“Olá 'Pessoal do mundo todo'! Inicialmente confidencio que troquei a frase do Orkut e MSN por “...Vestimenta de caboclo é samambaia, é samambaia, é samambaia... Saia caboclo, não me atrapalha, saia do meio da samambaia...” conforme pedido de “Pérolla”. Em segundo tenho a contar que terminei a leitura do livro chamado O livro das emoçõesi. A autora define que emoção, antes de mais nada, significa energia em movimento. Portanto, não devemos perder de vista o fato de que sem emoção, nada avança. Na emoção destrutiva, sempre haverá uma lacuna entre o que parece e o que é. Pois quando nossas opiniões estão contaminadas por uma emoção negativa, temos uma imagem distorcida das coisas e das pessoas, e ficamos impedidos de equilibrar suas qualidades positivas e negativas. Achei fantástica a definição de que a vergonha é uma virtude que desperta a autoconsciência para reconhecermos o que é inadequado no caminho da evolução interior. No Ocidente, no entanto, a vergonha, em geral, ao invés de despertar, bloqueia a auto-percepção, pois é vivida como um sentimento opressor, permeada pela sensação de culpa, e de uma iminente punição. No entanto, a necessidade de superar a desagradável sensação de não estarmos à vontade conosco mesmos pode nos levar a buscar o autoconhecimento.
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A vergonha é sintoma da não-aceitação de uma auto-imagem. A vergonha é uma tentativa de não olhar para nossas fragilidades porque nos sentimos incapazes de lidar com elas. É a compaixão para consigo mesmo o único antídoto para vergonha. Na compaixão, eu tenho a possibilidade de me abraçar, me acolher, me fazer companhia. Eu não preciso me esconder de mim mesmo, nem tentar me auto-enganar, não preciso ficar na referência dessa censura introjetada que me acusa de ter cometido um erro irreparável. Só assim poderei também não me esconder dos outros, não me isolar ou me fechar, algo que ocorre pois projetamos nos outros a censura que já fazemos em nós mesmos, ou seja, tememos que os outros critiquem em nos aquilo que, em verdade, nós nos auto-criticamos. É a capacidade de nos auto-admirar que nos ajuda a encontrar inspiração e força para seguir adiante em nossas realizações. Por isso, é importante, continuamente, nutrirmos admiração por nossas próprias capacidades.
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Ao contrário do que se costuma pensar, sentimo-nos desconfortáveis não porque perdemos o suposto eixo individual, mas sim porque estamos excessivamente presos, agarrados a ele. Ficamos aprisionados a uma referência egoica que exerce um poder tirânico sobre nós: ela quer que sejamos perfeitos. As vezes, temos a síndrome da gota solitária no oceano. Nos sentimos sós, como se fôssemos os únicos a carregar o oceano inteiro nas costas. Nas profundezas do sentimento de solidão, há um sentimento latente de vergonha de si mesmo. Como, intuitivamente, sabemos que não estamos verdadeiramente sós, sentimos vergonha de nossa solidão, pois ela revela nossa ignorância. A vergonha aqui nos ajuda a reconhecer que alimentar um sentimento de abandono é inapropriado. Quanto mais nos identificarmos com a ideia de que somos sós, isto é, separados uns dos outros, mais alimentaremos ressentimentos e raiva por aqueles de quem sentimos necessidade de nos aproximar. Assim, surgirá um destrutivo círculo vicioso: sentiremos necessidade de estar perto daqueles de quem sentimos raiva por terem nos abandonado. Então, tentaremos agir como se fôssemos afetivamente auto-suficientes, e acabamos por nos tornar arrogantes.
