentado em sua cadeira analisando seu rascunho pensativo, continuaram a resgatar as lembranças do passado.
___ Helena aproveitou-se do meu estado de bêbado e me beijou.
___ Sim, foi ai mesmo que você parou, pode avançar um pouco mais, vamos ver o que aconteceu depois disso. Como lhe perguntara anteriormente, sabe me dizer se sua esposa viu ou quem sabe outra pessoa?
___ Martolo, ele viu e contou para Bruno. Posso avançar para o outro dia?
___ Pode sim.
___ Pedi perdão a Helena, disse que a via como uma irmã e assim abracei-a.
___ Como ela ficou?
___ Não sei. Nesse momento Margarida entrou e nos viu abraçados. Em tom de deboche Margarida me perguntou se Helena era a minha amante.
___ Provavelmente ela vira o beijo e por certo não se importara.
___ É, pode ser, mas não creio.
___ Porque não?
___ Impressão.
___ O que disse a ela? Tentou se explicar ou não tinha nada a dizer?
___ Respondi sim, dizendo que se ela negasse a ser minha esposa de fato, tinha todo o direito de me consolar com outra.
___ Que ousadia, então confirmou que Helena era sua amante, o que nem era verdade?
___ Queria ver a reação de Margarida e fiquei indignado ao perceber que ela nem ligou com a resposta que dera.
___ Continue, pode avançar.
___ Henrico que para mim era um verdadeiro hipócrita, disse a Ana que seus pais decidiram que ele deveria se casar com Abelarda, porém, fingindo que estava desesperado, ele disse que a amava e propôs que se casassem em segredo. Dessa forma, quando seus pais soubessem já não poderiam fazer mais nada.
___ Na verdade os pais dele nem imaginavam esse casamento?
___ Isso mesmo, ele estava inventando essa mentirada toda apenas para conseguir o dinheiro dela.
___ Mas estava disposto mesmo a se casar?
___ Se era um casamento em segredo, alguma coisa estava tramando, não acha?
___ É, tem lógica.
___ Ana, ingênua, aceitou o pedido de casamento e entregou a Henrico a chave do cofre onde guardava sua fortuna.
___ Era muito ingênua mesmo, ou então estava apaixonada por ele e confiava na palavra dele.
___ Avancei mais um pouco, vi Margarida me perguntando porque mandara retirar os quadros com as fotos de meus pais. Respondi que meu pai nunca significara nada em minha vida e que a mulher da foto não é era minha mãe.
___ Verdade?
___ Sim. Perguntei a Margarida se sua mãe não lhe contara que era um bastardo, filho de uma camponesa a quem meu pai violentara.
___ Continue.
___ Não sei como ficou o restante da nossa conversa, está tudo embaralhado.
___ Tente se concentrar.
___ Não consigo, terei que avançar mais à frente.
___ E então, qual a próxima coisa que visualiza?
___ Bruno conversava com Margarida e dizia que ela não devia ter nenhum tipo de consideração comigo, pois além de ficar aos beijos com a suposta amante Helena, também me casara com ela subornando sua família.
___ Visualizando melhor ele estava certo, não é mesmo?
Luiz permaneceu calado sem nada responder.
___ Então eles estavam se encontrando as escondidas? – questionou o psicólogo.
___ Sim, e nem ao menos imaginava que o meu administrador fosse ele. Tinha empregado o meu próprio rival e nem me dera conta disso, enquanto ele, espertamente, estava se encontrando com minha esposa.
___ Aconteceu mais coisa além da conversa?
___ Não sei, parece que não me é permitido avançar mais para descobrir esses tipos de detalhes.
___ Então os esqueça, de toda forma, estavam os dois se traindo mutuamente.
___ Lógico que não, eu não tinha nada com Helena, meu amor sempre foi para Margarida.
___ Talvez ela também não estivesse tendo nada com Bruno além de encontros e conversas, talvez alguns beijos roubados e nada mais.
___ Pois para mim isso já era muito. Ela era minha esposa e deveria me respeitar. Mesmo que Helena fosse minha amante, naquela época os direitos não eram iguais como hoje.
___ Analise comigo o que acabou de me relatar. Bruno disse que ela não deveria ter considerações contigo, pois você isso e aquilo, certo?
___ Sim.
___ Porque ele estaria dizendo isso a ela caso ela mesma não tivesse consideração por você de modo algum?
___ Como assim?
___ Não acha que ficaria vaga essa fala se...
___ Entendo – respondeu Luiz interrompendo o psicólogo antes que ele concluísse sua frase. É, não sei, pode ter razão.
___ Pense nisso, você não pode saber se entre eles estava acontecendo mais alguma coisa, mas na minha opinião, acho que não.