Ao contrário do que se costuma pensar, sentimo-nos desconfortáveis não porque perdemos o suposto eixo individual, mas sim porque estamos excessivamente presos, agarrados a ele. Ficamos aprisionados a uma referência egoica que exerce um poder tirânico sobre nós: ela quer que sejamos perfeitos. As vezes, temos a síndrome da gota solitária no oceano. Nos sentimos sós, como se fôssemos os únicos a carregar o oceano inteiro nas costas. Nas profundezas do sentimento de solidão, há um sentimento latente de vergonha de si mesmo. Como, intuitivamente, sabemos que não estamos verdadeiramente sós, sentimos vergonha de nossa solidão, pois ela revela nossa ignorância. A vergonha aqui nos ajuda a reconhecer que alimentar um sentimento de abandono é inapropriado. Quanto mais nos identificarmos com a ideia de que somos sós, isto é, separados uns dos outros, mais alimentaremos ressentimentos e raiva por aqueles de quem sentimos necessidade de nos aproximar. Assim, surgirá um destrutivo círculo vicioso: sentiremos necessidade de estar perto daqueles de quem sentimos raiva por terem nos abandonado. Então, tentaremos agir como se fôssemos afetivamente auto-suficientes, e acabamos por nos tornar arrogantes.
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O livro explica que impressões kármicas são fatores composicionais, são as motivações que estão por trás de nossas ações, impulsionando-as, ou seja, são a base de nossos hábitos, sejam eles positivos ou negativos. As sementes kármicas plantadas em nosso contínuo mental irão se manifestar quando surgirem condições externas oportunas a elas. Isso nos leva a seguinte conclusão: percebemos aquilo que estamos condicionados a perceber e esperamos encontrar ,seja o prazer ou o desprazer, sempre nos mesmos lugares. É isso que restringe a nossa capacidade de percepção, nos impedindo de lidar com a multiplicidade do mundo, negando sua constante transformação. A maior parte do que consideramos nossa identidade são as sombras de hábitos passados e uma sobrecarga sensorial. Muito válido reafirmar a tese seguinte: o que imaginamos exerce um grande poder sobre nós. Para o nosso cérebro não existe diferença entre as imagens produzidas mentalmente e as imagens captadas pelos olhos. Podemos evocar imagens mentais que produzirão padrões neurais que irão influenciar os outros centros nervosos e modificar as nossas emoções. Apesar de olharmos para o mundo como uma realidade externa e independente de nós, são as imagens internas arquivadas em nossa mente que o interpretam. O mundo exterior é, portanto, um reflexo de nosso mundo interior. Neste sentido, são as imagens internas e a nossa auto-imagem que atraem e selecionam os eventos de nossa vida. A apreciação ocorre quando dedicamos tempo e atenção para homenagear nossa evolução interna como a causa de nossa verdadeira felicidade.
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Cada vez que desconfiamos de nossa capacidade de superar obstáculos, cultivamos um sentimento de covardia interior que bloqueia nossas emoções e nos paralisa. Enquanto tivermos resistência em rever nossos erros e aprender com eles, estaremos bloqueados. Desta forma, a vergonha, a preguiça e o orgulho serão expressões de auto-sabotagem, isto é, de nosso medo de mudar. Muitas vezes, o medo da mudança é maior do que a força para mudar. Por isso, nos auto-iludimos com soluções irreais. Para nos adaptarmos a uma situação que seria dolorosa, fazemos uma espécie de acordo: nos auto-iludimos. A auto-ilusão é um jogo da mente que busca uma solução imediata para um conflito, porém, que não represente uma mudança ameaçadora. Nós nos auto-iludimos quando não lidamos diretamente com nosso problema-raiz. Dificilmente percebemos que nos auto-sabotamos. Para superar o medo da mudança, é preciso sentir que somos capazes de assumir as novas responsabilidades que dela advêm.
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Podemos nos tornar um testemunho ativo de nossa confusão emocional aceitando as emoções sem contrariá-las. O segredo da purificação emocional está em sentir cada emoção sem rotulá-la como boa ou ruim. Assim, seremos capazes de deixar a emoção surgir e se dissipar por si mesma. Quando vivemos emoções profundas em solidão, descobrimos que podemos ser nutridos por elas. Quando superamos a necessidade de compartilhar nossa emoções, como forma de sermos reconhecidos por aqueles que nos rodeiam, aprendemos a evitar que nossa energia se escoe. Nunca senti necessidade de compartilhar nada, a não ser para preencher a vontade pessoal de registrar minha vida por escrito, algo não necessariamente compartilhado ou divulgado. Portanto, creio que não dispendo muita energia nesse sentido, até porque, não julgo que isso possa trazer qualquer tipo de reconhecimento. Ademais, se trouxesse, que benefício teria? O reconhecimento deve estar em mim e não nos outros: daí meu jeito reservado de ser.
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Uma coisa é atender as necessidades dos outros por amor a eles. Outra é atender as necessidades dos outros por necessidade de receber o reconhecimento deles. O problema surge quando o reconhecimento e a aprovação externa passam a ser mais importantes que o reconhecimento interno. É preciso desenvolver uma auto-estima que sabe valorizar seu próprio esforço. Para praticar a verdadeira generosidade, portanto, é preciso ter, em primeiro ligar, uma auto-estima fortalecida pelo próprio reconhecimento de suas potencialidades. Ter uma boa auto-estima é confiar em nossa capacidade de enfrentar os desafios básicos da vida. Quando a cultivamos, nos adaptamos às exigências que se apresentam. Nossa auto-estima baseia-se na capacidade de aceitar tanto nossos limites quanto nossas necessidades. Reconhecer nossos limites nos protege de autoagressões, expondo-nos a situações que estão além de nossas condições. Aceitar nossas necessidades ajuda-nos a identificar nossas prioridades. A autoestima é o julgamento que a pessoa faz de si mesma, indicando o quanto ela se acredita capaz, significativa, bem-sucedida e merecedora. Quando passamos a acolher nossa vulnerabilidade, nossa mente sossega, pois não precisamos mais escapar ou resistir. Podemos, então, aceitar a insegurança como parte inerente da existência e depositar confiança no fluxo da vida. Há momentos em que nos sentimos sós, pois podemos contar, de fato, apenas conosco. Então, podemos ter uma atitude de autocompaixão, propondo-nos a continuar nos amando apesar de sentirmos que não estamos sendo amados pelo outro. Ademais, dizer que a natureza das emoções é vazia não significa dizer que as emoções não existem ou que são estéreis, vazias de qualidade ou potencial. Mas sim que, por sua natureza impermanente, insatisfatória e desprovida de existência independente, elas podem ser totalmente eliminadas. A isso, o Budismo denomina Nirvana: o total alívio e cessação das aflições da mente, a verdadeira paz, um estado de êxtase e plena beatitude. Devemos ser pacientes com cada emoção, por pior que ela nos pareça, tendo consciência de que são passageiras.
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O livro fez-me pensar num ponto favorável sobre minha personalidade: antes ser introvertida do que inadequada. Compartilhar o silêncio com alguém é uma prática contínua de receber e dar incondicionalmente a energia vital que surge em cada um, a cada momento. Quando superamos a necessidade de conversar, podemos ficar ao lado de alguém em silêncio, saboreando um estado meditativo positivo e natural. A energia humana, quando trocada de maneira simples e genuína, é em si mesma curativa. Pessoalmente eu adoro isso! Nossas necessidades não são só mentais, temos necessidade de acessar também uma comunicação não-verbal. Quando o silêncio está presente de maneira harmônica, sentimo-nos em paz: finalmente está tudo bem. Não é preciso dizer mais nada, podemos apenas ser. Outro ponto fundamental: ter clareza sobre as virtudes e valores que queremos cultivar irá nos ajudar a definir nossa meta, pois é isso que norteia nossas escolhas e prioridades. São essas virtudes e valores que organizam nosso mundo interior, alimentam o significado de nossa vida e fortalecem o direcionamento que damos a ela.
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Os ensinamentos budistas enfatizam que devemos pensar sobre nossa morte pelo menos três vezes ao dia, pois refletir sobre a impermanência nos leva a dar menos importância aos prazeres imediatos e passageiros e a buscar com maior dedicação a vida espiritual. Quando nos ocupamos demais com a vida mundana, não criamos espaço para dedicar aos cuidados de nosso interior e desperdiçamos nosso tempo de vida. Quando uma coisa ruim acontece logo após outra, e as situações estão indo de mal a pior, podemos achar que estes são momentos de azar, mas, na realidade, eles expressam algo bem mais fundamental: a nossa própria impotência frente à realidade imediata. E, quando estamos impotentes, não temos saída senão aceitar as coisas como se dão. Essa é a grande sabedoria que as situações de sofrimento contínuo têm a nos ensinar. O que intensifica a dor de um sofrimento é o sentimento de indignação frente a ele, ou seja, é a nossa exasperação diante do sofrimento que faz com que ele aumente e tome conta de todo o nosso ser.