___ Será que ela tinha alguma consideração por mim então?
___ Não garanto nada, analise você mesmo. Vamos continuar, temos muita coisa a descobrir.
___ Estou tentando me concentrar novamente.
___ Quando visualizar qualquer coisa pode dizer que estou ouvindo – garantiu o psicólogo.
___ Bruno insistiu em convencer Margarida a não sacrificar o amor que os unia por minha causa, pois eu não a merecia.
___ O que pensa sobre isso?
___ É estranho, será o que se passava na mente de minha amada? – questionou Luiz em dúvida. – será que ela estava disposta a reconsiderar os fatos e me aceitar como seu marido procurando viver harmoniosamente comigo?
___ Isso eu não sei, agora pergunto uma coisa, será que você estava disposto a buscar a harmonia? Pergunto isso pelo seguinte, esse sentimento somente é construído tendo força dos dois lados, caso contrário ela não obteria nenhum resultado.
Luiz ficou calado até que o psicólogo retornou a falar:
___ Avance mais um pouco. O que decorreu com o passar dos dias?
___ Joanina recebeu uma carta minha. Nela pedia para que fossem buscar Margarida. Não me lembro de ter escrito essa carta, mas de fato a carta era minha e nem sei porque a escrevi.
___ Quer retornar um pouco para...
___ Não, não é preciso, pouco importa saber o que me levou a escrever tal carta. O que consta é obvio deste muito antes: meu casamento com Margarida ia de mal a pior e pelo visto parece que ela não tinha intuição de ser verdadeiramente minha esposa, me amar e respeitar com fidelidade conforme jurara no dia do casamento.
___ Entendo, mas não tenha isso como a verdade, o que me disse é apenas o que imagina. Continue.
___ Joanina, preocupada, pediu para Gertrudes que...
___ Só um minuto – interrompeu o psicólogo. – Quem era Gertrudes mesmo?
___ Irmã de Joanina, tia de Margarida.
___ Ah, sim. Lembrei-me agora, continue. O que Joanina pediu?
___ Pediu para que Gertrudes fosse até a fazenda e impedisse Margarida de abandonar-me. Logicamente isso acabaria com a reputação da família de vez, não somente pela parte financeira que para eles voltaria a ser precária, mas também pelo escândalo que uma separação de casamento provocava naquela época, ainda mais se houvesse a possibilidade real do motivo de tal separação ser dado pelo adúltero, uma das maiores desonras dentro de um lar.
___ E Gertrudes foi à fazenda?
___ Não sei. Estou avançando um pouquinho.
___ Sim, o que consegue visualizar?
___ Padre José Albino aconselhou-me novamente a respeitar minha esposa e a me afastar de Helena.
___ Voltara a beijar Helena?
___ Não, de maneira alguma, nem tinha esse tipo de intenção.
___ Tem certeza?
Luiz ficou calado deixando a duvida continuar vagando pelo ambiente.
___ Voltei a pedir para Margarida que não fosse embora. Eu a amava muito e estava disposto a cativá-la. Disse-lhe que seria melhor se tentássemos nos conhecer melhor, pois talvez descobríssemos que podíamos viver juntos. Prometi que a respeitaria me mostrando ser diferente daquilo que até então apresentara ser. Pedi-lhe uma chance, era apenas disso que precisava, mas queria ter a colaboração dela, queria que ela me fosse fiel e tentasse no mínimo se comportar como minha esposa, proprietária dos pertences e dona do lar. Tudo o que desejava perante aquela união era fazê-la feliz e por mais que ela não acreditasse nisso, estava desesperado comigo mesmo sem saber o que fazer. Deixaria ela voltar para junto dos pais, mas apenas essa idéia já me desmanchava de dor por dentro. Acho que não preciso dizer mais nada para demonstrar como me sentia, não é mesmo? É difícil revelar minha tortura intima.
___ Compreendo. Diga apenas o que tiver vontade e fique sempre acima da linha do tempo para não se abalar com os sentimentos sofridos da época. Se for preciso pedirei para que desça, tudo bem?
___ Sim. Continuando, disse para Margarida que a amava, que gostaria de fazê-la feliz.
___ Qual foi à reação dela?
___ Ela chorou ressentida e nada disse. Estávamos sofrendo juntos algo donde a solução cada vez se fazia mais complicada. Não sei o que ela sentiu ao me ouvir dizendo tantas coisas, mas posso garantir que minhas palavras mexeram com seu coração, pois ao termino do discurso, tentei beijá-la apenas para ver como reagiria e por mais espantoso que pareça, ela rendeu-se ao meu beijo com muita doçura e suavidade. Naquele momento, era como se por raro e brevíssimo instante houvesse estado nas nuvens.