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Aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão de tornar-se perfeito. Ele visa completar-se, o que é muito diferente. E para completar-se terá de aceitar o fardo de conviver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas as conotações de bem ou mal, sejam escuras ou claras. Aceitar que temos sentimentos paradoxais em relação a muitas situações da vida: queremos e não queremos, gostamos e não gostamos ao mesmo tempo, nos ajuda a fazer as pazes com nosso mundo interior. A percepção da dor emocional nos poupa de sentirmos mais dor. Mesmo que doa, é o ato de perceber a dor que faz com que ela se dissolva. É sadio sofrer, mas apenas o necessário, o natural. O que não é sadio é negar uma dor emocional ou senti-la sem querer aceitá-la. A questão está em não negar nossas emoções, pois são elas que nos apontam nossos limites e também nossa capacidade de enfrentar as situações. Portanto, não devemos reprimi-las, mas sim usá-las como um instrumento de autoconhecimento. Enquanto estivermos tendo dificuldade para lidar com a imperfeição, enquanto formos inflexíveis e controladores, sofreremos desnecessariamente. A maneira como lidamos com as situações imprevisíveis na vida indica nossa aptidão para a felicidade. É natural contarmos com certo grau de previsibilidade para nos sentirmos seguros, mas se não quisermos sofrer desnecessariamente precisamos aceitar o fato de que não podemos controlar os eventos. Aceitar isso implica em ter fé, pois ela nos garante que independente do que suceder, teremos forças e proteção suficiente para lidar com os fatos. A fé, segundo a psicologia Budista nos leva a mantes a mente num estado positivo. A fé é, portanto, o estado mental-raiz de todos os estados mentais virtuosos.
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Aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão de tornar-se perfeito. Ele visa completar-se, o que é muito diferente. E para completar-se terá de aceitar o fardo de conviver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas as conotações de bem ou mal, sejam escuras ou claras. Aceitar que temos sentimentos paradoxais em relação a muitas situações da vida: queremos e não queremos, gostamos e não gostamos ao mesmo tempo, nos ajuda a fazer as pazes com nosso mundo interior. A percepção da dor emocional nos poupa de sentirmos mais dor. Mesmo que doa, é o ato de perceber a dor que faz com que ela se dissolva. É sadio sofrer, mas apenas o necessário, o natural. O que não é sadio é negar uma dor emocional ou senti-la sem querer aceitá-la. A questão está em não negar nossas emoções, pois são elas que nos apontam nossos limites e também nossa capacidade de enfrentar as situações. Portanto, não devemos reprimi-las, mas sim usá-las como um instrumento de autoconhecimento. Enquanto estivermos tendo dificuldade para lidar com a imperfeição, enquanto formos inflexíveis e controladores, sofreremos desnecessariamente. A maneira como lidamos com as situações imprevisíveis na vida indica nossa aptidão para a felicidade. É natural contarmos com certo grau de previsibilidade para nos sentirmos seguros, mas se não quisermos sofrer desnecessariamente precisamos aceitar o fato de que não podemos controlar os eventos. Aceitar isso implica em ter fé, pois ela nos garante que independente do que suceder, teremos forças e proteção suficiente para lidar com os fatos. A fé, segundo a psicologia Budista nos leva a mantes a mente num estado positivo. A fé é, portanto, o estado mental-raiz de todos os estados mentais virtuosos.
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A pessoa ou situação que nos irrita, na verdade, indica onde guardamos uma grande porção de energia reprimida: representa a nossa sombra, isto é, tudo que negamos em nós mesmos. Segundo a psicologia analítica, a sombra reprimida e relegada ao inconsciente torna-se um potencial de energia, a qual vem à tona sob a forma de projeção. É como encontrar um bode expiatório sobre o qual projetamos toda a culpa que não reconhecemos como nossa. Reconhecer nossa sombra é um grande passo para o amadurecimento emocional e espiritual. À medida que a sombra se faz mais consciente, recuperamos partes de nós mesmos previamente reprimidas. Ao nos apropriarmos de nossas partes desconhecidas, passamos a desenvolver autoconfiança e capacidade de autodomínio. Portanto, se aceitarmos a irritação como uma oportunidade de autoconhecimento, vamos observar o que nos irrita com uma nova disposição. Não nos sentiremos mais vítimas de nossa própria irritação, mas sim empenhados em saber mais sobre nós mesmos. A irritação se atenua conforme abandonamos o controle excessivo e voltamos a confiar no fluxo natural dos acontecimentos. Quando recuperamos a calma, não temos dificuldade em reconhecer que ficar irritados é tempo perdido. No entanto, temos que reconhecer que, quando somos tomados pela irritação, estamos nos sentindo carentes e desprotegidos como crianças pequenas quando estão desorientadas. Portanto, não precisamos reagir a irritação, apenas relaxar e admitir que tudo está ou vai ficar bem.
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Não ser reativo não é o mesmo que ser submisso ou passivo, muito menos ser capacho de egos afoitos. Não ser reativo é saber distanciar-se para contemplar o fluxo dos acontecimentos e, então, com nova visão, participar da realidade com calma e clareza. Quando estamos bem centrados em nosso eixo de paz interior, somos também capazes de perceber quando é hora de reagir, reconhecer o momento em que ser ativo é um ato de boa auto-estima e responsabilidade. Não devemos ser cúmplices de situações que consideramos desequilibradas, ilícitas ou falsas. Nossa auto-estima nos orienta a tomar decisões sobre quando devemos entrar, permanecer ou sair das situações. Ser realista com relação à nossa verdadeira situação é uma atitude saudável. Quando estamos irritados, somos como crianças com sono: ficamos extremamente vulneráveis, tudo nos perturba. A irritação nos torna vítimas fáceis das circunstâncias, o que nos faz sentir cada vez mais enfraquecidos e impotentes diante da vida. Portanto, o melhor é, literalmente, ir dormir e, quando estivermos descansados, reconsiderar então nossos julgamentos. Somente ao descansar é que o sistema nervoso poderá se recuperar e, assim, a irritação naturalmente pode desaparecer. Devemos aprender a não nos identificarmos com nossa irritação. Não precisamos nos tornar vítimas de nossa própria irritação. O fato de não querermos ficar nesta posição tão desvantajosa já desperta em nós a consciência necessária para fazer algo que nos ajude a sair deste estado negativo. Sair do sofrimento de uma frustração com sabedoria é ter a capacidade de analisar até quando é saudável tolerar uma situação frustrante para atingir um objetivo e quando é preciso parar de insistir e dar o salto, fazendo as mudanças necessárias. Aceitar a mudança é o antídoto da frustração.
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Frequentemente temos que nos deparar repetidas vezes com aquilo que tememos para reconhecer que já somos capazes de enfrentá-lo. Tradicionalmente, cada um dos oito grandes medos internos é comparado a uma determinada causa externa de medo. Sofrimento do apego é comparado com o confrontar de uma grande enchente ou imensas ondas do oceano; sofrimento da raiva é comparado com o confrontar de um incêndio; sofrimento da ignorância é comparado com o confrontar de um elefante furioso; sofrimento do ciúme é comparado com o confrontar de serpentes venenosas; sofrimento do orgulho é comparado com o confrontar de um leão; sofrimento da avareza é comparado com estar preso por correntes; sofrimento de visões errôneas é comparado com o confrontar de ladrões; e o sofrimento da dúvida é comparado com o confrontar de inimigos. Noventa por cento de nossos medos são hábitos e ideias preconcebidas. É preciso confiar no futuro para eliminar os medos e dissipar os sofrimentos.