O psicólogo analisou as feições de Luiz e verificou que uma lágrima escorreu de seu rosto caindo de lado.
___ Avance um pouco.
___ Margarida se confessou com o padre José Albino. Disse a ele que amava outro homem, mas também admitiu que gostava das minhas carícias.
___ Sabia desse fato? Que ela gostava das suas carícias?
___ Não, na verdade, só depois de tal beijo é que realmente fiz jus o que prometera e desde então estava lhe tratando com o maior carinho, procurando olhá-la com ternura emergindo-lhe todo o sentimento de amor e candura que tinha para com ela.
___ O que o padre disse a ela?
___ José Albino aconselhou Margarida a tentar conviver mais intimamente comigo, pois talvez já sentisse algo por mim, o que significava que seu antigo namorado Bruno já ficara no passado.
___ Então isso comprova que Margarida tinha alguma consideração contigo enquanto sua esposa?
___ É o que parece.
___ O que mais ela disse ao padre?
___ Margarida disse-lhe que o homem que amava era o novo administrador da fazenda.
___ Você não tinha conhecimento desse fato, certo?
___ Exato, desconhecia que o apaixonado de minha esposa fosse o meu próprio administrador.
___ Como consegue visualizar a confissão de sua esposa se não participou da mesma? Alias, o que você fazia enquanto ela conversava com o padre?
___ Não sei te responder nenhuma das duas perguntas, você que é psicólogo é que deveria saber.
___ É muito estranho que saiba me contar os detalhes de algo que não vivenciou e que nem ao menos sabia enquanto encarnado em tal existência passada.
___ Acho que estou resgatando da memória as mesmas cenas que visualizei após o meu desencarne uma vez que tive de planejar a minha existência presente.
___ Compreendo e acho muito interessante.
___ Está passando muita coisa pela minha mente e os fatos do passado se misturam, porém, estes acabam me dando maior nitidez do que realmente acontecia, ou melhor, do que aconteceu.
___ Entendi – respondeu o psicólogo balançando a cabeça e se mantendo pensativo sem nada dizer.
___ Margarida discutiu com Helena alguns dias depois – Luiz retomou a palavra. – Criticou-a por ter expulsado Bianca da casa grande e deixou claro que se Helena pretendesse ocupar o mesmo lugar que ela, talvez como segunda esposa, teria que esperar ela deixar a fazenda. Pela primeira vez ela começava a ter um pouco de responsabilidade pelo lar e também tomar conhecimento daquilo que se passava dentro da fazenda.
___ Sabia disso enquanto encarnado?
___ Não sei.
___ Que história de expulsão foi essa?
___ Também não sei, mas pelo que consta Helena havia expulsado Bianca da casa.
___ Justo Bianca que era a... – o psicólogo interrompeu a fala buscando relembrar qual era o cargo de Bianca. - O que mesmo ela fazia? – perguntou ele de vez vendo que não se lembrava.
___ Era como a governanta da casa, aquela que organizava o serviço geral e ficava a disposição de Margarida.
___ Entendo. Sabe porque Helena a expulsou?
___ Não, mas dá para imaginar, pode ser por ciúmes uma vez que Helena se tornou companheira e amiga de Margarida.
___ Claro. Isso prejudicaria os interesses dela em conquistá-lo e tomar a posição de Margarida, estou certo?
___ Creio que sim.
___ Continue. Helena retornou para a casa grande?
___ Não sei no momento.
___ Continue. Avance um pouco mais.
___ Estava andando a cavalo para um povoado próximo. Bruno estava comigo e no meio do percurso encontramos Nardeu, Miguel e um outro sujeito. Miguel e esse outro homem haviam sido incumbidos pelo prefeito de matar Nardeu. No meio dos disparos de tiro acabei sendo ferido. Aproveitando que estava inconsciente, Bruno apontou o rifle contra meu peito.
Luiz gemeu deitado e fazendo carreta estremeceu todo o corpo.
___ Tudo bem, não precisa dizer mais nada. Apenas comprove mais uma vez o que já explicou, vou refazer a mesma pergunta: como sabe disso se estava inconsciente naquele momento?
___ Estou acima da linha do tempo e tenho reminiscência do período em que revivi todos esses fatos após o meu desencarne.
___ E concluindo, seu desencarne se deu nesse momento, ou seja, Bruno o matou.
___ Não.
___ Mas...
___ Eu era seu principal rival, mas ele logo se arrependeu do pensamento malévolo desistindo da atitude que por pouco não tomou e sem disparar o gatilho me levou ferido de volta para a fazenda.