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Quando não podemos mais nos apoiar no mundo exterior, contamos apenas com nosso eixo de segurança interna. Pode parecer traumático, mas é assim que livramos paradoxalmente do medo. Ademais, se quisermos nos liberar de todas as doenças físicas e mentais, é extremamente importante que nos desfaçamos de qualquer comiseração por nós mesmos. O Budismo Tântrico afirma que o núcleo de cada ser humano é divino e puro. Mas para tornar esta ideia parte integrante de nossa vida e não apenas uma mera intelectualização, precisamos aprender a meditar no orgulho divino.
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É preciso familiarizar-se com a morte positivamente. A consciência da morte nos ensina a desfrutar a vida com mais intensidade e, ao mesmo tempo, de maneira menos dramática. Se encararmos com naturalidade o fato de que somos mortais, valorizaremos muito mais cada momento da vida e teremos mais ímpeto para sermos espontâneos. Ser espontâneo é ter empatia por si mesmo: um sentimento genuíno de sentir prazer por gerar algo positivo em nosso interior. O costume da autocrítica, de nos depreciarmos, desencadeia a perda da espontaneidade. Toda doença começa com a perda da espontaneidade, pois, quando nos rejeitamos, paralisamos e cristalizamos algo dentro de nós que posteriormente irá se manifestar como uma doença crônica. A capacidade de nos sentirmos inteiros surge da habilidade de nos auto-acolher, sermos nossa própria companhia espiritual ao saber validar nossas necessidades e princípios. A validação se baseia numa forte autoconfiança e na confiança em nosso próprio sistema de valores. Isso significa que não temos de receber instruções de outras pessoas com relação aos valores, crenças e princípios que norteiam nossa vida. Em outras palavras, estamos confortáveis conosco mesmo. Se alguém pensa diferente, não nos sentimos ameaçados. Isso também significa que, se alguém se comporta de maneira diferente, não temos necessidade de mudar as crenças ou comportamentos para nos adequar aos outros. O segredo está em não evitar a nos mesmo. Para tanto, devemos começar por observar que opinião temos a respeito de nós mesmos. É essa opinião que temos que corrigir se ela estiver contaminada pelo hábito da autocrítica.
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O vazio que sentimos não pode ser preenchido por outra pessoa, embora a princípio nos sintamos completados pelo outro. Depois de um tempo, o vazio interior se intensifica, em geral forçando-nos a olharmos para dentro. Também é válido entender que chorar é permitir a intensificação de uma emoção. Sua função é despertar compaixão, compreensão e proteção. Aquele que costuma reprimir o choro perde a oportunidade de criar intimidade com a sua própria emoção. Ser testemunha de si mesmo gera confiança e autoconhecimento. Uma vez que expressamos nossos sentimentos, descobrimos que não só somos capazes de suportá-los, como também que podemos nos desapegar deles quando nos damos por satisfeitos. Ao chorar, aproximamo-nos de nossa dor e captamos melhor a mensagem que ela tem a nos passar. Enquanto evitarmos viver uma dor emocional, ela se transformará em vícios, comportamentos compulsivos, medos e manias que limitam nossa vida. Não adianta esperar que a dor passe com o tempo. O tempo atenua a dor, mas não a cura, pois a dor em si não purifica o sofrimento. Apenas a consciência do sofrimento é capaz de transformá-lo. Sofrer sem sabedoria é acumular mais confusão e dor. Por fim vale lembrar que a artificialidade dos relacionamentos gera a atitude de estar em guarda, que é oposta ao estado solto que surge quando vivenciamos uma aproximação sem receios. Quando nos sentimos próximos a alguém ou a uma situação, devemos relaxar. Portanto, nosso desafio para nos aproximarmos das pessoas, e nos sentirmos menos sós, é descobrir nossa capacidade de nos soltarmos: confiar em vez de nos defendermos, como costumamos fazer inconscientemente. Da leitura é isso. Muita luz a todos e até breve...”
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i CESAR, Bel. O livro das emoções: reflexões inspiradas na psicologia do budismo tibetano. São Paulo: Gaia, 2004.
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