___ Então...
___Isso mesmo, Bruno não me matou provando sua personalidade digna e honrada de homem.
___ Puxa! Até arrepiei agora.
___ Bruno disse a Margarida que o médico não demoraria a chegar e com tristeza, observou quando Margarida me abraçou e chorando disse que não queria que eu morresse.
___ Que situação! Pode avançar mais um pouco. Como foi sua recuperação?
___ Não sei.
___ Vai contando o que souber então – liberou o psicólogo.
___ Helena entrou e tentou expulsar Margarida do nosso quarto acusando-a de não estar interessada no meu bem estar e sim em fugir com Bruno.
___ Logicamente isso não era verdade, pois Margarida desde então já tivera muitas possibilidades e chances para de fato fugir com Bruno, não comprova minha conclusão?
___ Sim, você está certo.
___ E então? O que Margarida fez? Obedeceu a Helena?
___ Não – sorriu Luiz um pouco irônico. – Ela não obedecia nem a mim que era seu marido, quem dirá àquela que supostamente era minha amante.
___ Conte-me. O que aconteceu? Um bate boca?
___ Margarida esbofeteou Helena e a expulsou do quarto dizendo que se alguém mandava naquela casa, esse alguém era ela, pois ainda era minha esposa e ninguém tinha nada a ver com sua pretensão de fugir ou não.
___ Então ela se enfezou com Helena.
___ Acho que Margarida já estava enfezada desde o dia que Helena tomou nome de amante minha.
___ Então a situação estava complicada.
___ Pensando bem acho que não, Margarida estava começando a se interessar pela vida de casada e por mim também.
___ Continue. E Bruno, como ficou nessa situação toda?
___ Bruno comentou com Martolo que tinha certeza absoluta que um dos bandidos era Miguel, o capataz.
___ O que era verdade?
___ Sim.
___ Conseguiram matar Nardeu?
___ Não sei. O tiro me acertou e fiquei inconsciente, apenas tenho conhecimento do que lhe disse.
___ Tudo bem, sem problemas, continue.
___ Daniela, a conselheira traiçoeira de Helena, disse a ela estar desconfiada que entre Margarida e o novo administrador houvesse algum segredo. Ao mesmo tempo, Margarida contava para sua tia Gertrudes que Helena e eu éramos amantes.
___ O que não era totalmente verdade.
___ Não era verdade, isso está lógico. Ela me beijou aproveitando de minha embriagues e em nenhum momento traí Margarida.
___ Acredito em você – revelou o psicólogo demonstrando pela voz o que dizia.
___ Helena ofereceu a Bianca um trabalho melhor na casa grande caso se dispusesse a contar tudo que sabia sobre Margarida. Dessa maneira fez chantagem dizendo que, caso ela negasse, assim que Margarida voltasse para a casa dos pais faria de tudo para que eu a expulsasse da fazenda e também, até mesmo do povoado.
___ Ela foi obrigada a aceitar?
___ Não tenho essa informação, mas acho que Bianca jamais faria nada para prejudicar Margarida, pois as duas de fato havia estabelecido laços de afeição fortes, o que fazia Bianca tratar Margarida como uma filha querida.
___ Entendo – disse o psicólogo escrevendo algo em seus rascunhos.
___ Bruno preveniu Margarida e disse a ela que não deveria permitir que Miguel se aproximasse de mim. Devo explicar que tanto eu quanto Bruno não ficamos sabendo que Miguel e o outro sujeito queriam matar Nardeu. Desse modo, Bruno achava que existira um plano conspirado contra mim e ressaltando Margarida pediu para que tomasse cautela caso vise Miguel rondando a casa ou pelas redondezas. Complementando, Bruno disse a Margarida que a levaria embora assim que eu estivesse melhor de saúde.
___ Mas ela não queria ir com ele. Estou certo?
___ Não sei. Estou cansado.
___ Já estamos acabando.
___ Gertrudes perguntou a Margarida como podia permitir a presença de Bruno na fazenda. Ela... – Luiz interrompeu a fala e depois de alguns instantes retornou: - Não consigo mais visualizar nada.
___ Tudo bem, por hoje a historia fica por aqui. Você irá retornar na contagem de um a cinco estando...
Luiz voltou à realidade se sentindo normal. Estando mais acostumado, não sentiu nenhum mal estar como sentira nas primeiras sessões.
Após analisar algumas observações com o psicólogo, os dois constataram que muita coisa ainda deveria ser descoberta daquele romântico e complicado passado.
Os dias decorreram tranqüilos e apesar do tempo ter sempre o mesmo ritmo para passar nos números do relógio, para Luiz as horas estavam passando com muita rapidez.
Numa nova consulta, cheio de animo, esperança e curiosidade, Luiz tentou relaxar e foi com facilidade que adentrou no passado.

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